"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 30 de novembro de 2010

MEUS CAROS ELEFANTES

MEUS CAROS ELEFANTES
José Antonio Lemos dos Santos

A construção do novo Verdão reavivou a lembrança dos chamados “elefantes brancos”. Para muitos o monumental estádio será um desses paquidermes fabulosos. Alguns movidos por uma justa preocupação com o dinheiro público, outros, geralmente de fora, por ainda não terem deglutido a vitória de Cuiabá como sede da Copa do Pantanal e muitos locais, apenas dando vazão a um renitente complexo de capacho que nos acompanha ou ao espírito “seca-pimenteira” que ainda assola boa parte da população. Os “seca-pimenteira”, que dominaram a torcida de um ex-time local, enxergam a realidade pelo lado negativo e jogam sempre na aposta mais fácil das coisas não darem certo. Conta a lenda que para reconhecer um deles basta aproximá-los de um pé de pimenta.
Brincadeiras a parte, a discussão atual pode ser muito útil, e lembra alguns projetos que eram aguardados como futuros “elefantes brancos”, mas que deram certo. O primeiro é o Centro de Eventos do Pantanal. Pelo caráter inovador na região, audácia no dimensionamento e no programa arquitetônico, logo foi visto com desconfiança. Para alguns só funcionaria na inauguração. O comentário comum era que Cuiabá e o estado não tinham população nem fôlego econômico para manter em funcionamento um equipamento desses. Qual o que. Em agosto passado completou 10 anos de sucesso total, consolidando Cuiabá e Mato Grosso como um dos pólos nacionais para o turismo de negócios.
Outro grande e corajoso projeto foi o Mercado Varejista de Cuiabá, no antigo Campo do Bode. Primeiro, todos duvidavam que a prefeitura conseguisse transferir a antiga feira do Porto, que ocupava a Beira Rio em torno do antigo Mercado do Peixe, hoje Museu do Rio, seguindo grande, insalubre e desorganizada rumo à Ponte Nova. Sem a transferência o novo prédio estava destinado a ser um enorme galpão ocupado sabe-se lá com que, ou abandonado. Outra aposta negativa era que, se conseguisse a transferência, a prefeitura não seria capaz de gerenciar um equipamento daquela dimensão. Mas o projeto foi um sucesso, a transferência feita e o novo mercado, com a colaboração decisiva dos feirantes em sua administração, está entre os equipamentos urbanos mais utilizados e queridos pelo cuiabano.
Outro exemplo é o grandioso Ginásio Aecim Tocantins. Ao que eu me lembre, em seus 3 anos de existência já sediou jogos da Liga Mundial de Volei, a Copa América de Volei masculino, a Copa América de Volei feminino, Copa América de Basquete feminino, Campeonato Panamericano de Karatê e permitiu que Cuiabá este ano tivesse um time representante na Superliga Nacional de Volei. De lambuja, ainda recebeu jogos avulsos das seleções nacionais de vôlei e futebol de salão, grandiosos shows e eventos diversos, dentre os quais um casamento coletivo com 2511 casais que colocou Mato Grosso no Guiness Book. E ainda tem gente tratando o Ginásio como um elefante-branco.
Como não lembrar do Parque Mãe Bonifácia? Diziam que aqueles 77 hectares ao deixarem a proteção do Exército logo se transformariam em mais uma das invasões urbanas que na época eram tão comuns. Dispensáveis quaisquer comentários. Mais recentemente aconteceu a revitalização do Cine-Teatro Cuiabá, com equipamentos caríssimos de última geração. Seria dinheiro jogado fora pois faltaria ao cuiabano apego cultural suficiente à viabilização daquele equipamento. Ainda mais no perigoso centro da cidade. Ninguém iria. Qual o que. O velho Cine-Teatro renovado, funciona maravilhoso de novo no coração cuiabano e hoje é um elemento reanimador do centro histórico de Cuiabá.
(Publicado no Diário de Cuiabá no dia 24/11/2010, excepcionalmente em uma quarta-feira)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A "CONQUISTA" DA INFRAERO

A "CONQUISTA" DA INFRAERO
José Antonio Lemos dos Santos


Tenho acompanhado diariamente o site da Infraero esperando boas notícias a respeito das obras no Aeroporto Marechal Rondon. Não tem sido tarefa agradável, pois as boas notícias restringem-se sempre ao movimento do nosso aeroporto, maior a cada mês, com mais taxas de embarque para a Infraero. Mas, infelizmente, mais dificuldades para os passageiros. Nada referente às obras devidas pela empresa. Para ser justo, no dia 5 passado apareceu notícia da abertura, dois dias antes, da licitação para o projeto da ampliação do aeroporto. Uma grande notícia, mesmo que não tenha merecido destaque específico dentre as notícias do site e ainda que um ano e meio atrasada, no mínimo. Veio escondida em uma outra encabeçada pela estranha manchete: “Infraero conquista licença prévia para obras de ampliação do Aeroporto de Cuiabá”.
O termo “conquista” ficou esquisito e se repete mais duas vezes no corpo da matéria. A impressão que passa é que a Infraero esteve lutando contra dificuldades criadas por Mato Grosso para o reinício das obras do Aeroporto Marechal Rondon, necessárias mesmo sem a Copa e paralisadas há muito tempo, só por culpa da empresa. Pela notícia parece que Mato Grosso estaria atrapalhando a empresa na realização de suas obrigações. Mas a história é clara e se alguém tem culpa nesse atraso absurdo, essa culpa é da negligência da Infraero com um problema que se arrasta desde o final da década passada. Mato Grosso não pode passar de vítima a culpado.
Segundo a empresa, a “conquista” refere-se à licença ambiental prévia para realização de obra de reforma e ampliação do aeroporto, emitida pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente do (sic) Mato Grosso. O que teria a ver o atraso na licitação de projeto com essa licença para obras? Por que essa licitação só sai 1 ano e meio após a definição de Cuiabá como uma das sedes da Copa do Mundo de 2014? A grande manchete seria: “Infraero licita projeto para o aeroporto de Cuiabá!”. Mas com esse destaque o Brasil veria o grande atraso da empresa em relação à Copa. Misturando os dois assuntos a matéria disfarça o atraso e sugere que a empresa aguardava ansiosamente tal licença para desenvolver o projeto, e que o motivador desse atraso seria o próprio governo do estado através da Sema. A Sema precisa trazer sua versão ao público, inclusive se a falta de licença prévia para obra impediria a realização de projetos arquitetônicos pela empresa.
A insistência no caso do aeroporto é sua imprescindibilidade à realização em Cuiabá da Copa das Confederações em 2013 e da Copa do Mundo em 2014. Esses dois eventos são essenciais como compensação pelo admirável esforço que a cidade e o estado estão fazendo e ainda terão que fazer pela Copa. Não basta a Copa do Pantanal, Mato Grosso não pode abrir mão da Copa das Confederações. Insisto também porque confio na determinação dos governos federal e estadual em cobrir de êxito o grandioso evento internacional que traz para o Brasil e para Mato Grosso as atenções do mundo inteiro. Enfim, por ainda ser tecnicamente possível o aeroporto ficar pronto em tempo hábil. Sempre é bom lembrar que Brasília foi feita em 3 anos e o Empire State em 451 dias. O aeroporto precisa estar pronto em dezembro de 2012 para a Copa das Confederações e faltam 2 anos. Mas é preciso que o empenho político da união e do estado com a realização em Cuiabá da Copa das Confederações e da Copa do Pantanal chegue com urgência à Infraero. A hora de cobrar é agora, depois será tarde.
(Publicado no Diário de Cuiabá em 18/11/2010)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

DIA MUNDIAL DO URBANISMO

DIA MUNDIAL DO URBANISMO
José Antonio Lemos dos Santos


Surgida há 5 mil anos a cidade constitui a maior, mais complexa e mais bem sucedida das invenções do homem, transformando o mundo e acelerando a evolução da humanidade. Com ela surge a civilização. De lá para cá o mundo foi se urbanizando e a partir de 2008 a população global urbana supera a população rural, com muitos países com percentuais superiores a 80%, como o Brasil.
Em sua história a grande mudança foi com a Revolução Industrial. Até então a cidade não fora questionada, ainda que tenha enfrentado importantes crises em seu desenvolvimento. Com a industrialização, a urbanização acelera e as cidades se desequilibram gravemente, exigindo controle e intervenções em seu desenvolvimento. Surge então a ciência do Urbanismo, que evolui e supera a etapa do urbanismo modernista da Carta de Atenas, passa pelas experiências pós-modernistas do Novo Urbanismo, e chega a uma nova Revolução, a da informática e da globalização, com os desafios da compatibilidade ambiental, da inclusão e das possibilidades das cidades inteligentes, verdes e sustentáveis.
De extrema complexidade, a cidade é comparável a um organismo vivo, só que em dimensões imensas, que vão das pequenas vilas até as megalópoles, chegando a centenas ou milhares de quilômetros quadrados com dezenas de milhões de habitantes. A cidade é um enorme recipiente, articulado regionalmente, onde acontecem as relações urbanas em toda sua múltipla diversidade. Sua função é permitir que tais relações aconteçam da melhor forma com sustentabilidade, conforto, segurança e, sobretudo, justiça. Ajudá-las no cumprimento desta função é o objetivo do Urbanismo.
Em evolução contínua, o Urbanismo reflete a complexidade de seu objeto de trabalho e necessariamente envolve os diversos campos de conhecimento que a cidade envolve. Assim, o urbanista não é mais um especialista, mas um generalista voltado a entender o organismo urbano com um todo. Não se pode tratar os problemas da cidade sem antes tratar da cidade com problemas. O urbanista precisa saber um pouco de tudo para enxergar o todo, e, em especial, deve saber que seu conhecimento é quase nada e não pode prescindir da companhia das muitas outras especializações técnicas que tratam das múltiplas facetas da cidade.
8 de novembro é o Dia Mundial do Urbanismo, criado em 1949 para uma reflexão global sobre o assunto. As cidades de novo vivem uma revolução com as perspectivas da informática, do ciberespaço, e a eminência do colapso com a água, lixo, transportes, poluição, aquecimento, energia, emprego, uso do solo e segurança. Se as cidades falharem, a civilização explode. O problema maior do século XXI são as cidades. Inaceitável que no Brasil o Urbanismo e o urbanista sejam tão desconsiderados. Como pode uma cidade como Cuiabá ter nos quadros de sua prefeitura apenas seis arquitetos? Um para mais de cem mil habitantes? E quantos dedicados ao Urbanismo? Logo a secularmente conhecida Cidade Verde? A falta do Urbanismo mata as cidades brasileiras, estressando, mutilando e matando seus cidadãos. Mas ainda são os locais da diversidade e da inovação. A existência do Ministério da Cidade e a promessa do governador Silval Barbosa de uma Secretaria das Cidades são alentadores, desde que dedicadas à promoção e apoio aos municípios no efetivo e urgente controle do desenvolvimento urbano em bases técnicas e democráticas. Crise é risco e oportunidade, e o problema urbano é o grande desafio global. E local.

(Publicado no Diário de Cuiabá em 09/11/2010)

sábado, 6 de novembro de 2010

HABEMUS PRESIDENTA!

HABEMUS PRESIDENTA!
José Antonio Lemos dos Santos

Viva a democracia! Dilma venceu e a partir do ano que vem será a presidenta de todos os brasileiros com o respeito cívico de todos, mesmo daqueles que, como eu, não votaram nela. Que Deus e o Bom Jesus de Cuiabá a abençoe. Venceu por seus méritos e determinação, apoiada pelo presidente brasileiro mais popular, por um partido e uma coordenação eleitoral com comando e agilidade. Amplia o mérito de sua vitória ter vencido um grande candidato, ainda que prejudicado por um partido desorientado e sem uma estrutura de campanha competente.
Creio que a oposição no Brasil deva ser reconstruída. Inexistiu nos últimos oito anos no país e em Mato Grosso. As mortes de Teotônio, Ulysses, Montoro, Covas e Dante, deixaram a oposição sem rumo, reduzida a figuras que se acham muito maiores do que realmente são, preocupadas apenas com o lugar de destaque que acham merecedoras. Nos últimos anos o Brasil e Mato Grosso perderam muito com o silêncio da oposição, que paga por isso com a derrota. Como tirar da campanha Fernando Henrique Cardoso e sua obra? Como esquecer Dante e sua obra?
Apesar de ter tido mais votos em Mato Grosso, nem assim a oposição foi a vitoriosa e nem Dilma a derrotada. Foi o governo Lula que perdeu, punido pelos mato-grossenses por sua calamitosa atuação em Mato Grosso. Contando sempre com o silêncio da oposição, é bom nunca esquecer. Como vencer tendo paralisado a obra da Ferronorte? Se tivesse continuado os trilhos já estariam prá lá de Sinop e o estado seria outro. Como aceitar o pouco caso com a paralisação há mais de três anos do maior investimento privado no estado, o complexo gasoduto/termelétrica de 1 bilhão de dólares, que estaria trazendo matéria prima e energia limpa, confiável e barata para o desenvolvimento estadual? Como vencer com a paralisação das obras do aeroporto Marechal Rondon e o atual descaso da Infraero para com a Copa do Pantanal em Cuiabá? Não foi Dilma quem perdeu aqui, foi Lula.
Um dos coordenadores da campanha de Dilma em Mato Grosso disse sobre os resultados no estado que “quem apanha nunca esquece”, lembrando inúmeros problemas não só de campanha, mas também das ações da policia federal, fechamento de madeireiras e entraves burocráticos. Sinop ganhou de Lula sirenes de madrugada invadindo lares, aterrorizando um povo trabalhador e embaralhando o promissor futuro de muitas cidades mato-grossenses e daquela que era o principal centro regional do norte do estado. E Lula, não Dilma, perdeu em todas elas. Se o povo fazia alguma coisa errada em relação ao meio ambiente, só fazia aquilo para o qual foi atraído pelo próprio governo federal em outras épocas, quando mata em pé significava "terra improdutiva" sujeita à desapropriação. Mais correto uma política inibidora das práticas hoje condenadas do que as sirenes e o terror. Ganhariam todos, o meio ambiente, a região e o estado. Talvez até a candidata.
Do jeito como Mato Grosso foi maltratado o resultado não poderia ter sido outro. O governo Lula, não Dilma, perdeu em 90 dos 141 municípios mato-grossenses. Até mesmo na Sapezal de Maggi, na Matupá do governador Silval e em Lucas do Rio Verde, destino da fantástica ferrovia criada um ano antes da eleição visando os votos daquela gente do norte recém sacrificada em nome do meio-ambiente. Nem com sangue de barata. Mas, em sua vetusta sabedoria, a Grande Cuiabá fez Dilma vitoriosa em suas urnas, crendo que mesmo os melhores podem melhorar e mostrando que Mato Grosso espera e confia na presidenta eleita com os projetos que necessita e tem direito. Afinal, se Mato Grosso tem apenas 1,5% do eleitorado, produz mais da metade do superavit comercial brasileiro e aguarda o respeito federal que merece.

(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 02/11/2010)