"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 29 de abril de 2014

MATRIZ DO TRICENTENÁRIO

José Antonio Lemos dos Santos

     Desde que Cuiabá foi escolhida como uma das sedes da Copa do Mundo de 2014 tenho repetido que essa surpreendente e não sonhada regalia foi um artifício do Senhor Bom Jesus de Cuiabá para dar uma sacudida em nós cuiabanos forçando-nos a entrar no ritmo dos novos tempos de sua cidade, condição para compreendê-la e prepará-la para o seu Tricentenário. Da escolha em 2009 até hoje 5 anos se passaram rapidamente, a Copa chegou e já virou passado em termos de planejamento. Para a Copa do Pantanal, resta-nos concluir as obras que ainda possam ser concluídas a tempo e correr para o abraço na recepção aos visitantes, fazendo a festa da melhor maneira possível.
     A Copa nos fez olhar para o futuro, pensar em projetos para a cidade, correr contra o tempo, discutir obras - seus avanços e transtornos - torcer para tudo dar certo, e esse redirecionamento de perspectiva foi bom e precisa ser cultivado como um dos principais legados do grande evento. Cuiabá não pode perder este pique e para não perdê-lo é fundamental o estabelecimento já de um novo objetivo macro, com data fixa, o Tricentenário, escrito com inicial maiúscula como são tratadas as efemérides. Está bem aí a 5 anos, tempo muito curto como nos ensinou duramente a Copa, com relógios e calendários correndo cada vez mais rápidos. É preciso agir desde agora estabelecendo já uma nova matriz de responsabilidade com metas e projetos a serem alcançados em 2019, nos moldes da que foi feita para a Copa, agora a matriz do Tricentenário, pactuada não mais com a Fifa, mas entre os cuiabanos e sua cidade, os mato-grossenses e sua capital, os brasileiros e a cidade que alargou os horizontes ocidentais do Brasil. 
     Arrisco-me a iniciar com algumas propostas óbvias. A primeira seria concluir ainda dentro do atual governo as obras da matriz da Copa que não ficarem prontas para o evento, o máximo que for possível. A permanência do governador Silval Barbosa até o final de seu mandato foi um gesto fundamental de responsabilidade e visão pública. As obras da Copa correm o risco de dependerem da grandeza ou da mesquinhez política do futuro governador, já que temos a tradição canalha dos governantes não darem continuidade às obras dos antecessores no absurdo raciocínio de que favoreceriam o concorrente. Não só param as obras como prejudicam o funcionamento das que foram concluídas e para isso usam de explicações verdadeiras ou não, tais como corrupção ou mudança de prioridades. Param as obras, mas não punem os supostos corruptos. Punem o povo. E estão descobrindo que obras públicas dão muito trabalho e polêmicas e é muito mais confortável não fazê-las. 
     Uma outra proposta para matriz do Tricentenário seria a revitalização do Centro Histórico de Cuiabá, com rebaixamento da fiação, expandido a toda a área central da cidade, trabalhando o passado dentro de uma perspectiva de futuro, como deve ser feito. Este é um projeto que vem rolando há décadas e que parece estar bem avançado em termos de viabilização pela prefeitura, estado e união. Mas para aprontar e funcionar em 2019 é preciso começar já. Assim também o projeto do atual prefeito de um centro administrativo municipal, no qual só ressalvo que o atual Palácio Alencastro seja preservado como gabinete oficial do prefeito e sede simbólica do poder político de Cuiabá, sob pena de matar o centro histórico da cidade. Importante também seria presentear a cidade com um órgão moderno para o planejamento urbano contínuo de longo prazo de forma que a cidade não evolua mais aos saltos de curto prazo. São muitas as alternativas de projetos a serem avaliadas, com os pés no chão. 2019 já começou. Não dá para subestimar o tempo, o único recurso realmente não renovável. 
(Publicado em 29/04/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)

sábado, 26 de abril de 2014

PEQUIM EM BOLHAS

BBCBrasil
BBCBrasil


Arquitetos sugerem 'bolhas de ar limpo' para isolar Pequim da poluição

Atualizado em  21 de abril, 2014 - 16:51 (Brasília) 19:51 GMT

A ideia foi lançada pelo escritório de design e arquitetura londrino Orproject. O projeto "Bolhas" prevê instalar enormes estruturas com vegetação em seu interior, que se encarregaria de regenerar o ar.
Ver mais em
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/04/140421_china_domos_rb.shtml

sexta-feira, 25 de abril de 2014

NOVO SHOPPING EM CUIABÁ

Lançado em agosto de 2012 inicialmente com o nome de Royal como mais um grande empreendimento privado estimulado pela Copa, na semana do aniversário de 295 anos de Cuiabá, a cidade ganhou mais um shopping de grande porte, o ESTAÇÃO CUIABÁ com inauguração prevista para novembro de 2015. Mais empregos e mais qualidade de vida..  Veja abaixo matéria do Diário de Cuiabá sobre o assunto. Outras imagens e informações no site  http://shoppingestacaocuiaba.com.br/ .

Imagem http://shoppingestacaocuiaba.com.br/


     "A BRmalls, a maior empresa de shoppings da América Latina, lança na próxima quinta-feira, dia 10, seu primeiro empreendimento no Estado, o shopping Estação Cuiabá, que será edificado na Capital, na região do trevo do Santa Rosa. O projeto, considerado um presente na semana em que Cuiabá comemora 295 anos, tem previsão de inauguração em novembro do ano que vem. 
     Localizado em uma região nobre e em pleno desenvolvimento, o shopping Estação Cuiabá fica na Avenida Miguel Sutil, próximo ao trevo do bairro Santa Rosa. Seu acesso é fácil e fluido, vindo de uma das maiores avenidas da cidade. Serão 46 mil metros quadrados (m²) de área de lojas, 12 âncoras e megalojas, 207 lojas satélites, três pisos, cinema multiplex, praça de alimentação com 26 operações e mais de mil lugares, alameda gourmet com quatro restaurantes, games, alameda de serviço e 2.150 vagas cobertas para estacionamento. No centro da praça de eventos haverá claraboias que permitem a entrada de luz natural. “No cenário atual, com essas características, o shopping Estação Cuiabá será o maior de Mato Grosso”.
     Como explicam os executivos da BRmalls, a concepção preza pela valorização da cultura e da tradição local, tão ricas e com características marcantes, o shopping Estação Cuiabá teve a sua logomarca inspirada na cuiabania. “Buscou no Festival de Cururu e de Siriri, com as suas saias rodadas e coloridas, a inspiração para as cores e o movimento da imagem que representa o empreendimento”.
     Planejado sob medida para oferecer conforto e uma experiência de compras agradável, o lançamento traz o que há de mais moderno no mercado de shoppings. De fácil circulação, o shopping Estação Cuiabá foi concebido de modo que os corredores e lojas sigam um fluxo circular, no qual o visitante não se perde, além de garantir fácil acesso a todos os andares.
     O setor comercial já está trabalhando com a locação de espaços para lojistas e vem colhendo boa aceitação do mercado. Lojas já confirmadas: C&A, Renner, Riachuelo, Avenida, Cinépolis, City Lar Prime, academia Bio Ritmo, Brooksfield, Brooksfield Jr., Brooksfield Donna, Via Veneto, Vivara, Polo Wear, Track&Field e Planet Park. 
     BRMALLS - A BRmalls, maior empresa de shoppings da América Latina, escolheu a cidade pelo seu grande potencial varejista, pois Cuiabá é um polo comercial e de serviços, e pela força econômica que o Mato Grosso vem apresentando nos último anos. O shopping Estação Cuiabá é o 54º empreendimento da empresa, sendo o 4º do Centro-Oeste e o primeiro em Mato Grosso." 
(Publicado em 08/04/2014 pelo Diário de Cuiabá)

quinta-feira, 24 de abril de 2014

COMENTÁRIO ESPECIAL

Comentário adicional do arquiteto Sérgio Coelho sobre o artigo "BELÍSSIMA!" (postado com autorização dele):

"Caro Prof. José Antonio, farei na seqüência à essa mensagem privada, madrugada à dentro (depois de um longo dia na GCP, espero conseguir vencer o cansaço...) um comentário "mais enxuto" em seu post "Belissima" feito hoje (ontem) em seu Blog, que tanto emocionou os arquitetos aqui da GCP. Prefiro escrever nesse momento uma mensagem privada de "colega para colega" . Muito obrigado pelas suas palavras, que iniciando pela Tríade Vitruviana, me remeteu aos já longínquos anos de escola, assistindo às aulas de mestres como Eduardo de Almeida, Paulo Mendes da Rocha e Zanettini. É sem dúvida nenhuma, uma honra para mim, ler seus posts "Belissima" e "A Nave Pousou" (como esse título me fez lembrar do genial filme "E la nave va" de outro mestre, o Frederico, me fazendo lembrar o quanto a arquitetura é próxima do cinema, mas essa é outra conversa...), posts que fazem uma análise extremamente apropriada desse novo equipamento que Cuiabá recebe. No primeiro, o desafio do legado, de como pilotar essa nave que claramente nos coloca nessa nova interface da arquitetura com as "media", ou a arquitetura como plataforma, também digital. Tive a felicidade de visitar Medellin no ano passado e fiquei "de quatro" com os Parque Biblioteca, como o Espanha, um verdadeiro HUB, que extrapola muito a simples função convencional de biblioteca. requalifica o entrono, lança a cidade e sua orgulhosa comunidade ao futuro. Lá fiquei emocionado com a arquitetura. Assim sonhei, com extrema humildade que poderia ser em Cuiabá, guardadas as proporções e programas. Desde o dia zero do projeto da Arena Pantanal, entendemos esse projeto também como de requalificação urbana, uma pequena cirurgia de revitalização da área do Verdão. Impusemos que o projeto não fosse apenas de um estádio, mas sim de espaço público qualificado, integrado ao Aecim (daí termos deslocado a arena para o sul e termos feitos as rampas que ligam o nível 00 ao Aecim). E voce com enorme sensibilidade arquitetônica+urbanística percebe tudo isso e apresenta com precisão em seu blog. "Ao fim ao cabo", como dizem nossos colegas d'além mar, para mim, a arquitetura só existe se houver uso, ou melhor: usuário. E assim como voce, estimado Zé Antonio (desculpe-me a informalidade), tive a sorte e o prazer de lá estar naquele 02 de Abril. E ainda por cima, eu sou Santista !!! Fiquei arrepiado não de ver meu projeto (quase) pronto, mas sim de ver o povo, o público, a comunidade, a torcida Boca Suja, vibrando, apropriando-se do que desenhamos e com tanto custo acompanhamos, para que saísse o mais próximo do perfeito possível.
Lindo ! Belíssimo ! As famílias, a luz, o grito da torcida... um sonho realizado. Nós da GCP tivemos essa sorte: um projeto para tantos milhares de "donos": o povo de Cuiabá e do Mato Grosso. É lógico que deve haver aqueles que não gostam da arquitetura um tanto única que desenvolvemos, mas nós arquitetos vamos aprendendo que unanimidade é impossível....mas continuo sonhando, porque não fizemos esse projeto para a Copa ou FIFA, como acham alguns, fizemos para o futuro. Com muito cuidado, muito empenho e muita, muita responsabilidade. Infelizmente como nem tudo é perfeito, acabei de saber ontem que o jogo da Luverdense com o Vasco (aposto na vitória da moçada de São Lucas !) ainda não será com a capacidade total e que também ainda nossa "nave" não terá sua iluminação cênica pronta (fachadas e pórticos são iluminados por barras de LED, que dará o toque final da astronave cuiabana)....por isso, acabei re-agendando a ida do fotógrafo Leonardo Finotti e cancelando também minha viagem no sábado. Agora fico no aguardo da confirmação de meus clientes da Secopa da data do jogo em que tudo estará realmente acabado, para me arrepiar de novo. Seria uma honra para mim, encontra-lo nesse dia e assistirmos juntos a festa que mais uma vez os cuiabanos farão. Mais uma vez obrigado em meu nome, da equipe da GCP e demais colaboradores. SAUDAÇÕES ARQUITETÔNICAS !!!"

terça-feira, 22 de abril de 2014

BELÍSSIMA!


 José Antonio Lemos dos Santos

     Arquitetura é a arte de transformar o espaço de acordo com as necessidades do homem. Só que nem todas as transformações deste tipo podem ser consideradas Arquitetura, assim como nem toda escrita é Literatura, nem toda cura é Medicina, nem toda justiça é Direito. Foi Vitrúvio, um arquiteto do primeiro século depois de Cristo, quem complementou nossa definição de Arquitetura dizendo que para alcança-la uma construção deveria necessariamente ter três temperinhos fundamentais, chamados por ele de “Firmitas, Utilitas et Venustas”. Usou o latim que era a sua língua e no caso continuamos a usá-la ainda hoje, não por pernosticismo, mas por absoluta falta de palavras em Português que possam expressar todo o significado de cada um desses elementos que ficaram conhecidos como Tríade Vitruviana. “Firmitas” vai além da firmeza que o termo sugere e envolve também, por exemplo, as noções de estrutura, solidez, segurança e até nossa atual sustentabilidade. Já a “Utilitas” vai além da utilidade envolvendo também a funcionalidade, comodidade e o conforto. “Venustas” ultrapassa a estética e a beleza, e alcança também a zona mágica do encanto, deslumbramento e do fascínio. A utilização de qualquer uma dessas palavras em Português por certo reduziria em muito o verdadeiro significado da Tríade e da verdadeira Arquitetura. 
     Armado só com o conceito de Arquitetura apreciamos a Arena Pantanal na noite de sua pré-inauguração, 2 de abril de 2014, jogando Mixto e Santos pela Copa Brasil. A Arena Pantanal sempre despertou enorme expectativa enquanto Arquitetura, uma vez que seu projeto chegou a ser premiado dentro e fora do país e recebeu alguns elogios na imprensa, em especial, estrangeira. A ideia era observar a reação dos usuários em seu primeiro contato com este novo espaço que surge na cidade, afinal a Arquitetura é feita para o homem e aquela seria uma oportunidade ímpar para se observar as primeiras e mais espontâneas reações. Seriam de segurança, conforto e encantamento? Ou de decepção? 
     E o que vi foi uma autentica festa, desde a caminhada forçada a pé pela área restrita ao trânsito de veículos, com o público fazendo brincadeiras simpáticas disfarçando a forte expectativa pelo que veriam na nova Arena. Chegando pelo lado leste, diante daquela ampla esplanada tendo ao fundo a Arena Pantanal iluminada, pude assistir a um dos maiores espetáculos de encantamento coletivo. Lembrou-me o filme Contatos Imediatos de Spielberg, com o povo em figuras minúsculas diante da nave espacial fantástica vista pela primeira vez. Fotos de grupos, “selfies” apressados diante da ansiedade em chegar logo ao interior da espaçonave, digo, da Arena Pantanal.     
     

Foto José Lemos

     E dentro da Arena, a realização do prazer arquitetônico. Um espaço magnífico transmitindo a todos um sentimento de satisfação e de orgulho. “Firmitas, Utilitas et Venustas” mostravam-se presentes, em especial no espetáculo luminotécnico, na audácia das coberturas suspensas em grandes pórticos e no esplendor verde do gramado, digno de substituir o do saudoso Verdão, tido como o melhor gramado do Brasil. Ouviu-se bastante a expressão “nem parece Cuiabá”, talvez querendo dizer que nem parecia realidade, que tudo parecia um sonho.
     Depois daquela noite mágica voltei algumas vezes à Arena Pantanal pelo lado externo e pude observar que a população já adotou suas grandes praças como áreas de passeio e lazer com um número muito grande de pessoas em caminhadas e corridas, famílias reunidas em pé ou sentadas em cadeiras trazidas de casa, jovens e crianças em patins, skates, pipas e bicicletas usufruindo aquele novo espaço público. Oxalá consigamos mantê-la cada vez mais útil e bela. Belíssima!  
  


Fotos José Lemos
(Publicado em 22/04/2014 pelo Midianews, Página do Enock, RepórterMT,  e excepcionalmente no dia 23/04/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)

terça-feira, 15 de abril de 2014

CUIABÁ, CAPITAL

José Antonio Lemos dos Santos

     O artigo do prefeito Mauro Mendes por ocasião do 295º aniversário de Cuiabá foi além das manifestações oficiais comemorativas de praxe e traz uma nova e importante forma oficial de ver a cidade. Desta nova visão fica a boa expectativa de que a atual administração municipal também supere as formas tradicionais de gestão provinciana com que as sucessivas administrações sempre trataram a cidade, adequando-se aos novos tempos que a cidade vive como polo de uma das regiões mais dinâmicas do planeta. Como estudioso das cidades e, em especial, de Cuiabá, tenho esperado este tipo de abordagem há quase três décadas. Ainda no final da década de 80 quando do projeto original de um órgão de planejamento para a cidade, o hoje finado IPDU, foi prevista uma diretoria destinada ao estudo e proposições sobre a dimensão regional da cidade, dimensão que naquela época já começava a cobrar de Cuiabá transformações urbanísticas estruturais, físicas e institucionais, de forma cada vez mais intensa. A diretoria não foi aprovada.
     Infelizmente as autoridades nos anos 80 e subsequentes, até hoje, não chegaram a perceber a preponderância crescente dos impactos regionais positivos e negativos sobre a cidade. Toda cidade tem uma região que gera um excedente produtivo que lhe dá origem e sentido através da demanda dos diversos tipos de serviços urbanos de apoio. As cidades expressam suas regiões no tipo das atividades que essas regiões desenvolvem, na qualidade das demandas urbanas que impõem e, principalmente, nas dimensões do excedente econômico que geram. Quanto maior o excedente, maiores as demandas urbanas, mais complexas, sofisticadas e de maior valor agregado. Cabe às cidades responder com os serviços, produtos e o apoio que suas regiões demandam.
     Historicamente Cuiabá sempre centralizou uma vasta região no oeste brasileiro, que a princípio ia de Mato Grosso do Sul até os limites do Acre. Com o passar dos tempos e a criação de novas centralidades, Cuiabá foi perdendo parte desse seu imenso hinterland, mas ainda assim polariza uma região muito grande, chegando ao Acre e nordeste da Bolívia, além de todo o território mato-grossense. Acontece que enquanto essa região permaneceu como um vazio econômico, isto é, praticamente em nível de subsistência, sem qualquer excedente significativo, Cuiabá permaneceu estagnada cultivando uma visão provinciana, permanecendo assim até as décadas de 60 e 70. Sempre tendo Cuiabá como seu principal polo, cápita, capital, cabeça de apoio e articulação, aquela região antes adormecida começa a ser sacudida e hoje desponta como uma das regiões mais dinâmicas e produtivas do planeta. As demandas regionais sobre Cuiabá são incrementadas ano a ano na medida das sucessivas quebras de recordes nas safras agrícolas e nos rebanhos. A cidade real responde de imediato e todo esse dinamismo é visível no ritmo das incorporações imobiliárias e da construção civil, na constante instalação de serviços complexos e sofisticados de educação, saúde, cultura, lazer, comércio e indústria. 
     Só que a cidade institucional ainda não acordou para esse novo tempo da cidade real e permanece descolada dela. Daí a importância da disposição do prefeito em assumir também institucionalmente Cuiabá como a capital do agronegócio e do turismo, cabeça da cadeia produtiva campeã nacional na produção de alimentos, a capital que sempre foi e continua sendo. É fundamental que a cidade institucional se compatibilize com a cidade real. A nova visão proclamada pelo prefeito pode ser também a indicação de novos e melhores tempos para a cidade. 
(Publicado em 15/04/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)

terça-feira, 8 de abril de 2014

CUIABÁ 300-5

José Antonio Lemos dos Santos

     Às vésperas do tricentésimo aniversário, Cuiabá vive seu melhor momento, plena em vitalidade, experimentando seu terceiro salto de desenvolvimento, aquele que poderá ser o salto de qualidade, impondo a seus líderes, administradores e cidadãos desafios crescentes que exigem a compreensão correta de seu atual momento e o atendimento de renovadas e sempre ampliadas demandas por infraestrutura e serviços.
     Aos 295 anos, Cuiabá segue rumo ao Tricentenário, sua efeméride no século. Em termos de planejamento a Copa passou. Agora é preparar a cidade para seus 300 anos, daqui a só 5 anos, pouquíssimo tempo como a experiência da Copa nos tem ensinado. O aniversário de Cuiabá festeja uma cidade que nasceu entre as pepitas de um corguinho com muito ouro, tanto que era chamado pelos nativos de Ikuiebo, Córrego das Estrelas, que desembocava em um belo rio, num lugar de grandes pedras chamado de Ikuiapá, lugar onde se pesca com flecha-arpão em bororo. E a cidade floresceu bonita, célula-mater do oeste brasileiro, mãe de tudo o que sucedeu neste ocidente do imenso Brasil, mãe de cidades e estados.
     No curto ciclo do ouro, Cuiabá chegou a ser a mais populosa cidade do Brasil. O fim do metal teria selado seu destino como o das cidades-fantasmas garimpeiras não fosse a localização mágica, centro do continente, cuja expectativa de riqueza atraía Portugal. Com a rediscussão do Tratado de Tordesilhas, Cuiabá vira o bastião português em terras então espanholas e dá seu primeiro salto de desenvolvimento, o da sobrevivência. Conseguiu continuar viva. E logo Portugal criou a Capitania de Mato Grosso, sediada em Cuiabá enquanto se construía a capital Vila Bela. Mesmo voltando a ser capital, por quase três séculos sobreviveu à duras penas, período heroico que forjou uma gente corajosa e sofrida, mas alegre e hospitaleira, criadora de um dos mais ricos patrimônios culturais do Brasil e com proezas que merecem mais respeito e melhor tratamento pela história oficial brasileira. Como um astronauta contemporâneo, vanguarda humana na imensidão do espaço, ligado à nave só por um cordão, assim Cuiabá sobreviveu por séculos, solta na vastidão centro-continental, ligada à civilização apenas pelo cordão platino dos rios Cuiabá e Paraguai. 
     Até que na década de 60 a cidade vibra de novo, vira o “portal da Amazônia” e sua população decuplica no salto da quantidade, expandindo-se como base de ocupação da Amazônia meridional, sem a menor preparação ou apoio da União. Sozinha e sem recursos, apoiando uma região ainda vazia economicamente, Cuiabá explodiu em todos os sentidos, despreparada para tão grande e súbita demanda. 
     No raiar do novo milênio, Cuiabá vive seu terceiro salto, o salto da qualidade. Não é mais o centro de um vazio. Ao invés, articula e polariza uma das regiões mais dinâmicas do planeta, que ajudou e ainda ajuda a ocupar e construir, e que hoje a empurra para cima demandando serviços cada vez mais especializados e de maior valor agregado, em um sadio processo de simbiose regional ascendente. Aos 295 anos, Cuiabá vibra em desenvolvimento, conectada ao mundo e turbinada pela Copa. É o momento certo para uma nova matriz de responsabilidade, não mais com a FIFA, mas dos cuiabanos com sua cidade, dos mato-grossenses com sua capital e do Brasil com a cidade que ampliou seu território a oeste de Tordesilhas. Mais que reverenciar o passado e festejar o presente é preciso cuidar do futuro, num choque de adrenalina e competência que coloque cidadãos, líderes e dirigentes à altura da cidade que temos para dignamente prepará-la para o Tricentenário com qualidade de vida, ainda mais bela, justa, democrática e sustentável. Viva Cuiabá! 
(Publicado em 08/04/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)

sexta-feira, 4 de abril de 2014

A ARENA DE MINHA JANELA

Após ter sido realizado seu primeiro jogo teste no dia 02/04/2014 passado, entre Mixto e Santos, posto a última foto desta série de acompanhamento da construção da Arena Pantanal a partir da varanda de meu apartamento. Veja:
Foto José Lemos

Compare com a maquete ao final das postagens e mande seu comentário. 


 Dá para comparar com a situação a 1 ano atrás (04/03/13):

Foto José Lemos
                                                                                    

E com 2 anos atrás, dia 4 de março de 2012, momentos de mais dúvidas que certezas.   Veja:
Foto: José Lemos



Era para ficar pronta em outubro de 2013. Foi prorrogado para dezembro, depois para janeiro de 2014, agora para março, com inauguração ainda em março. O primeiro grande jogo Mixto x Santos pela Copa Brasil, no dia 02/04/2014, com meia carga de público por exigência do primeiro teste, mas com metade das cadeiras instaladas. Depois Luverdense x Vasco, pela série C do Campeonato Brasileiro. Confira com a maquete para ver se ficou parecida:


terça-feira, 1 de abril de 2014

PRAÇA DEVOLVIDA, VITÓRIA CIDADÃ

José Antonio Lemos dos Santos

     No início de agosto de 2012 o noticiário local denunciava a aprovação pela Câmara de Cuiabá de projeto de lei do executivo autorizando a venda de 4 áreas públicas localizadas nos bairros Alvorada, Cidade Alta, Jardim Vitória e Jardim Cuiabá. Bem em frente à Arena Pantanal, palco da Copa, em uma delas encontrava-se a Policlínica do Verdão, excluída do pacote pelo prefeito da época após denúncia do fato em alguns de meus artigos. O promotor de Justiça Carlos Eduardo da Silva de imediato investigou o assunto e em outubro ainda de 2012 o Ministério Público Estadual pediu à Justiça que fosse decretada a indisponibilidade dos imóveis colocados à venda, pedido atendido no último dia 25 de março de 2014 pelo juiz Rodrigo Roberto Curvo, com a anulação da Lei Municipal 5574/12, o cancelamento da venda e a determinação da devolução do valor pago pelo terreno do Jardim Cuiabá, o único que chegou a ser vendido. Claro que os demais só não foram vendidos pela repercussão que o caso alcançou.
     Sem dúvida, fatos bem sucedidos como este de defesa e recuperação do patrimônio público contra a sanha daqueles que deveriam protegê-lo, demonstram que ainda podemos ter alguma esperança no pouquinho que ainda resta da República que pensávamos estar construindo. Aqui e ali alguns homens sérios ocupando cargos que sempre deveriam ser ocupados por pessoas desse jaez, aliados a uma pequena parcela de cidadãos ativos e vigilantes que ainda não entregaram a palha e a rapadura de vez, e apoiados por uma parte da imprensa que ainda acredita ser o quarto poder das verdadeiras democracias, formam um conjunto que às vezes chega a resultados como o que acaba de acontecer em Cuiabá. Tem que ser comemorado. Parece tão pouco, mas é muito.
     As áreas públicas que pretendiam sorrateiramente alienar, são áreas que seriam subtraídas daquelas destinadas e indispensáveis à qualidade de vida do cidadão, por isso previstas nas leis de parcelamento a partir de criteriosos parâmetros urbanísticos. As áreas públicas em um loteamento são propriedades em condomínio do cidadão que adquiriu cada lote, e por extensão propriedade de todos os habitantes da cidade, e devem ter na prefeitura um fiel depositário em nome do povo, e não seu dono, com poder de fazer com elas o que bem entender. Infelizmente, as cidades, e Cuiabá em especial, vêm ao longo das décadas perdendo suas áreas destinadas às praças, áreas verdes ou equipamentos urbanos, patrimônio não só dos cidadãos de hoje, mas de seus filhos, netos e todas as gerações de descendentes que pagarão muito caro por nossa atual irresponsabilidade urbana e ambiental.
     Agiu bem o Ministério Público Estadual ao tomar imediata iniciativa no caso e a Justiça dando o justo e correto desfecho que dela se esperava. Grande também o papel da imprensa noticiando o andamento do caso, desde a estranhamente veloz tramitação na Câmara de Vereadores onde teve quem confessasse ter votado sem sequer ter lido o projeto, até agora na decisão judicial. Através da imprensa a cidadania pode expressar toda sua indignação, e teve participação decisiva agindo na cobrança de posições e impulsionando o bom resultado com a anulação da Lei e da venda realizada. Só acredito que vamos ter cidades realmente voltadas para o bem estar e a qualidade de vida de sua população quando a cidadania assumir que a cidade é sua e não de qualquer El-Rey de plantão. Quando a cidadania assumir que as autoridades são funcionários públicos, isto é, seus funcionários, e que não cabe a ninguém mais ficar esperando, mas correr atrás, cobrar, exigir, fiscalizar, propor, criticar e também ter coragem para aplaudir quando for o caso. E este é um destes. Raríssimos.
(Publicado em 01/04/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)