"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A GRANDE RODOVIA TRANSOCEÂNICA


A propósito do meu artigo postado ontem sobre a BR- 163 veja importante artigo do arquiteto e urbanista, professor Gabriel de Mattos, publicado em 11/10/2002 no Diário de Cuiabá e na Revista do IGHMT Vol. 61 - 2003.  Ele fala na ligação do Atlântico ao Pacífico a partir de Ilhéus, porém passando por Cuiabá e Cáceres.


A GRANDE RODOVIA TRANSOCEÂNICA
Gabriel de Mattos

            Estuda-se nos livros de Geografia que em Mato Grosso situa-se o Centro da América do Sul(na capital, Cuiabá), além do centro do Brasil (no município de Barra do Garças). Bela situação se buscamos aparecer com o nome em certos anuários ou manuais.
            No entanto, um CENTRO é definido como um ponto equidistante de dois outros, por onde se passa na metade do caminho entre os dois extremos. De fato, se não se passa de um extremo a outro, bem... aquele ponto não é um centro, mas algo como um espaço perdido entre um lugar onde as coisas acontecem e um grande vazio.
            É muito engraçado que a população de Mato Grosso, quando deseja ver o mar, não tenha um grande problema: Qual deles?
            Claro, se o Oceano Pacífico está tão distante quanto o Oceano Atlântico, porque não ficar em dúvida?
            É que, na prática, o país ainda não teve a coragem de olhar para dentro, em todos os aspectos. Ainda ficamos olhando para o mar, vendo a África e achando que ali está o primeiro mundo, a Europa...
            O brasilianista Mathew Shirts, há alguns anos atrás, escreveu uma crônica no Estadão, explicando que seu país natal, os Estados Unidos, é de fato uma grande rodovia, uma extensa rodovia ligando os oceanos Atlântico e Pacífico. E que isso é que fez daquele país um laboratório de descobertas, pois uma boa ideia que nascesse no meio dela (ou nas pontas) pegava a rodovia e ia testar se aquele negócio dava certo em outro lugar. E mesmo se alguém do lugar de origem menosprezava ou censurava a ideia, pegava-se a estrada e ia-se tentar em outro lugar.
            Exemplos? O cinema nasceu na costa leste, logo controlado pela figura carismática de Thomas Edison, que no entanto não pensava sequer no cinema de média metragem. Apertados no leste? O cinema pegou a rodovia e foi até uma cidadezinha lá no oeste, uma certa Hollywood. O resto é história.
            Boas idéias como uma lojinha que funcionava das 7 da noite às 11, quando todo mundo parava às 6 da tarde? A seven-eleven foi uma das primeiras franquias a ganhar a rodovia. Um hotel com o mesmo padrão de uma ponta a outra? A rede Hollyday Inn usou o marketing do conhecido para também ocupar a beira da rodovia. E, chegando a um exemplo indiscutível: hamburguers sempre iguais durante toda a viagem? McDonalds de oceano a oceano.
            Sem falar nas dezenas de concorrentes desses pioneiros, definindo um cenário de efervescência criativa interna, que moldou um padrão que resiste na maioria dos outros países. Chegando a um panorama de globalização.
            E é assim que vejo uma grande Rodovia, uma grande rodovia cruzando o centro da América do Sul. Não um caminho asfaltado, mal cuidado, sem acostamento, não. Uma Grande Rodovia, três pistas de Oeste para Leste, três outras de Leste para Oeste, espaços generosos aos lados, onde a criatividade brasileira vai implantar suas idéias.
Uma estrada que nasce lá na Bahia, no porto de Ilhéus, cruza o norte das Minas Gerais, entra em Goiás, passa no sonho modernista que é Brasília; Goiás de novo e entramos em Mato Grosso. Barra do Garças, Primavera do Leste, Cuiabá, Cáceres; chegando à Bolívia, cruzando a Cordilheira dos Andes. Como nós não queremos pouco: grandes viadutos e/ou túneis sobre e sob, entre as montanhas. E ali, próximo ao maior de todos, o Pacífico, uma abertura, um entroncamento: ao norte o Peru, porto de Arequipa; ao sul o Chile, porto de Arica.
            Não se trata simplesmente de “saída para o Pacífico”, significa ligar o Continente, fisicamente, de fato, apesar e acima de tratados.
            Claro que é uma idéia que dá medo. Não é algo que se possa confiavelmente prever os efeitos. É claro que algumas reações virão de quem tem medo de crescer, como os economistas que tem medo do consumo (entenda-se: acesso de todos aos bens produzidos), ou dos que preferem disputar um espaço exíguo do qual já ocupam lugares de destaque a confiar numa genuína lei de mercado que tanto pregam e tanto temem, a qual pode ampliar o espaço a ser ocupado. Não é para quem acredita em monopólios, em dominar e controlar; é muita coisa diferente que está envolvida.
            E também trata-se de uma Globalização de fato, não mera abertura para importar badulaques de quem, em troca, taxa tudo que nós produzimos. É uma via de comércio, a ser ocupada por “sacoleiros” se as leis não acompanharem a aceleração da economia. Um desafio para quem deseja criar o seu próprio negócio: está difícil aqui, vamos para mais longe, a rodovia permite, a rodovia é a perspectiva.
            E é coisa para já, para os novos governos de 2003. Para começar uma conversa entre Mato Grosso, Minas Gerais, Bahia, Goiás e Distrito Federal. Um papo com o Chile, já começado há uns anos atrás, e negociações com Peru e Bolívia.
            Um dos efeitos que se pode prever (e que Mato Grosso já pode começar a trabalhar) é o Eixo Norte-Sul, passando por Cuiabá e chegando ao norte a Sinop e Santarém e ao sul a Mato Grosso do Sul e outros países do Mercosul. Um continente integrado, um caminho para o desenvolvimento. Mercoeste, Merconorte.
            É valido lembrar que a libertação das colônias espanholas, no século XIX,visava criar os Estados Unidos da América do Sul? Será que alguns líderes políticos atuais estariam interessados em resgatar um sonho, em entrar para a História?  A História do Século XXI?
Isso é coisa para estadista, para quem busca dividir a História em antes e depois de sua atuação, por merecimento e produção, como Getúlio e Juscelino, e não para quem joga com o certinho, sem sobressaltos, buscando o respeito dos tolos, dizendo que não fez mais porque era impossível mesmo (que se vai fazer?...).
Não é o futuro, é o Presente que está aí: o novo século é uma estrada aberta.
_____________
Gabriel de Mattos é arquiteto e urbanista, professor universitário, Mestre em Educação, escritor e vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso. Este artigo foi publicado no jornal Diário de Cuiabá de 11/10/2002.



quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

BR-163, CORREDOR CONTINENTAL

José Antonio Lemos dos Santos


Basta olhar o mapa sul-americano para entender a potencialidade
da BR-163 em termos de estratégia logística para o continente. Quando
concluída, a rodovia ligará Santarém no Pará a Tenente Portela no
Rio Grande do Sul, integrando o Brasil de norte a sul. Contudo, sua
importância não está limitada a seu leito carroçável, pois ao norte
ela chega aos portos amazônicos de Itaituba e Santarém e ao sul acessa
o porto de Cáceres, chegando por águas platinas ao Paraguai, Argentina
e Uruguai. Com estas características e mais a especialíssima condição
de passar pelo exato centro da América do Sul em Cuiabá, a rodovia
impõe-se potencialmente como o mais natural caminho integrador centro-
longitudinal sul-americano, predispondo-se como base para um grande
corredor intermodal de transporte do continente em futuro próximo.
     A história da BR-163, a Cuiabá-Santarém, é bem conhecida e
sofrida no dia-a-dia pelos mato-grossenses. Inaugurada em leito
de terra há 36 anos até hoje não foi concluída em asfalto, porém
seu eixo inspirou à época de sua criação a antevisão do futuro
grandioso do centro do continente, com a proposição de mega-projetos
como o da Ferronorte, integrando por ferrovia Mato Grosso ao Pará,
São Paulo, Minas, Espírito Santo, Rondônia, Acre, do Atlântico ao
Pacífico, do Amazonas ao Prata. A visão dos saudosos Vuolo e Iglésias
virou concessão federal e é a mesma que ano passado foi devolvida
parcialmente pela ALL à União. São da mesma época os projetos da saída
para o Pacífico via San Mathias, da Ecovia do Paraguai com porto e ZPE
em Cáceres, bem como o Distrito Industrial de Cuiabá, desenhando um
eixo longitudinal capaz de organizar em forma de espinha de peixe as
demais rodovias e ferrovias a leste e a oeste de Mato Grosso, mesmo as
previsíveis como as variantes ferroviárias até Cáceres, a ligação ao
Peru por Tangará, Diamantino ou Lucas, e até a atual FICO.
     A formulação do complexo rodovia-ferrovia-hidrovia, apoiado
pela internacionalização do aeroporto de Cuiabá resultava de uma
visão extraordinária do futuro que profetizava com exatidão toda a
grandeza do desenvolvimento regional que acontece hoje. A Cuiabá-
Santarém firmou-se como a coluna vertebral de Mato Grosso e ajudou a
transformar o estado no maior produtor agropecuário do país e uma das
regiões mais produtivas do mundo. Imagina quando estiver concluída em
sua multimodalidade, transportando para os portos de norte, sul, leste
e oeste do Brasil e do mundo a produção mato-grossense, facilitando
a distribuição aos brasileiros do sul-sudeste dos produtos da Zona
Franca de Manaus e até da China. Principal, trazendo o desenvolvimento
e a qualidade de vida a todos os mato-grossenses através dos insumos e
bens de consumo com tarifas reduzidas, tarifas mais baratas não apenas
em dinheiro, mas também em perdas ambientais e de vidas humanas,
preço maior de dor e sofrimento pago hoje pelos mato-grossenses por
uma logística de transporte totalmente defasada em relação ao atual
dinamismo econômico e tecnológico de Mato Grosso.
     De janeiro a outubro de 2012 Mato Grosso produziu um superávit
de 10,44 bilhões de dólares na balança comercial brasileira, 60% do
superávit brasileiro no mesmo período, o terceiro do país! Isto é, de
cada 3 dólares que entrou no país, quase que 2 foram trazidos pelo
suor e trabalho do povo mato-grossense, vencendo dificuldades imensas
dentre as quais a calamitosa situação das estradas. Em função de tudo
o que vem produzindo para o Brasil, Mato Grosso hoje tem condições não
só de continuar projetando seu extraordinário futuro, mas, sobretudo,
de exigir tudo o que precisa e tem direito para seguir seu destino e
vocação de grande celeiro de alimentos do mundo.

(Publicado na Edição Inaugural da Revista RODOVISTA - Novembro de 2012)

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

A CIDADE E O NATAL

José Antonio Lemos dos Santos

     Venho do tempo em que se ensinava que a liberdade de um terminava onde começava a do outro. De lá para cá o mundo evoluiu muito, ou pelo menos se transformou e, mesmo que não quiséssemos, todos nos transformamos com ele. A vivência, a leitura, a conversa com os amigos ensinam que as melhores tendências do mundo atual apontam para uma visão de inclusão, compartilhamento e sustentabilidade. Melhor se diria hoje que a liberdade de um não mais termina, mas se complementa na liberdade do outro. Não mais a liberdade solitária, mas a liberdade solidária. Ou somos todos livres ou não somos livres.
      O Natal celebra o nascimento de Jesus Cristo que veio para religar o homem a Deus, como Maomé, Buda e outras figuras grandiosas, conforme seus seguidores de fé. Aliás, a palavra “religião” vem de “religar”, expressando justamente essa “re-ligação” divina, o mais importante estágio da evolução humana, não importa o tanto que o homem ainda venha evoluir. Religado a Deus o homem começa a pensar no outro como irmão e  que a felicidade está na comunhão, comum-união de todos na grande família divina. A felicidade solidária, não mais solitária. Amar o próximo como a si mesmo e a Deus sobre todas as coisas.
      O que tem ver a cidade com isso? A cidade é uma invenção humana, a maior e mais bem sucedida delas. Um objeto artificial que é construído, numa construção permanente. Porém, importante é que se trata de uma construção coletiva, feita no dia-a-dia com o trabalho de cada cidadão, que por isso é seu verdadeiro dono. A cidade é do cidadão, célula da cidadania. Ele constrói a cidade com sua casinha, do casebre à mansão, com seu estabelecimento comercial, da pequena borracharia aos grandes empreendimentos. E a cidade é construída para ser o lócus das múltiplas relações urbanas, sendo justamente a convivência lado a lado dessas diversas relações, na integração e no conflito de seus diferentes interesses que surge a fantástica sinergia das cidades que faz a Humanidade dar saltos de desenvolvimento cada vez mais rápidos ao longo da História. A cidade é a unidade dessa diversidade e por isso é solidária. Ou pensamos um no outro, do passado, presente ou do futuro, ou perecemos como seres urbanos.
      Como no conceito de liberdade, sua irmã gêmea, a cidade de cada um não mais termina onde começa a cidade do outro, elas se complementam. A cidade de um embeleza ou enfeia, ajuda ou atrapalha a cidade do outro, pois não existe uma cidade para cada um, a cidade é uma só, ainda que percebida pelas pessoas de maneira diferente, de acordo com o uso individualizado. A cidade é uma só e de todos, da cidadania, ou não é de ninguém e começa a morrer. É a expressão máxima da comunhão do espaço na grande obra destinada ao bem de todos. É o bem comum a ser compartilhado, convivido por todos. E aí ela é divina. Talvez por isso as cidades ficam especialmente  no Natal.
      A grave crise das cidades no mundo, em especial Cuiabá e Várzea Grande só será resolvida quando a cidadania retomar a cidade como sua, seu maior bem, feita por ela que tem as autoridades públicas como seus funcionários para coordenar e promover essa grande obra. Não basta mais cada um fazer sua parte e, muito menos, apenas esperar El-Rey. Além de fazer nossa parte, temos direito a que o outro faça a parte dele, de acordo com o projeto comum firmado nas leis urbanísticas que, por isso, devem ser democráticas. Construir a cidade, além de cada um fazer bem sua parte, é participar ativamente, apoiar, discutir, criticar, aplaudir e cobrar. Só ou em grupo. E já existem bons sinais nesse sentido. Além da cidade de cada um, há sempre a cidade do outro. Nada mais cristão, nada mais natalino. Feliz Natal a todos!

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

ARQUITETOS, AEROPORTO E O TIMÃO

José Antonio Lemos dos Santos

     A grande vitória do Corinthians neste domingo trazendo o caneco do Mundial de Clubes fez lembrar um saudoso tio, de Corumbá, são-paulino de carteirinha e também torcedor do antigo Corumbaense de Tachí, Lara e Garrafinha, time que chegou a dominar o futebol de Mato Grosso pré-divisão e que deixou saudades. Lembro-me dele explicando à gurizada a simplicidade do futebol. Com uma bola na mão, explanava que aquilo era uma bola, que era feita de couro, que vinha da vaca, que a vaca gostava de grama e que por isso a bola tinha que rolar pela grama e não gostava de ser chutada para o alto. Quem esqueceria uma lição assim? O Corinthians me fez lembrá-la. Apesar de não ser corintiano, foi uma partida antológica contra um grande adversário, na qual o Timão devolveu à Europa a dura lição que recebemos do Barcelona ano passado. Mesmo nos momentos mais difíceis a bola não deixava o tapete verde e rolava pela grama de pé em pé, livre de chutões, com jeito de uma vaquinha feliz apreciando sua relva predileta. Pois é, enquanto isso para nós de Cuiabá, sede da Copa do Pantanal, o gramado do Dutrinha mais parece um campo de obstáculos onde a bola não pode desfilar suas graciosas trajetórias, prejudicando assim nossos times que começam a se organizar, mas ficam sem as vantagens do mando de campo nas disputas nacionais e estaduais que participam.
     Parabéns também aos arquitetos e urbanistas pelo seu novo dia, comemorado pela primeira vez no dia 15 de dezembro passado, não por coincidência, dia do nascimento de Oscar Niemeyer. O principal desafio do planeta hoje são as cidades e grande parte dos problemas urbanos no mundo, em especial em Cuiabá, deve-se à ausência do Urbanismo, pela exclusão do técnico especialista na projeção dos espaços dos quadros e das decisões públicas. Com a criação do CAU – Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil - que também completa seu primeiro ano de existência, espera-se a correção desta situação. Ao CAU não basta cumprir a hercúlea tarefa de implantar sua estrutura administrativa em nível de um país continental, mas também enfrentar a mais difícil delas que é a reinserção do profissional arquiteto e urbanista na posição social que lhe compete no quadro da ampliação e requalificação do espaço habitado no Brasil, dos edifícios às cidades e regiões. Parabéns ao CAU e seus dirigentes pelos avanços já conquistados.
     Por fim, mais um parabéns, agora à Secopa e à Infraero. Finalmente foi concluída a licitação para as obras do Aeroporto Marechal Rondon e, mais extraordinário ainda, na mesma semana foi dada a Ordem de Serviços para início dos trabalhos. Enfim um procedimento digno de elogios nesse longo processo da ampliação do principal aeroporto de Mato Grosso. Sei que para alguns não fizeram mais que a obrigação. Sim, mas no Brasil cumprir as obrigações com qualidade e em tempo hábil é absolutamente incomum nos setores públicos e merece elogios, em especial deste escrevedor apaixonado por sua terra e que por anos não larga os pés dos responsáveis por essa obra. Apesar do grande atraso, ainda dá tempo e as obras enfim começarão para conclusão em dezembro de 2014. E é importante a conclusão nesse prazo para permitir que alguma seleção ainda possa adotar Cuiabá como local de adaptação ao calor brasileiro, já que nesse ponto Cuiabá é imbatível com seu calor escaldante e sadio. Nenhum lugar seria melhor para a adaptação rápida de uma seleção de países de clima frio ao calor tropical. Dois a três meses de uma seleção se preparando em Cuiabá significam ocupação de hotéis, restaurantes, mídia, enfim, vale muito dinheiro na forma de empregos e renda para a população. Campo Grande e Goiânia estão de olho. E eu também. Mãos à obra!

(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 18/12/2012)

sábado, 15 de dezembro de 2012

COLUNA NIEMEYER

Em homenagem aos 105 anos de nascimento de Oscar Niemeyer acabo de criar aqui no BLOG um espaço dedicado só a ele que espero ir acrescentando sempre mais links relativos ao grande arquiteto. Encontra-se aqui no canto superior direito do Blog. Conto com colaborações através de indicações de links. Chama-se COLUNA NIEMEYER e o primeiro link faz uma visita de 360 graus na Catedral de Brasília e no Memorial da América latina, além de trazer outras informações organizadas pelo site G1 da Globo. Comentários, como sempre, serão bem vindos.  
Abs José Antonio

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

TEXTO PARA PENSAR

NINGUÉM GOSTA DE ARQUITETURA


Arquiteto André Huyer

Exceto nós, arquitetos. Este é nosso maior problema para o exercício da profissão. Como sobreviver fazendo a
lgo que ninguém se interessa? Ninguém se importa? Ninguém conhece? Atendendo às encomendas de nossos clientes, quantos trabalhos resultarão dignos de serem publicados em revistas ou exposições de arquitetura? Mas, porque só há duas ou três revistas de arquitetura no Brasil? E quantas exposições de arquitetura ocorrem regularmente no Brasil, fora a Premiação Anual do IAB do Rio de Janeiro?

Simples: somente arquitetos gostam de arquitetura. Se as pessoas que não são arquitetos apreciassem arquitetura, teríamos muito mais revistas e exposições! Não me refiro a revistas de decoração disfarçadas de arquitetura. Você conhece algum leitor de "Projeto Design” ou de "Arquitetura e Urbanismo"que não seja arquiteto?

Este desinteresse do leigo pela arquitetura talvez possa ser explicado pelo desconhecimento generalizado do que seja arquitetura. Quantas vezes por dia os arquitetos são chamados de engenheiros? Ou de decoradores? Já querer que o leigo saiba quais as atribuições profissionais do arquiteto, bem, aí realmente é querer demais. Mesmo porque tem muito arquiteto que também desconhece, e vai correndo chamar um engenheiro se tiver uma obra para encarar. Por que não procura um colega arquiteto se não tiver segurança de tocar uma obra?

E por aí prosperam os equívocos. Você vai à uma repartição pública, e lá está: "Assessoria de Engenharia'; "Departamento de Engenharia'; "Setor de Engenharia'; etc. Eles por acaso fazem barragens? Fazem pontes? Fazem estradas? Fazem túneis ou portos? Não. Fazem projetos arquitetônicos, fazem edificações/fazem layouts de interiores. Mas a maioria é chamado de departamento de engenharia, poucos são os departamentos de arquitetura.

Bem, daí quando tem um concurso para quadro de pessoal, adivinhem... claro, só tem vaga para engenheiro, como o concurso que o BRDE está fazendo agora. Ou, quando tem vaga para arquiteto, os engenheiros ainda têm o dobro do nosso número de vagas - como no concurso do Ministério Público, ano passado.

Mas a cultura que nos desfavorece não termina aí. Se o enfoque é positivo/o termo empregado é "serviços de engenharia" (lei das licitações 6888/93). Se o enfoque é negativo, aí são "barreiras arquitetônicas”;as grandes vilãs nas normas técnicas de acessibilidade. Por que não barreiras de engenharia ou de decoração?

Então, enquanto o público ainda tiver a expectativa de que façamos engenharia predial decorativa, pouco nos resta. Questões caras para nós, como entorno urbano, coerência, modernismo x pós-modernismo, visão de conjunto, etc., só nos trarão angústias, frente ao desinteresse e repulsa dos nossos clientes.

Só que temos nossa parcela de culpa pela perpetuação deste estado das coisas. Primeiro que, nós arquitetos, não damos a devida importância à "conquista do mercado'; Qual a promoção mais temerária que uma entidade declasse pode querer promover? Um curso de marketing? A frequência é mínima, se não for nula. Cursos e eventos que tratam de questões profissionais congêneres idem.Já outros cursos/de assuntos até banais para qualquer arquiteto, ou o extremo oposto, excessivamente específicos, sempre há pencas de arquitetos para se aprofundarem (ou afundarem), em matérias que pouco retorno prático trarão. Segundo, a falta de auto-estima pela carreira.Quantos colegas trabalham em departamentos de engenharia, que muitas vezes nem engenheiro tem, e nunca fizeram nada para, pelo menos, mudar o nome na placa de identificação na porta? E quantas vezes nos chamam de engenheiros e não corrigimos os interlocutores?

Para que os outros gostem de arquitetura, é preciso que nós, arquitetos, além de gostarmos de arquitetura, também tenhamos orgulho de sermos arquitetos.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

NIEMEYER

                                                                     UOL/Folhapress

José Antonio Lemos dos Santos

     Sempre haverá o que falar sobre Niemeyer, apesar do tanto que foi dito e escrito sobre ele e sua obra, em especial nas homenagens por ocasião de seu falecimento na semana passada. Homem pleno, extrapolou as múltiplas dimensões do ser humano. Niemeyer foi muito mais que um arquiteto, ainda que o melhor do mundo no século passado e neste, o “escultor do espaço” para Vinicius de Moraes. Apesar de ser imensa sua arte, como homem foi muito maior que ela. Sempre haverá uma lição a extrair de Niemeyer, de suas obras, de sua vida. 
     Focando na Arquitetura, das muitas lições de Niemeyer já cantadas e decantadas por todos, resumo algumas que mais profundamente marcam minha formação e o conteúdo de minhas aulas. A primeira vem da sua relação prazerosa com a arquitetura. Para ele o trabalho não era um sacrifício. Tanto que já hospitalizado e às vésperas dos 105 anos que não completaria, teria cobrado dos médicos sua liberação alegando ter trabalho no escritório. Não liberado, ainda assim teria reunido sua equipe no hospital para discutir detalhes de alguns projetos. Embora não se possa dizer até que ponto esta postura seja a causa de sua longevidade, ela é com certeza uma das condições básicas para o sucesso em qualquer área de atividade humana. Aliás, creio que ele enquanto espécie humana tenha aberto um novo limite de longevidade, não só lúcida e produtiva, mas em altíssimo padrão de excelência.
     Destacava que Arquitetura é antes de tudo criatividade e audácia. Dizia que podiam gostar ou não de sua obra, mas jamais poderiam dizer ter visto uma igual. Ensinava que, amparado nas bases da lógica estrutural, longe do exibicionismo contemporâneo da arquitetura do espetáculo, o arquiteto haverá que ser sempre audacioso tecnicamente, forçando a expansão dos limites da tecnologia construtiva, sempre em busca daquela beleza arquitetônica útil e necessária, que encanta e faz feliz àqueles que por ela passam, independente de classe social, religião, cor partidária, time favorito ou raça. 
     Niemeyer percebeu que a maleabilidade do concreto veio nos libertar dos traços e ângulos retos a que nos prendiam as características dos materiais pré-industriais e nos ensinou então com palavras e obras que a forma natural do concreto é a curva. Fazê-la bem são outros quinhentos. Por fim, o Desconstrutivismo demoliu de vez o império do ortogonalismo, abrindo um universo de novas e surpreendentes formas. Mas Niemeyer vai além e sua obra supera o falso dilema forma/função, restaurando a verdade dialética de dois termos de uma relação que se informam mutuamente a partir da finalidade do espaço a ser trabalhado. Aqui ele foi o maior de todos ao conseguir captar as formas sugeridas pelas determinações técno-funcionais de cada projeto, e expressá-las com seu gênio em formas escultóricas inéditas, belas, mágicas, elevando cada uma de suas obras ao nível da poesia e da mais pura arte. Para ele a Beleza também era uma função. E assim, entre suas obras, projetou as mais belas igrejas contemporâneas, mesmo não acreditando em Deus. Mas este é um assunto que a esta altura já deve ter sido resolvido lá em cima com o Chefe. 
     Na maior das lições, lembrou que o arquiteto é também um cidadão político comprometido com a construção de uma sociedade melhor e mais justa para todos. Bem sucedido na profissão e mesmo já idoso, Niemeyer jamais aceitou o fato da grande maioria da população estar excluída dos avanços e dos benefícios que a humanidade alcançou ao longo da História com o trabalho de todos, em todas as áreas, inclusive na Arquitetura. E resumiu a forma com que encarou o mundo: “o importante é a vida, os amigos, este mundo injusto que devemos modificar”. 
(Publicado em 11/12/2012 pelo Diário de Cuiabá)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O MESTRE II


Bela homenagem do aluno (todos nós ainda somos alunos de Oscar Niemeyer - e seremos sempre) Francisco de Assis.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O MESTRE



              OSCAR NIEMEYER   15/12/1907 - 5/12/2012


                 Igrejinha da Pampulha       http://www.youtube.com/watch?v=WM488tabXXw
                                  Casa das Canoas                         http://www.youtube.com/watch?v=6oPcYoWlGV4





                                             .........

A ARENA DE MINHA JANELA

Passando a marca dos 50% das obras, veja como está a Arena Pantanal vista de minha varanda hoje dia 5 de dezembro de 2012:



Foto: José Antonio

Dá para comparar com a situação no mês passado (04/11/12):

Foto: José Antonio


Ou no início do ano (14/01/12):

Foto: José Antonio




Confira com a maquete para ver se está indo tudo certo:

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

OS CHINESES E A FERROVIA

José Antonio Lemos dos Santos


     Cuiabá vive o melhor momento econômico de sua história. O que antes era apenas uma perspectiva teórica, hoje salta aos olhos do mais obtuso paralelepípedo esquecido sob o asfalto da Cândido Mariano, mas ainda não é percebido por setores governamentais, em especial as prefeituras de Cuiabá e Várzea Grande que insistem em não projetar e gerenciar a cidade para esse futuro formidável que já brota intenso e forte. Cuiabá por séculos apoiou a ocupação, defendeu e vem promovendo o desenvolvimento da vasta região que centraliza e que hoje é uma das mais produtivas do planeta. Até outubro passado Mato Grosso carreou para a balança comercial brasileira mais de 10,0 bilhões de dólares de superávit! Impulsionadora da região e ao mesmo tempo impulsionada por ela, Cuiabá está exuberante com centenas de obras públicas e privadas bem vindas a nos complicar o trânsito e a encher o ar com a poeira do progresso, com inaugurações e lançamentos de grandes empreendimentos, hotéis lotados, empregos sobrando e comércio bombando. 
     Na semana passada, além dos milhares de jovens atletas participantes das Olimpíadas Escolares, Cuiabá e o governador Silval Barbosa receberam a visita de uma delegação da China que veio confirmar o interesse daquele país na construção da ferrovia Rondonópolis-Cuiabá-Santarém, reafirmando a viabilidade do eixo da BR-163 e o antigo projeto da Ferronorte como futuro corredor continental multimodal de transporte, passando pelo centro do continente, ligando os portos amazônicos e platinos e chegando aos do Atlântico. Trata-se da ferrovia mais viável do mundo. Muito mais que a grandiosa, necessária e urgente esteira exportadora de grãos, essa ferrovia é um caminho de ida e volta. Além de levar aos portos exportadores a imensa produção mato-grossense, a ferrovia deixará no mercado interno parte significativa dessa produção que fica no Brasil. Servirá ainda de opção para escoamento da produção da Zona Franca de Manaus e mesmo como rota alternativa para os produtos chineses penetrarem o continente. Mais importante, porém, é que a ferrovia abastecerá as cidades mato-grossenses com as mercadorias e insumos que hoje chegam pelas rodovias caras, ambientalmente danosas, ceifadoras de vidas e produtoras de mutilados quando isoladas, sem o apoio de outros modais.
     Uma das mais importantes notícias para o mato-grossense, afinal, a ferrovia já está praticamente em Rondonópolis, perto de Cuiabá e a 760 Km de Sinop pelo traçado da Ferronorte, e nesse trecho servirá diretamente Rosário, Nobres, Nova Mutum, Lucas e Sorriso, todas aguardando ansiosas a chegada dos trilhos para aumentar a competitividade produtiva e a segurança das rodovias. E de Sinop ao norte, um outro colar de cidades importantes serão beneficiadas. Pelos atuais projetos governamentais o norte de Mato Grosso seria atendido só pela FICO, que precisa sair do “zero” em Goiás para chegar a Lucas após 1400 Km de percurso. O lógico é fazer primeiro o trajeto que atraiu os chineses, mais curto, barato e ambientalmente mais conhecido, por isso tudo mais rápido, como pede a urgência logística. 
     As novas concessões ferroviárias no Brasil permitirão o compartilhamento dos trilhos por diversas empresas, e os terminais específicos para o agronegócio não impedirão outros para outros tipos de cargas em intervalos menores. Talvez até de passageiros. Empresas diferentes trabalhando com cargas diferentes em terminais próprios, esse é um modelo que permite ampliar os benefícios diretos das ferrovias a um número maior de municípios, com menores fretes, aumentando a acessibilidade da população a bens e serviços, elevando sua qualidade de vida. E é para isso que deve servir o progresso. 
(Publicado em 04/12/2012 pelo Diário de Cuiabá)