"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 26 de maio de 2009

FERRONORTE: UM GOLPE AOS 20 ANOS

José Antonio Lemos dos Santos


     Este mês de maio marca o vigésimo ano da concessão da União á Ferronorte, “para o estabelecimento de um sistema de transporte ferroviário de carga abrangendo a construção, operação, exploração e conservação de estrada de ferro entre Cuiabá (MT) e: a) Uberaba/Uberlândia (MG), b) Santa Fé do Sul (SP), na margem direita do rio Paraná, c) Porto Velho (RO) e d) Santarém (PA)”. Destaca-se o objetivo da concessão que é a criação de um sistema de transporte ferroviário centrado em Cuiabá. Bem mais que uma simples ligação entre dois pontos, trata-se de um macro-projeto para a Amazônia meridional brasileira e Cuiabá é o alfa e o ômega desse grande projeto.
     A concessão não deixa ao concessionário a prerrogativa de chegar ou não aos pontos citados, decidindo ao sabor de suas conveniências ou de eventuais pressões e interesses provincianos momentâneos de quaisquer espécies. É para ser cumprida na íntegra. Sua objetividade vem de profundos e competentes estudos técnicos, inclusive de viabilidade econômica, feitos entre 1987 e 1988, dando seqüência a numerosos outros estudos, que vem desde Euclides da Cunha em 1901, passando pelo magnífico trabalho feito pelo GEIPOT em 1974, todos apontando não só a viabilidade, mas a necessidade da ligação de Cuiabá ao sistema ferroviário nacional. De lá para cá o desenvolvimento excepcional de Cuiabá e Mato Grosso, superou em muito todas as expectativas, ratificando todos os estudos de viabilidade precedentes.
     Em 1989 imaginava-se que logo o trem chegaria a Rondonópolis, Cuiabá e subiria o norte de Mato Grosso rumo a Santarém e Porto Velho, situação esta ainda muito distante, passados 20 anos, infelizmente. Contudo, apesar do atraso, teríamos hoje muito a comemorar, pois a ferrovia já avançou mais da metade de sua distância original até Cuiabá, e venceu seus maiores obstáculos, dentre os quais a travessia do rio Paraná. Seu traçado técnico até Cuiabá até já foi submetido a uma audiência pública, ficando com uma só pendência: a proximidade da Reserva Tereza Cristina (700 metros fora), sendo recomendado um maior afastamento. Só isso. Esse traçado ficou conhecido como “o traçado original” por ter sido defendido pessoalmente pelo próprio “pai” da ferrovia, senador Vicente Emílio Vuolo. Assim, graças a bravura e abnegação pessoal do senador Vuolo, teríamos sim muito a comemorar pois a ferrovia avançou bastante, ainda que menos que o desejado.
     Mas, como comemorar se após esse hercúleo trabalho, o projeto da Ferronorte está por sofrer um bem urdido golpe que lhe poderá ser fatal? O traçado original de 200 Km até Cuiabá está sendo substituído por outro de mais de 400 km(!), subindo a serra em Rondonópolis, sob o pretexto de uma falsa ameaça do traçado original à Reserva Tereza Cristina e, se a ferrovia subir a serra lá, não descerá para Cuiabá nem como um ramal. De lá seguirá direto rumo norte, excluindo o Mato Grosso platino do eixo do desenvolvimento e explodindo o estado.
     Os problemas criados pela malícia e ambição humanas são bem mais difíceis do que os obstáculos naturais da distância e dos acidentes geográficos. Após 20 anos de concessão é necessário redobrar a luta, deixar de lado a extrema boa-fé do cuiabano e suas luvas de pelica, para que a ferrovia chegue a Santarém e Porto Velho, levando o progresso para todo Mato Grosso, mas passando por Cuiabá, conforme define a lei e o traçado original deixados pelo senador Vuolo, bem como está fixado na vintenária concessão outorgada à Ferronorte.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 26/05/2009)

terça-feira, 19 de maio de 2009

SEJA BEM VINDA A BASE AÉREA

José Antonio Lemos dos Santos


     Na semana passada foi noticiado que o Ministério da Defesa e a FAB instalarão em Cáceres uma Base Aérea do CIOPAER, com apoio do governo do estado. Alvíssaras! Tomara que a realização dessa notícia seja imediata. O Diário de Cuiabá me tem permitido discutir este assunto há quase 10 anos em vários artigos destacando a importância do espaço aéreo mato-grossense para a prática dos diversos tipos de tráfico e sua importância fundamental para o equacionamento dos problemas de segurança pública, não só de Mato Grosso – em especial da região de Cáceres e da Grande Cuiabá, mas de todo o Brasil.
     É de ressaltar que jamais será suficientemente enaltecido o trabalho que, com todas as dificuldades e riscos, vem sendo feito pelas polícias militar e civil do estado, Polícia Federal, polícias rodoviárias federal e estadual, e pelo Exército, bem como a importância dos governos continuarem incrementando essas ações terrestres na fronteira. Mas, na questão da nossa fronteira é indispensável lembrar que Mato Grosso é um dos únicos estados do Brasil a não dispor de uma Base Aérea. Mato Grosso do Sul tem, Goiás tem, vizinha a de Brasília, e Rondônia tem duas! Considerando os 1.100 quilômetros de fronteira do estado – dos quais 700 em fronteira seca, e que seu território equivale a mais de 10% do território nacional, o absurdo dessa situação salta aos olhos. O problema se agrava na medida em que toda a fronteira nacional esteja protegida, inclusive por Bases Aéreas, e é previsível que as rotas do crime migrem para o único grande “rombo” ainda existente nas fronteiras brasileiras, que fica justamente na nossa fronteira. Como parece estar acontecendo.
     Temo que os esforços corajosos e abnegados de nossos policiais não resultem nos resultados que são capazes se não tiverem uma cobertura aérea sistemática e ostensivamente poderosa, a visão do alto, indispensável para uma vigilância eficiente e eficaz que todos esperam. Por mais determinação política, boa vontade e equipamentos de uma estrutura militar terrestre, é fácil entender a impossibilidade de se querer tomar conta só por terra de uma extensão tão ampla como esta, que além da parte seca – mais de 700 quilômetros - tem as áreas do pantanal, com rios, várzeas, e as grandes lagoas e baías.
     Este assunto, há quase 10 anos, motivou a Assembléia Legislativa, através de iniciativa do deputado Carlos Brito, a consultar oficialmente o Ministério da Defesa sobre a possibilidade da instalação de uma Base Aérea em Cáceres, tendo recebido uma resposta animadora dependente de maiores estudos, segundo notícias da época, assunto este continuado de forma bem sucedida pelo deputado João Malheiros, que nos traz agora a boa nova da instalação da base. Lúcida decisão, pois Cáceres tem uma posição estratégica privilegiada, à montante do Pantanal, próxima aos maiores núcleos urbanos do Estado, assim como uma localização central em termos da fronteira a ser vigiada, dispondo de uma pista asfaltada de 1.850 x 30 metros, capaz de descer Boeing 737, prontinho para uso imediato... e ocioso, o qual poderá ser cedido, doado, emprestado, ou até, sei lá, dado como contrapartida ao urgente esforço nacional pela segurança pública.
     Pena que uma providência aparentemente tão óbvia tenha demorado tanto quando uma das principais prioridades do povo brasileiro e mato-grossense é a segurança pública nas nossas cidades. Além do que penso ser um absurdo, que um estado das dimensões e importância de Mato Grosso, fronteiriço, ser até hoje um dos únicos a não contar com a presença da Força Aérea Brasileira, através de uma Base Aérea.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 19/05/2009)

terça-feira, 12 de maio de 2009

MATO GROSSO 261 ANOS

José Antonio Lemos dos Santos


     No último dia 9 de maio comemoramos muito discretamente o 261° aniversário de Mato Grosso, data que lembra o ano de 1748, quando o Rei de Portugal, Dom João V, através de Carta Régia determina a criação de duas Capitanias, “uma nas Minas de Goiás e outra nas de Cuiabá”. A Capitania das Minas de Cuiabá virou Capitania de Mato Grosso e para governá-la foi designado Dom Antonio Rolim de Moura, que tomou posse e permaneceu em Cuiabá por cerca de um ano, até que a cidade de Vila Bela fosse construída. Morou no centro histórico de Cuiabá, próximo à praça que tem o seu nome e que é popularmente conhecida como Largo da Mandioca. Depois chegou a ser o Vice-Rei do Brasil, o governante maior do país na época, já que El-Rey ficava em Portugal. Seria possível pensar na restauração da casa de Rolim de Moura, criando uma nova atração turística no centro histórico?
     De lá para cá Mato Grosso fez história. “Limitando, qual novo colosso, o ocidente do imenso Brasil”, nas letras de Dom Aquino, Mato Grosso ia do atual Mato Grosso do Sul até os limites do Acre sendo a vanguarda em terras espanholas do território que atualmente é o Brasil, o qual, além de expandir, conseguiu manter e consolidar a peso de muita bravura, heroísmo e sacrifícios. Hoje é uma das regiões mais dinâmicas do planeta, e o principal pólo irradiador e de apoio ao desenvolvimento na Amazônia Meridional. Da grande produção inicial de ouro, Mato Grosso passou a produzir diamantes, borracha, ipecacuanha, carne e hoje desponta como o maior produtor do Brasil em grãos, algodão, gado e biodiesel, posicionando-se como o sétimo estado exportador do país, sendo que sozinho exporta mais que todas as outras unidades federativas do Centro Oeste juntas. No primeiro trimestre deste ano foi o responsável por 57% do saldo comercial do Brasil com o exterior, no valor de US$ 1,73 bilhão, que daria para fazer a ligação ferroviária de Cuiabá a Alto Araguaia, passando por Rondonópolis, e com o troco ainda duplicar a rodovia Rondonópolis/Cuiabá e concluir a obra do Aeroporto Marechal Rondon.
     Porém, mais que produtos comercializáveis, o principal produto de Mato Grosso é sua gente – nascidos ou de adoção - cuja qualidade se expressa em expoentes como Antônio João Ribeiro, Barão de Melgaço, Antônio Maria Coelho, Joaquim Murtinho, Rondon, Roberto Campos e os Presidentes Dutra e Jânio Quadros. Dos mais recentes, lembro da figura de Dante de Oliveira, o “Homem das Diretas”, de Ariosto da Riva, Enio Pepino, Norberto Schwantes e Manoel de Barros, o maior poeta brasileiro vivo, entre tantos. Aliás, Mato Grosso já deu ao Brasil dois Presidentes da República eleitos, o que muitos estados mais destacados na federação não fizeram sequer com um de seus filhos.
     O aniversário de Mato Grosso é oportunidade para uma grande festa coletiva, com os mato-grossenses em conjunto comemorando nosso estado, com seus símbolos, suas tradições, história, personagens, cultura, ajudando os cidadãos a se identificarem como conterrâneos, como pessoas que têm muitas coisas em comum, promovendo a amizade, a simpatia e generosidade entre eles.
     O sucesso de Mato Grosso está no trabalho de sua gente, na diversidade produtiva oferecida por sua extensão territorial e na integração crescente de todas as suas regiões. Mato Grosso unido é forte e supera todas as crises. A sinergia de uma integração cada vez maior construirá aquele Mato Grosso sonhado por todos os mato-grossenses, com menos desequilíbrios regionais e mais qualidade de vida, respeito ambiental e justiça social.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 12/05/2009)

terça-feira, 5 de maio de 2009

TÚMULOS REVIRADOS

José Antonio Lemos dos Santos


     Não sei se é um costume só daqui, mas ainda hoje em Cuiabá se diz que “fulano está se revirando no túmulo” quando acontece alguma coisa no mundo dos vivos que desagrada a um falecido. Indignado, lembro-me muitas vezes desta expressão em relação a alguns homens públicos que já se foram, pelo tratamento dado ao legado que deixaram.
     Um deles é Orlando Boni, cuiabano que nunca esqueceu Cuiabá e que ao assumir a presidência da INFRAERO, recusou a reforminha que estava programada para o Aeroporto Marechal Rondon como adaptação à sua recente internacionalização e determinou a construção de uma estação de passageiros à altura de sua importância como um dos principais aeroportos do país. Com a mudança política no governo federal ele deixou a presidência com a obra inconclusa. E inconclusa ficou. Jovem ainda, faleceu sem vê-la concluída.
     Pior é a vergonha dos que gostam de falar que nosso estado é campeão disto e daquilo, progresso, modernidade, etc.. Outro dia recebemos uma senhora amiga da família, culta, viajada pelo mundo. Chegou na “ala de desembarque”, ou melhor, naquele muquifo improvisado, todos felizes pelo reencontro, até que ela indagou sobre o banheiro. Constrangidos, mesmo com uma garoazinha tivemos que levá-la à outra ala, separada quase 100 metros. Como desfazer essa primeira péssima impressão, que é a que fica e que milhares estão levando de Mato Grosso? Conta a lenda que foi preciso a então primeira-dama Maria Tereza Goulart passar pelo mesmo constrangimento para que fosse construída a nossa primeira estação de passageiros digna desse nome.
     Outro sempre lembrado é o eterno senador Vuolo. Após colocar em lei federal a ligação ferroviária de Cuiabá, conseguiu também a concessão da União para a execução da obra, concessão que neste mês completa 20 anos de existência e nela Cuiabá é mais que apenas o destino de uma ferrovia, mas o centro de um sistema ferroviário, a ser construído e não discutido, interligando Santarém, Porto Velho, Rubinéia e Uberaba/Uberlândia. Muito além disso isso, continuou a luta a tempo de ver o trem chegar a Mato Grosso, impossível sem a ciclópica ponte de quase 1 bilhão de dólares, sobre o rio Paraná, viabilizada por ele. Agora que a ferrovia se encontra praticamente a 200 Km de Cuiabá, sem himalaias ou outros paranás a transpor, tem que assistir lá de cima à criação de falsas dúvidas sobre a economicidade da chegada a Cuiabá, que na verdade é o trecho que viabiliza toda a ferrovia politicamente e também economicamente com cargas de ida e volta. Pior, ante sua ululante viabilidade, pretendem mudar o traçado original passando de 200 para 400 Km, subindo a serra, para depois descê-la e subir novamente, aí sim, inviabilizando-a definitivamente.
     E lembro o saudoso Dante de Oliveira, verdadeiro estadista que lançou as bases do extraordinário Mato Grosso que vivemos hoje, com iniciativas e obras estruturantes para o estado, em geral paralisadas ou relegadas, de grandiosidade não entendida por muita gente importante do estado, em especial, de Cuiabá e Várzea Grande. Agora, a Petrobrás diz que neste mês decidirá a localização da fábrica de fertilizantes de 2 bilhões de dólares e que tecnicamente tem tudo para ser em Cuiabá. Ou tinha, já que nossas autoridades, dos governos e da oposição, deixaram sem gás um gasoduto pronto de 250 milhões de dólares, sendo o gás a matéria prima básica para a fábrica, como para muitas outras da indústria química. E agora? Bom, agora é torcer pela força atrativa da economia mato-grossense, principal mercado consumidor da nova fábrica, confiar na boa vontade do presidente Evo e continuar contando com as bênçãos do Senhor Bom Jesus de Cuiabá.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 05/05/2009)