"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



quarta-feira, 9 de junho de 1999

CUIABÁ E O NOVO TRAÇADO DA FERRONORTE

José Antonio Lemos dos Santos, Superintendente do IPDU


     Na edição do último dia 31 da GAZETA MERCANTIL, o “pai da ferrovia”, o ex- senador Vicente Vuolo, com sua incontestável autoridade no assunto, vem corajosamente a público e contesta a alteração do traçado da Ferronorte.
     Ele alega na matéria citada, aumento de percurso, aumento de custos e ampliação no prazo de chegada dos trilhos à Cuiabá como suas principais objeções.
     Homem inteligente, tenho a impressão de que o ilustre senador também percebeu aquilo que muitos cuiabanos já começaram a perceber: existe o risco do novo traçado deixar d lado as duas maiores cidades do estado, Cuiabá e Várzea Grande, que juntas formam a Grande Cuiabá, a maior e mais produtiva concentração urbana do oeste brasileiro. O raciocínio é o de que uma vez subida a serra para atingir a cidade de Rondonópolis, dificilmente os trilhos desceriam até Cuiabá, pois em seu prosseguimento para Porto Velho e Santarém teriam que vencer novamente essa mesma serra.
     O que realmente não parece racional, mesmo a leigos no assunto. Por isso, aliás, o traçado original teria optado por passar pelo município de Rondonópolis e não pela sua sede, alcançando Cuiabá para cumprir integralmente a Lei Federal 6.346/76, a chamada Lei do Vuolo, que está na base de todo esse grandioso empreendimento.
     Essa questão também não escapa à preocupação do prefeito de Cuiabá, Roberto França, o qual, ainda durante a reunião de Rondonópolis anunciou a realização de uma outra em Cuiabá para discussão do assunto sob o prisma da Grande Cuiabá e de toda a Baixada Cuiabana, aguardando-se ainda o interesse da região de Cáceres, que também sente o risco do novo traçado afastar o seu porto dos trilhos da ferrovia.
     Daí a importância desse novo grito do brilhante senador e sua convocação para um movimento das forças vivas locais, inclusive a Procuradoria do Estado, para uma avaliação correta dessa problemática. Entendemos que entre outros, deveriam ser objeto desse movimento:
a) a exigência imediata de que o RIMA do novo traçado seja elaborado até Cuiabá, e não até Rondonópolis, evitando possíveis “surpresas” posteriores, tais como o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães;
b) a criação imediata de uma comissão de alto nível reunindo, se possível – e como não seria possível? – o ex-senador, o governador do estado, os prefeitos de Cuiabá e Várzea Grande, presidentes das Câmaras de Vereadores das duas cidades e representantes da bancada cuiabana na Assembléia Legislativa, para uma visita à sede da Ferronorte, oferecendo apoio à sua instalação em Cuiabá, sua sede legal, conforme decisão noticiada pela sua direção quando da divulgação da alteração do traçado;
c) criação de uma comissão técnico-político-empresarial voltada à apreciação do RIMA do novo trajeto, inclusive com participação na respectiva Audiência Pública.
     A intervenção do senador renova a esperança da Grande Cuiabá ver os trilhos da Ferronorte chegarem em seu território, onde por Lei devem chegar. Assim como conseguiu, do nada, tornar realidade aquele que é um dos maiores, senão o maior, projeto de transportes do mundo, agora só nos resta somar todos os esforços para ajudá-lo a impedir que lhe roubem o sonho, sonho que é de todos os cuiabanos, várzea-grandenses e de toda a Baixada Cuiabana.
(Publicado pela Gazeta Mercantil - Centro-Oeste, em 09/06/99)

quinta-feira, 13 de maio de 1999

OS ELEFANTES BRANCOS


José Antonio Lemos dos Santos

     A etapa do Campeonato Brasileiro de Futebol de Salão, recentemente disputada em Cuiabá, permitiu que a gente pudesse rever o ginásio esportivo da UFMT lotado, servindo à função para a qual foi destinado. Não bastasse a beleza dos jogos em si e os brilhantes desempenhos das nossas equipes, em especial a do Gercafi, campeão da Chave, que bonito ver aquela magnífica praça de esportes funcionando, devidamente reformado, servindo em noites de gala à comunidade que lhe tem como motivo de orgulho. 

     Tomara que o ginásio da UFMT volte a oferecer frequentes espetáculos como este, mirando-se no exemplo do Teatro Universitário que vem se constituindo numa verdadeira praça de cultura, com espetáculos daqui e de fora, eruditos e populares, que se sucedem à miúde, integrando-se na agenda de comunidade como compromisso "imperdível". Pelo que sou informado, existiria uma comissão trabalhando especificamente com a programação do Teatro com a obrigação de mantê-lo em funcionamento. Será que o mesmo tratamento não poderia ser dado ao ginásio, com a programação de eventos nacionais, regionais e até mesmo internacionais nos mais diversos esportes que suas instalações permitem?

     Cuiabá dispõe de alguns outros equipamentos urbanos que, pelos mais diversos motivos, encontram-se completamente abandonados ou no mínimo, subutilizados, constituindo-se em autênticos "elefantes brancos", ainda que muito queridos. Podiam iniciar uma pequena lista exemplar, com o próprio rio Cuiabá, nosso maior equipamento urbano, dado de graça pela natureza, sobre o qual tanto se fala, e que cada vez mais se restringindo a um simples obstáculo a ser transposto rapidamente, a um canal para lançamento do esgoto da cidade, ou ainda a uma área de extração mineral, afastando o povo de seu uso mais adequado e democrático, qual seja o lazer público nas suas mais diversas formas.

     À margem do Cuiabá existe ainda o cais flutuante, uma estrutura cuja utilidade original é hoje desconhecida de muita gente. Alguns falam de uma ponte inacabada... Essa estrutura poderia servir melhor à cidade. Por exemplo, como suporte para a instalação de um aquário público, como propôs a arquiteta Fernanda Martins por ocasião da II Mostra Mato-grossense de Arquitetura. Ou então como base para um restaurante panorâmico que poderia ser implantado pela iniciativa privada através de licitações pública. Ou ainda outras ideias que possam ser viabilizadas. É grande desperdício o estado de abandono em que se encontra assim como seria desperdício maior a sua simples implosão.  

    Ainda à beira do rio Cuiabá existe a "Casa de D. Aquino", como é conhecida. Por trás da singeleza daquela construção encontra-se abandonado um patrimônio da cultura de nossa gente. Aliás o mesmo que acontece com o Arsenal de Guerra, este com arquitetura bem mais imponente e significativa para a cidade. A Federação do Comércio de Mato Grosso assumiu com extrema coragem a responsabilidade pelo Arsenal. Mas o prédio continua caindo. Será que a Federação não precisaria de uma ajuda da Prefeitura, do Governo do Estado ou mesmo da União? 

     Nessas condições teríamos ainda o estádio do Liceu Cuiabano e o Verdão, este o maior e mais caro dos equipamentos públicos construídos em nossa cidade. Não seria possível a criação de uma comissão que estudasse alternativas de ocupação para o estádio, responsabilizando-se por uma programação esportiva cultural, continuada e compatível com a prática do futebol que continuaria sendo sua mais nobre função? Uma comunidade que vem se achando carente de recursos não pode abrir mão dos que dispõe, deixando-os subutilizados, ociosos ou mesmo abandonados. 

(Publicado pelo Jornal do Dia em 13/05/1999)