"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



quarta-feira, 24 de junho de 2015

PARA SEMPRE

esportes.terra

Artigo que republico hoje (24/02/2015), um ano após sua primeira publicação no Diário de Cuiabá por ocasião do encerramento da Copa do Pantanal em Cuiabá.

José Antonio Lemos dos Santos

     Está marcado para hoje, no começinho desta noite de São João, o último jogo da Copa do Pantanal entre Colômbia e Japão, assinalando o fim da participação direta de Cuiabá nesta Copa do Mundo de 2014, que até agora tem sido magnífica, surpreendendo de modo favorável a opinião pública nacional e mundial. Em especial, calando aquela parte da grande mídia que, por motivos que serão descobertos um dia, jamais aceitou Cuiabá como uma das sedes da Copa e que continua armada para destacar qualquer deslize, por mínimo que seja e mesmo que falso. Por isso, enquanto o jogo não acabar, não dá para cantar uma vitória completa de Cuiabá na Copa mesmo na certeza de que tudo correrá bem, como vem acontecendo pela graça e proteção do Bom Jesus de Cuiabá, que, como estou cada vez mais convencido, foi quem de fato trouxe a Copa para nós como pretexto para sacudir sua gente e iniciar a preparação digna de sua cidade para o Tricentenário, em 2019. 
     Mas Cuiabá e Mato Grosso já podem cantar muitas vitórias. E quero cantar a fundamental. Não vou me referir à fábrica de cimento, shoppings, torres hoteleiras ou às sempre tão focalizadas, esperadas e agouradas obras públicas que vão sendo incorporadas vorazmente pela cidade à medida em que são liberadas total ou parcialmente, confirmando suas urgências. Com rapidez, facilidade e conforto, outro dia fui do trevo da Rodoviária em Cuiabá até a rótula da Ponte Sérgio Mota em Várzea Grande, passando pelos viadutos do Despraiado e Orlando Chaves, e pelas trincheiras do Santa Isabel e Santa Rosa, esta ainda inconclusa. Sobre a maravilha da Arena Pantanal daria e dará muito para se falar. Como aquele luminoso espaço high-tech conseguiu traduzir tão bem o encantamento da tríade vitruviana, a ponto de transportar cerca de 40 mil pessoas confortavelmente a cada jogo para um mundo de alegria, vibração positiva, flashs, whatsapps, como se fosse de fato aquela nave intergaláctica mágica a que me referi em artigos anteriores? E o espaço do Fan Fest, no qual eu não fazia a menor fé, mas que numa noite recebeu mais pessoas que a própria arena? E a Arena Cultural dando um show diário de cultura local e regional? 
     Mas não é esse tipo de vitória que quero saudar como a fundamental. Essas coisas qualquer cidade pode ter, basta arranjar dinheiro. O que quero saudar é meu povo, minha gente em princípio tão simplória, desconfiada e arredia, mas que é capaz de dar show de alegria, calor humano e receptividade, condição primeira para a realização de um evento de tão grande porte como uma Copa do Mundo. Isso não se compra. O principal Cuiabá já tinha pronto naturalmente e não percebemos. E não podia ser melhor Cuiabá ter recebido primeiro as torcidas do Chile e da Austrália. Juntas com o cuiabano a empatia foi imediata. Jamais imaginei povos tão distantes no espaço e tão afins na simpatia, na alegria e na cordialidade. E depois vieram os russos e coreanos, bósnios e nigerianos e, logo os colombianos e japoneses, todos sem timidez no uso das cores, cantos, gritos pacíficos, mascotes e fantasias referentes aos seus países. Muitos trouxeram a família. 
     Às centenas ou milhares vieram também torcedores de outros países, e brasileiros de muitas cidades de Mato Grosso e do Brasil, todos integrados num grande momento de alegria espontânea e genuína. E o patinho feio na verdade era um belíssimo tuiuiú que serena bonito no alto e assenta mais lindo no chão. E a menor e menos preparada das sedes, com seus rios e o calor sadio, seu sotaque e modo de viver, do tereré e do guaraná, do Siriri e do Cururu, Cuiabá inteira virou uma grande festa internacional de paz e harmonia que ficará para sempre marcada no exato coração sul-americano e na memória do povo cuiabano.