"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



segunda-feira, 30 de setembro de 2019

GÁS, QUE VOLTE PARA FICAR


José Antonio Lemos dos Santos
     Um dos maiores crimes cometidos contra Cuiabá e Mato Grosso é o pouco caso com que se tratou o complexo gasoduto /termelétrica, o maior projeto implantado no estado, no valor de 1,0 bilhão de dólares e inaugurado em 2002. Crime com interesses diversos que vão desde a velha mania da política brasileira, em especial a mato-grossense, de um político não dar continuidade a obras de outros governos, até aqueles contrários à consolidação de Cuiabá como principal polo político e econômico unificador de Mato Grosso, passando por outras motivações também menores, mas poderosas. Casos semelhantes são, por exemplo, a conexão ferroviária da capital mato-grossense e a linha aérea até Santa Cruz de La Sierra, ambos até com empresas interessadas em suas implantações, mas que mesmo assim não avançam.
     A chegada de um gasoduto disponibilizando com fartura uma fonte de energia limpa e barata como o gás natural sacode as regiões por onde passa impulsionando a economia e elevando a qualidade de vida de suas populações com a geração de amplas alternativas de novos empregos e maiores rendas. Aqui chegou e ficou por isso mesmo. Para os políticos e gestores mato-grossenses parecia ter chegado em Marte. Especialista em Planejamento Urbano, não entendo nada sobre gás ou geração de energia, mas sei o quanto é importante a disponibilidade energética para o desenvolvimento de uma cidade ou região. Aliás, a qualidade de uma cidade em uma sociedade de mercado é aquela que sua população pode bancar com sua renda.
     Relembrando, com sua extraordinária visão de futuro o saudoso ex-governador Dante de Oliveira anteviu a grande produção agropecuária atual de Mato Grosso, de alta tecnologia e grande produtividade. Percebeu, então, ser fundamental a criação das condições para a verticalização no estado dessa produção primária, agregando-lhe valor. Gerar empregos aqui em vez de exportá-los. Entendia que a Baixada Cuiabana poderia ser a base propulsora desse processo de verticalização da economia estadual com apoio da ZPE de Cáceres. Para esse salto, energia e transporte seriam essenciais. Arrancou assim das barrancas do Paraná os trilhos da Ferronorte, criou o FETHAB, implantou o Porto Seco e internacionalizou o Aeroporto Marechal Rondon, viabilizando sua ampliação a quatro mãos com o também saudoso Orlando Boni, cuiabano então presidente da Infraero. Quanto à energia, destravou a APM de Manso então com obras paralisadas e trouxe a ex-poderosa Enron para implantar o complexo termelétrica/gasoduto.
     Implantado o complexo do gás viriam com ele as vantagens regionais comparativas atraindo novas indústrias e outros investimentos. Só que o plano não avançou. Ao invés, o gás aqui foi desmoralizado com sucessivas suspensões de fornecimento até perder a confiança do mercado consumidor. Sugiro ao leitor buscar no Google pelo gás de Mato Grosso do Sul. Sentirão o mesmo que senti: inveja! Lá bombando o futuro em Campo Grande e cidades do interior para uso veicular, residencial, comercial e cogeração, enquanto aqui ...
     Na última quinta-feira, em Santa Cruz de La Sierra com a presença do presidente Evo Morales, o governador  Mauro Mendes assinou com a estatal boliviana Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos um contrato para fornecimento do gás natural até dezembro de 2020, com  renovação automática por mais 10 anos caso nesse período não se concretize uma sociedade entre a estatal boliviana e a MTGás para a expansão da cadeia do gás natural no estado. Fruto destas tratativas a termelétrica já está operando em potência máxima. Que venha então o gás, mas que venha com firmeza, confiável e para ficar. Aleluia!

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

A POLÍTICA QUE QUASE ME MATOU


José Antonio Lemos dos Santos
     Vim para Cuiabá para nascer aqui e ser um cuiabano de chapa e, se Deus quiser, também de cruz. Meu pai trabalhava no interior do antigo Mato Grosso íntegro e quando estava chegando a hora do meu nascimento providenciou nossa vinda para cá onde era radicada a família de minha mãe, fazendo a vontade dela, uma cuiabana de chapa e cruz de verdade. Pouco tempo depois, tendo tudo corrido bem e terminando as férias do meu pai, voltamos para a cidade onde morávamos, uma pequena, mas simpática cidade, onde ganhei meu primeiro irmão.
     Morávamos em uma das ruas principais e tivemos a sorte de na frente de casa morar o único médico do local. Figura proeminente na cidade e na região, começava a se embrenhar na política. Parece que depois veio a ser prefeito da cidade por uma ou duas vezes. Figura simpática e médico competente, logo ficou amigo daqueles vizinhos, pais de primeira viagem aos quais, solícito, sempre atendia, atravessando a rua a qualquer espirro do pimpolho. Ocorre que naquele ano havia eleição para governador, concorrendo Fernando Correa e Filinto Muller, e o doutor era ferrenho correligionário do Filinto. As eleições naquela época eram empolgantes entre UDN e PSD, com eleitores empenhados pela vitória de seus candidatos. Apesar de todos estarem envolvidos nada aconteceu de problemático, ao menos naquelas eleições na cidade onde iniciava minha vida. Mas quase.
     A história começa quando o pequeno bebê, no caso eu, pega uma bela infecção intestinal e dá início a um processo de desidratação que parecia não ter fim. Começam os tratamentos de praxe da época, chazinho daqui e dali até que meu pai foi atrás do médico amigo que, como de costume, veio rápido, fez os exames e aviou uma receita. Meu pai foi até a única farmácia que ficava próximo de casa também. Aliás tudo ficava próximo naquela belezinha da cidade. De vez em quando refletindo sobre o urbanismo, e em especial o “novo-urbanismo americano” com as cidades da Disney em Orlando, penso que o modelo pós-moderno de pequena cidade já existia lá na cidadezinha onde morei, com diversidade de usos e tudo próximo, aproximando as também as pessoas em interação física, colaborativa e amiga, como lembravam meus pais. Minha sobrevivência talvez se deva justamente por estar naquele momento em uma cidade como esta. Se não, já tinha ido para o beleléu.
     Meu pai não dirigia, e então correu à farmácia. Chegando lá foi logo atendido pelo farmacêutico que pegou a receita, deve ter botado seus oculozinhos para ler de perto, decodificou os hieróglifos do esculápio e em seguida procurou o remédio em todas estantes. Como, o doutor era o único da cidade e o farmacêutico também, havia uma interação entre os dois, entre o que a farmácia tinha e o que o médico receitava. Mas, no caso, não tinha o tal remédio. Vale lembrar que naquela época na cidade não havia telefones. Papai correu de novo em busca do médico que já estava em outro local da cidade envolvido com sua sagrada medicina e com seu novo amor, a política. Enquanto isso eu me esvaindo em casa. O médico, pediu que meu pai voltasse à farmácia e pedisse uma nova pesquisa do farmacêutico em suas prateleiras, o que foi feito, e nada. E eu desidratando. Corre de volta meu pai ao doutor, já em outro local da cidade, que lhe diz: “Me dê essa receita que eu quero dar uma olhada.” Assim foi feito. O doutor também deve ter pego seus oculozinhos de perto, olhou a receita, empalideceu, bateu a mão na testa e disse ao meu pai: ”Felicíssimo me desculpe, o nome certo do remédio é Enterofil e eu receitei Filinterol!”. Não iam achar nunca e nem eu estaria aqui para contar a história. Escapei! 

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

BOM, AINDA QUE INJUSTO

Charge prof. Zé Maria
José Antonio Lemos dos Santos
     Estranho o título, como uma coisa injusta pode ser boa? Em princípio não pode ser, mas tento explicar. Trata-se da decisão da CBF em suspender a Arena Pantanal pelas condições precárias de seu gramado até que a situação seja corrigida, colocando em risco a bela campanha do campeão mato-grossense na série “B” do campeonato brasileiro e expondo nossa maravilhosa Arena, Cuiabá e Mato Grosso a mais um vexame nacional, logo ela que poderia e deveria ser um maravilhoso e atrativo cartão postal do estado. Uma pena.
     Estão certos os que dizem que o gramado se encontra praticamente inviável hoje na faixa da pequena área do setor Norte indo de lateral a lateral. Pior, visto da arquibancada tem um aspecto lunar pois surgiram círculos desgramados com fundos claros destacados com o verde do restante do campo que está aparentemente bom. Desgramados tanto no sentido de sem grama como no velho sentido cuiabano de coisa ruim. Muito feio mesmo, em especial para uma Arena que já sediou com sucesso uma Copa do Mundo. O noticiário fala em fungos ou em praga. Para mim o certo é que foi uma praga de maus administradores.
     A injustiça está em que pela primeira vez depois da Copa o estado está olhando para a Arena Pantanal com alguma simpatia. Ela sempre foi vista como um problema que custou 600 milhões e não como um equipamento de alta sofisticação e grande potencial para o desenvolvimento de Mato Grosso em diversas áreas. Por coincidência está situação foi o tema de meu artigo na semana passada e me lembra uma antiga piada sobre dois irmãos, um pessimista e outro otimista, que acordaram da noite de Natal e cada um pegou o seu presente. O pessimista havia ganho uma bicicleta linda, e logo começou a amaldiçoá-la dizendo que ele não sabia andar, que ia cair, se ralar no tombo ou quebrar a perna, ou o braço, ou os dois juntos. Uma desgraceira. Já o pessimista havia ganho uma lata de dois litros daquelas antigas de banha cheia de estrume e saiu feliz da vida gritando pela rua: “Ganhei um cavalo! Ganhei um cavalo! Viva!!!”.
     A piadinha retrata bem o caso da Arena Pantanal. Só que justo agora que ela está recebendo algum tratamento não merecia um vexame de repercussão nacional como este. Outros aconteceram, como por exemplo o vexatório “apagão” na decisão da série “C” do campeonato brasileiro do ano passado, quando a Arena batia seu recorde de público até então na Copa do Mundo, com quase 45 mil pessoas presentes. Só não aconteceu uma tragédia porque o juiz foi compreensivo, esperou 90 minutos e não encerrou a partida com WO. E em especial porque o Bom Jesus é de Cuiabá. O fato é que a Arena pela primeira vez, ao menos seu gramado, dá mostras de estar recebendo algum tratamento e cuidados de seus administradores, principalmente depois da paralisação dos campeonatos para a Copa América. Sempre presente na Arena percebo que este pedaço que hoje está péssimo, estava muito pior no penúltimo jogo que assisti e o restante do gramado aparenta estar bom e também vem melhorando.
     O pior seria usar na Arena Pantanal aquele truque visto em muitos dos grandes estádios e arenas por este Brasil afora onde disfarçam a bagaceira com areia colorida de verde, e tudo fica aparentando bem. Seria enganar a nós próprios. O bom do susto com a atual suspensão da Arena é que, apesar de injusto no momento, a decisão da CBF permitirá uma solução mais completa para o gramado. O secretário-adjunto de esportes garante que até fim deste mês as placas de gramado para substituição estarão em Cuiabá e em mais 3 dias estarão instaladas e em condições de uso. E sem mais riscos para a bela campanha do nosso representante na série “B”. E, oxalá, sem mais vexames com a Arena.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

O SECRETÁRIO E A ARENA

Praça externa da Arena Pantanal em uso pela população.
(foto: Rodrigo Barros)
José Antonio Lemos dos Santos
     Alvíssaras! Após 5 anos da Copa do Pantanal veio enfim na semana passada uma manifestação de simpatia pela Arena Pantanal por parte do governo estadual em artigo do secretário Allan Kardec, da Cultura, Esporte e Lazer. Convém lembrar que a Arena Pantanal foi considerada à época da Copa como a sétima arena mais espetacular do mundo por um jornal espanhol, seu projeto foi matéria elogiosa da revista chilena Hábitat Sustentable, referência no assunto na América Latina, e até no New York Times. Também foi considerada a primeira em funcionalidade entre todas as arenas da Copa após pesquisa com os jornalistas estrangeiros presentes no grande evento no Brasil. Mas esta joia preciosa de Mato Grosso só vinha sendo vista pelo governo como um “abacaxi” e nunca por suas enormes potencialidades.
     O artigo do secretário confirma uma salutar mudança de atitudes pelo atual governo em relação à Arena do Pantanal que já é sentida a algum tempo pelos que a frequentam, como por exemplo a não autorização de shows e a suspensão de partidas não oficiais, a volta dos telões e do sistema de som, e os cuidados com o gramado e sua reforma progressiva de forma compatível com os campeonatos em andamento.
    Concordo com o secretário quando pergunta no artigo, se pode ser “interessante para uma empresa assumir” a administração da Arena, “por que não pode ser também para o Estado?” Para mim tanto faz ser controle público ou privado, desde que o interesse público prevaleça.  O fundamental é que o estado defina qual o interesse público para com a Arena. O que queremos dela? Jamais soube da discussão desta questão no caso da Arena, entretanto, antes dela já se discutia sua privatização ou manutenção com o estado. A Arena Pantanal tem enormes potenciais a oferecer para o desenvolvimento do estado em vários setores e eles devem nortear as decisões sobre seu o futuro. 
     O esporte é uma das formas mais sublimes de manifestação da vida. Vida é saúde, e praticar esporte é cultivar a saúde. O esporte, em especial o futebol no Brasil, é hoje um dos principais mercados de trabalho no mundo. Trata-se de uma das melhores alternativas às drogas, crimes e violência para nossos jovens, bem como aos hospitais, remédios e a túmulos precoces aos adultos. A Arena Pantanal que já é o único estádio do país a abrigar uma escola com mais de 300 alunos e já recebe mensalmente milhares de pessoas em sua praça externa para atividades físicas diversas, tem tudo para ser uma grande plataforma propulsora da vida no estado através do esporte, sua vocação pública mais nítida. Priorizado o futebol – com espaços para os clubes contarem suas histórias, venderem seus materiais e ingressos, bem como roteiros acompanhados para seus visitantes - a Arena Pantanal abriria seu espaço restante para os demais esportes (boxe, xadrez, ginástica, etc.) com suas federações e ligas, e seus espaços de treinos compatíveis, academias, lojas de materiais esportivos, clínicas, farmácias e restaurantes especializados, podendo ainda ser alugada com antecedência para shows e outros eventos nas janelas do calendário futebolístico, assegurada a preservação do gramado.
     Além da atração turística que é, a Arena Pantanal articulada ao COT, miniestádios e projetos como o “Bom de Bola Bom de Escola” poderia ser o centro de um programa múltiplo de esportes, mas também de saúde, educação e segurança pública, a ser expandido para todo o estado. Mantida com taxa de utilização dos seus espaços (aluguel) a preços dos custos da manutenção, a Arena teria assim uma utilização digna, sustentável e socialmente correta.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

PEQUENA GRANDE OBRA

Travessa Monsenhor Trebaure com a Mal. Deodoro - (Foto José Lemos)

José Antonio Lemos dos Santos
     Na expectativa pelo pacote de obras públicas e privadas que seriam viabilizadas pela então recente conquista por Cuiabá da sede da Copa do Pantanal,  em agosto de 2009 escrevi um artigo denominado “Pequenas Grandes Obras” no qual destacava que em tais momentos sempre são lembradas obras de maior valor em detrimento das de pequeno porte, mas que nem por isso estas deviam ser consideradas menos importantes. Ao contrário, sem a realização destes projetos “menores” ou “mais baratos”, era bem provável que muitas das grandes obras não dessem o resultado esperado e a cidade não funcionasse adequadamente por ocasião do evento. Argumentava ainda que, não sendo solucionados, problemas menores geralmente se tornam bem maiores.
     Citava então algumas das ”pequenas obras” que à época me pareciam especialmente importantes e que não constavam na primeira lista das obras selecionadas para o evento, obras chamadas de “destravamento”, preparatórias para a lista  definitiva, a esperada “matriz das obras da Copa”. A primeira tratava de um retorno na Avenida Miguel Sutil, entre a rótula do Centro de Eventos e a então existente rótula do Santa Rosa, ficando sua localização precisa dependendo de maiores estudos dos órgãos especializados. Outra obra citada seria uma nova rótula entre a antiga rótula do Santa Rosa e a do Círculo Militar, na interseção da Ramiro de Noronha com a Miguel Sutil.
     A última das “pequenas obras” citadas naquele artigo foi a única de fato realizada nesse período, qual seja a pavimentação da via que sai da Rua Marechal Deodoro, bem em frente ao Terminal Rodoviário de Cuiabá, ligando à Rua Tereza Lobo, que também seria pavimentada até sua interseção com a Miguel Sutil. Esta obra poderia ser combinada com a construção de um parque urbano histórico-ambiental de 3 hectares estudado pelo IPDU envolvendo a última nascente até então ainda viva do córrego da Prainha, beneficiando a populosa região do Alvorada e Consil, totalmente desprovidas de área verde.     
     O interessante é que passados mais de 10 anos do primeiro artigo, aquelas pequenas obras voltam a ser válidas. Em relação às propostas para a Miguel Sutil há que se considerar que sua modernização pela Copa, com as trincheiras e a redefinição geométrica de suas antigas rótulas e pistas, tinha prazo de validade curto sem, contudo, reduzir a necessidade de sua realização. As trincheiras por exemplo vinham de projetos concebidos no antigo IPDU cerca de 15 anos antes de serem implantadas. Continuavam válidas, mas com prazo de efetividade dependente da implantação do Contorno Oeste do Rodoanel como apoio à demanda rodoviária da MT-010. Sem o Rodoanel e com a instalação de novos polos fortemente geradores de tráfego, a solução das trincheiras hoje já não mais atende e em especial a rótula do Santa Rosa precisa de novo do apoio da rótula e do retorno propostos em 2009, soluções paliativas pequenas, mas urgentes pois a rótula já está travada outra vez. E quanto tempo ainda esperaremos pelo Contorno Oeste do Rodoanel?
     Em 2011 relembrei estas pequenas obras que não estavam sendo consideradas e acrescentei mais uma: a extensão da Travessa Monsenhor Trebaure até a Marechal Deodoro, obra simples e barata aproveitando um terreno desocupado, que seria público. Esta obra ajudaria a aliviar a sobrecarga na interseção com a Mato Grosso. Para minha agradável surpresa passei semana passada no local e está lá a ligação realizada ainda que em terra. Espero que logo seja implantada em definitivo com a devida pavimentação, calçadas, sinalizações e iluminação pública, uma obra pequena, mas de grande benefício para a cidade. Viva!    

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

O ESTÁDIO DO LICEU

Estádio do Liceu Cuiabano (Foto José Lemos)
José Antonio Lemos dos Santos
     Sábado passado à tarde (31/09) vinha pela Getúlio Vargas e ao passar pela bela fachada Art Decô do estádio do Liceu Cuiabano vi os portões do campo abertos. O sol e o calor estavam de rachar e, como ralos flocos de neve no início dos invernos de outras terras, completando o ambiente caiam do céu flocos cinzentos da vegetação incinerada pelo fogaréu que nos cerca nesta época do ano. Meio abandonado o espaço, resolvi entrar. Fotografei. Logo muitas recordações. Fiz parte do antigo ginasial naquele maravilhoso colégio e dele guardo muitas lembranças boas de colegas, professores, funcionários e de algumas armações comuns à adolescência. Ruim de bola, usei o campo mais nas aulas de Educação Física.
     Mas o estádio me traz outras indeléveis lembranças. Por exemplo, foi no Liceu que assisti pela primeira vez a um jogo de futebol em um estádio, com times de futebol organizados participando de um campeonato oficial. Eu devia ter entre 9 e 10 anos e disputavam Clube Atlético Mato-grossense versus Mixto Esporte Clube, clássico local apelidado de CAM-MEC. Era manhã de um domingo, o estádio lotado apesar da concorrência do inesquecível “Domingo Festivo na Cidade Verde”, de Adelino Praeiro e Alves de Oliveira, programa musical e de variedades ao vivo no Cine Teatro, de enorme sucesso. Não me lembro o placar final, o de menos diante do deslumbramento vivido, mas lembro dos craques Bianchi e Portela, um de cada lado, e até hoje ressoa em meus ouvidos uma falta cobrada da intermediária pelo Bianchi. A bola passou por cima da meta e acertou uma das barras de ferro que existiam atrás do gol em uma estrutura (demolida) destinada à Educação Física, barra que ficou zunindo por um tempo como a frágil corda de um instrumento musical. E até hoje zune entre as minhas melhores lembranças.
     Do passado para o presente, vimos por algum tempo uns alunos do Liceu Cuiabano em portas de bancos e nos cruzamentos mais movimentados das proximidades vendendo rifas para ajudar o time deles a participar de campeonatos fora de Cuiabá. Não os tenho visto ultimamente. Espero que não tenham sumido por desistirem do seu esporte por falta de apoio, seria triste já que uma das alternativas ao esporte é a droga. Mas o caso do estádio do Liceu e o dos jovens atletas são gêmeos e vêm do descaso dos nossos sucessivos governantes para com o esporte.
Arquibancadas do estádio do Liceu Cuiabano (Foto José Lemos)
     E dizem que Cuiabá não tem estádios e que por isso todos os jogos em todas as categorias do futebol profissional e amador, e mesmo do nosso ótimo e promissor futebol americano, têm que ser realizados na espetacular Arena Pantanal, sacrificando seu precioso gramado de Copa do Mundo que devia ser peça de propaganda positiva de Cuiabá e Mato Grosso nas transmissões pela TV e Internet e não objeto de comentários depreciativos. Não seria o caso de juntar as duas coisas e o governo estadual, que agora finalmente vem dando alguma atenção à Arena Pantanal, viabilizar uma reformazinha no estádio do Liceu Cuiabano e nos horários não utilizáveis pela própria escola alugá-lo às federações para a realização de seus jogos de menor afluência de público? Outro dia aconteceu um jogo na Arena com um público de 12 pessoas! Deve ter custado caro ao mandante do jogo e mais ao gramado.
     Mas, esta proposta só fará sentido se o resultado do aluguel for de fato destinado à promoção das diversas modalidades esportivas no Liceu Cuiabano, o mesmo que por um tempo se chamou Colégio Estadual de Mato Grosso e que em sua história formou figuras exponenciais como o Marechal Rondon, reconhecido internacionalmente como um dos vultos mais importantes da Humanidade e o Marechal Dutra que de menino pobre vendedor de bolinhos em nossas ruas chegou à presidente da República.