"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 29 de março de 2011

O NOVO PRESIDENTE DA INFRAERO

José Antonio Lemos dos Santos

     Desde a última quarta-feira (24/03) temos novo presidente na Infraero, Gustavo Matos do Vale, agora o definitivo, aquele que a presidenta Dilma sempre quis para o cargo. Pela convicção presidencial em seu nome, certamente trata-se de um executivo testado e aprovado em outras missões espinhosas, talhado para reconduzir a Infraero à sua antiga condição de respeito e admiração junto ao povo brasileiro. Mais do que uma simples mudança na condução da Infraero, há muito se espera, em especial em Cuiabá e Mato Grosso, uma nova forma de gestão dos aeroportos no Brasil. A mudança na direção da Infraero promete ser apenas a ponta de um iceberg de transformações, envolvendo inclusive a criação de uma Secretaria Nacional de Aviação Civil, com status de ministério e ligada diretamente ao gabinete da presidenta.
     Em seu discurso de posse o novo presidente diz que sabe “o quanto é grande a expectativa por uma Infraero melhor” e de quanto o Brasil “é dependente de um setor aéreo eficiente, competente, responsável.” Diz que aposta que a Infraero trabalhará “incansavelmente, para termos aeroportos melhores e deixá-los prontos para os grandes eventos que o Brasil sediará.” Afirma ainda que o objetivo da empresa “é ganhar ou ganhar” e que “não existe “plano B”. Mais adiante diz que “as ações são nossas, Infraero, e a responsabilidade é rigorosamente nossa.” Um discurso animador e compatível com aquele que o ex-presidente Lula fez em resposta à desconfiança da comunidade internacional quanto a capacidade do Brasil realizar uma Copa do Mundo, quando então disse que o Brasil trabalharia sábados e domingos e em turno dobrado se fosse necessário, mas que o brasileiro mostraria não ser idiota.
     Especialmente para Cuiabá e Várzea Grande é um discurso que reanima em relação à situação do Aeroporto Marechal Rondon, sobre o qual já paira um estado de descrença, principalmente pelo tratamento que vem recebendo da Infraero. O que esperar quando foi necessário quase 2 anos após a definição de Cuiabá como uma das sedes da Copa para a Infraero iniciar a elaboração dos projetos da nova estação de passageiros? E a Copa será em 2014, com a Copa das Confederações em 2013, sem choro nem velas! O que esperar quando depois de 8 meses de sua licitação até hoje não foi iniciada a implantação do MOP – o já simpático “puxadinho” - que seria uma obra emergencial para contornar uma situação caótica que ronda a ala de desembarque do Marechal Rondon? O de Brasília teve início mais ou menos na mesma época em que o nosso deveria ter sido iniciado, está pronto e foi onde se deu a posse do novo presidente. O pior é que não se dá nenhuma satisfação pública. O usuário que se lixe e que leve a pior impressão possível de Cuiabá e de Mato Grosso. A confiança que nos passa o discurso de Gustavo do Vale é que esta situação será mudada de imediato.
     Desejando boa sorte ao novo presidente, lembro que o nosso aeroporto é o menor e o de menor investimento programado entre aqueles que vão atender a Copa em 2014. Talvez por isso seja sempre esquecido nas avaliações gerais da mídia sobre o assunto e pode ser até que passe despercebido nos relatórios que lhe estão sendo apresentados, sem o devido destaque. Para nós é o aeroporto mais importante do mundo e a mais ameaçadora pedrinha na chuteira da Copa do Pantanal. Nesta altura do campeonato pode ser até estrategicamente mais importante priorizar os aeroportos menores, com menores obras, como o de Cuiabá, de conclusão mais rápida, dando tempo para a conclusão dos de maior porte, ajudando a reverter com maior rapidez a desabonadora impressão negativa que envolve o setor aeroportuário nacional.

segunda-feira, 28 de março de 2011

GENTIL MANIFESTO

Robert Venturi 
Abre o livro Complexity and Contradiction in Architecture, do autor, 1966.


"Gosto de complexidade e de contradição em arquitetura. Não gosto da incoerência ou arbritariedade de uma arquitetura incompetente, nem do preciosismo intrincado do pitoresco ou do expressionismo. Pelo contrá­rio, refiro‑me a uma arquitetura complexa e contraditória, baseada na riqueza e na ambigüidade da experiência moderna, inclusive na experiên­cia que é inerente à arte. Em toda parte, exceto em arquitetura, comple­xidade e contradição sempre foram reconhecidas: da comprovação da máxima inconsistência da Matemática, por Güdel, à análise de T. S. Eliot sobre a poesia 'difícil', até à definição de Joseph Albers sobre a qualidade paradoxal da pintura.”

“Mas a arquitetura é necessariamente complexa e contraditória, até no inclusivismo dos tradicionais elementos vitruvianos: comodidade, solidez e encanto. E hoje as necessidades de programa, estrutura, equipamentos mecânicos e expressão, mesmo de edifícios simples em simples contextos, são diversas e conflitantes de modo anteriormente inimaginável. Somam‑se às dificuldades a dimensão e a escala sempre crescentes da arquitetura no planejamento urbano e regional. Acolho os problemas e exploro as incertezas. Ao abraçar contradição e complexidade tenho como objetivos tanto a vitalidade como a validade.”

“Os arquitetos não podem mais aceitar a intimidação da linguagem puritanamente moral da arquitetura moderna ortodoxa. Gosto mais de elementos híbridos do que 'puros', de comprometidos mais do que 'limpos', dos distorcidos mais do que dos 'diretos', ambíguos mais do que 'arti­culados', dos perversos e impessoais, dos convencionais mais do que dos projetados', de acomodações em vez de 'exclusões', dos redundantes em vez dos 'simples', tanto conhecidos quanto inovadores, inconsistentes e equívocos em lugar de 'diretos e claros'. Sou pela vitalidade confusa, contra a 'unidade óbvia'. Incluo o non sequitur e proclamo a dualidade.”

“Prefiro a riqueza de significados à clareza do significado; a função implícita à função explícita. Prefiro 'ambos, um e outro' a 'ou um ou outro'; preto e branco, e às vezes cinza, a preto ou branco. Uma arquite­tura válida evoca muitos níveis de significado e combinações de focos: seu espaço e seus elementos tornam‑se legíveis e trabalháveis de diversas formas simultaneamente.”

“Mas uma arquitetura de complexidade e contradição tem uma obrigação especial para com o todo: sua verdade deve estar em sua totalidade ou em suas implicações de totalidade. Deve incorporar a difícil unidade da inclusão ao invés da fácil unidade da exclusão. More is not less".

(Extraído de ARQUITETURAS & TEORIAS, João Rodolfo Stroeter, Editora Nobel – 1986)

domingo, 27 de março de 2011

Comentários ao artigo "Eu sou BRT"

Artigo do jornalista Mário Marques de Almeida no Diário de Cuiabá e Página Única do dia 27/03/11.



São duas siglas, até então desconhecidas da maioria (e bota maioria nisso!) da população cuiabana e que nos últimos dias passaram a ser alvo de uma queda-de-braço entre pessoas e grupos pertencentes à classe política e dirigente de Mato Grosso. Cada qual com seus prós e contras, e no meio disso tudo, sem saber quem está certo ou errado nessa disputa, fica a sociedade. Como sempre, distante de entreveros, a exemplo deste, onde o interesse público e o econômico se cruzam e se confundem ensejando, no mínimo, dúvidas em torno de tanta querela.

Apenas, a população já está consciente de uma coisa: a contenda não é pelo domínio de siglas partidárias, como, geralmente, acontece em brigas envolvendo pessoas do poder político e estatal. No caso e no momento, é por algo bem mais atraente.

Porém, a mesma população – novamente, em sua esmagadora maioria e disto estou certo – desconhece o significado exato das siglas BRT e VLT (apenas tem alguma informação esparsa de que se trata de coisa relativa a transportes coletivos), o motivo que gerou a celeuma, colocando de um lado o deputado José Riva (e aliados) e do outro, os diretores da Agecopa.

Diante dessa disputa toda, por enquanto mais restrita aos acima citados, os que deveriam estar mais diretamente interessados no assunto, ou seja, os usuários e potenciais usuários desses meios de transportes, ficam perdidos e sem saber qual é o melhor para Cuiabá: BRT ou VLT?

Eu também me incluo entre esses que assistem a briga (não de camarote, mas “ralando” em busca do pão de cada dia), até porque, confesso, não sou expert no assunto, mas apenas, eventualmente, usuário de coletivos como meio de locomoção e como tal, resolvi escarafunchar na internet em busca de subsídios sobre o assunto. Eis o que descobri:

“A sigla BRT são as iniciais da nominação inglesa Bus Rapid Transit, que, literalmente, significa: ônibus que circula rapidamente. Numa tradução mais livre e oportuna, o BRT é um sistema urbano de ônibus espaçosos, bi ou triarticulados, que trafegam em corredores exclusivos e interligados. Trata-se, de fato, de uma moderna modalidade de transporte de massa, em operação em mais de 120 grandes cidades do planeta com resultados mais que satisfatórios e aprovação da população usuária. São veículos de grande capacidade, com 160 a 270 lugares, portas duplas e largas à esquerda e direita. O BRT circula em canaletas e faz paradas em estações com piso elevado, garantindo e facilitando o acesso a todos – inclusive cadeirantes, idosos e crianças.

É o sistema em operação na cidade de Curitiba, tida como uma das mais modernas e bem resolvidas do País. Já funciona em Londres, em oito grandes cidades da China e foi implantado mais recentemente na África do Sul, em função da Copa do Mundo de futebol”.

Por outro lado, e a bem da verdade, com relação ao VLT, defendido pelo deputado José Riva, há pouca referência mais consistente na rede. Apenas que é a sigla para Veículo Leve sobre Trilhos, um trem menor que os ferroviários comuns e, conforme o próprio nome diz, mais leve que os tradicionais das ferrovias, e que também utiliza vias exclusivas com trilhos.

Das duas, uma: ou o lobbie do VLT é apenas forte em Mato Grosso, por conta da própria força política de Riva, ou então seus fabricantes e revendedores não foram competentes o suficiente para subsidiar as milhares de páginas do Google de informações capazes de competir com as disseminadas pelo BRT.
Mas, antes que me deixar levar por quaisquer lobbies, inclusive os por ventura plantados na internet, prefiro acreditar no que disse sobre essa questão o arquiteto, urbanista e professor universitário José Antonio Lemos dos Santos, em artigo publicado neste mesmo espaço, na edição de sexta-feira do Diário de Cuiabá, e onde ele se posiciona a favor do BRT como sistema que considera o mais eficiente para o transporte coletivo da Capital mato-grossense. Cidade onde nasceu Antonio Lemos e com a qual mantém forte vínculo sentimental e de trabalho técnico e de planejamento prestado ao longo de três décadas.
Ao menos para mim, com relação ao imbróglio BRT versus VLT, foi importante saber a opinião de Antonio Lemos, cidadão respeitado entre os profissionais da área em que atua e no meio acadêmico.
Quando a sociedade como um todo fica confundida sem entender a complexidade dessa discussão, é importante saber o que pensa alguém de fora desse contexto das instituições governamentais.

Comentários por e-mails:

Muito bom o seu artigo sobre o BRT, que agrega uma opinião técnica e isenta a uma discussão importantíssima para toda a população.
Confira o artigo postado em nosso site www.cuiaba2014.mt.gov.br como notícia (capa) e no espaço Pensando a Copa.
Valeu!
Abraços
E. R.

Lendo o Diário de Cuiabá de hoje dia 25 de março de 2011, sou levado a fazer uma coisa que não é meu costume.Parabenizo com V.S. pelo artigo " Sou BRT". Sou projetista, dos antigos e culpo exclusivamente à Prefeitura pelo estado anárquico que estão as nossas ruas.
Certo dia, conversando com o Presidente da época do CREA, sobre a situação das construções erradas que abundam em Cuiabá, simplesmente a resposta dele foi que não era atribuição do CREA. Meu Deus, se não for legalmente falando pois a missão do CREA como Conselho é fiscalização do exercício profissional, então não é obrigação fiscalizar as besteiras que se cometem até com placas de "responsáveis" pelas construções?
Para completar basta uma pequena passagem pelas ruas e veremos a quantidade de construções que estão sendo levantadas a bel prazer, sem placas, e sem a mínima verificação de um pretenso " plano diretor" que pelo visto, não existe mais.
Antigamente quando eu projetava, era obrigação na construção, de um recuo do meio fio para calça das de 2,50 e 5,00m para prédio residenciais; e 10m para prédios comerciais e lateralmente para cada lado, 1,50 de afastamento e a obra não pode ser construída na totalidade do terreno.
Agora, na nossa cara, na rua dos Girassóis, Bairro Jardim Cuiabá,em um período record, está sendo construído um aumento de uma clínica para treinar dentistas, com pré moldados e com aberrações técnicas que são inadmissíveis.
Existem bairros que estão sendo construídos que não se fazem mais fossas, mas tbem não existe tratamento para os esgotos e os dejetos estão sendo descarregados diretamente na rede de esgoto.
Bom isso todo mundo sabe, só a Prefeitura que não sabe.
E assim caminha a humanidade, tudo errado quando tem necessidade de se fazer uma obra tipo BRT é o caos, como desapropriar?
Vamos aplaudir Pedro Pedrossian e Jose Fragelli . Na hora de agir, age. E o exemplo aí está. Só que depois entortam tudo. Se não fosse a ação de Fragelli ainda estava tendo enchente no bairro "Terceiro".
Mas e agora? está certo? Quem autorizou?
Você ainda tem o jornal para se manifestar, outros como eu, fico gritando no deserto e me roendo de raiva.
cumprimentos.
N.  B. O. F.
José Antonio,
Concordo plenamente com você que o tipo de veículo a ser utilizado deva ser o ultimo aspecto a ser definido na concepção do sistema de transportes das duas cidades.
Entretanto, a minha opção diverge da sua em relação à essa polêmica do BRT x VLT. Acho que não existe uma alternativa melhor do que a outra, ma sim soluções mais ou menos adequadas para cada região com suas condiçõe específicas.
Acho, por exemplo, que o BRT vai muito bem em cidades como Curitiba, Bogotá ou Buenos Aires aonde a caixa viária disponível é muito mais larga do que as avenidas da FEB, Prainha e Av. do CPA. Essas situações se conformam bem quando o BRT tem um trajeto de acesso à cidade, como em uma Avenida Brasil do Rio de Janeiro, e não de trajeto inserido na região nevrálgica da cidade como no caso de Cuiabá e Várzea Grande ou em Sevilha, Bilbao, etc aonde foi implantado o VLT.
Os aspectos relacionados ao barulho, fumaça, fragmentação das avenidas em lados oposts e impacto visual seriam muito danosos, a meu ver, para a paisagem antiga do nosso Centro Histórico e a da modernidade da avenida do CPA.
Com o tempo avançando rapidamente, fico também preocupado com a adequação dos projetos de estações, dos elementos, passarelas ou passagens para a travessia dos pedestres entre os lados da pista e o BRT e da solução do conflito entre as duas linhas nas proximidades da Igreja do Rosário. Todas essa intervenções gerarão uma nova linguagem e identidade para a nossa cidade e o espaço de tempo para análise e elaboração das soluções pela população, cada vez fica menor.
Abs, C. M.
 
Gostei das ponderações.
Nturalmente não foi v. que expulsou de Cuiabá os projeistas do VLT,né?
Luiz
 
O que faço agora é apenas uma pergunta sem a intenção de levantar polêmica: por ser elétrico o VLT não seria o mais ecológicamente adequado? E quanto ao preço para implantação? VLT e BLT se equivalem?
E para não perder o tom de sempre: isso já não era para estar decidido e EM ANDAMENTO? A Copa é daqui a 3 anos e meio, não?!!!
Té manhão indecisos !!!
T.F.

sexta-feira, 25 de março de 2011

SOU BRT

José Antonio Lemos dos Santos


     Ainda que extemporânea, o fato é que foi recolocada a discussão sobre o VLT ou BRT, assunto sobre o qual já me posicionei em artigos na época correta, quando o assunto foi discutido pela primeira vez, no tempo hábil. Assim, é oportuno recolocar a posição deste cidadão técnico, arquiteto e urbanista, registrado no CREA, com mais de 30 anos trabalhando com a cidade, posição esta baseada nas informações publicadas e disponíveis ao cidadão comum. Não sou funcionário da Agecopa, não ocupo qualquer cargo público e nem sou vendedor ou representante de BRT ou VLT, portanto, livre para aplaudir ou criticar – sem pretensões a dono da verdade - quando e como eu achar conveniente ao bem da minha terra natal.
   De início lembro que o principal problema no transporte coletivo na Grande Cuiabá é de gestão, e não de tecnologia. Podemos colocar VLTs, BRTs, metrôs, monotrilhos, zepellins, o que tiver de melhor no mundo, e nada funcionará se não for acertado um modelo de gestão adequado, o qual deverá estar legalmente implantado e funcionando antes da entrada em funcionamento da nova tecnologia. O nosso atual sistema de transportes é repartido em três partes, com três “donos”, as prefeituras de Cuiabá e Várzea Grande, e o governo do estado. Cada um se acha dono do seu pedaço, e faz o que quer na atual bagunça da legislação que tem Aglomerado e Região Metropolitana e não tem nem um e nem outro. É como entrar numa corrida com três corredores com as pernas amarradas entre si e cada um correndo como se estivesse só. Se não se organizarem, só conseguirão um belo tombo. Como será gerido o transporte coletivo na Grande Cuiabá? Será uma autarquia ou empresa pública intergovernamental? Será terceirizado ou tentaremos de novo a gestão compartilhada com um conselho (que se reúna desta vez). Este tema é complexo técnica e politicamente e exige urgente e detalhada atenção da Assembléia, para decidir logo, e bem.
Entre as tecnologias disponíveis estou com o BRT por sua comprovada eficiência em diversas cidades do Brasil e do mundo. Através do Youtube podemos conhecer e viajar em suas aplicações pelo mundo afora, em cidades dinâmicas e de grande demanda do transporte de massa. Além disso trata-se de uma solução nacional, com facilidade de manutenção e reposição de peças, podendo utilizar o biodisel, do qual Mato Grosso é o maior produtor e Cuiabá vanguardista nessa tecnologia, sendo a sede de sua primeira fábrica e laboratório urbano para seus primeiros usos e testes. Cheguei a sugerir o desenvolvimento de um modelo de veículo e de gestão com o nome de CuiaBus – para aproveitar a grande vitrine global da Copa divulgando ao mundo essa tecnologia brasileira, geradora de empregos e renda no Brasil e, mais importante para nós, especificamente em Mato Grosso.
    De 2009 para cá o noticiário informa que o projeto técnico de implantação do BRT avançou e está em fase de conclusão, já em preparativos para os processos desapropiatórios, já tendo sido investido muito dinheiro e, em especial, investimento de tempo, o recurso mais escasso nesta altura do campeonato. Quanto às desapropriações, elas são indispensáveis em intervenções desse tipo, qualquer que seja a opção tecnológica, desde a Roma dos Papas no século XVI, passando pela Paris de Haussmann no século XIX, até as demais sedes da Copa de agora. Cumpridas todas as exigências legais, com as devidos ressarcimentos, a desapropriação é um dos principais instrumentos do urbanismo, fundamentais à adaptação das cidades às necessidades impostas pelos seus processos evolutivos.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 25/03/2011 - excepcionalmente em uma sexta-feira)

terça-feira, 22 de março de 2011

DUTRA, UM GRANDE PRESIDENTE

José Antonio Lemos dos Santos


     A visita de Barack Obama ao Brasil no último fim de semana foi oportunidade para se relembrar Dutra, ao menos como um dos poucos presidentes que receberam um colega americano e o único presidente brasileiro a desfilar em carro aberto em Nova Iorque, com chuva de papel picado. Também foi chance para a mídia nacional lembrar a piadinha do Dutra recebendo Truman, uma piada como as que correm sobre todos os presidentes, em especial os com algum problema físico, no caso, de dicção, como o Lula e o rei da Inglaterra, que até ganhou Oscar por isso. Aliás, talvez também fosse oscareado um filme sobre esse pequeno cuiabano tatibitate, vendedor dos bolinhos de sua mãe nas ruas de Cuiabá, que pagou lavando pratos suas passagens para ir estudar, chegar à Presidência da República e entrar para a História do país. Foi e venceu, mantendo-se até o fim da vida como uma das maiores influências na política brasileira. Um orgulho nacional, um exemplo.
     Injustiçado pela história e pela mídia, a grandeza de Dutra começa em sua origem humilde. Sua vida pública inicia como Ministro da Guerra, permanecendo nesse cargo por 9 anos - o mais duradouro dos ministros - onde criou a FEB e depois, com o apoio dos oficiais vitoriosos contra as ditaduras nazi-facistas européias, forçou a queda do ditador Getúlio. E de ministro foi a presidente, pelo voto do povo. Se não foi o melhor dos presidentes, foi, seguramente, um dos mais importantes pelas inovações que trouxe ao Brasil. Como presidente logo convocou a Constituinte organizando a volta do país à democracia. Eleito para um mandato de seis anos, e mesmo sendo presidente e o militar mais poderoso do país, curvou-se à nova Constituição aceitando os cinco anos que estabelecia. Aqueles que temiam a volta de Getúlio e queriam que ficasse o ano a mais a que teria direito, respondeu: “nem um minuto a mais, nem um minuto a menos”. Virou “o homem do livrinho”, o homem da nova Constituição Federal assinada por ele, a mais democrática que o Brasil já teve. Essa piadinha é pouco lembrada.
     Dutra introduziu o planejamento no Brasil, com o Plano SALTE (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia) e criou o CNPq, cuja Lei de criação é tida com a Lei Áurea da tecnologia brasileira. Implantou o hoje tão usado conceito de Produto Interno Bruto e pavimentou a primeira grande estrada no Brasil, a Via Dutra. Criou o Instituto Rio Branco, base da qualidade de nossa diplomacia, e a CHESF, e é dele também a criação do Estado Maior das Forças Armadas e da Escola Superior de Guerra, fundamento da inteligência estratégica nacional. É ainda de Dutra a criação do SESI e do SENAI, de onde saiu o Presidente Lula, e no seu governo foi inaugurada a TV no Brasil. Injustamente ficou com a culpa do fechamento do Partido Comunista, na verdade uma decisão do STJ. Por isso e por ter fechado os cassinos desagradou a esquerda, matriz dos historiadores, jornalistas e artistas da época, principais formadores da opinião pública, e foi jogado ao ostracismo.
     Dutra foi também o responsável pela realização em 1950 da primeira Copa do Mundo no Brasil. Queria mostrar ao mundo um Brasil novo, com grandes cidades, que deixava de ser rural e se industrializava. Assim, constrói o Maracanã, o maior estádio de futebol do mundo, uma das razões para a fixação do futebol como paixão nacional. Daí que uma das principais promessas da Agecopa para a Copa do Pantanal é a criação do Memorial Dutra no local onde hoje funciona o Centro de Reabilitação Dom Aquino, no que poderia ter a parceria do SENAI nacional, numa justa e oportuna homenagem ao seu criador em sua terra natal, um presidente tão importante para os industriários brasileiros, para o futebol nacional e para o Brasil.

domingo, 20 de março de 2011

REVENDO A ARQUITETURA EM MILLÔR

14 - Agora que sentei aqui na minha cadeira de madeira, junto à minha mesa de madeira, colocada em cima deste assoalho de madeira, e procuro um livro feito de polpa de madeira para escrever um artigo contra o desmatamento florestal.
13 - Por que é que continuam a chamar de tráfego uma coisa que não trafega? Ou de trânsito, se não transita? Ou de hora de movimento um momento em que todos os carros estão parados?
12 - Clássico é um escitor que não se contentou em chatear apenas os contemporâneos.
11 - A cadeira de balanço é um pouco mais móvel do que os outros móveis.
10 - É evidente que Deus, o supremo arquiteto, projetou o Brasil como uma sala de estar. Mas os proprietários preferiram usá-lo como depósito de lixo.
9 - E como dizem os australianos: o canguru foi a tentativa da natureza fazer um pedestre absolutamente seguro.
8 - A buzinada é uma forma de petrificar o pedestre na frente do carro afim de poder atropelá-lo mais facilmente.
7 - Estou convencido que os animais começaram bípedes e evoluíram até ficar de quatro.
6 - Viver é desenhar sem borracha. (Muito, muito antes do computador, 1971).
5 - Não somos unânimes nem sozinhos.
4 - Se voce tem que segurar a tampa do vaso enquanto faz pipi, está num banheiro de arquitetura pós-moderna.
3 - O que voce acha pior: Átila, que por onde passava deixava deserto eterno, ou o urbanismo moderno?
2 - O fato de uma pessoa ser grande autoridade em algum assunto não elimina a possibilidade de acertar de vez em quando.
1 - Se o homem das cavernas soubesse o que ia acontecer, teria ficado lá dentro.

Extraído do livro "Millor Definitivo - A Bíblia do Caos", Millôr Fernandes, L&PM POCKET, 2002

terça-feira, 15 de março de 2011

OS FRADES DO ANTIGO BOSQUE

José Antonio Lemos dos Santos

      Bem-vindos os sacerdotes diocesanos que após 72 anos retomam a condução da antiga Paróquia da Boa Morte. Nada contra os novos pastores, que por certo seguirão os passos do monsenhor Trebaure, o “padrinho”, padrinho de batismo de minha mãe e de tantos e tantas como ela, crianças da Boa Morte da primeira metade do século passado, pelo qual mantiveram verdadeira devoção por toda a vida. E 72 anos não são 7 dias. Nesse ínterim chegaram os frades franciscanos e conquistaram os corações das gerações que se sucederam, ampliando os limites da Boa Morte para além do Quilombo, Araés e Cae-cae, acompanhando o crescimento da cidade, passando pelos altos do antigo Bosque Municipal, hoje Praça Santos Dumont, onde construíram a atual Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens. Levavam para um local mais amplo e apropriado a antiga capela do Lavapés (tinha uma lagoa na frente onde os viajantes lavavam os pés antes de chegar na cidade), quase que um oratório de tão mínima, criada e mantida por almas caridosas, dentre as quais Mariana de Jajá, minha tia-avó.
      Morador da João Bento, no antigo Bosque, lembro da Mãe dos Homens ainda com as paredes pela metade sob a observação constante e severa do frei Quirino e segui sua construção admirado com a altura que alcançava, participando com a comunidade das quermesses, rifas, leilões, doações de todos os tipos que ajudaram na concretização do querido templo. Como as coisas demoram a acontecer quando a gente é criança. Vendo de hoje foi tudo muito rápido, só 5 anos, desde a primeira missa campal em 1955 até a igreja já praticamente concluída, por volta de 1960. Mas como demoraram a passar. Foi um custo, como diziam. Certamente essa obra tem um pouco ou muito a ver com a minha identificação com a Arquitetura. Não sei, nunca havia pensado nisso.
      No antigo Bosque os frades construíram ainda o Educandário Santo Antonio, o Salão Paroquial, e mais recentemente um anexo comercial com salão de festas. E lá instalaram a caridosa Pia União de Santo Antonio. O velho Bosque se transformou. Certa ou errada a Prefeitura logo transformou o Bosque em uma praça, a atual Praça Santos Dumont, com o sacrifício na época de alguns tarumeiros centenários (diz’que juntava muita mosca) e de algumas outras árvores também antiqüíssimas depois. Mas a Praça ficou simpática, com a igrejinha e os palanques oficiais dos desfiles de 7 de Setembro que nela se instalaram até a uns poucos anos atrás. Hoje recebe uma feira semanal de alimentação e artesanato e é a plataforma de saída da monumental Caminhada da Paz, talvez a última das grandes obras franciscanas no antigo Bosque, tão monumental que seria conhecida no Brasil inteiro se acontecesse em qualquer outro centro melhor aquinhoado com a simpatia da mídia nacional. Mas já é um grande orgulho cuiabano e mato-grossense e não pode deixar de existir, agora maior do que nunca.
      Domingo os frades deixaram o Bosque, o Cae-cae e a Boa Morte e o assunto não pode passar batido, afinal, 72 anos não são 7 dias para uma comunidade que aprendeu a conviver, amar e respeitar os frades, alguns churrasqueiros, corinthianos, outros com forte sotaque estrangeiro, motivos para inocentes piadinhas dominicais consentidas. Sei que muitos de minha geração têm outras tantas e tantas boas lembranças a narrar desse convívio. Pois é, ainda fragilizada por profunda dor recente, a comunidade franciscana de frades e fiéis se vê agora subitamente privada do seu velho relacionamento, como uma replicação maior de um tsunami original já bastante cruel, como se fosse uma pena, certamente imerecida. E La nave vá ... Que o Bom Jesus de Cuiabá abençoe os diocesanos e os frades do antigo Bosque.

quinta-feira, 10 de março de 2011

A HORA É DE FAZER

José Antonio Lemos dos Santos

     Ultimamente a dúvida que parece pairar no ar é se as obras da Copa ficarão prontas a tempo. Pelo menos esta é a pergunta que sempre me fazem, talvez pelo fato de ter trabalhado os assuntos da cidade por muito tempo e os amigos menos próximos pensem que eu ainda seja da Prefeitura, ou do antigo Aglomerado Urbano ou até mesmo que esteja na Agecopa. E a pergunta sempre vem: você acha que vai dar tempo? Será que vamos conseguir? Meio em tom de brincadeira tenho respondido lembrando que o magnífico Empire State, em Nova Iorque, que durante décadas foi o edifício mais alto do mundo, foi construído em 451 dias, e que Brasília, foi inaugurada após três anos de construção. Nem por isso perderam em qualidade. Na década de 40 o Empire State sofreu a colisão de um dos maiores aviões da época e resistiu praticamente ileso. Brasília e suas obras ainda orgulham todo brasileiro.
     Certamente que para conseguir esse resultado foi necessária firmeza de decisão e persistência. Decisão decidida era decisão implantada, sem nhenhenhéns. Teve hora de decidir e hora de realizar. Uma dos episódios mais pitorescos da época da construção de Brasília, conta que o presidente JK um dia chamou todo seu ministério para conhecer a obra de Brasília que se iniciava. Em um dos pares de poltronas do avião sentarem-se Niemeyer e – logo quem? – nada mais nada menos que o ministro da Guerra, o Marechal Lott, aquele que havia garantido a posse do presidente, evitando um golpe de estado. O destino sabe ser cruel ou brincalhão às vezes, como nesta, colocando lado a lado o jovem arquiteto, um comunista convicto e o poderoso Marechal. Viagem longa – ainda não era tempo dos jatos puros de passageiros – o então General querendo talvez quebrar o gelo entre os dois, perguntou ao arquiteto se ele já havia decidido se o novo Quartel General seria em estilo Neoclássico ou Neogótico, e o arquiteto respondeu com uma outra pergunta: “ por que General, vocês vão voltar a guerrear com flechas e catapultas?” E acabou o papo. Não houve mudanças. O arquiteto continuou com seus projetos, o ministro com seu ministério, cada qual na grandeza de suas responsabilidades. Já pensaram se naquele momento fossem discutir a substituição de Niemeyer por um possível melindre do poderoso ministro? E Brasília foi inaugurada na data marcada e hoje um dos mais belos edifício de Brasília é justamente o Quartel General, o chamado Forte Apache, em estilo moderno da época, compatível com os caças a jato e o porta-aviões que o Brasil estava adquirindo.
      É o caso da Copa do Pantanal. Houve o momento de discutir, agora é hora de fazer e cobrar. É hora de focar nas obras e serviços a serem implantados, senão, não haverá tempo. Não cabe agora a discussão de decisões já tomadas. Também não acho a Agecopa o melhor modelo de gestão, nem concordo com o novo aeroporto apenas para 2,8 milhões de passageiros/ano, assim como, preferia o Verdão com as três arenas, aproveitando ao menos em parte o antigo José Fragelli. São decisões já tomadas, assim como a escolha do BRT, que considero a correta por se tratar de uma tecnologia brasileira, com exemplos implantados no Brasil e no mundo, fazendo uso de energia produzida em Mato Grosso. Cheguei até a sugerir o nome de CuiaBus para o BRT cuiabano, com 100% de biodiesel, divulgando nossa tecnologia para o mundo. É executar.
     A Copa do Pantanal para mim é um bem-vindo teste de qualificação e de desqualificação de nossos gestores públicos para o Tricentenário, em 2019, esta a festa mais importante para nossa cidade nos próximos anos. O cuiabano identificará corretamente os que merecerem ficar. A Copa do Pantanal, já mudou Cuiabá e os cuiabanos já não são mais os mesmos. Nem voltarão a ser como antes. A hora é de fazer. Mãos à obra!

(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 10/03/2011)

quarta-feira, 9 de março de 2011

VIADUTO X PRESERVAÇÃO

Controvérsia entre os arquitetos Eduardo Chiletto e José Antonio Lemos dos Santos
Dê sua opinião.
Paticipe!

Sobre a intervenção no Centro Histórico: Viaduto x Preservação


Publicado em março 8, 2011 por Eduardo Chiletto

A globalização foi determinante na principal característica histórica do processo de urbanização em nosso país, a desigualdade, a exclusão territorial e o desrespeito pelo local. Ao longo de décadas foi-se construindo uma democracia interrompida, freqüentemente, por períodos ditatoriais e a poucas décadas atrás por uma política de desrespeito ao nosso patrimônio cultural – material e imaterial – uma verdadeira exclusão patrimônio-social-cultural visivelmente constatada nas cidades brasileiras e principalmente em nossa capital, Cuiabá, claramente observadas no entorno do nosso centro tombado.

Não podemos esquecer que o centro histórico de uma cidade é sua referência, o coração pulsante de uma cultura. Preservá-lo significa valorizar as tradições, as lendas, os mitos, o folclore, a civilização e nossa cidadania. Intervenções em áreas tombadas e em seu entorno podem vir a comprometê-la.

Deduz-se então que a intervenção de um viaduto projetado nesta área para atender as questões de mobilidade urbana comprometerá a visibilidade da área tombada e conseqüentemente nosso patrimônio histórico, principalmente a área remanescente do período da mineração, que compreende a igreja do Rosário e São Benedito, uma das principais referências culturais da nossa cidade.

Violar, macular esse patrimônio histórico artístico nacional tombado seria, no mínimo, um desrespeito aos nossos antepassados, à nossa cultura e à nossa nação. Um desrespeito a nós mesmos, à nossa cidadania.

Cuiabá necessita crescer sem conflitos entre o desenvolvimento urbano e seu patrimônio cultural. Os conceitos que embasam o Planejamento Urbano dão enfoque às questões ambientais concomitantemente, ou melhor expresso, como questões urbano-ambientais.

A problemática socioambiental urbana esteve intimamente ligada ao esgotamento sanitário, aos resíduos sólidos, à qualidade da água e à poluição (inclusive e, sobretudo em nosso caso, à poluição visual), que fazem parte da problemática urbana de Cuiabá e que devem se constituir prioridades da ação municipal.

Na atual abordagem urbano-ambiental a manutenção dos espaços públicos e a preservação do patrimônio histórico – material e imaterial – são objeto da gestão ambiental do território urbano, de modo que ativos históricos são enfrentados como um patrimônio da sociedade e, portanto, preservados em seu todo para serem desfrutados pelas gerações atuais e futuras.

No “projeto de desenvolvimento” apresentado pela AGECOPA a Avenida da Prainha é uma das vias prioritárias e um dos principais eixos de intervenção, mas se-gundo a divisão técnica do IPHAN, não há especificações nem detalhamento no projeto na área que a avenida delimita como área tombada. Isso é projeto de desenvolvimento?

Apesar de carioca da gema, sou com muita deferência cidadão mato-grossense… Como muitos que aqui se encontram. Não sou cidadão amazonense, baiano, paulista e muito menos curitibano… Nada contra sê-lo, pelo contrário. Mas ter o título de cidadania de um estado significa entre outras coisas, ter respeito à cultura de onde escolhi para viver. Respeito não só ao meu estado, mas à minha cidade, aos indivíduos que aqui residem e principalmente aos antepassados desta terra… Pessoas tão queridas que aqui viveram e deram tanto amor por esse local.

Os “paus rodados” que me desculpem, mas amar o lugar onde se vive, respeitar suas tradições, sua história e lutar para preservá-lo é fundamental.

Espero e acredito que o “projeto de desenvolvimento” apresentado pela AGECOPA para a Avenida da Prainha deva ser pensado e priorizado como um projeto de desenvolvimento sustentável, que por sua vez nada mais é que planejar com enfoque holístico e sistêmico um desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações.

É o desenvolvimento que não esgota os recursos naturais, culturais e históricos para o futuro. E nesta nossa questão específica, não compromete, não viola nem macula nosso patrimônio histórico tombado. De modo que os que aqui chegarem como eu e muito de nós, inclusive nossos filhos, netos e bisnetos possam desfrutá-lo e tê-lo como referência.
Sobre Eduardo Chiletto
Arquiteto e Urbanista - Carioca da gema... Doutorando em Arquitetura e Urbanismo EESC-USP... Windsurfista, Skatista, Tenista e Ciclista... Ahhh, jardineiro tb... Diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo-UNIC.

Comentário José Antonio Lemos dos Santos

Meu caro Chiletto,


Concordo com tudo o que você disse, ou quase tudo. O mais importante de tudo é que todas as intervenções humanas, inclusive no patrimônio histórico, tem que ser conscientes e precisam da atenção de toda a sociedade. Batendo duro inclusive como vc já fez quando do episódio do finado viaduto da Isac Póvoas, que nem sequer foi cogitado hoje graças à sua intervenção naquela época. E fazia todo sentido. Mas, do que discordo, primeiro não entendi o “deduz-se” do terceiro parágrafo pois voce traçou umas importantes e verdadeiras considerações gerais e depois fechou concluindo que um viaduto na Avenida da Prainha em Cuiabá “comprometerá a visibilidade da área tombada e principalmente do ...”. Acho que a liberação do Morro da Luz daquelas ocupações horrorosas (e nada históricas) do pé do morro vai valer mais do que tudo que já foi feito pelo patrimônio em Mato Grosso. E quanto ao viaduto, passei hoje por lá novamente depois do seu e-mail e realmente não vi nada de comprometedor em relação ao patrimônio histórico. Hoje, de lá não se vê nada de histórico, a não ser uma loja de baterias ou de pneus Tahiti e um posto de gasolina, nada "históricos". Melhor diria "histéricos". Como já conversamos, preferia ver o IPHAN agilizando recursos e capitaneando um projeto de rebaixamento da fiação no centro histórico. Em segundo lugar no que discordo acho que o desenvolvimento não é incompatível com a história, é parte dela. Precisa ser consciente e responsável para ser sustentável. Mas o mais importante é, como você diz, estarmos sempre atentos ao que se faz em nossa cidade e abertos às idéias divergentes proporcionando debates como este que podem ser até didáticos em um ambiente geral onde a divergência é quase sempre confundida com briga ou desrespeito. Ao contrário, só questiono aquelas opiniões que eu respeito muito, ainda que discorde delas.

Respeitosamente

José Antonio

quarta-feira, 2 de março de 2011

A IMIGRANTES E O CONTORNO OESTE (Comentários)

Comentários fora do blog.

Cartas do leitor do Diário de Cuiabá:
Data: 01/03/2011 06:44
Nome: L. A. C.
Profissão:
Localidade: Cuiabá/MT
Importante contribuição sua ao transito de Mato-Grosso, atendendo a demanda atual e prevendo o futuro ilimitado.


E-mail:
01/03/11
Boa noite, grande profeta Ze Antonio, un dia seras ouvido! FIquei muito contente com o artigo, bastante claro e muito incidente e necessario. FOi bom ter frisado a atuacao do Governo de forma positiva, isso serve de estimulo para continuar na mesma linha e assim tambem soube chamar a atencao do governo federal, que com respeito devido, tambem é chamado a fazer a propria parte, agora que se o povo se conscientizar tambem do proprio importante papel que podemos desempenhar neste andar das coisas, facilitando mais o caotico transito da nossa atual Cuiaba. Valeu...
p. W. S. A.

02/03/11
Totalmente a favor, Zé.
Abraço
J.

terça-feira, 1 de março de 2011

A IMIGRANTES E O CONTORNO OESTE

José Antonio Lemos dos Santos

     A pavimentação ligando o Distrito da Guia a Jangada criou uma alternativa rodoviária para o trecho tristemente conhecido como “rodovia da morte”, na BR-163. Foi mais rápido o estado executar essa obra do que ficar só na espera do governo federal, chorando acidentes trágicos evitáveis. Essa ligação, a Rodovia da Vida, hoje é um dos mais importantes acessos rodoviários de Cuiabá, com movimento crescente de veículos, do automóvel ao bi-trem. Foi planejada então uma forma de evitar a nova sobrecarga ao sistema viário urbano de Cuiabá bem como garantir fluidez ao fluxo rodoviário de passagem. Daí o projeto do DNIT de ligação direta da Estrada da Guia ao Trevo do Lagarto, acessando a Rodovia dos Imigrantes, com uma nova ponte sobre o Cuiabá, próxima ao Sucuri. Constitui hoje um dos projetos mais urgentes para Cuiabá, mesmo sem Copa, ainda mais com ela. Mas parece esquecido.
     Acontece que esse projeto foi englobado em um projeto maior chamado Rodoanel, trazendo na garupa um antigo e no mínimo discutível projeto de um contorno norte para a cidade, que por mais de 20 anos perambulava pelos gabinetes dos sucessivos prefeitos na busca de alguma aprovação. A Rodovia da Vida foi a chance de viabilização desse antigo projeto. Entrou então no Rodoanel o Contorno Norte. Mas ficou de fora a Imigrantes, hoje o principal desvio rodoviário de Cuiabá e Várzea Grande, que deveria protegê-las do tráfego das 3 BR’s mais movimentadas do oeste brasileiro.
     Quando se pensa em um anel rodoviário para a região metropolitana de Cuiabá, há que se pensá-lo inteiro, isto é, fechado, saindo de um ponto e voltando ao início. Assim, quando se fala em Rodoanel para Cuiabá, trata-se de um anel circundando Cuiabá e Várzea Grande, com três segmentos bem definidos: 1 - o Contorno Norte - indo da Estrada da Guia até as BR’s na saída para Rondonópolis, atravessando a Estrada da Chapada, 2 - o Contorno Oeste, que vai do Trevo do Lagarto até a estrada da Guia, passando pelo Sucuri, e 3 – o Contorno Sul – a conhecida Rodovia dos Imigrantes, que vai do Trevo do Lagarto até as BR’s, na saída para Rondonópolis fechando o anel. Nessa ótica não vejo qualquer prioridade no momento para o Contorno Norte, inclusive de questionável conveniência urbanística e ambiental. Por outro lado, são urgentes a conclusão do Contorno Oeste e a requalificação completa da Rodovia dos Imigrantes, não apenas seu recapeamento.
     Agora que o DNIT está revendo o projeto do Rodoanel seria a oportunidade também de rever suas prioridades. O seu projeto de ligação da Estrada da Guia ao Trevo do Lagarto é complemento imprescindível ao sucesso dos viadutos e trincheiras projetadas pela Agecopa na Miguel Sutil e à fluidez do tráfego rodoviário para o norte do país. Sem o Contorno Oeste, como impedir que as carretas e bi-trens se dirijam à Miguel Sutil? Só as importantes fábricas de bebidas da Ambev e de cimento no Aguaçú já justificariam tal prioridade.
     Quanto a Imigrantes, basta o eloqüente grito dos caminhoneiros na semana passada, paralisando-a com milhares de caminhões. Por lei a Imigrantes é o eixo da Zona Especial de Alto Impacto de Cuiabá, destinada a ampliação do Distrito Industrial e a implantação de outras atividades de alto impacto como o terminal ferroviário e centrais de cargas rodoviárias, estas visando também o transbordo das cargas para veículos compatíveis com a circulação urbana. O finado IPDU apresentou em 1994 estudo prevendo até pistas paralelas auxiliares, adequando a Imigrantes à sua função de conexão intermodal e proteção rodoviária da Grande Cuiabá. Hoje, mais necessária que nunca, como denuncia o incorreto tráfego pesado de carretas e bi-trens pela cidade.