"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

2014, PARA SEMPRE

Foto José Afonso Portocarrero

José Antonio Lemos dos Santos

     E o ano que parecia nunca chegar acabou chegando, 2014, o ano da Copa do Pantanal, e agora estamos no seu final e está virando passado. Para Cuiabá, um ano que não cabe em um artigo. Sem dúvida, 2014 foi um ano muito especial para Cuiabá que iniciou e viveu seu primeiro semestre sobre a forte tensão do maior desafio que a cidade jamais enfrentou, o de receber o maior evento de massa do planeta, uma Copa do Mundo de Futebol. Em seu maior momento, sucesso ou vergonha? 
     Cuiabá teria que se transformar em pouco tempo recebendo por isso o maior pacote de investimentos de sua história, ao todo 56 grandes obras públicas, fora os investimentos privados em shoppings, hotéis e até uma fábrica de cimento. 2014 chega com a cidade de pernas para o ar, esburacada, congestionada. O povo, mesmo irritado, jamais perdeu a esperança de que tudo seria para o bem da cidade. Uma esperança sofrida e desconfiada, embalada por um lado pelas obras que evoluíam aos trancos e barrancos e, por outro, pela cantilena orquestrada e maldosa dos grandes interesses preteridos com a escolha de Cuiabá, e pelo fel invejoso da politicagem local despeitada. Para a imprensa esportiva nacional, contrária a Cuiabá desde que escolhida, seria o grande fiasco nacional. Botaram até fogo na Arena ainda em obras.
     Logo as primeiras obras são liberadas e em 2 de abril vem o primeiro jogo na Arena Pantanal com o empate sem gols entre o Mixto e o Santos. Depois o Luverdense bateu o Vasco e o Cuiabá empatou com o Inter, merecendo vencer, todos com o público máximo liberado. A Arena encantou a todos e a expressão mais ouvida entre os torcedores felizes era “nem parece que estamos em Cuiabá!”, na verdade expressando a surpresa da descoberta de que Cuiabá podia ser assim, sim. E pode!
     Junho chegou trazendo os primeiros turistas. O primeiro, Cristian Guerra, chegou depois de 4 meses de viagem de bicicleta. E logo chegaram aos milhares, alegres, dando aula de como torcer aos brasileiros. Os chilenos uníssonos com seus “chi-chi-lê-lê”, os australianos de cangurus e coalas. E também vieram os russos, nigerianos, coreanos, os bósnio-herzegovinos, colombianos e os japoneses que ensinaram civilidade ao limpar a Arena após o jogo, lição usada pela torcida do Cuiabá no primeiro jogo de seu time após a Copa. 
     Os colombianos deixaram a lembrança do gol de James Rodriguez, escolhido por ele como o seu mais bonito, ele que agora foi eleito o Craque das Américas e que chegara como mero substituto do então astro maior colombiano machucado. Veio Bachelet, a presidente do Chile, veio Shakira, a rainha da Colômbia, Wolverine, o príncipe da Austrália e outras personalidades globais que nem foram percebidas em meio a turba alegre e festiva que lotou a Arena, o Fan Park, a Arena Cultural e a Praça Popular ponto de encontro de todas as torcidas. Fora dos jogos e das festas, o Centro Geodésico foi lugar de visitação constante. 
Foto José Lemos

     Ao final as pesquisas noticiadas constataram que 91,6% dos visitantes aprovaram Cuiabá e recomendariam Mato Grosso como destino turístico. Pesquisa do Ministério do Turismo 99% dos visitantes escolheram Cuiabá como a sede mais hospitaleira e a Arena Pantanal foi a preferida entre os jornalistas estrangeiros pelo site UOL, logo a UOL, sempre tão dura com Cuiabá. Até o New York Times se rendeu àquela que chamou de “a menor das cidades-sede”. Quer mais?
     Mais importante, cerca de três quartos da população local aprovaram as transformações trazidas pela Copa e acham que a cidade não passou vergonha. Findo o primeiro semestre, tudo o que veio após foi acessório, fora alguns momentos. Mas, estes só em outro artigo.
(Publicado em 31/12/2014 pelo site Midianews, CAU-MT, em 02/02/15 pelo Diário de Cuiabá ...)

Comentários fora do Blog:
No Gmail:
"em 02/02/15 José Afonso Botura Portocarrero:
Beleza de texto José Antonio,
Obrigado pelo crédito da foto também,
Feliz Ano Novo para você, Lídia e família,
VIVA 2015!"

"Em 03/01/15 Juliana Demartini:
Feliz 2015, Zé!!!
Espero que seja mais um ano positivamente movimentado como foi 2014!
Entre outras coisas, tomara que as obras da Copa sejam finalizadas e que os turistas continuem visitando nosso estado e levando boas lembranças da nossa terra e do nosso povo!
Obs.: será que fui eu a trimilionésima passageira??? Tenho andado muito pelo aeroporto... de repente!!!"

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O TRIMILIONÉSIMO PASSAGEIRO iii


José Antonio Lemos dos Santos

No finzinho de novembro o Aeroporto Marechal Rondon recebeu seu trimilionésimo passageiro, cuja chegada eu havia previsto para fim do ano passado, em artigo de outubro daquele ano. Mas, faltaram 4321 passageiros, menos da metade de um dia de movimento do aeroporto e ele não veio em 2013. Enfim, agora apareceu, junto com os preparativos do Natal, sem tapete vermelho ou banda de música, sem retrato ou foguetório, sem sequer uma notícia. Não sabemos nem se estava chegando ou partindo, se era homem ou mulher. Desprezado, porém importante, afinal ele coloca o Marechal Rondon no patamar dos aeroportos com movimento superior a 3 milhões de passageiros por ano, consolidando-se entre os mais movimentados e os de maior crescimento do país.
A importância desse número está não só em sua dimensão, mas, também em seu dinamismo. Alcançou a faixa de 1,0 milhão de passageiros/ano em 2007 e apenas 7 anos após tem seu movimento triplicado, expressando muito bem a pujança da região a qual serve, uma das mais produtivas e dinâmicas do planeta. Isso é riqueza, é potencial de desenvolvimento, de geração de empregos e renda. O privilégio de dispor de um aeroporto de categoria internacional preparado para atender com conforto e segurança suas demandas do momento e do futuro é hoje um dos fatores essenciais para o nível de inserção de uma cidade na cadeia produtiva global. Mato Grosso está inserido na escala mundial da produção agropecuária e o Marechal Rondon, mesmo que ainda subdimensionado e inacabado, é a nossa principal interface global, ferramenta de conecção física com pessoas do mundo. E desenvolvimento não se faz sem relações interpessoais cada vez mais crescentes e exigentes em conforto, segurança e agilidade.
A marca dos 3 milhões de passageiros/ano é reflexo do trabalho produtivo e sofrido da gente mato-grossense, gente que merece respeito. É bom lembrar que sem o “pibão” mato-grossense o Brasil não teria sequer seu “pibinho”. Sem dúvida é preciso que o foco se volte para a conclusão desta ampliação que deveria estar pronta para a Copa, mas sem perder de vista que o processo de desenvolvimento de Cuiabá e Mato Grosso vai muito além da Copa e que a atual ampliação não atenderá sequer o movimento atual de passageiros. Já está lotado. Ficou claro que havia uma grande demanda reprimida, em prejuízo do desenvolvimento do estado. É preciso porém lembrar que melhorou muito, e hoje mal dá para imaginar como este movimento cabia naquela estação do início do ano, antes desta sua ampliação inconclusa.
Sem a Copa não teríamos nem o que temos hoje, mas ainda vai ser necessária muita cobrança dos setores organizados da sociedade mato-grossense e seus líderes para que esta obra seja concluída, e muito mais ainda, para o estabelecimento de um cronograma de ampliação do aeroporto em sintonia com o desenvolvimento de Mato Grosso. Com a Copa já foi dificílimo, imagine sem a Copa. Um bom começo seria resgatar o Plano Diretor elaborado pela própria Infraero, na época presidida pelo saudoso cuiabano Orlando Boni, que já previa uma nova estação de passageiros voltada para o Cristo Rei e inclusive uma nova pista. Para os que acham que é muito, não é muito não, isso é Mato Grosso.
Neste assunto jamais será demais lembrar o exemplo da fantástica visão de futuro dos que na década de 40 tiveram a coragem de destinar na Cuiabá de então mais de 700 hectares à ainda incipiente aviação comercial. Era muita confiança no desenvolvimento do estado e da aviação. Tinham a visão correta do futuro. Profetas. Quantos hoje teríamos ao menos uma parcela dessa visão e coragem? Para chamar de “elefante branco” sim, aliás, muitos.
(Publicado em 26/12 2014 pelo Midianews, FFolhamax, ...)