"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



Mostrando postagens com marcador Joaquim Murtinho. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Joaquim Murtinho. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

JOAQUIM MURTINHO

Foto MidiaNews/Alair Ribeiro

José Antonio Lemos dos Santos   
     “Quem morre em Cuiabá, morre para sempre”, mais ou menos assim se referiu Estevão de Mendonça à peculiaridade cuiabana de esquecer seus vultos, os quais além de morrerem de corpo morriam pelo esquecimento. E ainda morrem. Mais que morto, o finado é esquecido na memória de seus conterrâneos, “mortinho da silva”. Confirmando o pai de Rubens de Mendonça, a prefeitura de Cuiabá emplacou um retumbante “Joaquim Mortinho” na sinalização oficial da rua que homenageia o grande estadista brasileiro Joaquim Murtinho. O erro foi reconhecido e a placa corrigida, não sem antes deixar registrada em fotos e redes sociais as digitais de nossa atual ignorância histórico-cultural que aumenta assustadoramente a cada dia. Logo a terra de Dom Aquino.
     No próximo 7 de dezembro caberia uma homenagem mais digna ao grande cuiabano nascido nesse dia em 1848. Um desagravo talvez. Foi engenheiro civil e médico homeopata, professor da Escola Politécnica, Deputado Federal, Senador, Ministro da Viação e da Fazenda. Para Rubens de Mendonça, foi o maior estadista e financista brasileiro da primeira república. Muitos só o conhecem em nome de escolas ou ruas, aqui(?), no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campo Grande, ou como nome de cidades em Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Seu prestígio era tal que uma vez Dom Pedro II, Imperador do Brasil, um dos governantes brasileiros mais cultos, assistindo a uma palestra dele sobre homeopatia quis questioná-lo, recebendo a sugestão de que quando "tivesse ímpetos de assistir a uma defesa de tese que Sua Majestade não entenda, deixe-se ficar em casa e leia uma página de Spencer".
     Mudaram os tempos e mudaram muito as relações de respeito entre a autoridade política e a autoridade técnica. Hoje qualquer político ou preposto de quinto escalão ou menos acha que pode ignorar o especialista propondo ele próprio sobre questões técnicas que não entende, como na questão urbana. Imagine se não fossemos uma República e ainda tivéssemos imperadores. Felizmente, ainda existem os bons técnicos, como Murtinho, convictos da importância de sua responsabilidade técnica e social.
     Pioneiro da homeopatia no Brasil foi, porém, como Ministro da Fazenda que Murtinho ficou na história. Lembro Joelmir Betting em artigo de 1984 na Folha de São Paulo: “O saneamento da moeda nacional começou com a presença mágica do ministro Joaquim Murtinho (a partir de 1899). Murtinho só não é apostila nas escolas de economia do mundo ocidental porque nasceu no Brasil, teorizou no Brasil, e não em algum reduto da aristocracia acadêmica nos dois lados do Atlântico Norte.”
     Diz mais: “Mal empossado no cargo de chanceler do Tesouro, que ele chamava de “monarca dos entulhos”, Joaquim Murtinho disparou um vigoroso “pacote” econômico, politicamente atrevido: a palavra de ordem era a de acabar, em rito sumário, com a especulação financeira do setor bancário”, e segue, “Murtinho entendia que o Brasil da virada do século não podia tolerar uma economia meramente escritural, era preciso promover o refluxo da poupança nacional do mercado de papéis e de divisas para o mercado de produtos e de serviços.” A inflação foi quase a zero gerando o “pânico bancário” de 1900, com o sistema financeiro “experimentando uma quebradeira em cascata”, diz Betting.
     Aprendi com meu pai, que foi bancário orgulhoso em sê-lo, a reconhecer o valor dos bancos, mas, amargando seus juros, portas giratórias, e o número crescente de taxas exorbitantes, concluo esta homenagem ainda com Betting: “O “czar” Murtinho lavou as mãos enluvadas: que se quebrem todas as casas bancárias, desde que se salvem todas as fábricas, empórios e fazendas...”. Dá para esquecer?

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

O SENADOR ESQUECIDO

OlharDireto
José Antonio Lemos dos Santos

     Lavado e enxaguado nas águas da vitória do Cuiabá contra o Salgueiro, recordo que toda cidade é um centro produtor, mas sua produção extrapola os bens e serviços. Seu principal produto é a sua gente e a qualidade de seu povo é a melhor medida do sucesso de uma cidade. As cidades lembram seus vultos como modelos para continuar a produzi-los em todas as áreas da vida. Nos meus tempos de grupo escolar, estudávamos suas biografias aprendendo a respeitá-los, e por eles aprendemos a respeitar nossa gente, a boa cepa de onde surgiram.
     Triste como algumas grandes figuras mato-grossenses foram esquecidas pela história. Dia 22 de agosto é aniversário de nascimento de Antonio Francisco Azeredo, lembrado como Senador Azeredo, nome do tradicional colégio do Porto, antigo “Peixe-Frito” da saudosa professora Delza Saliés e tantas. Não fossem Rubens de Mendonça e a Internet, seria impossível falar sobre este cuiabano, nascido em 1861 e que chegou a Presidente do Senado Federal por mais de 15 anos, até ser deposto pela revolução de 30 e exilado na Europa. Até outro dia era o primeiro dos homenageados na Galeria de Bustos do Senado.
     Sobre o Senador Azeredo, porém, até na Internet as referências são mínimas, vestígios encontrados em sites que tratam de outras personalidades e outros assuntos. Contudo, nesse pouco dá para perceber uma personalidade que merecia maior atenção dos mato-grossenses. Abolicionista e republicano, segundo Rubens de Mendonça ele trabalhou no jornal “Gazeta da Tarde” de José do Patrocínio, antes de comprar um pequeno jornal carioca denominado “Diário de Notícias”, que logo transformou em um dos maiores e mais influentes jornais do país, no qual colocou como redator, nada mais nada menos do que Rui Barbosa. Foi eleito Deputado à Constituinte e à Primeira Legislatura por Mato Grosso, chegando a ser o Primeiro Secretário da Câmara, até que assumiu o Senado no lugar de Joaquim Murtinho, quando este, também cuiabano, saiu para ser Ministro da Viação e da Fazenda e entrar na História como o maior estadista do Brasil na Velha República. Senador por quase trinta anos, e presidindo a Casa por muitos anos, Antonio Francisco Azeredo deu posse a alguns Presidentes da República. Foi também escritor, não apenas de seus discursos, mas de algumas obras que hoje despertariam interesse. Foi também comendador da Legião de Honra da França, e condecorado em diversos outros países.
     Sua maior obra para os mato-grossenses e cuiabanos em especial, foi, como fizeram alguns outros, ter levado a figura de um conterrâneo a posições de tão grande destaque e influência na vida nacional. Sua vida deveria ser mostrada como exemplo aos jovens locais que resistem às tentações dos descaminhos, acreditam em si e nas perspectivas positivas da vida, e vão à luta apesar das dificuldades, como um dia fez o jovem Antonio Azeredo. Como Rondon, Dutra e outros, Antonio Azeredo também teve sua grande oportunidade ao cursar um colégio militar, na época talvez a única chance de subir na vida para os jovens mato-grossenses.
     A este propósito recordo que em 1957 a Prefeitura de Cuiabá doou o terreno do antigo “campo de aviação”, hoje ocupado pela Vila Militar, para que ali fosse construído o Colégio Militar de Cuiabá. Se tivesse virado realidade, quantos outros milhares de jovens mato-grossenses teriam sido beneficiados? Cuiabá não deveria voltar a pensar no assunto? O belo prédio do 44º BIM, construído por Dutra seria uma boa alternativa para um Colégio Militar com nome de seu construtor e um memorial como centro de referência à sua história.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

JOAQUIM MURTINHO

José Antonio Lemos dos Santos


     A cidade é um centro de produção, mas sua produção vai além da economia, extrapola os bens e serviços e seu principal produto é a sua gente. A qualidade de seu povo é a melhor medida do sucesso de uma cidade. Já foi assim e devia continuar sendo. As cidades devem lembrar seus vultos como exemplos para reproduzi-los em todas as áreas do desenvolvimento humano. Nos meus tempos de escola primária, do “grupo” escolar, estudávamos suas vidas aprendendo a respeitá-los, e através deles aprendemos a respeitar ainda mais nossa gente.
     Amanhã, 7 de dezembro, devíamos lembrar Joaquim Murtinho, nascido em Cuiabá em 1848. Foi engenheiro civil e médico homeopata, professor da Escola Politécnica, Deputado Federal, Senador, Ministro da Viação e da Fazenda. Para Rubens de Mendonça, foi o maior estadista e financista brasileiro no período republicano. Alguns hoje só o conhecem como nome de escolas ou ruas, aqui, no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campo Grande, ou ainda como nome de cidades em Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Seu prestígio era tal que certa vez Dom Pedro II, Imperador do Brasil, tido como um dos governantes brasileiros mais cultos, assistindo a uma palestra dele sobre homeopatia, quis questioná-lo, recebendo em troca a sugestão de que quando "tivesse ímpetos de assistir a uma defesa de tese que Sua Majestade não entenda, deixe-se ficar em casa e leia uma página de Spencer".
     Mudaram os tempos e mudaram muito as relações de respeito entre a autoridade política e a autoridade técnica. Hoje qualquer político ou preposto de quinto escalão ou menos acha que pode desprezar o especialista enquanto ele próprio propõe sobre questões técnicas que não entende, como a preparação de nossas cidades para a Copa. Depois quer que o especialista se responsabilize tecnicamente pelas decisões, chegando até a forçar mudanças de pareceres em função dos interesses da hora. Imagine se não fosse a República e tivéssemos imperadores. Felizmente, os bons técnicos, como Murtinho, ainda insistem em existir, convictos da importância de sua responsabilidade social como portadores do conhecimento científico e do domínio tecnológico.
     Pioneiro da homeopatia no Brasil foi, porém, como Ministro da Fazenda que Murtinho ficou na história. Lembro Joelmir Betting em artigo de 1984 na Folha de São Paulo: “O saneamento da moeda nacional começou com a presença mágica do ministro Joaquim Murtinho (a partir de 1899). Murtinho só não é apostila nas escolas de economia do mundo ocidental porque nasceu no Brasil, teorizou no Brasil, e não em algum reduto da aristocracia acadêmica nos dois lados do Atlântico Norte.”
     Diz mais: “Mal empossado no cargo de chanceler do Tesouro, que ele chamava de “monarca dos entulhos”, Joaquim Murtinho disparou um vigoroso “pacote” econômico, politicamente atrevido: a palavra de ordem era a de acabar, em rito sumário, com a especulação financeira do setor bancário”, e segue, “Murtinho entendia que o Brasil da virada do século não podia tolerar uma economia meramente escritural, era preciso promover o refluxo da poupança nacional do mercado de papéis e de divisas para o mercado de produtos e de serviços.” A inflação foi quase a zero gerando o “pânico bancário” de 1900, com o sistema financeiro “experimentando uma quebradeira em cascata”, diz Betting.
     Aprendi com meu pai, que foi bancário orgulhoso em sê-lo, a reconhecer o valor dos bancos, mas, amargando seus juros, suas portas giratórias, e o número crescente de taxas exorbitantes, concluo esta homenagem ainda com Betting: “O “czar” Murtinho lavou as mãos enluvadas: que se quebrem todas as casas bancárias, desde que se salvem todas as fábricas, empórios e fazendas...”. Dá para esquecer?
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 06/12/2011)

terça-feira, 23 de agosto de 2011

SENADOR AZEREDO, 150 ANOS



José Antonio Lemos dos Santos

      A cidade é um centro de produção, só que um centro produtor que vai além da economia. Sua produção extrapola a produção de bens e serviços e seu principal produto é a sua gente. A qualidade de seu povo é a melhor medida do sucesso de uma cidade. Pelo menos já foi assim e deveria continuar sendo. As cidades lembram seus vultos como modelos para continuar a produzi-los em todas as áreas do desenvolvimento humano. Nos meus tempos de grupo escolar, estudávamos suas vidas aprendendo a respeitá-los, e através deles, aprendemos a respeitar nossa gente, a boa cepa de onde surgiram.
     Triste como algumas grandes figuras mato-grossenses foram esquecidas pela história. Ontem, 22 de agosto, completaram-se 150 anos do nascimento de Antonio Francisco Azeredo, lembrado por nós como Senador Azeredo graças ao tradicional colégio do Porto, antigo “Peixe-Frito” da saudosa professora Delza Saliés e de tantas outras. Não fossem Rubens de Mendonça e a Internet, seria impossível falar alguma coisa sobre este cuiabano, nascido em 1861 e que chegou a ser Presidente do Senado Federal por mais de 15 anos, ocupando o cargo até ser deposto pela revolução de 30 e exilado na Europa. Hoje é o primeiro dos homenageados na Galeria de Bustos do Senado.
     Sobre o Senador Azeredo, porém, até na Internet as referências são mínimas, vestígios encontrados em sites que tratam de outras personalidades e outros assuntos. Contudo, nesse pouco dá para perceber uma personalidade que merecia maior atenção dos mato-grossenses. Abolicionista e republicano, segundo Rubens de Mendonça ele trabalhou no jornal “Gazeta da Tarde” de José do Patrocínio, antes de comprar um pequeno jornal carioca denominado “Diário de Notícias”, que logo transformou em um dos maiores e mais influentes jornais do país, no qual colocou como redator, nada mais nada menos do que Rui Barbosa. Foi eleito Deputado à Constituinte e à Primeira Legislatura por Mato Grosso, chegando a ser o Primeiro Secretário da Câmara, até que assumiu o Senado no lugar de Joaquim Murtinho, quando este, também cuiabano, saiu para ser Ministro da Viação e da Fazenda e entrar na História como o maior estadista do Brasil na Velha República. Senador por quase trinta anos, e presidindo a Casa por muitos anos, Antonio Francisco Azeredo deu posse a alguns Presidentes da República. Foi também escritor, não apenas de seus discursos, mas de algumas obras que hoje despertariam interesse. Foi também comendador da Legião de Honra da França, e condecorado em diversos outros países.
     Sua maior obra para os mato-grossenses e cuiabanos em especial, foi, como fizeram alguns outros, ter levado a figura de um conterrâneo a posições de tão grande destaque e influência na vida nacional. Sua vida deveria ser mostrada como exemplo aos jovens locais que resistem às tentações dos descaminhos, acreditam em si e nas perspectivas positivas da vida, e vão à luta apesar das dificuldades, como um dia fez o jovem Antonio Azeredo, do interior distante, de uma pequena cidade, capital de um remoto estado brasileiro, século e meio atrás.
     Como Rondon, Dutra, Filinto Müller, e outros, Antonio Azeredo também teve sua grande oportunidade ao cursar um colégio militar, na época talvez a única chance de subir na vida para os jovens mato-grossenses. A este propósito recordo que em 1957 a Prefeitura de Cuiabá doou o terreno do antigo “campo de aviação”, hoje ocupado pela Vila Militar, para que ali fosse construído o Colégio Militar de Cuiabá. Se tivesse virado realidade, quantos outros milhares de jovens mato-grossenses teriam sido beneficiados? Não seria o caso de Cuiabá voltar a pensar no assunto?
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 23/08/2011)



terça-feira, 14 de dezembro de 2010

JOAQUIM MURTINHO

José Antonio Lemos dos Santos

A cidade é um imenso e complexo recipiente articulado regionalmente e em constante transformação onde acontecem as relações urbanas gerando bens e serviços, mas, sobretudo gente, que deve ser sempre seu principal produto. Uma forma de cantar as cidades é reverenciar a qualidade de seu povo homenageando suas personalidades exponenciais, especialmente em Cuiabá, onde aos poucos essa memória enfraquece.
7 de dezembro lembra Joaquim Murtinho, nascido em Cuiabá em 1848. Foi engenheiro civil e médico homeopata, professor da Escola Politécnica, Deputado Federal, Senador, Ministro da Viação e da Fazenda. Para Rubens de Mendonça, o maior estadista e financista brasileiro no período republicano. Alguns hoje só o conhecem como nome de escolas ou ruas, aqui, no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campo Grande, ou ainda como nome de cidades em Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.
Seu prestígio era tamanho que certa vez Dom Pedro II, Imperador do Brasil, tido como um dos governantes brasileiros mais cultos, assistindo a uma palestra dele sobre homeopatia, quis questioná-lo e recebeu de volta a sugestão de que quando "tivesse ímpetos de assistir a uma defesa de tese que Sua Majestade não entenda, deixe-se ficar em casa e leia uma página de Spencer".
Pioneiro da homeopatia foi, porém, como Ministro da Fazenda que ficou na história. Bastante atual, lembro Joelmir Betting em artigo de 1984 na Folha de São Paulo: “O saneamento da moeda nacional começou com a presença mágica do ministro Joaquim Murtinho (a partir de 1899). Murtinho só não é apostila nas escolas de economia do mundo ocidental porque nasceu no Brasil, teorizou no Brasil, e não em algum reduto da aristocracia acadêmica nos dois lados do Atlântico Norte.”
Diz mais: “Mal empossado no cargo de chanceler do Tesouro, que ele chamava de “monarca dos entulhos”, Joaquim Murtinho disparou um vigoroso “pacote” econômico, politicamente atrevido: a palavra de ordem era a de acabar, em rito sumário, com a especulação financeira do setor bancário”, e segue, “Murtinho entendia que o Brasil da virada do século não podia tolerar uma economia meramente escritural, era preciso promover o refluxo da poupança nacional do mercado de papéis e de divisas para o mercado de produtos e de serviços.” Para Betting, a inflação foi quase a zero gerando o “pânico bancário” de 1900, com o sistema financeiro “experimentando uma quebradeira em cascata.”
Aprendi com meu pai, que foi bancário, a reconhecer o valor dos bancos, mas, amargando os juros e as taxas bancárias atuais, concluo esta homenagem ainda com Betting: “O “czar” Murtinho lavou as mãos enluvadas: que se quebrem todas as casas bancárias, desde que se salvem todas as fábricas, empórios e fazendas...”
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 07/12/2010)

terça-feira, 12 de maio de 2009

MATO GROSSO 261 ANOS

José Antonio Lemos dos Santos


     No último dia 9 de maio comemoramos muito discretamente o 261° aniversário de Mato Grosso, data que lembra o ano de 1748, quando o Rei de Portugal, Dom João V, através de Carta Régia determina a criação de duas Capitanias, “uma nas Minas de Goiás e outra nas de Cuiabá”. A Capitania das Minas de Cuiabá virou Capitania de Mato Grosso e para governá-la foi designado Dom Antonio Rolim de Moura, que tomou posse e permaneceu em Cuiabá por cerca de um ano, até que a cidade de Vila Bela fosse construída. Morou no centro histórico de Cuiabá, próximo à praça que tem o seu nome e que é popularmente conhecida como Largo da Mandioca. Depois chegou a ser o Vice-Rei do Brasil, o governante maior do país na época, já que El-Rey ficava em Portugal. Seria possível pensar na restauração da casa de Rolim de Moura, criando uma nova atração turística no centro histórico?
     De lá para cá Mato Grosso fez história. “Limitando, qual novo colosso, o ocidente do imenso Brasil”, nas letras de Dom Aquino, Mato Grosso ia do atual Mato Grosso do Sul até os limites do Acre sendo a vanguarda em terras espanholas do território que atualmente é o Brasil, o qual, além de expandir, conseguiu manter e consolidar a peso de muita bravura, heroísmo e sacrifícios. Hoje é uma das regiões mais dinâmicas do planeta, e o principal pólo irradiador e de apoio ao desenvolvimento na Amazônia Meridional. Da grande produção inicial de ouro, Mato Grosso passou a produzir diamantes, borracha, ipecacuanha, carne e hoje desponta como o maior produtor do Brasil em grãos, algodão, gado e biodiesel, posicionando-se como o sétimo estado exportador do país, sendo que sozinho exporta mais que todas as outras unidades federativas do Centro Oeste juntas. No primeiro trimestre deste ano foi o responsável por 57% do saldo comercial do Brasil com o exterior, no valor de US$ 1,73 bilhão, que daria para fazer a ligação ferroviária de Cuiabá a Alto Araguaia, passando por Rondonópolis, e com o troco ainda duplicar a rodovia Rondonópolis/Cuiabá e concluir a obra do Aeroporto Marechal Rondon.
     Porém, mais que produtos comercializáveis, o principal produto de Mato Grosso é sua gente – nascidos ou de adoção - cuja qualidade se expressa em expoentes como Antônio João Ribeiro, Barão de Melgaço, Antônio Maria Coelho, Joaquim Murtinho, Rondon, Roberto Campos e os Presidentes Dutra e Jânio Quadros. Dos mais recentes, lembro da figura de Dante de Oliveira, o “Homem das Diretas”, de Ariosto da Riva, Enio Pepino, Norberto Schwantes e Manoel de Barros, o maior poeta brasileiro vivo, entre tantos. Aliás, Mato Grosso já deu ao Brasil dois Presidentes da República eleitos, o que muitos estados mais destacados na federação não fizeram sequer com um de seus filhos.
     O aniversário de Mato Grosso é oportunidade para uma grande festa coletiva, com os mato-grossenses em conjunto comemorando nosso estado, com seus símbolos, suas tradições, história, personagens, cultura, ajudando os cidadãos a se identificarem como conterrâneos, como pessoas que têm muitas coisas em comum, promovendo a amizade, a simpatia e generosidade entre eles.
     O sucesso de Mato Grosso está no trabalho de sua gente, na diversidade produtiva oferecida por sua extensão territorial e na integração crescente de todas as suas regiões. Mato Grosso unido é forte e supera todas as crises. A sinergia de uma integração cada vez maior construirá aquele Mato Grosso sonhado por todos os mato-grossenses, com menos desequilíbrios regionais e mais qualidade de vida, respeito ambiental e justiça social.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 12/05/2009)

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

JOAQUIM MURTINHO E OS BANCOS

Joaé Antonio Lemos dos Santos


     É bom lembrar que a atual crise global originou-se nos bancos das grandes nações; agora o mundo todo busca arrumar rapidamente trilhões de dólares para salvá-los. Mas, para matar a fome na África... Não é preciso ser financista para se preocupar com tal quadro, que me faz lembrar Joaquim Murtinho, conterrâneo que no próximo 7 de dezembro comemoraria 160 anos de nascimento.
     Joaquim Murtinho era engenheiro civil e médico homeopata, e para Rubens de Mendonça, o maior estadista e financista brasileiro no período republicano. Nascido em 1848, em Cuiabá, foi professor da Escola Politécnica, Deputado Federal, Senador, Ministro da Viação e da Fazenda de Campos Sales. Muitos hoje só o conhecem como nome de rua, aqui, no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campo Grande, onde é ainda nome de escola, ou como nome de cidades em Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.
     Seu prestígio era tamanho que certa vez Dom Pedro II, Imperador do Brasil, tido como um dos governantes brasileiros mais cultos, assistindo a uma palestra dele sobre homeopatia, quis questioná-lo e recebeu de volta a sugestão de que quando "tivesse ímpetos de assistir a uma defesa de tese que Sua Majestade não entenda, deixe-se ficar em casa e leia uma página de Spencer".
     Pioneiro da homeopatia no Brasil foi, porém, como Ministro da Fazenda que ficou na história. Cito Joelmir Betting em trechos de um artigo de 1984, na Folha de São Paulo, mostrando sua atualidade: “O saneamento da moeda nacional começou com a presença mágica do ministro Joaquim Murtinho (a partir de 1899). Murtinho só não é apostila nas escolas de economia do mundo ocidental porque nasceu no Brasil, teorizou no Brasil – e não em algum reduto da aristocracia acadêmica nos dois lados do Atlântico Norte.”
     Diz mais: “Mal empossado no cargo de chanceler do Tesouro, que ele chamava de “monarca dos entulhos”, Joaquim Murtinho disparou um vigoroso “pacote” econômico, politicamente atrevido: a palavra de ordem era a de acabar, em rito sumário, com a especulação financeira do setor bancário”, e segue, “Murtinho entendia que o Brasil da virada do século não podia tolerar uma economia meramente escritural, era preciso promover o refluxo da poupança nacional do mercado de papéis e de divisas para o mercado de produtos e de serviços.” Para Betting, como resultado a inflação foi quase a zero, mas gerando o “pânico bancário” de 1900, com o sistema financeiro “experimentando uma quebradeira em cascata.”
     Reconhecendo o valor dos bancos - aprendi com meu pai, que era bancário – fecho com Betting em sua conclusão: “O “czar” Murtinho lavou as mãos enluvadas: que se quebrem todas as casas bancárias, desde que se salvem todas as fábricas, empórios e fazendas...”
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 02/12/2008)