"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 15 de abril de 2014

CUIABÁ, CAPITAL

José Antonio Lemos dos Santos

     O artigo do prefeito Mauro Mendes por ocasião do 295º aniversário de Cuiabá foi além das manifestações oficiais comemorativas de praxe e traz uma nova e importante forma oficial de ver a cidade. Desta nova visão fica a boa expectativa de que a atual administração municipal também supere as formas tradicionais de gestão provinciana com que as sucessivas administrações sempre trataram a cidade, adequando-se aos novos tempos que a cidade vive como polo de uma das regiões mais dinâmicas do planeta. Como estudioso das cidades e, em especial, de Cuiabá, tenho esperado este tipo de abordagem há quase três décadas. Ainda no final da década de 80 quando do projeto original de um órgão de planejamento para a cidade, o hoje finado IPDU, foi prevista uma diretoria destinada ao estudo e proposições sobre a dimensão regional da cidade, dimensão que naquela época já começava a cobrar de Cuiabá transformações urbanísticas estruturais, físicas e institucionais, de forma cada vez mais intensa. A diretoria não foi aprovada.
     Infelizmente as autoridades nos anos 80 e subsequentes, até hoje, não chegaram a perceber a preponderância crescente dos impactos regionais positivos e negativos sobre a cidade. Toda cidade tem uma região que gera um excedente produtivo que lhe dá origem e sentido através da demanda dos diversos tipos de serviços urbanos de apoio. As cidades expressam suas regiões no tipo das atividades que essas regiões desenvolvem, na qualidade das demandas urbanas que impõem e, principalmente, nas dimensões do excedente econômico que geram. Quanto maior o excedente, maiores as demandas urbanas, mais complexas, sofisticadas e de maior valor agregado. Cabe às cidades responder com os serviços, produtos e o apoio que suas regiões demandam.
     Historicamente Cuiabá sempre centralizou uma vasta região no oeste brasileiro, que a princípio ia de Mato Grosso do Sul até os limites do Acre. Com o passar dos tempos e a criação de novas centralidades, Cuiabá foi perdendo parte desse seu imenso hinterland, mas ainda assim polariza uma região muito grande, chegando ao Acre e nordeste da Bolívia, além de todo o território mato-grossense. Acontece que enquanto essa região permaneceu como um vazio econômico, isto é, praticamente em nível de subsistência, sem qualquer excedente significativo, Cuiabá permaneceu estagnada cultivando uma visão provinciana, permanecendo assim até as décadas de 60 e 70. Sempre tendo Cuiabá como seu principal polo, cápita, capital, cabeça de apoio e articulação, aquela região antes adormecida começa a ser sacudida e hoje desponta como uma das regiões mais dinâmicas e produtivas do planeta. As demandas regionais sobre Cuiabá são incrementadas ano a ano na medida das sucessivas quebras de recordes nas safras agrícolas e nos rebanhos. A cidade real responde de imediato e todo esse dinamismo é visível no ritmo das incorporações imobiliárias e da construção civil, na constante instalação de serviços complexos e sofisticados de educação, saúde, cultura, lazer, comércio e indústria. 
     Só que a cidade institucional ainda não acordou para esse novo tempo da cidade real e permanece descolada dela. Daí a importância da disposição do prefeito em assumir também institucionalmente Cuiabá como a capital do agronegócio e do turismo, cabeça da cadeia produtiva campeã nacional na produção de alimentos, a capital que sempre foi e continua sendo. É fundamental que a cidade institucional se compatibilize com a cidade real. A nova visão proclamada pelo prefeito pode ser também a indicação de novos e melhores tempos para a cidade. 
(Publicado em 15/04/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)

2 comentários:

  1. Será que um novo departamento de pesquisa e planejamento urbano estaria por vir? Um departamento autônomo que pudesse se dedicar ao estudo dos problemas urbanos, das novas demandas exigidas por esta cidade real, propondo soluções baseadas nos conceitos contemporâneos de planejamento urbano. Um departamento que:
    - Cuide, preserve e recicle seus bens históricos, dando por exemplo, ao nosso centro histórico, novos usos, incentivando novas atividades sejam elas, diurnas ou noturnas. Um local que permita a dinâmica da vida moderna de uma metrópole que vive 24 horas por dia.
    - Não permita que acabem com nossos bens naturais e ambientais, mas que os preparem para o lazer de sua população, criando parques, locais de encontro, além de utilizá-los como recursos naturais para amenizar o desconforto térmico gerado pelas ilhas de calor causadas pela urbanização. Poderão servir também como pulmões de renovação do ar, além é claro do embelezamento que trarão à nossa cidade. Seria uma ação que faria jus ao codinome de cidade verde.
    - Pense também em uma cidade que oportunize meios alternativos de locomoção individuais além do automóvel e que acima de tudo priorize o transporte coletivo e sua integração com os vários modais, oferecendo um transporte digno e de qualidade a seu usuários de modo que a população sinta-se estimulada para dele usufruir.
    Pense em uma cidade compacta, que desestimule a sua expansão para áreas afastadas e incentive a ocupação dos vazios urbanos existentes, onde já possuem infra estrutura, barateando assim os tão elevados custos urbanos gerados pela forma antiga e arcaica de expansão urbana que vem sendo realizada.
    - Pense em uma cidade que conviva com a diversidade e não proporcione a segregação social, com a implantação e multiplicação de condomínios fechados. Uma cidade que incentive zonas multiuso onde o morar o trabalhar e o lazer possam estar concentrados.
    - Um departamento que pense uma cidade para as pessoas.

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  2. Basaan, há que ae perguntar ainda quem são essas pessoas? São pessoas que tem compreensão de que o espaço público é de uso coletivo? As pessoas dessa cidade realizam assalto a mão armada em bairro tradicional, fazendo quatro crianças reféns? As pessoas dessa cidade entendem que o interesse coletivo prevalece sobre o individual? As pessoas dessa cidade cedem a vez aos maia frágeis no trânsito? Afinal, quem são essas pessoas? Como elas pensam e agem? Precisamos saber que elas são e como se comportam para prover a verdadeira cidade para pessoas. Sexta feira meu filho foi feito refém dentro de casa durante 40 minutos por pessoas que estão se lixando pra tudo isso. Ainda não estou preparado para viver sem muro, cerca elétrica e guarita. Abraços!!!

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