"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



domingo, 26 de março de 2017

O VALE DO CUIABÁ

OlharDireto

José Antonio Lemos dos Santos

O dia 27 de março marca o aniversário da Ponte Sérgio Motta, que preferia denominada Ponte Dante de Oliveira, sem nenhum demérito ao ex-ministro que empresta seu nome a tão bela e importante construção, e que também foi homenageado pelo então ex-prefeito Roberto França dando nome ao complexo cultural formado pelo Museu do Rio e o antigo Aquário Municipal. Este ano comemoramos, ou pelo menos deveríamos comemorar os 15 anos de sua inauguração. Minha preferência de denominação vem das dificuldades do então governador para justificar sua tecnologia inovadora mais onerosa e acabou pagando por isso na eleição seguinte quando seu adversário disse que com o dinheiro gasto naquela ponte ele construiria 3 ou 4 pontes convencionais. Imagino que o adversário vencedor naquela eleição reveria sua argumentação hoje já que passou pelos dissabores de pesadas críticas ambientais em nível nacional e evoluiu muito nessa área. O Dante, como sempre, estava na frente com ideias, obras e proposições que até hoje muita gente importante não entendeu, mesmo alguns de seus auxiliares na época.
     Trata-se da primeira ponte estaiada do Brasil feita em pré-moldados de concreto e a terceira estaiada de um modo geral no país. Ponte urbana, sobre rio, creio que tenha sido a primeira. E qual a necessidade dessa inovação de valor mais elevado? Justamente o meio ambiente. A tecnologia dos estais permite a construção sem que se toque na água ou no leito do rio. Nosso renitente complexo de pequi roído não nos permite enxergar algumas maravilhas de nossa própria terra, e assim a maioria de nós jamais percebeu que a ponte de fato não toca o rio Cuiabá, que passou incólume mesmo durante sua construção. Essa preocupação não aconteceu com as novas pontes sobre o mesmo rio, cujos paliteiros de pilares fincados no rio estão lá para todos verem. Oxalá as novas e importantes pontes projetadas para o rio Cuiabá pelo atual governo levem em conta tão precioso tema.
     Ademais da questão ambiental as pontes urbanas são consideradas monumentos urbanos ou ornatos citadinos, muitas transformando-se em cartões postais das cidades. Golden Gate, Hercílio Luz, Brooklyn, são alguns exemplos, bem cuidadas, iluminadas e promovidas, são visitadas, fotografadas e ajudam atrair turistas, trabalho, emprego, renda e qualidade de vida. Aos 15 anos a Ponte Sérgio Motta está lá cumprindo muito bem sua missão precípua de atravessar pessoas e cargas de um lado para o ouro do rio, mas desprezada enquanto monumento urbano ou cartão postal que é, sem qualquer iluminação cenográfica, sem nenhum projeto urbanístico para suas áreas de entorno e com manutenção precária a ponto de algum tempo atrás uma prefeitura achando que a ponte precisava de uma pintura, providenciou o serviço, em cor diferente, mas só até o meio da ponte, que seria o limite do município. Teria sido uma sutil provocação ao governo pela falta dos devidos cuidados? Gastar em uma obra de arte maravilhosa e depois regatear recursos para sua manutenção e iluminação como elemento de atração turística é desperdício de dinheiro público. O mesmo acontece com a premiada Arena Pantanal, apagada e com manutenção precária.
     Mais que um ornato citadino ou a transposição de um rio, como  elo de união a Ponte Sérgio Motta poderia ser um monumento à nova Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá, que no momento realiza seu Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI) despertando a expectativa de ser um divisor de águas na história dos municípios do Vale do Cuiabá, trabalhando não apenas seus passivos, mas em especial suas perspectivas de desenvolvimento, entre as quais como principal polo regional de verticalização da economia mato-grossense.

sábado, 18 de março de 2017

OS TRILHOS DA UNIDADE

g1.globo.com

José Antonio Lemos dos Santos

     A reativação do “Fórum pela Ferrovia em Cuiabá” e a incorporação dos governadores Pedro Taques e Geraldo Alckmin ao movimento trouxe um novo alento a esse projeto que já foi um sonho e hoje é uma prioridade imperiosa, vital aos mato-grossenses. Ao Sudeste interessa que a produção mato-grossense, ou parte dela, continue escoando pelos seus portos e que sua produção chegue ao mercado do oeste brasileiro de forma mais competitiva. A continuidade da cobrança dos mato-grossenses é indispensável, mas o apoio de São Paulo é fundamental, pois a força paulista move montanhas, ajudou a construir a ponte rodoferroviária sobre o rio Paraná e pode agora dar força à sequência do traçado original da Ferronorte, passando por Cuiabá.
zerohora

     A questão da ferrovia em Mato Grosso vai muito além, e bota além nisso, de uma simples implantação de trilhos. Ao mato-grossense ela significa maior competitividade para sua produção, com a redução de perdas e fretes, menores impactos ambientais e, em especial, a redução nas perdas de preciosas vidas ceifadas ao longo de rodovias já absolutamente incapazes de dar vazão às demandas do estado no transporte de cargas de ida e de volta. A alguns anos o número de mortos nas estradas federais em Mato Grosso chegava a uma tristíssima “Boite Kiss” por ano. Espalhadas pelo ano, não aparecem a não ser para os muitos que choram a cada dia uma fatalidade ou grave sequela.
     Mas vai muito além ainda da solução logística. Enquanto o povo quer produzir e reduzir suas dores, tem gente poderosa usando esse grave problema para fazer geopolítica, buscando dividir o estado em favor de interesses pessoais ou de grupos. Por trás das soluções ferroviárias apresentadas na verdade escondem-se no mínimo 3 projetos para o futuro de Mato Grosso. Um mantem o traçado original da Ferronorte reforçando a coluna vertebral do estado que é a BR-163 até chegar aos portos amazônicos, prevendo a variante para Porto Velho e a possibilidade de se chegar ao Pacífico, sem prejuízo da construção dos outros dois projetos e sem himalaias, araguaias ou sapucaís a vencer.
   Por sua vez, os outros dois projetos isolam o norte do sul do estado com a exclusão da capital do traçado e a geração de duas economias separadas. Para isso contam com a interrupção da ferrovia em Rondonópolis, com a internacionalização do Marechal Rondon que não sai e a duplicação da 163 que só se desenvolve de Posto Gil para cima e de Rondonópolis para baixo. Um destes projetos divisionistas é a Fico que corta transversalmente Mato Grosso interceptando a BR-163 em Lucas do Rio Verde, levando a produção do Médio Norte do estado para Goiás. O outro começa em Sinop e segue o eixo da 163 até Miritituba e Santarém, mas é de Sinop para cima. A diferença é que um quer a capital do que seria um novo estado em Lucas e outro prevê a capital em Sinop.
     Não pode ter como prioridade novas unidades federativas um país cuja população já entrega ao estado em impostos cerca de 40% de tudo o que produz, apenas para manter estruturas político-administrativas perdulárias, ineficientes e corruptas, que nada devolvem em termos de infraestrutura, serviços e equipamentos públicos. A última novidade é que Mato Grosso enviou para a União ano passado 9,0 bilhões de reais e recebeu 7,0 de volta. Estamos hoje entre os 13 estados que pagam pela manutenção de outros 14 estados que não se mantêm sozinhos. Com os 2,0 bilhões de prejuízo dava para trazer os trilhos até Cuiabá e ainda seguir um bom trecho em direção à Nova Mutum que está a 460 km de do maior terminal ferroviário da América Latina, em Rondonópolis. Mas querem uma de 1.200 km. Não dá para ficar quieto. Mesmo tendo muito a corrigir, Mato Grosso é um estado que deve ser imitado, não dividido!


A reat

sábado, 11 de março de 2017

A CHEIA DE 74


Internet (sem identificação do autor)


José Antonio Lemos dos Santos

     Dia 17 de março lembra o dia da cota máxima da famosa cheia de 1974 em Cuiabá, chegando a 10,87 metros, desabrigando milhares de pessoas nos antigos bairros do Terceiro (“de Dentro” e “de Fora”), Barcelos e Ana Poupino que juntos constituíam a área mais populosa da cidade. Uma tragédia que pegou a cidade justo em seu salto de crescimento decorrente dentre outros fatores da mudança da capital federal para Brasília. Grosso modo Cuiabá saltava de 56 mil habitantes em 1960 para 120 em 70, chegando a 240 mil em 80. Um crescimento para o qual não estava preparada, nem a cidade, nem a cabeça de seus cidadãos e autoridades depois de décadas de estagnação. Ninguém acreditava quando alguns visionários, verdadeiros profetas avisavam da necessidade de preparação da cidade para aquela expansão. Dessa visão surgiu por exemplo o CPA, a partir de intervenções de técnicos como Júlio De Lamônica, Moacir de Freitas e Sátyro Castilho.
     A calamidade de 1974 serviu para dar uma chacoalhada nas autoridades. O governo Geisel acabara de tomar posse dois dias antes já com o problema da inundação avançado. De imediato o ministro do Interior Rangel Reis veio a Cuiabá e tomou duas decisões radicais que marcaram profundamente a vida da cidade e precisam ser lembradas. Determinou a demolição do que havia sobrado dos bairros atingidos, transferindo suas populações para conjuntos residenciais a serem construídos, chegando até a utilizar a força para esse fim. Muito da cultura de Cuiabá perdeu-se nesse processo, mas as populações foram transferidas para os novos conjuntos, um deles o Novo Terceiro. A cultura virou saudade nas lembranças dos blocos carnavalescos “Sempre Vivinha”, “Coração da Mocidade” e “Estrela Dalva”, por exemplo. 




Internet (sem identificação do autor)


     Outra decisão do ministro foi a realização de estudos técnicos buscando uma solução para que nunca mais Cuiabá fosse vítima de uma tragédia semelhante. Desses estudos resultou Manso, originalmente apenas para reduzir futuros picos de novas enchentes, um “açudão” de proteção urbana. Embora quase não noticiado, Manso já cumpriu essa finalidade ao menos em 2002 e 2010, impedindo que volumes de água superiores aos 3.025 m³/s de 74 chegassem a Cuiabá. Fosse apenas por este objetivo Manso já teria valido a pena.
     Depois, já em 1978, no antigo Minter a Comissão da Divisão do Estado, da qual fiz parte, propôs em conjunto com técnicos do estado a transformação de Manso em um projeto de aproveitamento múltiplo de barragem, pioneiro no Brasil. Para solucionar a questão energética, na época o principal problema estadual, foi proposta a energização do “açudão”, passando Manso a ser também geradora de energia e a ideia da proteção urbana foi ampliada para a de regularização de vazão do rio, garantindo uma cota mínima além da redução das cotas máximas, prevendo ainda o abastecimento urbano de água e irrigação rural para a Baixada Cuiabana, três barragens a fio d’água rio abaixo, sendo que seu lago poderia também receber projetos de piscicultura, turismo e lazer.
     Muita gente ainda pensa que Manso foi construída para gerar energia, o que seria um absurdo pela dimensão de seu lago maior que a Baía da Guanabara e 10 vezes o Lago de Brasília. A geração de energia foi um subproduto importante pois apesar da geração de apenas 210 MW (a Termelétrica gera 480 MW), vem servindo para garantir estabilidade energética para o estado. Mas Manso ainda tem muitos outros potenciais que começam a ser explorados agora, como a aquicultura e o turismo. Como lembramos, tem muito mais. O correto aproveitamento integrado dos potenciais de Manso além de importante fator de desenvolvimento regional, seria também uma homenagem às perdas da cheia de 1974.

segunda-feira, 6 de março de 2017

O GOVERNADOR E A ARENA PANTANAL




Impagável o professor Zé Maria em sua charge. Muito bom.

PRITZKER 2017

Revista Projeto 

                          Escritório RCR ARQUITECTES recebe o Prêmio PRITZKER 2017.

Os catalães RAFAEL ARANDA, CARME PIGEN  e RAMON VILALTA - pela primeira vez 3 arquitetos juntos são premiados. Em seu discurso, o presidente da Fundação Hyatt, que patrocina o prêmio,Tom Pritzker, ressalta que os profissionais catalães tiveram um impacto na arquitetura muito além de sua área imediata. “Suas obras vão desde espaços públicos e privados a espaços culturais e instituições educacionais, e sua capacidade de relacionar intensamente o ambiente específico de cada local é um testemunho de seu processo e integridade profunda", ele avalia.

Ler mais em:
https://arcoweb.com.br/noticias/internacional/rcr-arquitectes-sao-vencedores-do-premio-pritzker-2017-

sábado, 4 de março de 2017

MINISTÉRIO DA DOENÇA

Imagem José Lemos

José Antonio Lemos dos Santos

     O entusiasmo deste artigo lembra o grande Odorico Paraguaçu de Dias Gomes e vem com “a alma lavada e enxaguada nas águas” das vitórias do Luverdense e do Cuiabá sobre os favoritos times da série “A”, lá em suas casas, Florianópolis e Campinas. A satisfação é maior pois essas vitórias premiam os trabalhos sérios de organização e planejamento de longo prazo desenvolvidos por esses clubes, já sendo destacados pelas ótimas performances na série “B”, conquista da Copa Verde e a primeira participação em um torneio internacional oficial, a Copa Sul-americana. Que sirvam de exemplo para outros clubes daqui.
     Aproveito essas vitórias para mais uma vez falar sobre a importância dos espaços urbanos públicos destinados ao lazer e às práticas esportivas. O esporte e o lazer sadios são das mais expressivas formas de manifestação da vida em sua plenitude de corpo e mente. E quando tratamos de cidades nosso principal objetivo deve sempre ser a qualidade de vida de seus cidadãos, oferecendo condições físicas, psicológicas e ambientais para a existência de uma gente saudável e feliz. As avenidas, viadutos e trincheiras, metrôs, VLTs e automóveis, fábricas, shoppings, tudo deve existir em função da qualidade de vida à população que lhes dá origem e sentido.
     É claro que um dos pilares da qualidade de vida urbana é a saúde da população, saúde é vida e ter um povo saudável é mais de meio caminho andado no rumo dos altos padrões urbanos. Infelizmente as estruturas públicas no Brasil responsáveis pela saúde estão elas próprias bastante doentes, refém dos poderosos lobbies da indústria farmacêutica e de equipamentos médico-hospitalares, e de corporações profissionais, dedicando-se mais à rentável cura das doenças do que à manutenção e promoção da saúde. Daí para explicar melhor a importância dos tais espaços públicos, meio brincando, meio a sério, falo com alunos e amigos, entre eles alguns médicos, que uma das prioridades do país deveria ser a criação de um “ministério da doença” com secretarias correspondentes nos municípios destinadas apenas às doenças, cuidar de hospitais, UPAs, remédios, etc., liberando assim o atual Ministério da Saúde e as secretarias municipais de saúde para cuidar só da saúde, sua função primordial como diz seu próprio nome.
     Nessa concepção, cuidar da saúde seria justamente o desenvolvimento de programas tais como de saneamento e abastecimento de água, de ações preventivas junto às famílias, criação de centros esportivos, parques e academias públicas com profissionais especializados orientando atividades coletivas, programas de orientação nutricional, estímulos a torneios estudantis e universitários com inicialização à práticas esportivas diversas e com prêmios, bolsas, e mesmo a profissionalização, valorizando e estimulando o jovem atleta. Em paralelo, seguiriam às ações de cura, melhorando seus serviços na expectativa de uma progressiva redução da entrada de pacientes em decorrência das ações voltadas à saúde.
     Outro dia governador e o prefeito de Cuiabá anunciaram o Parque Dante de Oliveira como um dos presentes à cidade em seu Tricentenário. É ótimo o sucesso dos parques da cidade junto à população e melhor ainda que as autoridades notem isso. O que significa esse intenso uso dos parques da cidade em termos de redução na demanda de jovens e adultos sobre nosso “sistema de saúde”? Exemplos que são, para cada Felipe Lima, cada Davi Moura, Igor Mota e Ana Sátila, para cada Luverdense, Cuiabá ou Cuiabá Arsenal ascendendo no ranking nacional, quantos jovens deixam o caminho da droga, da violência, liberando leitos em hospitais, celas nos presídios e túmulos nos cemitérios?