"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O AQUÁRIO E A COPA

José Antonio Lemos dos Santos


     Tinha pensado em homenagear o Aquário Municipal de Cuiabá que completou 9 anos no último dia 5, agora em situação delicada, subsistindo graças a dedicação diuturna de seu administrador Teruo Izawa, verdadeiro anjo protetor dos peixes daquele querido cartão postal cuiabano, que tratarei em outro artigo. Mas não há como resistir ao tema da Copa em Cuiabá, uma paixão imediata que nos arrebatou, como também aconteceu com o Aquário desde sua inauguração.
     O meu último artigo rendeu muitos comentários, a maioria empolgados com a possibilidade de Cuiabá ser uma das sub-sedes da Copa. Mas também houve contrários, uns lembrando que projetos como esses são sempre desvirtuados por políticos espertalhões e empresários oportunistas, e outros que entendem que os recursos seriam melhor aplicados na saúde, segurança, transporte, etc., na suposição de que não sediando a Copa, esses recursos apareceriam. A meu ver, é muito mais provável que tais recursos se viabilizem em um projeto como este, sob o foco e fiscalização da mídia nacional e internacional.
     Trata-se de um projeto grandioso e atrevido, capaz de impulsionar urbanisticamente Cuiabá e Várzea Grande, bem como toda a economia do turismo em Mato Grosso aos padrões mais elevados de qualidade. Os riscos existem, é claro, porém, o medo nunca foi bom conselheiro, ainda que cautela e caldo de galinha sempre façam bem.
     Urbanisticamente o ponto decisivo é a localização do Verdão, o palco principal da festa, pois em sua função serão desenvolvidos todos os demais projetos. Pelas notícias, neste caso o assunto está bem. Manter o Verdão no seu lugar atual é fundamental para que os investimentos para a Copa se consolidem como benefícios permanentes para a cidade e sua gente, sem o que um projeto como este não se justifica. O Verdão fica em uma das partes da cidade mais servida de eixos viários, ainda que carentes de fortes investimentos para sua adequação ao porte do evento. Ademais, trata-se de uma região cuja ocupação ocorreu em função da instalação do estádio, isto é, a população já convive com os grandes eventos de diversos tipos que acontecem naquela praça esportiva e no Ginásio Aecim Tocantins. Com a permanência do estádio, os investimentos forçosamente acontecerão em uma malha já ocupada, otimizando a infra-estrutura existente.
     No início algumas propostas levavam o estádio para “fora” da cidade. Felizmente parecem ter sido todas descartadas. O que estaria sendo discutido agora é se o Verdão seria ampliado e adaptado às exigências da FIFA, ou se seria demolido para em seu lugar ser construído um outro novo. A meu ver a resposta a esta questão está na própria configuração do terreno em que o estádio se situa, uma baixada que não pode ser desconsiderada e que definiu um genial partido arquitetônico, origem de um dos mais belos estádios do Brasil. A solução mais natural e econômica parece ser a da adaptação do Verdão, com a instalação de um anel superior de arquibancadas e todos os demais complementos que se fizerem necessários às exigências da FIFA.
     Para Cuiabá é fundamental a estratégia de crescer para dentro de sua estrutura urbana, evitando a ampliação de seu perímetro urbano. Assim, para que os investimentos demandados pela Copa fiquem como benefícios permanentes para a cidade, é decisiva a manutenção da atual localização do Verdão que será o centro polarizador desses investimentos. E que ganhem todos os que contribuírem de fato na construção desse projeto coletivo: autoridades, empresários, políticos, e principalmente a cidade e todos os seus habitantes.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 12/02/2009, excepcionalmente em uma quinta-feira)

OLHOS DE TIGRE

José Antonio Lemos dos Santos

     Depois de muitos anos, neste mês vi ser citada por duas vezes, em ocasiões totalmente diversas, a expressão “olhos de tigre”, do filme já antigo, mas sempre bom, “Rocky, o lutador”. A primeira com o meu filho brincando com um dos netos, e outra com o prefeito Wilson Santos, na posse do novo titular da Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano de Cuiabá (SMADES), Archimedes Lima Neto. Assistindo no Verdão ao ótimo Operário x Mixto do último domingo, deu para ver que apenas um dos times – e não foi o meu - entrou em campo com esse olhar felino imortalizado pelo cinema e indispensável ao sucesso e aos vencedores.
     Ao empossar o novo secretário o prefeito lembrou que a SMADES é a secretaria mais complexa do município, pois trata de uma infinidade de temas que vão desde o pequeno camelô ao grande shopping, do barraco ao condomínio horizontal ou vertical, do Aquário ao Horto Florestal, da ordenação e controle do uso do solo urbano, à fiscalização do cumprimento dos códigos de obras, posturas e meio ambiente, passando ainda pela proteção ao patrimônio histórico edificado. Isso, acrescento, em uma Macro-Zona Urbana de 25.200 hectares, ou seja, 252 Km², altamente dinâmica e em plena renovação urbana, com uma população residente próxima de 600 mil habitantes, 150 mil edificações, mais de 40 mil lotes desocupados e a responsabilidade de zelar por dois rios e diversos córregos, sábia contrapartida da natureza às elevadas temperaturas médias diárias com que contemplou Cuiabá.
     No próprio nome a SMADES traz gravado seus objetivos-síntese, quais sejam, o meio ambiente e o desenvolvimento urbano, duas faces de uma mesma moeda, os dois principais termos da equação urbana contemporânea, apenas aparentemente contraditórios, mas que são parte indissolúvel do mesmo objeto que é a cidade, cuja qualidade de vida depende fundamentalmente dessa difícil e permanente tarefa de harmonização. Em suma, além de algumas tarefas específicas, a SMADES tem a responsabilidade de cuidar da cidade como um todo, de assegurar que a grande obra urbana se dê de forma coerente e tecnicamente correta, visando sempre como resultado a cidade confortável, segura, sustentável e, sobretudo, justa, desejada por seus cidadãos.
     Nos ombros da SMADES pesa também a responsabilidade de ser o instrumento de sucessivas gerações de um povo que, muito antes da grande e bem-vinda onda verde tomar conta do mundo, já havia estabelecido para sua cidade o apelido de Cidade Verde, como paradigma urbano a ser construído. Em torno de tal modelo foi criado um complexo de usos e costumes que ia da arquitetura, vestuário, alimentação e toda uma forma de viver absolutamente compatível com as condições ambientais locais, ecologicamente corretos antes da Ecologia, criando uma composição climática única, que o poeta Carmindo de Campos cantou como “aquele calor sadio, às vezes melhor, muito melhor que o frio”.
     O novo secretário da SMADES, engenheiro civil e mestre na área ambiental, que exercita a militância ambiental há muito tempo, já tendo também exercido com competência diversas funções na própria SMADES, conhecendo-a como estilingue e vidraça, mostra-se preparado, técnica e politicamente para assumir esse imenso desafio. Mais que isso, demonstra compromisso pessoal com a cidade, a empatia indispensável a quem quer de fato ajudar a construí-la, e os “olhos de tigre” buscados pelo prefeito Wilson Santos para assessorá-lo no gerenciamento da grande obra quase tricentenária que é Cuiabá.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 12/02/09)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A COPA NO CORAÇÃO DA AMÉRICA

José Antonio Lemos dos Santos


     Esperada hoje em Cuiabá, a comissão de vistoria da FIFA chega ao coração da América do Sul, seu centro geodésico, marcado pelo Marechal Rondon quando da execução do primeiro mapa moderno do Brasil e do continente sul-americano, no início do século passado. Para aqueles que amam o futebol e seguem com atenção sua expansão pelo mundo, trata-se de uma data significativa, que bem poderia simbolizar a conquista dos cinco continentes pelo futebol, com a presença oficial de sua entidade máxima no ponto exato mais interior de um continente.
     Porém o simbolismo da presença da FIFA no centro da América do Sul vai além da planetarização do futebol, referindo-se também de forma específica à sua consolidação na totalidade de um continente onde até bem pouco tempo duvidava-se se o futebol arranjaria seu espaço em alguns países então dominados por esportes como o beisebol e outros. Hoje a vitória é plena, com o futebol arrebatando cada vez mais as paixões em todos os países sul-americanos.
     A comissão da FIFA chega hoje também à terra de um dos maiores responsáveis, senão o maior, pela realização em 1950 da primeira Copa do Mundo no Brasil, o Presidente da República da época, Eurico Gaspar Dutra. Seu governo queria mostrar ao mundo um Brasil novo, que deixava de ser predominantemente rural para entrar na era da industrialização, com grandes cidades, a Companhia Siderúrgica Nacional recém inaugurada, Paulo Afonso sendo construída e a Rio-São Paulo em pavimentação. Assim apoia a realização da Copa e determina a construção do Maracanã, que foi por muito tempo o maior estádio de futebol do mundo, justo orgulho nacional, uma das maiores razões para a fixação do futebol como a maior paixão esportiva nacional.
     No Aeroporto Marechal Rondon a comissão chega a Várzea Grande que forma com Cuiabá a maior cidade do oeste do Brasil, metropolitana, com quase um milhão de habitantes. Surgida no início do século XVIII, foi a pioneira no ocidente brasileiro, celula mater dos estados e municípios entre os limites do Acre e o extremo de Mato Grosso do Sul. Às vésperas de completar seu terceiro século de existência, Cuiabá tem seu centro tombado como patrimônio histórico nacional ao mesmo tempo em que é uma cidade moderna, dinâmica e globalizada, polarizadora de uma das regiões mais dinâmicas do planeta, em condições plenas de pleitear a sub-sede pantaneira da Copa de 2014.
     Fora estas considerações preliminares, que parecem menos importantes aos que não podem contar com elas, Cuiabá é uma cidade situada no pantanal propriamente dito, em suas franjas, e pode aliar o conforto da vida urbana com as maravilhas do santuário ecológico bem próximas. Através de diversos acessos curtos e confortáveis o turista pode conhecer o pantanal em ângulos variados, seja o pantanal das grandes baias e das velhas usinas de açúcar de Barão de Melgaço e Leverger, o pantanal da transpantaneira de Poconé, ou ainda o pantanal das antigas charqueadas e da ecovia do Paraguai em Cáceres.
     Mais importante ainda é que, junto ao divisor de águas amazônicas e platinas, Cuiabá é uma plataforma de acessos a todas as atrações naturais de Mato Grosso que além do pantanal, oferece as belezas do cerrado, da floresta amazônica, e - por que não? - das plantações e criações tecnicamente mais desenvolvidas no mundo, em viagens panorâmicas, com o apoio de outras cidades bem estruturadas, confortáveis e hospitaleiras. Em Cuiabá, e só em Cuiabá, a Copa do Mundo homenageará o pantanal e toda a natureza marcando para sempre o coração sul-americano.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 03/02/09)