"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



segunda-feira, 22 de maio de 2017

O DUTRINHA E A BANANA

Torcida do Mixto no Dutrinha - OlharEsportivo
José Antonio Lemos dos Santos
     Eu que acompanho o futebol mato-grossense desde os meus 8 ou 9 anos, seja no Dutrinha, no Verdão e agora na magnífica Arena Pantanal, não posso deixar de aplaudir a conquista da Copa Verde pelo Luverdense em Belém diante de 30 mil torcedores, trazendo de volta o importante troféu para Mato Grosso, conquistado antes pelo Cuiabá. O futebol há muito deixou de ser coisa de “malandro”, de aluno “gazeteiro”, para ser hoje uma das maiores indústrias do mundo. Trabalhando com a paixão e habilidade futebolísticas quase naturais dos brasileiros, tornou-se importante fonte de emprego e renda, uma grande alternativa aos jovens à violência e às drogas, se bem trabalhada.
     Mas, não é o caso em Cuiabá e Mato Grosso, salvo pela iniciativa da Arena da Educação, oportunizada por um fantástico equipamento de R$ 600,0 milhões que pressiona local e nacionalmente o governo a alguma atitude de preocupação e carinho para com aquele vultoso patrimônio público. Bom que a oportunidade esteja sendo bem aproveitada pela Seduc estadual, inclusive fazendo escola literalmente para outras arenas pelo Brasil, como a de Itaquera que embarcou na ideia. Tomara que iniciativas como essa se disseminem em outros setores também.
     Infelizmente parece que vai ficar na Arena mesmo, é só ver o que estão fazendo com o Dutrinha, ícone da história do esporte em Mato Grosso e em Cuiabá. Solo sagrado do futebol em nosso estado. Naquele campo jogaram Pelé, Garrincha, Zico, Nilton Santos, Djalma Santos, Mazurkiewicz, Katalinski, dentre outros grandes deuses do futebol mundial. Dentre os locais, Ruiter, Bife, Glauco, Tom, Frank, Nélson Vasquez, Fulepa, Almiro, entre muitos. Destes só não vi no Dutrinha o Pelé. Pois é, o nosso templo sagrado encontra-se fechado a mais de 2 anos após uma manifestação irrefletida de uma apaixonada torcida local, que só não atingiu os alvos agredidos justamente pela proteção que o estádio oferecia do acesso ao gramado até os vestiários. Ainda deve ter esse vídeo na internet. O árbitro do jogo pediu punição ao time e à torcida infratora, mas o Juizado do Torcedor preferiu punir o estádio, que estava recém reformado com a construção de rampas, sanitários, pintura, etc. Semelhante àquela piada do marido traído que preferiu vender o sofá para demonstrar sua firmeza. A prefeitura, dona do imóvel após uma aquisição complicada, agarrou-se a essa decisão judicial para manter o Dutrinha fechado evitando gastos e trabalho. Esperava-se uma outra postura desta nova administração municipal.
     A interdição prolongada do Dutrinha pune não só o equipamento físico, mas a história do esporte mato-grossense e principalmente o jovem cuiabano/várzea-grandense que fica sem o palco inicial para exibir suas habilidades e quem sabe firmar-se na vida como profissional. Agora está previsto para início de junho o campeonato sub-19 e os times de Cuiabá e Várzea-Grande simplesmente não tem onde jogar, arriscando esta geração a perder a oportunidade que pode ser única. Pune o futebol americano, bicampeão brasileiro que está obrigado a jogar em Acorizal, pune o rugby e até o beisebol. A recente queda do muro do Dutrinha explicita o desrespeito de nossas autoridades aos jovens fechando uma porta de oportunidades saudáveis para eles. À juventude as bananas, “tô nem aí!” como diria o outro.
     Falando em bananas, continua a novela da recém famosa “ilha da banana”, no entorno da área tombada pelo Patrimônio Histórico Federal. Depois que permitiram a degradação e a descaracterização total daquela área, tratá-la hoje como patrimônio histórico parece-me um deboche para com a história e a cultura cuiabana e mato-grossense. Outra banana. Talvez aí a origem do nome da “ilha” que tanto me perguntam.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

DESABAFO E ESPERANÇA

oglobo.globo.com

José Antonio Lemos dos Santos

     Como cuiabano e urbanista poderia estar comentando sobre os 269 anos de Mato Grosso, o estado campeão, ou o heptacampeonato estadual conquistado pelo Cuiabá em 11 anos de existência, ou ainda falar diretamente sobre o Projeto de Lei da prefeitura propondo o absurdo da regularização de malfeitorias urbanísticas, ou mesmo a ação do Ministério Público em relação às ocupações da Beira Rio. Mas não, vou tentar concluir a trilha dos artigos anteriores sobre as eleições proporcionais em nosso país.
     Por que uma pessoa que se apresenta como arquiteto e urbanista insiste em falar sobre política sem nenhuma autoridade técnica ou militância na área? A consciência cidadã angustia a todos os brasileiros com um mínimo de responsabilidade nesta triste quadra pela qual passa o Brasil. Aos que trabalham com o urbanismo talvez a angústia seja maior pois, além da responsabilidade cidadã de todos, seu objeto específico de trabalho é a cidade cujos governos nos países de fato democráticos são escolhidos através do voto em eleições que expressam a vontade do povo, da cidadania, seu verdadeiro dono. Infelizmente a insipiente democracia brasileira seguiu caminhos diversos. É vã a missão técnica voltada para o desenvolvimento da cidade com qualidade de vida para seus habitantes, se as autoridades responsáveis pela aplicação dos estudos, planos e projetos não têm o menor compromisso com o cidadão e a cidade que deveriam representar.
     Como urbanista dedicado ao estudo das cidades e de nossa cidade em particular, sinto-me como um palhaço, mas sem frustração porque perder é decorrência de ter lutado. Resta-me agora espernear, ao menos desopilar o fígado através destas reflexões que se tivessem outras ambições, talvez fosse a de estimular os jovens futuros colegas ou não colegas também a refletir, entendendo que a Política (com “P” maiúsculo) é fundamental para a vida do país e das cidades, ela que foi surrupiada à cidadania brasileira por interesses escabrosos em “tenebrosas transações”, expressão usada por Chico Buarque em outros tempos. O que leva um urbanista a refletir sobre Política é o desabafo, mas também a esperança de um dia as cidades serem respeitadas em suas verdadeiras dimensões técnica e política em favor do bem-estar e da qualidade de vida de seus habitantes.
     Lembro o papa Francisco em visita ao Brasil, quando disse que o “futuro exige hoje a tarefa de reabilitar a Política, que é uma das formas mais altas da Caridade.” Deixou-nos um desafio e uma lembrança que eu custei a captar, a Política como “uma das formas mais altas da Caridade”, afirmando, com a ênfase da repetição, ser urgente reabilitá-la. Como assim? Nada mais “nada a ver” no Brasil do que Política e Caridade. Tão absurdo que à primeira vista cheguei a pensar numa escorregadela do Sumo Pontífice, uma bobagem. Mas para um católico o papa não fala bobagem e aprofundei-me em sua fala, que acabou me conduzindo à lembrança de que o político deveria ter como meta a “res-publica”, o bem comum, dedicando sua vida a esse objetivo maior, entendendo seu próprio bem particular como uma extensão do bem de todos. Aí entendi o sentido caridoso da verdadeira Política. Na verdade, aí aprendi o grandioso projeto da Democracia pelo qual continua valendo a pena lutar. Mais que nunca.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

JOIAS DA ARQUITETURA EM MATO GROSSO 16

José Antonio Lemos dos Santos

Aos alunos costumo dizer que vivemos dentro de um livro vivo de Arquitetura, à cores, 3D, gratuito, sem contra-indicações, não engorda nem dói seu manuseio.  E Cuiabá e Mato Grosso tem muito a nos encantar e ensinar em termos de arquitetura, Basta passear pela cidade e pelo nosso estado com olhos de ver e cabeça aberta para entender, registrar em fotos, tirar selfies e arquivá-las no computador. Tentando ajudar os estudantes, profissionais ou simples amantes da Arquitetura seleciono em uma série semanal importantes projetos arquitetônicos e urbanísticos localizados em Mato Grosso, pouco reconhecidos pelo público local. As JOIAS anteriores podem ser buscadas no "procurador" acima, do lado esquerdo. escreva "joias" e clique na lupinha.

16 - ARENA PANTANAL
CircuitoMT

Projeto do arquiteto Sérgio Coelho, com o escritório GCP Arquitetos para a Copa do Mundo de 2014, constitui hoje em Cuiabá, além do espaço do futebol profissional local,  um amplo espaço público intensamente utilizado pela população para atividades de lazer e atividades esportivas diversas.

RodrigoBarros

Em uma solução compacta atende a um programa que envolve sustentabilidade, adaptação ao clima, economicidade e multifuncionalidade. Quando em construção foi considerada o sétimo melhor projeto de estádio em construção no mundo pelo jornal "El Gol Digital", site espanhol especializado em futebol.

José Afonso
 Com capacidade para 44 mil espectadores foi muito bem sucedida durante a Copa e considerada pelos cronistas estrangeiros como a mais funcional das arenas. Denominada Arena Pantanal, utiliza
sua multifuncionalidade prevista no projeto, para, alem do Futebol e do Futebol Americano, abrigar a Escola José Fragelli destinada a aliar a Educação ao Esporte na formação de atletas e cidadãos, constituindo a Arena da Educação, solução pioneira em termos de equipamentos esportivos deste porte.




domingo, 7 de maio de 2017

LISTAS OCULTAS

pso150.org
José Antonio Lemos dos Santos

     Que me perdoem os especialistas, mas insisto na questão das eleições proporcionais pois os artigos anteriores não comportaram as lições das últimas eleições. Argumento que nas verdadeiras democracias é essencial que existam as eleições majoritárias e as proporcionais, uma focalizando o cidadão político e outra, os partidos, mas que, nas proporcionais é indispensável a publicação das listas dos candidatos por partido ou coligação para conhecimento do eleitor. Esta é a tese. A não publicação de tais listas, como acontece hoje, engana o eleitorado já que ao votar em um candidato o eleitor pode eleger outro que às vezes nem queria, e essa brecha eleitoral é usada pelos caciques políticos para sua manutenção no poder, reelegendo-se ou elegendo apadrinhados. E a culpa cai no eleitorado, que é ludibriado, chamado de burro, venal e ainda paga as contas.
     Os resultados da última eleição para deputado federal em Mato Grosso, por exemplo, são eloquentes. Sem discutir o mérito dos candidatos, nem voltar aos 65% do eleitorado que não votaram nos eleitos, abordado no artigo anterior, o quociente eleitoral para a Câmara Federal em 2014 foi 181.826 votos, ou seja, este foi o “preço” em votos de cada uma das cadeiras para deputado federal em Mato Grosso. Mesmo o candidato eleito com maior votação precisou de 54.077 votos dados a outros candidatos de sua chapa para inteirar a cadeira que ocupa. O caso do menos votado é incrível. Recebeu 62.923 votos, isto é, cerca de um terço dos votos necessários para a conquista da cadeira que ocupa em Brasília. Para inteirar o “preço” precisou de 118.903 votos a mais, quase o dobro de sua votação nominal, votos que não foram dados a ele e sim a outros companheiros de chapa.
     O caso dos vereadores eleitos em Cuiabá retrata em cores ainda mais nítidas o quadro absurdo, mesmo sem lembrar que 79% do eleitorado não votaram nos eleitos, tratado no artigo anterior. O quociente eleitoral ficou em 11.939 votos e o mais votado teve 5.620 votos, isto é, menos da metade do precisava para ser eleito, ou seja, 6.319 dados a outros candidatos ajudaram a elegê-lo. O último eleito, teve 1.938 votos e para se eleger precisou de mais 10.001 votos dados a outros!
     Na última eleição para vereador tive a pachorra de montar as listas com todos os candidatos por partido ou coligação buscando nome por nome no site do TRE e postei no meu blog. Muitos leitores disseram ter ajudado na definição de seu voto. Mas, o caso especial foi com um colega ao qual perguntei se já havia escolhido seu candidato e respondeu que sim. Pedi então que identificasse nas listas seu candidato. Subiu pelas paredes ao saber que na mesma lista se encontrava uma pessoa que ele achava que não podia nem ser candidato. Disse que mudaria o voto. Depois da eleição ele me procurou dizendo que não havia mudado o voto pois o cara era seu padrinho e que já havia prometido, mas que no dia após a eleição ligou para o candidato afirmando que na próxima não votaria caso continue em grupos com candidatos daquela qualidade. Podia ser assim sempre. Esperança!
     Mas estão eleitos afinal, certo ou não, parece legal, é assim que as eleições acontecem no Brasil e não teria problema um ser eleito com voto do outro, assim são as eleições proporcionais, cujos votos nunca são perdidos. O problema é que aqui os eleitores cujos votos completam o quociente eleitoral não sabem a quem seu voto poderá eleger. Seria de seu gosto a (re)eleição do candidato que foi eleito com seu voto? Passadas as eleições, estes eleitores já sabem quem de fato elegeram? Algum dia saberão? Ao menos para cobrar dos eleitos. Saber quem seu voto elegeu deveria ser um direito básico do eleitor. Ou não?