"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

2014, PARA SEMPRE

Foto José Afonso Portocarrero

José Antonio Lemos dos Santos

     E o ano que parecia nunca chegar acabou chegando, 2014, o ano da Copa do Pantanal, e agora estamos no seu final e está virando passado. Para Cuiabá, um ano que não cabe em um artigo. Sem dúvida, 2014 foi um ano muito especial para Cuiabá que iniciou e viveu seu primeiro semestre sobre a forte tensão do maior desafio que a cidade jamais enfrentou, o de receber o maior evento de massa do planeta, uma Copa do Mundo de Futebol. Em seu maior momento, sucesso ou vergonha? 
     Cuiabá teria que se transformar em pouco tempo recebendo por isso o maior pacote de investimentos de sua história, ao todo 56 grandes obras públicas, fora os investimentos privados em shoppings, hotéis e até uma fábrica de cimento. 2014 chega com a cidade de pernas para o ar, esburacada, congestionada. O povo, mesmo irritado, jamais perdeu a esperança de que tudo seria para o bem da cidade. Uma esperança sofrida e desconfiada, embalada por um lado pelas obras que evoluíam aos trancos e barrancos e, por outro, pela cantilena orquestrada e maldosa dos grandes interesses preteridos com a escolha de Cuiabá, e pelo fel invejoso da politicagem local despeitada. Para a imprensa esportiva nacional, contrária a Cuiabá desde que escolhida, seria o grande fiasco nacional. Botaram até fogo na Arena ainda em obras.
     Logo as primeiras obras são liberadas e em 2 de abril vem o primeiro jogo na Arena Pantanal com o empate sem gols entre o Mixto e o Santos. Depois o Luverdense bateu o Vasco e o Cuiabá empatou com o Inter, merecendo vencer, todos com o público máximo liberado. A Arena encantou a todos e a expressão mais ouvida entre os torcedores felizes era “nem parece que estamos em Cuiabá!”, na verdade expressando a surpresa da descoberta de que Cuiabá podia ser assim, sim. E pode!
     Junho chegou trazendo os primeiros turistas. O primeiro, Cristian Guerra, chegou depois de 4 meses de viagem de bicicleta. E logo chegaram aos milhares, alegres, dando aula de como torcer aos brasileiros. Os chilenos uníssonos com seus “chi-chi-lê-lê”, os australianos de cangurus e coalas. E também vieram os russos, nigerianos, coreanos, os bósnio-herzegovinos, colombianos e os japoneses que ensinaram civilidade ao limpar a Arena após o jogo, lição usada pela torcida do Cuiabá no primeiro jogo de seu time após a Copa. 
     Os colombianos deixaram a lembrança do gol de James Rodriguez, escolhido por ele como o seu mais bonito, ele que agora foi eleito o Craque das Américas e que chegara como mero substituto do então astro maior colombiano machucado. Veio Bachelet, a presidente do Chile, veio Shakira, a rainha da Colômbia, Wolverine, o príncipe da Austrália e outras personalidades globais que nem foram percebidas em meio a turba alegre e festiva que lotou a Arena, o Fan Park, a Arena Cultural e a Praça Popular ponto de encontro de todas as torcidas. Fora dos jogos e das festas, o Centro Geodésico foi lugar de visitação constante. 
Foto José Lemos

     Ao final as pesquisas noticiadas constataram que 91,6% dos visitantes aprovaram Cuiabá e recomendariam Mato Grosso como destino turístico. Pesquisa do Ministério do Turismo 99% dos visitantes escolheram Cuiabá como a sede mais hospitaleira e a Arena Pantanal foi a preferida entre os jornalistas estrangeiros pelo site UOL, logo a UOL, sempre tão dura com Cuiabá. Até o New York Times se rendeu àquela que chamou de “a menor das cidades-sede”. Quer mais?
     Mais importante, cerca de três quartos da população local aprovaram as transformações trazidas pela Copa e acham que a cidade não passou vergonha. Findo o primeiro semestre, tudo o que veio após foi acessório, fora alguns momentos. Mas, estes só em outro artigo.
(Publicado em 31/12/2014 pelo site Midianews, CAU-MT, em 02/02/15 pelo Diário de Cuiabá ...)

Comentários fora do Blog:
No Gmail:
"em 02/02/15 José Afonso Botura Portocarrero:
Beleza de texto José Antonio,
Obrigado pelo crédito da foto também,
Feliz Ano Novo para você, Lídia e família,
VIVA 2015!"

"Em 03/01/15 Juliana Demartini:
Feliz 2015, Zé!!!
Espero que seja mais um ano positivamente movimentado como foi 2014!
Entre outras coisas, tomara que as obras da Copa sejam finalizadas e que os turistas continuem visitando nosso estado e levando boas lembranças da nossa terra e do nosso povo!
Obs.: será que fui eu a trimilionésima passageira??? Tenho andado muito pelo aeroporto... de repente!!!"

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O TRIMILIONÉSIMO PASSAGEIRO iii


José Antonio Lemos dos Santos

No finzinho de novembro o Aeroporto Marechal Rondon recebeu seu trimilionésimo passageiro, cuja chegada eu havia previsto para fim do ano passado, em artigo de outubro daquele ano. Mas, faltaram 4321 passageiros, menos da metade de um dia de movimento do aeroporto e ele não veio em 2013. Enfim, agora apareceu, junto com os preparativos do Natal, sem tapete vermelho ou banda de música, sem retrato ou foguetório, sem sequer uma notícia. Não sabemos nem se estava chegando ou partindo, se era homem ou mulher. Desprezado, porém importante, afinal ele coloca o Marechal Rondon no patamar dos aeroportos com movimento superior a 3 milhões de passageiros por ano, consolidando-se entre os mais movimentados e os de maior crescimento do país.
A importância desse número está não só em sua dimensão, mas, também em seu dinamismo. Alcançou a faixa de 1,0 milhão de passageiros/ano em 2007 e apenas 7 anos após tem seu movimento triplicado, expressando muito bem a pujança da região a qual serve, uma das mais produtivas e dinâmicas do planeta. Isso é riqueza, é potencial de desenvolvimento, de geração de empregos e renda. O privilégio de dispor de um aeroporto de categoria internacional preparado para atender com conforto e segurança suas demandas do momento e do futuro é hoje um dos fatores essenciais para o nível de inserção de uma cidade na cadeia produtiva global. Mato Grosso está inserido na escala mundial da produção agropecuária e o Marechal Rondon, mesmo que ainda subdimensionado e inacabado, é a nossa principal interface global, ferramenta de conecção física com pessoas do mundo. E desenvolvimento não se faz sem relações interpessoais cada vez mais crescentes e exigentes em conforto, segurança e agilidade.
A marca dos 3 milhões de passageiros/ano é reflexo do trabalho produtivo e sofrido da gente mato-grossense, gente que merece respeito. É bom lembrar que sem o “pibão” mato-grossense o Brasil não teria sequer seu “pibinho”. Sem dúvida é preciso que o foco se volte para a conclusão desta ampliação que deveria estar pronta para a Copa, mas sem perder de vista que o processo de desenvolvimento de Cuiabá e Mato Grosso vai muito além da Copa e que a atual ampliação não atenderá sequer o movimento atual de passageiros. Já está lotado. Ficou claro que havia uma grande demanda reprimida, em prejuízo do desenvolvimento do estado. É preciso porém lembrar que melhorou muito, e hoje mal dá para imaginar como este movimento cabia naquela estação do início do ano, antes desta sua ampliação inconclusa.
Sem a Copa não teríamos nem o que temos hoje, mas ainda vai ser necessária muita cobrança dos setores organizados da sociedade mato-grossense e seus líderes para que esta obra seja concluída, e muito mais ainda, para o estabelecimento de um cronograma de ampliação do aeroporto em sintonia com o desenvolvimento de Mato Grosso. Com a Copa já foi dificílimo, imagine sem a Copa. Um bom começo seria resgatar o Plano Diretor elaborado pela própria Infraero, na época presidida pelo saudoso cuiabano Orlando Boni, que já previa uma nova estação de passageiros voltada para o Cristo Rei e inclusive uma nova pista. Para os que acham que é muito, não é muito não, isso é Mato Grosso.
Neste assunto jamais será demais lembrar o exemplo da fantástica visão de futuro dos que na década de 40 tiveram a coragem de destinar na Cuiabá de então mais de 700 hectares à ainda incipiente aviação comercial. Era muita confiança no desenvolvimento do estado e da aviação. Tinham a visão correta do futuro. Profetas. Quantos hoje teríamos ao menos uma parcela dessa visão e coragem? Para chamar de “elefante branco” sim, aliás, muitos.
(Publicado em 26/12 2014 pelo Midianews, FFolhamax, ...)



domingo, 30 de novembro de 2014

FAZENDO UMA CANOA

redeglobo.globo.com


Veja no link abaixo com quantos paus se faz uma canoa em uma bela reportagem do programa É BEM MT,  do Pescuma:

http://redeglobo.globo.com/tvcentroamerica/ebemmatogrosso/noticia/2014/11/confira-producao-da-tradicional-canoa-o-simbolo-da-cultura-ribeirinha.html

ENTARDECER NA ARENA PANTANAL

Foto José Lemos

Caminhando na Arena Pantanal no último entardecer de novembro de 2014. Um espetáculo de gente feliz, natureza e Arquitetura da mais alta qualidade em pleno coração da América do Sul.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

CIDADES PARA CIDADÃOS

tripadvisor.com.br


José Antonio Lemos dos Santos

     Não sei se em outros lugares é assim, mas no Brasil, e não é de agora, muitas iniciativas nascem de ideias e objetivos excelentes, mas logo são desvirtuadas e assimiladas pelo sistema perverso e corrupto que domina o país há décadas ou séculos e que nestes tempos deixa vazar seus fluídos purulentos por todos os poros da sociedade. Assim, por exemplo, foi com o BNH e o SFH, nascidos com o objetivo de adotar a produção da moradia popular como carro-chefe do desenvolvimento da economia nacional em substituição ao automóvel. Logo, porém, a casa própria deixou de ser o objetivo para ser apenas um pretexto para setores da indústria da construção auferirem lucros exorbitantes. Não importava mais a casa, mas o lucro, e o BNH acabou. Mais recente tivemos a ótima ideia do Bolsa Família que virou poderosa ferramenta de um clientelismo eleitoral pós-moderno de cartões e arquivos eletrônicos, o pior dos fins para uma ideia tão boa. 
     Em 2003, após décadas de lutas de diversos segmentos sociais pela qualidade de vida nas cidades, dentre estes as entidades dos arquitetos, foi criado o Ministério das Cidades, na sequencia de avanços como a inserção da questão urbana na Constituição Federal, o Estatuto da Cidade e a criação do Conselho de Desenvolvimento Urbano. Maravilha? Que nada. No rastro de tão promissores avanços, de imediato os estados trataram de criar suas Secretarias das Cidades, como réplicas da estrutura federal, logo seguidos pelos municípios. Só que nesse momento os objetivos não eram mais as cidades, mas tão somente os recursos financeiros do Ministério das Cidades. Em Cuiabá a réplica foi tão perfeita que foi criada uma Secretaria de Cidades, no plural mesmo, como se o município tivesse outra ou outras cidades além da capital de Mato Grosso. De quebra foi extinto o Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento Urbano de Cuiabá – IPDU, seguindo a extinção, pouco antes, do até então exitoso Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano - CMDU, um dos pioneiros no Brasil, anterior ao Estatuto da Cidade. Passados 13 anos da alvissareira criação do Ministério das Cidades, tudo continua como dantes, com as cidades como meros pretextos para maus empresários insaciáveis abocanharem verbas para obras de necessidades e qualidades duvidosas, tudo amparado por conselhos que, nascidos como órgãos de participação da população, hoje se resumem a meros legitimadores de decisões já tomadas.
     Eis que agora de novo as esperanças se renovam para as cidades de Mato Grosso, em especial para Cuiabá. Conforme o noticiário, no bojo de uma reforma administrativa, o prefeito Mauro Mendes resolveu recriar o órgão de planejamento urbano do município – o IPDU. Em nível estadual o governador eleito Pedro Taques escolheu o arquiteto e urbanista Eduardo Cairo Chiletto como seu secretário das Cidades, também segundo o noticiário. Duas grandes notícias! 
     As cidades são muito mais do que um somatório de obras. Por isso as obras públicas e privadas devem formar um todo coerente expresso no Plano Diretor, que não basta ser elaborado, mas cumprido. O estado não é apenas um somatório de cidades, mas um conjunto delas, articuladas interna e externamente em rede hierarquizada onde os esforços se distribuem gerando uma fantástica sinergia que precisa ser entendida para ser potencializada. Daí a importância do Urbanismo e do urbanista, seu principal operador, tanto em cada uma das cidades como na rede urbana em que se articulam. O IPDU no município e Chiletto na SeCid, são grandes notícias para aqueles que, como eu, ainda esperam que as cidades voltem a ser, antes de tudo, centros de qualidade de vida onde todos ganhem, cresçam e evoluam como cidadãos. 
(Publicado em 26/11/14 pelo Diário de Cuiabá)

terça-feira, 4 de novembro de 2014

DIA MUNDIAL DO URBANISMO


José Antonio Lemos dos Santos

DIA MUNDIAL DO URBANISMO

     Amanhã, dia 5, acontecerão as eleições para o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso – CAU/MT, data auspiciosamente próxima ao Dia Mundial do Urbanismo, 8 de novembro. Tão importante quanto sua criação e sua recente implantação no estado, esta sob o comando do arquiteto Cláudio Miranda, busca-se agora a afirmação do órgão que cuida especificamente do exercício profissional do Arquiteto e Urbanista, especialista na transformação do espaço de acordo com as necessidades de abrigo do homem, do planejamento de interiores ao regional, passando pelas escalas do edifício, do bairro e da cidade. Daí a peculiaridade destas eleições tão próximas à data dedicada ao Urbanismo, ciência voltada ao principal problema do século, a cidade.
     A cidade constitui a maior, a mais complexa e bem-sucedida das invenções do homem. Surgida há 5 mil anos, com ela veio a civilização que acelera a evolução humana. De lá para cá o mundo foi se urbanizando e desde 2008 já é mais urbano que rural. E o Urbanismo que vem lá de Alberti no Renascimento, passa pelas cidades liberais da Revolução Industrial, pelo Urbanismo Modernista da Carta de Atenas, pelo Novo Urbanismo da Carta de Charlestown, chega hoje à revolução da eletrônica, da internet e da globalização, com os desafios da compatibilidade ambiental, da inclusão e das possibilidades das cidades inteligentes, verdes, justas e sustentáveis.
     De extrema complexidade, a cidade é comparável a um organismo vivo em dimensões imensas, que vão das pequenas vilas até as megalópoles ou às megarregiões urbanas, chegando aos milhares de quilômetros quadrados com dezenas de milhões de habitantes. A cidade é um enorme recipiente, articulado regional e globalmente, onde acontecem as relações urbanas em toda sua múltipla diversidade. Sua função é permitir que tais relações aconteçam da melhor forma com sustentabilidade, conforto, segurança e, sobretudo, justiça. Ajudá-las no cumprimento desta função é o objetivo do Urbanismo.
     Em evolução contínua, o Urbanismo reflete a complexidade de seu objeto de trabalho e abrange os diversos campos de conhecimento que a cidade envolve. O urbanista não pode ser um especialista, mas um generalista voltado a entender o organismo urbano com um todo. Não se pode tratar os problemas da cidade sem antes tratar da cidade com problemas. O urbanista precisa saber um pouco de tudo para enxergar o todo, e, em especial, saber que esse conhecimento, embora indispensável, é nada sem a companhia das diversas especializações técnicas nas múltiplas facetas da cidade e da problemática urbana.
     As cidades vivem uma inflexão profunda diante da revolução dos satélites, das fibras óticas e da internet que acenam com perspectivas inimagináveis desconstruindo conceitos fundamentais como tempo, espaço e distância colocados agora no seio da realidade fantástica do ciberespaço, mas ainda atolada no drama da iminência do colapso com a água, lixo, mobilidade, poluição, energia, emprego, fome, moradia e segurança. E as cidades falhando, a civilização explode.
     Inaceitável que no Brasil o Urbanismo e o urbanista sejam tão desconsiderados. Como podem existir cidades sem órgãos técnicos especializados que a estudem contínua e sistematicamente, propondo alternativas para seu desenvolvimento? A falta do Urbanismo asfixia as cidades brasileiras que estressam, mutilam e matam, mas que ainda são os locais da diversidade e da inovação. O surgimento e a consolidação do CAU é uma grande esperança. Crise é risco e oportunidade. Junto à chance da tragédia está a oportunidade da reinvenção urbana. E da própria reinvenção do homem.



terça-feira, 21 de outubro de 2014

MATO GROSSO E A ELEIÇÃO PRESIDENCIAL

Cena do filme Swing Vote (americanprogress.org)

José Antonio Lemos dos Santos

     A equilibradíssima final desta eleição presidencial me fez lembrar do filme em que a escolha do presidente dos EUA ficou na dependência do voto de apenas um eleitor. Interpretado por Kevin Costner, um daqueles cidadãos formatados pela mídia (poderia ser chamado “midiota”?) sempre de boné, só ligado em cerveja, TV e música country, acabou virando o foco das atenções do maior país do mundo e objeto de disputa entre os 2 presidenciáveis, dispostos a mudar de última hora discursos, promessas e programas de governo para agradá-lo. Passou-me pela cabeça que este momento de nossa eleição pudesse enfim ser a vez de Mato Grosso, sempre tão desprezado nas campanhas presidenciais por seu contingente eleitoral considerado insignificante pelos marqueteiros. Mas nesta eleição o quadro mudou e em sua reta final a disputa é voto a voto. A vitória será por pequena margem e até os pequenos serão importantes. A diferença de votos em Mato Grosso poderá ser a diferença de votos no Brasil. Será?
     Pelo sim ou pelo não, como se pudesse fazer qualquer diferença nestas horas finais de campanha, dou asas a um surto de imaginação política e fantasio sobre o que Mato Grosso teria de mais importante a reivindicar junto aos candidatos em suas desesperadas retas finais de campanha, tipo topa tudo por um voto. Colocaria a questão da logística como o pedido mais prioritário. O estado líder disparado na produção nacional de alimentos e um dos maiores do mundo extrapolou faz tempo os limites de sua capacidade de transportar pessoas e cargas, não só para levar para fora sua produção física, mas também para permitir a circulação de inteligência e serviços, e para trazer o desenvolvimento. Esta situação insustentável coloca em risco a própria viabilidade produtiva do estado, agride o meio ambiente e, pior, provoca mortes e dolorosas sequelas em nossa gente, disseminando a insegurança e o medo ao se enfrentar qualquer uma de nossas estradas.
     A logística em Mato Grosso domina por décadas as conversas e reivindicações no estado, inclusive nas próprias correntes que disputam hoje a presidência, mas pouco avançou na prática. Todos compreendem que o modal rodoviário esgotou seu limite e que, além de ser melhorado, precisa ser complementado por ferrovias, aerovias e hidrovias. O PSDB trouxe a ferrovia dos barrancos paulistas até Alto Araguaia, seguindo o projeto da Ferronorte pelo qual os trilhos integrarão Mato Grosso e o Oeste brasileiro através de Cuiabá. Já o PT, após delongas, estendeu os trilhos até Rondonópolis, onde já se encontra em funcionamento o maior terminal ferroviário da América Latina. Só que seu governo resolveu parar a Ferronorte em Rondonópolis e optar por uma outra ferrovia, a FICO, de 1.200 Km ligando Lucas do Rio Verde à ferrovia Norte-Sul em Goiás, ainda sem funcionar. Um absurdo, já que Nova Mutum, um dos maiores produtores do agronegócio, está a apenas 460 Km de Rondonópolis, passando por Cuiabá, em ambiente antropizado, sem araguaias e himalaias a transpor. No primeiro turno o PSDB manteve o compromisso com o prosseguimento do projeto Ferronorte e o PT através de seu senador eleito promete rever suas prioridades no assunto, de acordo com seu novo mote de campanha: novo governo, novas ideias. Nestes poucos dias até a eleição definitiva, qual dos candidatos se comprometeria de própria boca com a passagem da ferrovia por Cuiabá e sua chegada urgente a Nova Mutum? Nenhum é claro, afinal estas elocubrações não passam de simples devaneio. Mato Grosso para a política nacional seguirá desprezível, só servindo para bater recordes de produção e enriquecer os saldos comerciais brasileiros. Seu ambiente que degrade, seu produtor que perca, seu povo que morra! 
(Publicado em 21/10/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)

terça-feira, 14 de outubro de 2014

CHOCADEIRAS HIGH-TECH

José Antonio Lemos dos Santos


     Faz parte do folclore político local o “coronel” cuja fazenda tinha uma urna conhecida como “chocadeira” pela homogeneidade dos votos, sempre coincidentes com sua preferência eleitoral. Conta a lenda que ao votar, e era o tempo da cédula eleitoral de papel, o eleitor entregava a cédula ao “coronel” que marcava o voto, dobrava a cédula e devolvia ao eleitor para depositar na urna sob seu olhar atento. Após votar o eleitor indagava em quem havia votado e o “coronel” respondia que não podia dizer, pois o voto era secreto.
     Hoje, nos tempos dos computadores e da internet, é claro que nosso sistema eleitoral evoluiu em muitos aspectos. Mas não em todos, em especial, nas eleições proporcionais. Com todo respeito à Justiça Eleitoral, mas ao não divulgar as listas dos candidatos por partido ou coligação ela vem agindo como o “coronel” do nosso folclore. Ora, todos sabem que o voto nas eleições proporcionais não é um voto individual como nas eleições majoritárias. Nas proporcionais vota-se em candidatos que formam um time (partido ou coligação) que ganhará um número de cadeiras legislativas em proporção ao total de votos recebidos através de seus candidatos, cadeiras que serão ocupadas só pelos mais votados do time. Em suma, o eleitor dá a cadeira ao time sem saber quem do time sentará nela, podendo não ser aquele em quem votou. Aliás, o eleitor não fica sequer sabendo quem são os outros candidatos do time, pois a Justiça não divulga as escalações. Aí o problema: nestas eleições, por exemplo, para Deputado Federal 757.546 eleitores elegeram seus escolhidos, mas 577.546 não, votaram em um e elegeram outros, muitas vezes de sua repugnância politica. Pura desinformação. Pior, ainda levam a culpa pela qualidade dos eleitos.
     Analiso como exemplo o caso do candidato eleito com menor número de votos para Deputado Federal nestas eleições de 2014 em Mato Grosso, sem qualquer demérito ao candidato, pois, afinal, certo ou não, é assim que as eleições estão acontecendo. O quociente eleitoral para a Câmara Federal este ano foi 181.826 votos, ou seja, este é o “preço” em votos de cada uma das cadeiras para Deputado Federal em Mato Grosso. Ora, o candidato recebeu exatos 62.923 votos, isto é, cerca de um terço dos votos necessários para a conquista da cadeira que irá ocupar em Brasília. Para inteirar o “preço” precisou de 118.903 votos a mais, quase o dobro de sua votação nominal, votos que não foram dados a ele e sim a outros candidatos do partido ou coligação. O mais votado também precisou inteirar o quociente fazendo uso de 54.077 votos dados a outros candidatos de sua coligação. Mas até aí tudo bem, pois assim são as eleições proporcionais. O que questiono é se estes eleitores cujos votos foram usados para completar o quociente eleitoral sabiam que seu voto poderia ir para o candidato que foi eleito. Seria de seu gosto a eleição ou re-eleição desse candidato? Passadas as eleições, será que estes eleitores já sabem quem de fato elegeram. Algum dia saberão? Saber quem seu voto elegeu deveria ser um direito do eleitor, até para poder cobrar dos eleitos. Ou não é?

     As eleições proporcionais são fundamentais à democracia, mas não como acontecem no Brasil. Aqui, ao invés de ferramentas democráticas, desconstroem quaisquer resquícios da representatividade popular buscada pelas eleições. Favorece os maus candidatos que se escondem na desinformação da votação e só aparecem na apuração. A cada eleição entendo menos o porquê da Justiça Eleitoral não divulgar massivamente as listas dos candidatos por partidos ou coligações, combinadas com explicações sobre o funcionamento das eleições proporcionais. Seria melhor para o eleitor e para as eleições. Por que não?
(Publicado em 14/10/14 no Blog do José Lemos e em 15/10/14 pelo Diário de Cuiabá, Midianews, Jornal Oeste, ...) 

terça-feira, 16 de setembro de 2014

CUIDADO, ELEIÇÕES PROPORCIONAIS!

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José Antonio Lemos dos Santos

     Ainda abalado com as derrotas do Cuiabá e do Luverdense no último final de semana, destaco que já estamos a menos de vinte dias das eleições deste ano nas quais serão escolhidos o próximo presidente da república, ou presidenta, um novo senador e as próximas bancadas de deputados federais e estaduais. Até aí nada de mais já que as eleições são o ponto culminante das democracias e aqueles que participaram dos movimentos para que voltassem a acontecer no país sabem muito bem o quanto são importantes. Fundamental que tenham voltado e é essencial que as eleições sejam cada vez mais legítimas e representativas da vontade do povo. Que me perdoem de novo os especialistas em política, mas volto à questão das eleições proporcionais, ou melhor, à forma como ela é praticada no Brasil que me parece desvirtuar as intenções de voto do cidadão. É comum se ouvir que o cidadão não sabe votar, que é dele a culpa pelos políticos que o país tem e pela qualidade dos nossos governantes. Coitado, desrespeitado e maltratado, paga a conta e ainda sai de bandido. 
     Como todos sabem, o Brasil tem dois tipos de eleições, as majoritárias e as proporcionais, e é importante que existam as duas. Nas majoritárias vence o candidato que tiver mais votos. É simples e todo mundo sabe em quem está votando. Nas proporcionais já não é tão simples assim. O cidadão escolhe um candidato e seu voto pode eleger outro, muitas vezes até eleger um que ele não queira eleger. Nas eleições proporcionais o objetivo é fazer a divisão proporcional do poder político entre as diversas correntes partidárias, proporção esta expressa no número de cadeiras parlamentares que cada corrente conquistar pelo voto. Tais cadeiras são ocupadas pelos candidatos mais votados em cada corrente, a maioria dos quais, contudo, não é escolhida diretamente pelo eleitor. Por isso os mandatos das eleições proporcionais são dos partidos e não dos candidatos. Esta é a beleza das eleições proporcionais, mas também seu grande mal entre nós. 
     Em suma, o eleitor pode escolher um bom candidato e eleger sem querer outro do mesmo partido ou coligação a qual pertence o candidato escolhido. O eleito pode até ser um que o eleitor quisesse banido da vida pública. Aliás, as tais listas de candidatos dos partidos são montadas habilmente pelos seus caciques de forma a garantir suas próprias eleições ou de seus escolhidos. E assim o povo é enganado no seu próprio voto, elegendo e legitimando muitos daqueles que não gostaria de ver eleitos ou reeleitos. 
     O sentido de consciência e responsabilidade do eleitor na hora de votar deve então ser multiplicado nas eleições proporcionais. É fundamental a escolha de um bom candidato, como também na majoritária. Mas nas proporcionais não basta escolher o bom candidato, é preciso saber se a sua lista ou chapa de companheiros de partido ou coligação abriga uma daquelas figuras que o eleitor não queira eleger. Caso afirmativo, é quase certo que irá elegê-lo, mesmo sem querer. Evitar a situação não é tarefa fácil, pois as listas dos candidatos só são divulgadas por ordem alfabética. Uma alternativa para o eleitor seria buscar na lista por ordem alfabética disponível no site do TRE-MT se a coligação de seu candidato tenha algum daqueles nomes indesejados. Uma agulha no palheiro. Caso a lista esteja poluída, o jeito é trocar de candidato e repita o processo na outra coligação. Seria bem mais fácil se nesta reta final das eleições o TRE-MT publicasse massivamente a lista dos candidatos nas proporcionais por partido e coligação. Ajudaria a aperfeiçoar a legitimidade e a representatividade das eleições que todos querem cada vez melhor. 
(Publicado em 16/09/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)

terça-feira, 9 de setembro de 2014

FERROVIA E VERGONHA NA CARA

transportabrasil

José Antonio Lemos dos Santos

     A afirmação do ministro dos Transportes na semana passada de que a Ferronorte não chegará a Cuiabá porque não é prioridade do governo federal apenas confirma de boca oficial aquilo que para qualquer bom entendedor já vinha sendo executado por baixo dos panos pelo menos desde 2007, quando surgiram as primeiras notícias sobre a Fico. Como um trem a jato, de imediato aquela novidade entrou no Plano Nacional de Viação e, ainda como “obra em fase de estudos”, substituiu no PAC o trecho da Ferronorte entre Rondonópolis e Cuiabá, já mostrando que o governo federal tinha um novo plano ferroviário para Mato Grosso. Confirmando, logo depois a ALL abriu mão do restante da Ferronorte, um dos maiores sistemas ferroviários do mundo, uma atitude no mínimo estranha para uma empresa que se supunha viver das ferrovias. 
     Daí para frente foi só blablablás e estudos de viabilidade desnecessários e nunca concluídos, tudo para enrolar a população da Grande Cuiabá que constitui quase um terço do eleitorado mato-grossense, situação que exigia muita dissimulação na tocada do novo projeto, que logo contou com o silêncio covarde e interesseiro da classe política local. O ministro não falou nada de novo, mas é uma voz governamental oficializando que foi de fato abandonado o projeto da Ferronorte pelo atual governo federal, ainda que este projeto se mostre cada vez mais atual, voltado objetivamente ao atendimento das demandas logísticas de Mato Grosso, integrando o estado campeão produtivo, levando a produção, mas também trazendo o desenvolvimento. 
     Diante da extrema emergência logística que mata cada vez mais as pessoas nas estradas, degrada o ambiente e causa expressivas perdas ao produtor, não dá para entender como se pode optar por um trajeto de 1.200 Km de Lucas até a Norte-Sul (GO) ainda sem funcionar, e deixar de lado a ligação de Nova Mutum ao maior terminal ferroviário da América Latina em Rondonópolis, em pleno funcionamento a apenas 460 Km, passando por Cuiabá. Não dá para entender o ministro dizer que a ligação de Rondonópolis a Cuiabá saiu da prioridade do governo federal, porque não tem carga. Como, se Cuiabá fica no meio do caminho para Nova Mutum ou Lucas do Rio Verde e metade da produção agrícola de Mato Grosso fica no mercado interno? Além disso, tem a carga de retorno pela qual vêm materiais de construção, combustíveis, insumos e máquinas agrícolas, bem como mercadorias e utilidades diversas destinadas à elevação da qualidade de vida a que o povo mato-grossense tem direito. Ou não tem? Para Brasília o mato-grossense só existe para produzir, exportar e sustentar os superávits da balança comercial brasileira? E a Grande Cuiabá é o maior centro consumidor, centralizador e distribuidor de cargas do estado, servindo também o oeste brasileiro e nordeste boliviano. Como não tem carga?
     Mas as coisas ficam compreensíveis quando se entende que o novo projeto ferroviário federal não tem como objetivo principal a tão urgente solução logística para o estado, que deveria ter. Na verdade querem usar a logística para fazer geopolítica criando sistemas separados ao norte e ao sul para dividir o estado. Azar se as pessoas morram, o ambiente deteriore ou o produtor perca, o que interessa para eles é criar mais uma ou duas pirâmides de cargos públicos para a alegria da imensa maioria da classe política, que seria a única beneficiada da tramoia. Ao invés de qualidade de vida, querem é nos presentear com mais 3 senadores, 8 deputados federais, 24 estaduais, etc., etc. No mínimo. Rindo na nossa cara. Querem rasgar este Mato Grosso unido, cada vez mais forte e campeão, e manda-lo de novo ao fim da fila federativa, de novo sem voz e sem vez. E tudo pago pela gente. 
(Publicado em 09/09/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

ARQUITETA FEDERAL


SENDO UM BLOG DE ARQUITETO PARA ARQUITETOS E CIDADÃOS EM GERAL, O BLOG DO JOSÉ LEMOS RECOMENDA À APRECIAÇÃO DE SEUS LEITORES O NOME DA COLEGA ANA RITA MACIEL (TAÍTA), QUE  SE COLOCA NA SUA CONDIÇÃO DE ARQUITETA E URBANISTA NA DISPUTA POR UMA CADEIRA NA CÂMARA FEDERAL. COM UMA LONGA E RESPEITADA ATUAÇÃO NA PROFISSÃO, INCLUSIVE NA ACADEMIA, SEMPRE DEMONSTROU ELEVADO ESPÍRITO PÚBLICO COM O QUAL SE OFERECE AGORA PARA LEVAR ADIANTE AS GRANDES CAUSAS DA ARQUITETURA E DO URBANISMO NACIONAL TAIS COMO A VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL, O PLANO DIRETOR E O CONTROLE  PÚBLICO DA CIDADE, O URBANISMO POR URBANISTAS,  A QUALIDADE NOS CONJUNTOS DE BAIXA RENDA, E A ASSISTÊNCIA TÉCNICA PÚBLICA E GRATUITA PARA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL. 

terça-feira, 2 de setembro de 2014

UMA MATRIZ PARA O TRICENTENÁRIO

wikipedia

José Antonio Lemos dos Santos

     Há duas semanas o professor Benedito Pedro Dorileo em um de seus belos e importantes artigos lembrou dos 120 anos de Zulmira Canavarros que serão comemorados no próximo ano e sugere que nessa comemoração seja lançada a pedra fundamental do Teatro Municipal de Cuiabá que teria o nome da homenageada e que se constituiria em marco dos 300 anos de Cuiabá. Teatróloga, musicista, poeta, ativista social, pioneira em diversas áreas da cultura cuiabana, Zulmira Canavarros marcou profundamente ao menos a geração de minha mãe, que sempre fazia referências a ela, seja através de uma música, de uma poesia e até de lembranças do time de vôlei do Mixto, no qual jogou e do qual guardava uma velha foto amarelada. Para mim a obra mais marcante de Zulmira Canavarros é o hino do Mixto, sem dúvida um dos mais belos hinos de clubes de futebol do Brasil, beleza que para quem ainda não conhece pode ser facilmente conferida no Youtube. E olha que não sou mixtense. 
     Desnecessário falar sobre os méritos da professora Zulmira para homenagens como a sugerida. Trago o assunto em especial pela oportuna lembrança do tricentésimo aniversário de Cuiabá que está por acontecer em 2019 e que daqui até lá já faltam menos de 5 anos. Uma das grandes lições da Copa foi, ou deveria ter sido, que 5 anos é pouco tempo para qualquer programação de obras de importância. Então, veio em boa hora o artigo do professor Benedito Dorileo abordando o assunto. Ou seja, se quisermos fazer alguma coisa significativa para o Tricentenário temos que começar agora, ou melhor, já deveríamos ter começado. Para termos o Teatro Municipal de Cuiabá como um justo presente para cidade em seu Tricentenário é preciso decidir agora para que no ano que vem seja lançada a pedra fundamental, marcando também os 120 anos do nascimento da grande intelectual cuiabana, abrindo assim um cronograma de obras seguro para que tudo aconteça com qualidade e no tempo certo. 
     Tenho repetido muitas vezes desde que ganhamos a oportunidade da Copa do Pantanal, que a realização deste grande evento em Cuiabá foi um artifício do Bom Jesus de Cuiabá para dar um choque de adrenalina em nós cuiabanos, preparando-nos para os novos tempos de dinamismo que a cidade vive, de modo a poder prepará-la para o Tricentenário. Também um treinamento técnico, político e administrativo. Será que aproveitamos? Acho que não. O Tricentenário, nossa maior efeméride no século se aproxima e ainda não nos movemos, faltando menos de 5 anos. 
     A Copa, em termos de planejamento já passou. É verdade que temos que cobrar, exigir a conclusão com rapidez de todas as suas obras, com qualidade, segurança e respeito ao dinheiro público. Mas, em termos de planejamento, o que nos interessa agora é continuar olhando para o futuro – um dos maiores legados da Copa - e o próximo marco são os 300 anos de Cuiabá. A exemplo da matriz de responsabilidades assumida com o governo federal e a Fifa é preciso que de imediato se pense em uma matriz de compromissos para com o Tricentenário, agora assinada entre os cuiabanos e sua cidade, entre os mato-grossenses e sua capital, e entre os brasileiros e uma das cidades que mais contribuíram para a grandeza do território nacional e hoje articula uma das regiões que mais enriquecem os saldos comerciais do país. Duas obras abririam muito bem a matriz do Tricentenário: o Teatro Municipal Zulmira Canavarros e a revitalização do Centro Histórico de Cuiabá, tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional, com o indispensável e muitas vezes prometido projeto de rebaixamento da fiação ampliado a toda a Zona Central da cidade. É claro que outros projetos poderão ser selecionados, com pés no chão, mas com visão ampla, compatível com a história e o futuro da cidade. Mas é preciso começar já. 
(Publicado em 02/09/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)

terça-feira, 26 de agosto de 2014

MEU CARO ELEFANTE

gazetadopovo.com.br

José Antonio Lemos dos Santos

     Já estive diversas vezes dentro da Arena Pantanal, durante a Copa ou depois torcendo para nossos times locais. Neste último fim de semana voltei à grande praça da Arena Pantanal para uma saudável e prazerosa caminhada. Meu local favorito continua sendo o Parque Mãe Bonifácia, porém a Arena Pantanal chegou como uma promessa de espaço alternativo de grande qualidade, aberto às noites. Adotado imediatamente pela população, é muito bonito ver como de fato as pessoas abraçaram aquele espaço, e é notável como ela de fato carecia de espaços públicos como este com grandes áreas pavimentadas aptas à pratica segura de diversas formas de lazer e esporte, em especial os de rodas não motorizadas. Lá vemos, às centenas, pessoas contentes em seus diferentes tipos de skates, patins, bicicletas, velocípedes, pais ensinando às crianças a arte do equilíbrio nas rodas ou os primeiros chutes na bola, e aqueles caminhando ou correndo, ou só passeando com seus animais de estimação. Havia até uma entusiasmada fanfarra-mirim ensaiando para o 7 de Setembro. Usuários felizes num espaço projetado para esse fim, essa é a realização maior da Arquitetura. 
     Infelizmente, saí de lá preocupado. Parece que as previsões pessimistas começam a dar mostras de que podem acontecer em relação à Arena. Não pela temida insipiência de nosso futebol, que vem inclusive apresentando boa média de público em nível nacional para surpresa daqueles que não conheciam sua força, mas pela aparente incapacidade do governo em lidar com um equipamento como uma arena classificada entre as mais modernas, sofisticadas e complexas do mundo. As falhas na iluminação cenográfica das fachadas observadas no sábado chegaram a apagar totalmente a fachada leste no domingo, inclusive a iluminação da praça, deixando o povo no escuro. Tratando-se de um dos pontos altos e inovadores da Arena Pantanal essa iluminação cênica merece um tratamento especial constante. Presenciei também que os carros estão usando a praça como estacionamento e mesmo circulando entre as pessoas. Além do policiamento ostensivo presente, ainda que em número reduzido, certamente serão necessários orientadores ou monitores articulados com a segurança policial para evitar acidentes que venham quebrar a magia que ainda encanta os usuários da praça. 
     Aliás, na outra semana quando do jogo Cuiabá x Fortaleza, em rodada dupla com o Operário, houve também um show musical no local. Nada demais, já que se trata de um equipamento de múltiplo-uso, inclusive, com a previsão de espetáculos musicais. O problema é que não usaram a Arena, mas montaram um palco imenso, como esses usados nos grandes shows públicos itinerantes, sem o menor respeito por aquele que foi considerado um dos mais espetaculares projetos arquitetônicos do mundo, recém-inaugurado a um custo de R$ 600,0 milhões. E o pior, restaram cravados grampos e braçadeiras com porcas e parafusos expostos no piso antes lisinho da praça, expondo seus usuários a riscos de quedas e topadas perigosas. 
     Era sabido que a gestão seria o grande desafio de um equipamento como a Arena Pantanal. Não se trata apenas decidir se vai ser pública ou privada. Antes de tudo é preciso assegurar que um equipamento desse porte funcione como uma poderosa ferramenta de promoção da qualidade de vida para o povo mato-grossense. As experiências bem sucedidas geralmente trabalham com agências específicas de gestão, voltadas especificamente para o desenvolvimento das múltiplas potencialidades do equipamento. No caso, não só futebol, shows, e a atratividade turística do fantástico edifício, mas a própria praça em que está inserida e que caiu tão bem no gosto do povo. 
(Publicado em 26/08/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)



terça-feira, 19 de agosto de 2014

ELEIÇÕES E FERROVIA

amantesdaferrovia.com.br

José Antonio Lemos dos Santos

     Dá para desconfiar quando alguém diz querer resolver um problema urgente, mas em vez de escolher a solução mais viável, rápida e barata prefere outra com o dobro das dimensões, custos e dificuldades. É o caso da logística em Mato Grosso, que vem trazendo pesadas perdas à produção e ao ambiente, e, em especial, perdas de vidas humanas. Não dá para comparar os 560 Km da continuidade da Ferronorte de seu terminal operante em Rondonópolis passando por Cuiabá até Lucas do Rio Verde, com os 1200 Km da FICO de Lucas até a inoperante Norte-Sul. 
     Na verdade, por trás dessa questão da ferrovia estão em jogo dois projetos de futuro para Mato Grosso. Por um a ferrovia passa por Cuiabá, e pelo outro busca-se afastar o norte do sul mato-grossense, com Cuiabá no meio, isolada. Como Cuiabá é o maior reduto eleitoral do estado, esse jogo tem sido habilmente dissimulado por seus defensores. O primeiro projeto, a Ferronorte, tem quase 5 décadas e a cada ano é mais atual, mostrando a grande visão de seus idealizadores, os saudosos senador Vicente Vuolo e o professor Domingos Iglesias. Seu traçado vai até Santarém pela espinha dorsal do estado, a BR-163, com uma variante para Porto Velho e Pacífico, comportando outras extensões como para Cáceres, e mesmo para a FICO. Uma ferrovia que reforça a integridade geopolítica que faz de Mato Grosso um estado otimizado e o de maior sucesso produtivo no país. Uma ferrovia para levar e também trazer o desenvolvimento, não só uma esteira exportadora de soja.
     O outro projeto surgiu com o avanço da economia do estado e do oportunismo estratégico de algumas lideranças políticas que querem aproveitar da nova força para dividir o estado. Por ele a Ferronorte para em Rondonópolis e é complementado com a FICO ao norte, cortando o estado horizontalmente, sequestrando nossas cargas e empregos para Goiás e Rondônia. Basta lembrar do mapa do estado para entender a clara intenção de dividir a economia mato-grossense, deslocando artificialmente o centro geopolítico de Cuiabá para dois polos, Lucas e Rondonópolis, forçando uma futura divisão política do estado. O Mato Grosso platino fica excluído, inclusive Cuiabá e Cáceres com todas as potencialidades de seu porto e ZPE
     O problema deste projeto é a Grande Cuiabá, o maior centro de carga de ida e volta do estado. Temem que um terminal ferroviário em Cuiabá, ligado a Cáceres, Lucas, Porto Velho e aos portos do Pará inviabilize o terminal de Rondonópolis como o maior do estado, indispensável ao pretendido deslocamento geopolítico ao sul. Daí a necessidade de se isolar Cuiabá. Já o projeto da Ferronorte ficou órfão politicamente sem o senador Vuolo e Dante. Quem fará sua defesa? A FICO hoje foi abraçada pela classe política que trabalha por ela com um eloquente e covarde discurso de fingimento e omissão em relação à Ferronorte, em especial aqueles que não cresceram com o estado e para os quais a única chance de sobrevida política é reduzir Mato Grosso às suas próprias mediocridades. Mudos! Para estes a logística, o produtor e vidas humanas são secundários, só lhes interessa mais poder, mais cargos públicos, tudo pago pelo povo. 
     A Ferronorte não exclui a FICO, o inverso sim. E podem ser as duas. Em 70, na ligação asfáltica de Cuiabá o dilema era se seria por Goiânia ou Campo Grande. Aconteceram as duas e foi um sucesso. Mas hoje enquanto nos calamos o projeto excludente avança. Quem defenderá os trilhos para Cuiabá, Nova Mutum e Lucas, a continuação do atual Mato Grosso, unido e campeão, ao invés de rasgá-lo em dois ou mais, de volta ao fim da fila federativa, de novo sem poder, sem voz e vez? 
(Publicado em 19/08/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)

terça-feira, 12 de agosto de 2014

MUITO ALÉM DO BARREIRO BRANCO

skyscrapercity.com

José Antonio Lemos dos Santos

     Compactas, densas e diversificadas, 3 palavras que melhor resumiriam a doutrina urbanística atual sobre as cidades contemporâneas inteligentes e sustentáveis. Desde fins da década de 80, as extraordinárias equipes técnicas do extinto Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento Urbano de Cuiabá – IPDU, recém criado à época, tiveram a capacidade de entender estes princípios ainda tenros na literatura urbanística de então e fazer propostas de vanguarda para Cuiabá tendo como foco a ideia do “crescer para dentro”, isto é, a cidade ocupar seus espaços vazios e aumentar sua densidade visando a otimização da infraestrutura e a redução de seus custos operacionais. Os estudos apontavam que, por conta de sua ocupação descontrolada, a cidade tinha uma densidade urbana muito baixa, ou seja, tinha uma Zona Urbana muito maior que a necessária para abrigar com conforto sua população. Era preciso então evitar a todo custo novas ampliações. 
     As metas de adensamento e compacidade das cidades foram reafirmadas depois pelo Estatuto da Cidade e hoje é o que existe de mais atual na literatura urbanística mundial. Reforçando a tese, em 2007 o então prefeito Wilson Santos através da Lei Complementar nº 150 proibiu por 10 anos a ampliação do perímetro urbano de Cuiabá. E pelo que sei continua proibido. Mas... A pressão pela expansão do perímetro urbano por força da valorização da terra é um fenômeno permanente aqui e em todo o mundo e seu controle em função do interesse público é básico, indispensável para o sucesso de qualquer política urbana.
     Na contramão da história, no início de 2011 foi extinto o IPDU e em fins de maio do mesmo ano durante a administração Francisco Galindo foi aprovada na surdina a Lei 5.395 criando os distritos do Sucuri, Aguaçu e Nova Esperança. Até aí tudo bem. Só que no bojo da criação dos distritos veio a definição das Zonas Urbanas das sedes dos tais distritos, cabendo à sede do Sucuri uma Zona Urbana com 1070 ha, injustificáveis tecnicamente, maior que a Morada da Serra, da ordem de 700 ha e que poderia ser a quarta ou quinta cidade do estado. Meses depois, quando o assunto veio à luz do conhecimento público, a leitura do encaminhamento topográfico do perímetro da nova Zona Urbana trouxe a explicação. Nela se observa que a nova Zona Urbana é colada à Zona Urbana de Cuiabá, configurando na prática uma ampliação desta em 1070 ha, ampliação proibida por 10 anos pela Lei Complementar 150/2007.
     Agora surge o projeto da transformação do Barreiro Branco em novo distrito municipal, próximo ou colado ao limite norte da Zona Urbana de Cuiabá, proibida de ser ampliada por 10 anos. Os discursos justificativos são relativos à qualidade de vida da população local, resumida em asfalto. Tomara que seja. Mais será que é? Uma coisa é certa, os políticos serão presenteados com mais uma estruturazinha de no mínimo 3 ou 4 cargos pagos com nossos impostos. Mas desconfio que vai além. Qual será a área da sede desse novo distrito e por acaso também ficará colada à Zona urbana de Cuiabá, de ampliação proibida? 
     Não podemos voltar ao antigo “faroeste urbano”, que nos reconduz à insegurança jurídica e à metástase urbana que pensávamos ter ficado no passado. O desenvolvimento das cidades deve ser conduzido pelos seus legítimos interesses públicos voltados ao bem comum. O cachorro deve abanar o rabo e não o inverso. Afinal, sustentabilidade, o conceito chave nos processos de desenvolvimento atuais, nada mais é do que pensar em nosso próprio bem, mas pensar também no bem de quem vem depois. Na real, que cidade queremos? Que cidade vamos deixar aos nossos filhos e netos, que cidade legaremos às futuras gerações? 
(Publicado em 12/08/2014 pelo Diário de Cuiabá)

terça-feira, 5 de agosto de 2014

PASSE LIVRE UNIVERSAL

Imagem: www.em.com.br

José Antonio Lemos dos Santos

     Final do mês passado a Firjan divulgou pesquisa mostrando que os custos dos congestionamentos viários geraram em 2013 um prejuízo de R$ 98,0 bilhões, apenas nas Regiões Metropolitanas do Rio e São Paulo, considerando apenas a produção não-concretizada e o gasto extra de combustíveis. Isso só em um ano e sem contar a perda do tempo da população, vidas ceifadas ou mutiladas, poluição, estresse, etc. E reclamamos dos gastos totais com a Copa, estimados em R$ 25,0 bilhões. 
     Vale recordar que mesmo com as superações trazidas pelos novos tempos, a velha Carta de Atenas segue como um documento básico do Urbanismo. Uma de suas principais interpretações confere às cidades 4 funções básicas, moradia, trabalho, lazer e circulação, com a “quarta função” tendo como objetivo “só” estabelecer uma “comunicação proveitosa” entre as outras 3 funções. Embora última na descrição das funções urbanas e sem um objetivo em si própria, a Carta chega, contudo, a tratá-la como “primordial” à vida urbana, pois a ela cabe conectar as demais 3 funções que não funcionam desconectadas entre si. Ou seja: sem circulação, as cidades param. Isso a Carta de Atenas já dizia. 
     Com o tempo os conceitos avançaram e a circulação chegou ao âmbito da mobilidade urbana, na qual as várias modalidades de transporte se integram, desde os pés, para articular as funções urbanas de forma segura, justa, sustentável e - por que não? – até prazerosa. As cidades cresceram em dimensões físicas, população, complexidade e dinamismo. Fazê-las caber no ciclo solar de 24 horas torna-se cada vez mais difícil. Hoje a circulação ultrapassa sua formulação original de função urbana, e chega a caracterizar-se como condição indispensável à vida das cidades, do banco à borracharia, da fábrica à escola, da mansão ao barraco, do patrão ao operário. Basta ver o colapso geral das cidades quando das paralisações no transporte coletivo, tronco principal da mobilidade urbana. Ou se atentar para os custos de seu mau funcionamento citadas no início deste artigo. 
     Ano passado o Brasil viveu grandes manifestações populares contra o desrespeito com que as coisas públicas são tratadas pelas autoridades no país, e um movimento pelo passe livre para todos – não só para estudantes - foi o deflagrador de toda essa saudável e democrática convulsão pública. De imediato muitas prefeituras reduziram as tarifas em alguns centavos, mas não foram a fundo na questão, e tudo parece ter ficado por isso mesmo. Mas não dá mais para esconder, a solução da mobilidade urbana hoje é fundamental para todos e não pode mais ser imputada apenas ao usuário de ônibus. 
     A solução exige uma revisão de conceitos sobre a cidade e nela a mobilidade urbana. O transporte público é um serviço de custo muito elevado que serve a todos, mas quem paga é só o usuário, justo aquele em piores condições para fazê-lo, mas que, além de pagar na tarifa, paga também na carne e na cuca as mazelas de um transporte de péssima qualidade. Distribuir seus custos e sua acessibilidade a todos através de uma política de passe livre universal é a solução a ser pensada como o eixo da necessária revolução na mobilidade urbana e, por consequência, nos padrões da vida urbana no Brasil. Tratá-la como já se faz com a iluminação pública? Não se trata da criação de um novo imposto, e sim de redistribuir entre todos aquele imposto em forma de tarifa que é pago só por uma parte da população. A baixa qualidade e o alto custo do transporte coletivo expulsam os usuários para outros modos de transportes, como a moto. Menos usuários, maior a tarifa, numa espiral negativa acelerada. Só o passe livre universal, numa nova visão de cidade e de mobilidade urbana, pode reverter essa tendência. 
(Publicado em 05/-8/2014 pelo Diário de Cuiabá)

terça-feira, 29 de julho de 2014

ARENA, AEROPORTO E O LEGADO DA COPA

Trincheira Sta Rosa em matéria de 23/07/14Midianews/TonyRibeiro

José Antonio Lemos dos Santos

     Quando da preparação para a Copa um dos grandes temores era que as obras que não fossem concluídas a tempo do grande evento jamais ficassem prontas depois. Um temor procedente e que seria real caso a gente mato-grossense fosse composta apenas de “bobós-lelés”. Mas não, apesar de sua excessiva boa-fé e timidez na reivindicação de seus direitos, o mato-grossense, incluso o cuiabano, é um povo inteligente, produtivo e lutador, que fez de seu estado o maior produtor agropecuário do país e um dos maiores do mundo, apesar de sempre tão abandonado pelos governos, em especial, o federal. 
     Entretanto, há sinais preocupantes, pois, passada o grande dinamismo nas obras nos últimos meses precedentes à Copa, elas hoje estão praticamente paradas, com exceção das ligadas ao VLT, ainda que em ritmo lento. Falam em ajustes de cronogramas, acertos dos turnos extraordinários de trabalho, etc., e o governador continua garantindo que tudo estará pronto ao final de seu governo. Contudo, pela complexidade, e importância das intervenções o assunto não pode ser deixado apenas a cargo do governo estadual, até porque a maioria das obras envolve também o governo federal e até o municipal. Será preciso muito protesto e muita cobrança organizada da população, aproveitando que o pós-Copa ainda interessa à imprensa mundial.
     Ademais, a história vem ensinando dolorosamente ao mato-grossense, e muito especialmente ao cuiabano, que não dá para ficar só esperando El-Rey, não só porque ele já era, como também porque seus sucessores têm pouco ou nenhum compromisso com o interesse público. E nesse sentido há sinais animadores. Semana passada, por exemplo, o trade turístico movimentou-se em conjunto protocolando junto à Infraero um documento cobrando a continuidade das obras do aeroporto, cuja não conclusão foi usada como motivo para suspensão da linha internacional para Santa Cruz de la Sierra, causando enormes prejuízos ao setor que investiu em novos hotéis e restaurantes, bem como no desenvolvimento de eventos internacionais agendados em função da existência do voo. Neste caso nunca é demais lembrar a histórica má vontade do governo federal e ultimamente da Infraero para com Cuiabá quanto aos aeroportos, desde a construção da primeira estação de passageiros na década de 60 que só aconteceu quando uma primeira-dama do país precisou ir ao banheiro, até a atual e ainda precária ampliação, que só aconteceu por causa do milagre da Copa e dos compromissos internacionais assumidos pelo país para o evento.
     Outro bom sinal veio com a veemente manifestação da nova direção da Federação Mato-grossense de Futebol, do Cuiabá Esporte Clube e de parte da imprensa esportiva cobrando do governo estadual a discussão pública sobre o destino da Arena Pantanal, visando assegurar que o já tão querido equipamento exista em favor dos interesses do povo mato-grossense, que afinal foi quem bancou sua construção, em especial de seu futebol. Um equipamento de mais de R$ 500,0 milhões tem que ser visto como poderosa ferramenta de política de Estado para o desenvolvimento multissetorial, e não para ser simplesmente concedido a algum grupo privado sem uma clara definição prévia de compromissos com os interesses públicos locais. 
     Antes a Copa forçava a conclusão das obras. Agora só nos resta a cobrança eficiente e as armas que temos são o protesto organizado e o voto. A Copa foi uma invenção do Bom Jesus para sacudir os cuiabanos visando à preparação de Cuiabá para o Tricentenário. Parece que deu certo. A conclusão do legado vai depender de muita luta, e parece que ela já começou com o Aeroporto e a Arena. Não pode parar. Viva! 
(Publicado em 29/07/2014 pelo Diário de Cuiabá)

sexta-feira, 25 de julho de 2014

CURSOS GRÁTIS!


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quarta-feira, 23 de julho de 2014

TORCEDORES LIMPAM A ARENA

www.cuiabaesporteclube.com.br

Os torcedores do Cuiabá aderiram uma iniciativa que aconteceu na Copa do Mundo da FIFA 2014, idealizada pelos torcedores japoneses, que vieram até a Arena Pantanal no jogo entre Japão e Colômbia.

No último domingo(20), no duelo que gerou a vitória do Cuiabá por 3 a 2 sobre o Paysandu pela Série C do Campeonato Brasileiro, a torcida organizada Raça Cuiabana, que acompanha o Dourado nos jogos em casa, resolveu dar exemplo de educação após a partida.

Eles se uniram e fizeram uma limpeza no setor Leste da Arena Pantanal, de onde torceram pelo time mato-grossense.

Este sinal de bom exemplo mostra além de educação, que eles querem continuar tratando a Arena como a nova casa do Dourado, que mandará os próximos compromissos no local.

O próximo jogo na Arena Pantanal será no dia 03 de agosto, onde acontece uma rodada dupla com os duelos entre Operário e Tombense(MG) e Cuiabá e CRB(AL).

terça-feira, 22 de julho de 2014

O VOTO EM LISTAS OCULTAS


José Antonio Lemos dos Santos

     Como tenho feito nos últimos anos eleitorais e já fiz neste, peço de novo que me perdoem os especialistas em política, mas, como qualquer cidadão preocupado com os destinos de sua cidade, estado e país incorporo a majestade do eleitor, principal agente da democracia, e não dá para fugir aos assuntos políticos. Assim, deixo um pouco as questões regionais e urbanas para abordar outra vez um assunto que me incomoda a anos. Refiro-me às eleições proporcionais, ou melhor, a forma como ela é praticada no Brasil, que me parece desvirtuar as intenções de voto do cidadão. É comum se ouvir que o cidadão não sabe votar e que é dele a culpa pelos políticos que o país tem e, em consequência, pela qualidade dos nossos governantes. Coitado, desrespeitado e maltratado, paga a conta e ainda sai de bandido. 
     Como todos sabem, o Brasil tem dois tipos de eleições, as majoritárias e as proporcionais, e é importante que existam as duas. Nas majoritárias vence o candidato que tiver mais votos. É simples e todo mundo sabe em quem está votando. Nas proporcionais já não é tão simples assim. O cidadão escolhe um candidato e seu voto pode eleger outro, muitas vezes até eleger um que ele não queria ver eleito. Nas eleições proporcionais o objetivo é fazer a divisão proporcional do poder político entre as diversas correntes partidárias, proporção esta expressa no número de cadeiras parlamentares que cada corrente conquistar pelo voto. Tais cadeiras são ocupadas pelos candidatos mais votados em cada corrente, a maioria dos quais, contudo, não é escolhida diretamente pelo eleitor. Por isso os mandatos das eleições proporcionais são dos partidos e não dos candidatos. Esta é a beleza das eleições proporcionais, mas também seu grande mal entre nós. 
     Em suma, o eleitor pode escolher um bom candidato e eleger sem querer outro do mesmo partido ou coligação a qual pertence o candidato escolhido. O eleito pode até ser um que o eleitor quisesse banido da vida pública. E é o que geralmente acontece, pois as listas dos candidatos discriminadas por partido ou coligação não são mostradas aos eleitores, deixando o eleitor sem saber quem seu voto pode eleger de fato. As listas de candidatos dos partidos são montadas habilmente pelos seus caciques de forma a garantir suas próprias eleições ou de seus escolhidos, não necessariamente os da vontade do eleitor. Do eleitor eles só querem as cadeiras. Por que esse sistema não é bem explicado ao povo? Por que as listas não são divulgadas claramente? Enquanto isso prevalece a falsa ideia de que as eleições proporcionais são iguais às majoritárias e, assim, as coisas continuam como estão com o povo sendo enganado no seu próprio voto, elegendo e legitimando muitos daqueles que não gostaria de ver eleitos ou reeleitos.
     As eleições proporcionais são importantes desde que bem explicadas, e, em especial, desde que mostrando ao eleitor a lista de candidatos que seu voto pode de fato eleger. Podia ser no verso dos “santinhos” dos candidatos, em vez dos usuais calendários, receitas ou escudos de times de futebol. É fácil culpar o eleitor pela qualidade de nossas bancadas, se não lhe é dado saber em quem de fato está votando. A divulgação em massa pela Justiça Eleitoral de peças publicitárias explicativas sobre as eleições proporcionais bem como das listas discriminadas dos candidatos, sem prejuízo da campanha individual dos candidatos, seria uma boa providência até vir a Reforma. Informado, o eleitor veria que junto a seu candidato escolhido pode ter outro ou outros que ele não quer eleger, mas que muitas vezes ganha a cadeira com seu voto de boa fé. Aí os partidos pensariam muito antes de colocar certos nomes em suas listas. 
(Publicado em 22/07/2014 pelo Diário de Cuiabá)

terça-feira, 15 de julho de 2014

A COPA E O VOO INTERNACIONAL

amaszonas.com

José Antonio Lemos dos Santos

     A Copa 2014 passou e já virou história. Deu Alemanha, merecidamente. Pena que a seleção brasileira tenha sido um fracasso. Ruim, não por ter perdido, mas por não ter merecido ganhar. O brasileiro não merecia que um de seus mais queridos patrimônios, sua seleção de futebol, fosse tão malpreparada como nesta Copa em seu próprio país. Era para redimir 50 e redimiu para pior! Mas a seleção reflete muito bem o nosso país, rico, cheio de potenciais, clima maravilhoso, sem terremotos ou vulcões, uma gente boa, ordeira e trabalhadora, mas com dirigentes que nunca estão à altura, em todos os poderes e instâncias. E não é de hoje. O sucesso que alcançamos em algumas áreas é fruto do trabalho, criatividade e persistência do povo. E assim nossas seleções com seus jogadores. Desta vez, porém, os dirigentes chegaram ao inimaginável expondo nossos craques e o povo torcedor a uma humilhação sem precedentes, em sua própria casa.
     Contudo, para Cuiabá a Copa foi um sucesso. Por formação profissional trabalho com o futuro e já devíamos estar pensando no Tricentenário. Mas como cuiabano gosto de parar um pouco para saborear o presente em algumas vitórias, em especial estas que vieram apesar de tantas oposições, previsões negativas, ciladas, etc. E os resultados positivos continuam aparecendo. Semana passada um importante instituto publicou o resultado de uma pesquisa feita em Cuiabá com moradores e turistas da Copa do Pantanal na qual 91,6% dos visitantes aprovaram a Copa em Cuiabá e recomendariam Mato Grosso como destino turístico. Para 86,3% dos moradores a Copa foi fundamental para as transformações na cidade e 73% avaliaram positivamente estas transformações. Ainda segundo a pesquisa, 72,5% dos cuiabanos acham que Cuiabá não passou vergonha, como temiam antes da realização dos jogos.
     Cuiabá também ganhou a simpática propaganda da Skol contrapondo os 40 graus acima e abaixo de zero da cidade e da Rússia, cuja seleção e seus torcedores vieram para uma das partidas da Copa do Pantanal. Lembra aquela música do Skank da década de 90 que falava em “como não sentir calor em Cuiabá”. Bem aproveitadas essas citações se transformam em emprego e renda. Junto a outros potenciais turísticos, o calor é um diferencial que Cuiabá e o estado podem oferecer aqueles bilhões de pessoas do planeta que vivem no frio extremo e têm vontade de conhecer as condições de clima opostas às suas. Assim como nós buscamos conhecer as belezas da neve e do frio intensos. 
     Na contramão, vem a má notícia da suspensão da linha Cuiabá - Santa Cruz de la Sierra, criada para a Copa, mas com planejamento de continuidade. A suspensão é atribuída à Receita Federal, porém prefiro apostar no desleixo e pouco caso de nossas autoridades, e isso vale para todos, desde os prefeitos e vereadores da Grande Cuiabá, governador, deputados estaduais e federais, senadores e todos os seus subalternos, todos muito bem remunerados para zelar pelas coisas do interesse de nossa gente. Não podiam deixar chegar a esse ponto. Por sua posição centro-continental, Cuiabá tem vocação para ser um dos principais hubs aeroviários da América do Sul, outro diferencial que pode significar empregos e renda. Esse voo internacional entrava como um dos principais legados da Copa do Pantanal e Mato Grosso não pode perdê-lo. Suspenso aqui, a linha iria para Porto Velho, assim como já perdemos a mesma linha para Campo Grande, na década de 90. Será que também querem desmoralizar esse grande potencial da cidade, como fizeram com o gás que chega a Cuiabá, mas poucos usam por falta de credibilidade? Assim como os dirigentes do nosso futebol conseguiram fazer com nossa seleção? Vamos perder de novo esse importante voo? 
(Publicado em 15/07/2014 pelo Diário de Cuiabá, ... )

Para quem ainda não viu a propaganda da Skol veja o link:

https://www.youtube.com/watch?v=z12SRlH-RPQ