"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 19 de agosto de 2014

ELEIÇÕES E FERROVIA

amantesdaferrovia.com.br

José Antonio Lemos dos Santos

     Dá para desconfiar quando alguém diz querer resolver um problema urgente, mas em vez de escolher a solução mais viável, rápida e barata prefere outra com o dobro das dimensões, custos e dificuldades. É o caso da logística em Mato Grosso, que vem trazendo pesadas perdas à produção e ao ambiente, e, em especial, perdas de vidas humanas. Não dá para comparar os 560 Km da continuidade da Ferronorte de seu terminal operante em Rondonópolis passando por Cuiabá até Lucas do Rio Verde, com os 1200 Km da FICO de Lucas até a inoperante Norte-Sul. 
     Na verdade, por trás dessa questão da ferrovia estão em jogo dois projetos de futuro para Mato Grosso. Por um a ferrovia passa por Cuiabá, e pelo outro busca-se afastar o norte do sul mato-grossense, com Cuiabá no meio, isolada. Como Cuiabá é o maior reduto eleitoral do estado, esse jogo tem sido habilmente dissimulado por seus defensores. O primeiro projeto, a Ferronorte, tem quase 5 décadas e a cada ano é mais atual, mostrando a grande visão de seus idealizadores, os saudosos senador Vicente Vuolo e o professor Domingos Iglesias. Seu traçado vai até Santarém pela espinha dorsal do estado, a BR-163, com uma variante para Porto Velho e Pacífico, comportando outras extensões como para Cáceres, e mesmo para a FICO. Uma ferrovia que reforça a integridade geopolítica que faz de Mato Grosso um estado otimizado e o de maior sucesso produtivo no país. Uma ferrovia para levar e também trazer o desenvolvimento, não só uma esteira exportadora de soja.
     O outro projeto surgiu com o avanço da economia do estado e do oportunismo estratégico de algumas lideranças políticas que querem aproveitar da nova força para dividir o estado. Por ele a Ferronorte para em Rondonópolis e é complementado com a FICO ao norte, cortando o estado horizontalmente, sequestrando nossas cargas e empregos para Goiás e Rondônia. Basta lembrar do mapa do estado para entender a clara intenção de dividir a economia mato-grossense, deslocando artificialmente o centro geopolítico de Cuiabá para dois polos, Lucas e Rondonópolis, forçando uma futura divisão política do estado. O Mato Grosso platino fica excluído, inclusive Cuiabá e Cáceres com todas as potencialidades de seu porto e ZPE
     O problema deste projeto é a Grande Cuiabá, o maior centro de carga de ida e volta do estado. Temem que um terminal ferroviário em Cuiabá, ligado a Cáceres, Lucas, Porto Velho e aos portos do Pará inviabilize o terminal de Rondonópolis como o maior do estado, indispensável ao pretendido deslocamento geopolítico ao sul. Daí a necessidade de se isolar Cuiabá. Já o projeto da Ferronorte ficou órfão politicamente sem o senador Vuolo e Dante. Quem fará sua defesa? A FICO hoje foi abraçada pela classe política que trabalha por ela com um eloquente e covarde discurso de fingimento e omissão em relação à Ferronorte, em especial aqueles que não cresceram com o estado e para os quais a única chance de sobrevida política é reduzir Mato Grosso às suas próprias mediocridades. Mudos! Para estes a logística, o produtor e vidas humanas são secundários, só lhes interessa mais poder, mais cargos públicos, tudo pago pelo povo. 
     A Ferronorte não exclui a FICO, o inverso sim. E podem ser as duas. Em 70, na ligação asfáltica de Cuiabá o dilema era se seria por Goiânia ou Campo Grande. Aconteceram as duas e foi um sucesso. Mas hoje enquanto nos calamos o projeto excludente avança. Quem defenderá os trilhos para Cuiabá, Nova Mutum e Lucas, a continuação do atual Mato Grosso, unido e campeão, ao invés de rasgá-lo em dois ou mais, de volta ao fim da fila federativa, de novo sem poder, sem voz e vez? 
(Publicado em 19/08/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)

4 comentários:

  1. No Midianews:
    "Jorge L 19.08.14 12h18
    Quem defenderá a causa da ferronorte? Uma boa pergunta para os porta-vozes da nossa região, que até o momento preocupam com seus cargos e salários e sem defesa de uma causa. Aos eleitores da 1ª zona, fica o nosso apelo, votem naquele que engajem neste projeto. Não dê seu voto aleatoriamente. Mostremos nossas forças!"

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  2. No Midianews:
    "Catonho Garcia 19.08.14 17h51
    O professor José Antônio Lemos ,tem toda a razão , a atitude recente do governo federal em lançar o edital para o projeto de mais duas ferrovias em Mato Grosso, uma ligando Sapezal a Porto Velho (RO) a outra de Sinop ao porto de Miritituba (PA), exclui Cuiabá ,é o início de um novo desenho para a divisão de Mato Grosso e estes novos traçados só atendem a interesses particulares. Faço fileira com José Antonio Lemos em prol de um estado uno e que a solução da nossa logística seja de integração de nosso todo território. Não a divisão."

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  3. No Midianews:
    "Renan V. 19.08.14 20h34
    Francisco Vuolo, herdeiro legítimo da histórica luta da ferrovia, continua na luta para trazer os trilhos à Capital de Mato Grosso. A Ferronorte, ou melhor, A Ferrovia Senador Vuolo, avança, e atualmente está operando em Rondonópolis com o maior terminal da América Latina."

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  4. No Gmail:
    "Silvio Tupinambá - NACON SONDAGENS
    08:32 (Há 22 horas)
    Prezado José Antonio,
    Bom Dia!!!
    Bastante pertinente este artigo sobre ferrovia e de excelente conteúdo.
    A questão é simples: quanto mais oportunizarmos corredores de transportes (a demanda de transportes é muito grande pela produção de grãos no Mato Grosso), de quaisquer tipos de modais, evidente que a Ferrovia e a Hidrovia possuem uma escala de tração muito maior, derrubam os preços de fretes no mercado.
    Portanto, que a FICO e a extensão da Ferrovia Vicente Vuolo até Cuiabá saiam do papel no próximo Governo, quer quem que seja ocupada a Presidência da República.
    Copio o Francisco Vuolo, Presidente do Forum Pró- Ferrovia.
    Abraços,
    Silvio Tupinambá Fernandes de Sá
    Engenheiro Ferroviário e Especialista Terminais Intermodais
    MBA LOGÍSTICA EMPRESARIAL (FGV/RJ)"

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