"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

ARENA EM FESTA

Foto José Lemos

José Antonio Lemos dos Santos
     Com quase 16 mil pessoas fui no sábado passado à Arena Pantanal assistir ao primeiro Fla x Flu que se realizava em Mato Grosso. Na verdade, fui como arquiteto e diletante articulista que se interessa pela Arena Pantanal desde quando foi decidida sua construção e o antigo Verdão ainda existia. Já fui tricolor, contudo hoje só torço pelo Cuiabá Esporte Clube e pelo sucesso do futebol mato-grossense, que por sinal está indo muito bem na Copa Verde e na Copa do Brasil deste ano. Reservo minha torcida aos times locais que precisam muito mais do apoio do torcedor do estado do que os grandes times do futebol brasileiro e mundial para os quais não temos a menor importância, como aliás demonstrou o Flamengo, mandando para Cuiabá aquilo que nem sequer pode ser reconhecido como um time (?) de reservas, mas um amontoado. Pouco se importaram os dirigentes flamenguistas com seus apaixonados torcedores deste lado do Brasil, muitos dos quais vieram de muito longe de carro ou ônibus com suas famílias devidamente uniformizadas, embandeiradas, orgulhosas em poder ver e mostrar ao vivo a seus pequerruchos sob chuva o clube de sua paixão. Levaram de 4 e foi pouco. Sinto por eles, decepcionados com seu clube do coração.
     Não fosse o pouco tempo para divulgação e as constantes chuvas que abençoaram Cuiabá na última semana, chuvas de dia inteiro como no dia do jogo, a Arena seria pequena. Ainda assim 15.844 torcedores fizeram uma grande festa com alegria e civilidade, mesmo com as torcidas misturadas, aliás, modo de dizer pois praticamente só tinha flamenguista. Cercado de flamenguistas nas grimpas da arquibancada superior da Arena, lá estava meu irmão tricolor pulando e gritando a cada gol sem nenhum problema. Por este Brasil afora, em quantos estádios ou arenas poderíamos contar o mesmo e, importante, com final feliz? À saída também tudo em paz. Mas nosso complexo de pequi roído vai querer lembrar da festa por um estranho roubo no vestiário do Poconé que jogou depois. Já pensaram se o buraco que o Neymar pisou no gramado chic francês fosse no bom gramado da Arena Pantanal?
     Enfim, pela primeira vez senti um clima simpático por parte da mídia, dos políticos e do próprio estado, em relação à promoção de um evento na Arena Pantanal tratando-a como um bem público valioso que precisa ser explorado em toda sua potencialidade e não mais criticado. Ouvi cronistas comentando que um evento como esse não beneficia só seu empresário, mas movimenta hotéis, bares, restaurantes, postos de combustíveis, os ambulantes da praça do entorno e mesmo o comércio de um modo geral pois os torcedores de fora aproveitam a estada e fazem uso de diversos serviços locais, sendo que alguns acabam até ficando mais de um dia na cidade. Sem dúvida esta é a visão correta.
     Imagino que uma próxima evolução seria a conjunção de um evento desse porte na Arena com outras programações culturais, religiosas, comerciais, etc. coincidentes na cidade. Em vez de isolados, poderiam se beneficiar com a sinergia da realização conjunta, contando com o grande público trazido pela Arena, divulgação comum e outras ações integradas otimizadoras dos investimentos de cada evento específico.
Foto José Lemos

     Ainda como saldo da festa é bonito ver a Arena Pantanal relativamente arrumada, com sanitários limpos, sistema de som e telões funcionando, bem como sua fantástica iluminação externa emoldurando o povo alegre na praça externa em seus patins, bikes, quadriciclos, skates, correndo, caminhando, brincando, jogando basquete ou vôlei, ou só namorando. Um show diário de convivência social, bem-estar e saúde que sem dúvidas alivia bastante nossos sobrecarregados sistemas públicos de Segurança e Saúde. Que venham outros eventos similares.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

O AQUÁRIO MUNICIPAL

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José Antonio Lemos dos Santos
     Com a alma lavada pelas vitórias do Cuiabá e Luverdense em seus jogos de estreia pela Copa do Brasil e Copa Verde respectivamente, lembro com uma pontinha de tristeza do Aquário Municipal de Cuiabá que neste dia 5 de fevereiro completaria 18 anos de sua inauguração. Atualmente desativado para modernização e ampliação, mas com as obras paralisadas, o Aquário Municipal foi um dos equipamentos urbanos mais queridos da população, sendo inclusive adotado como um dos cartões postais da cidade. É um dos projetos que mais me agrada desde sua elaboração até nas minhas frequentes visitas, quando ainda funcionava,  compartilhando a alegria das crianças surpresas com os peixes colocados bem à altura de seus olhos ou disputando a ração que jogavam no tanque externo. Satisfação visível também no semblante dos pais e mães, avos e avós, extasiados com a felicidade dos pequenos, ou mesmo encantados com a visão de uma espécie que só conheciam numa travessa ou grelha como protagonista da culinária cuiabana, mas nunca ao vivo, nadando, exibindo toda sua beleza plástica hidrodinâmica. 
     O Aquário empolgou a todos desde o início. O então prefeito Roberto França iniciando seu primeiro mandato aprovou a proposta de revitalização da Beira-Rio e do Porto que vinha das administrações anteriores, mas entendeu que no projeto do Museu do Rio faltava o personagem principal, o peixe. Foi então projetado um aquário anexo onde pudessem estar expostas todas as espécies de peixes do rio Cuiabá e pantanal. O tempo era escasso, os recursos também, com curto prazo para aplicação, e as referências para o projeto iam sempre além do que podia a prefeitura. Com o arquiteto Ademar Poppi encontramos um partido arquitetônico adequado àquelas condições, que acabou servindo de referência para projetos similares em outros estados.
     Além do projeto, é inesquecível a maratona para coleta dos exemplares que ocupariam o aquário. No dia da inauguração o professor Francisco Machado ainda mergulhava no Pantanal atrás de um certo camarão e uma espécie de acará que faltavam. A poucas horas da inauguração o prefeito trazia pessoalmente de seus tanques criatórios as piraputangas e pacus, alguns dos quais viveram enquanto viveu o Aquário. Todos animados na prefeitura e em especial no antigo IPDU, tudo sempre com a presença de Teruo Izawa, um apaixonado por aquários e peixes, o anjo do Aquário, que se doou para mantê-lo funcionando até não dar mais. Nunca recebeu o merecido reconhecimento da prefeitura.
     Milhares de pessoas estiveram na inauguração do Aquário, que recebeu em seus 10 primeiros anos mais de 1 milhão de visitantes. Agonizando ainda recebia uma média de 100 visitantes por dia. Poderia ser melhor, mas sua manutenção nunca foi equacionada desde o início. Foi idealizado como uma estrutura auto-sustentável junto ao Museu do Rio, sustentabilidade que viria da venda de lembranças relacionadas ao Aquário, ao rio e sua cultura, como chaveiros, bonés, camisetas, fotos, vídeos, livros diversos, receitas, etc. Nem foi tentada. Buscou-se também parcerias com as secretarias de educação do município e do estado, em troca do baita equipamento didático muito utilizado por escolas de Cuiabá e do estado nos primeiros 10 anos. Buscou-se ainda as faculdades de veterinária, sem êxito.
     Ao final a esperança podia estar no milagre da Copa. O prefeito dos belos parques, Mauro Mendes, chegou a anunciar para a Copa, mesmo sem compromisso com a FIFA, uma nova revitalização da Beira-Rio com o projeto Orla do Porto, constando a ampliação e modernização do Aquário. A Orla do Porto é um sucesso, mas o aquário parou pelo caminho. Talvez ainda possa ser um presente para o Tricentenário?