"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

URBANISMO AUSENTE E OUTRAS BARBARIDADES

(imagem:br.noticias.yahoo.com)

José Antonio Lemos dos Santos

     Volto a um assunto que abordo há anos e só neste 2022 já tratei dele ao menos duas vezes. Não era para menos pois as tragédias urbanas deste verão começaram de forma violenta no interior de Minas e Bahia, o que inclusive levou no fim do ano o ministro Gilmar Mendes (cujas posições nem sempre concordo) a sugerir em seu “tweeter” uma lei com “métricas objetivas de atenção básica às comunidades em áreas de risco e um regime claro de responsabilidade dos gestores públicos”. É a tese que defendo todos estes anos, aprofundada um pouco em artigo anterior.

     E quando se pensava esgotada a dose anual de sofrimento, logo as calamidades chegaram à Região Metropolitana de São Paulo, a maior e a mais desenvolvida área urbana do país, dispondo seguramente dos mais completos e avançados recursos instrumentais, legais e humanos na área do urbanismo, o que derruba a surrada desculpa do desconhecimento da problemática sempre alegada pelas autoridades. Ao menos em São Paulo os gestores sabiam sim o que iria acontecer um dia ou outro às pessoas nas suas mais de 132 mil ocupações em áreas de “alto risco” e “muito alto risco”, tecnicamente mapeadas, com leis impedindo suas ocupações, mas impunemente não cumpridas refletindo o desprezo às vidas humanas, não prioritárias aos gestores de um modo geral, e nem cobradas pela cidadania pois as tragédias são esquecidas tão logo passam as chuvas. 

     A tragédia agora assola Petrópolis repetindo em tons mais dramáticos a calamidade de 1988 que registrou 171 óbitos na cidade e a de 2011, na qual na região incluindo Petrópolis, 918 brasileiros perderam a vida com quase 100 até hoje desaparecidos. Desse total, 73 óbitos foram em Petrópolis. Com este triste histórico esperava-se que flagelos como esses jamais se repetissem na região, ainda mais considerando que se trata do Rio de Janeiro, também um dos estados com mais recursos técnicos na área. Este ano, porém, a tragédia se repete. E pior. Até agora quando escrevo, a macabra estatística em Petrópolis mais que dobrou a de 2011 atingindo 176 mortos, superando também a de 1988, considerada a maior já ocorrida na cidade. Agora é esta de 2022. 

     Contudo, em meio a tantas más notícias, eis que ressurge o Urbanismo, uma luz imperiosa ao correto equacionamento de tão grave problema. Ausente como elemento estruturante na concretude da evolução da quase totalidade das cidades brasileiras, tem servido apenas para compor as estantes dos gabinetes, exercícios acadêmicos ou belas intervenções pontuais que mascaram nossa cruel metástase urbanística. A cidade é o “locus” da Civilização, mas sem lei e sem ordem, abriga a Barbárie. E a cidade, a maior e melhor sucedida das invenções humanas, de promotora da vida de seu cidadão, transforma-se em seu algoz.

     Enfim, a figura do urbanista ressurge por entre os escombros da cidade devastada com um manifesto denominado “Tragédia anunciada em Petrópolis” patrocinado por importantes entidades representativas dos arquitetos e urbanistas brasileiros, inclusive o CAU/BR. Apesar de se referir à Petrópolis serve a todo o país, citando soluções objetivas como o cadastro nacional de áreas de risco, o planejamento “perene” e cobrando punições efetivas aos gestores responsáveis. O urbanista como a parte da população especializada na questão urbana e único profissional treinado por formação original em ver a cidade em seu conjunto, com este manifesto rejeita a posição marginal a que foi relegado nos processos urbanos, para abraçar sua responsabilidade social como protagonista nas equipes multiprofissionais que devem tratar do assunto. Alvissareiro manifesto. Contudo, enquanto a terra não seca já se poderia avançar na proposta de uma lei nos moldes da Lei de Responsabilidade Fiscal, para valer já para os prefeitos eleitos a partir de 2024, com metas a serem cumpridas e punições efetivas àqueles que negligenciarem na aplicação da legislação urbanística, em especial, quanto às ocupações das áreas de risco. 


terça-feira, 11 de janeiro de 2022

CIDADES E TRAGÉDIAS

Charge José Lemos - Baseada em foto da Internet
 

José Antonio Lemos dos Santos

     Em livre exercício de pensar, avanço no Twitter do fim do ano do ministro Gilmar Mendes no qual sugere uma cobrança mais forte aos gestores públicos sobre a questão urbanística nos moldes da Lei de Responsabilidade Fiscal, em especial quanto às sucessivas tragédias urbanas de cada verão no Brasil. Uma boa base de partida poderiam ser as ocupações de risco em áreas definidas nos municípios pelos seus Planos Diretores de Desenvolvimento Urbano ou em lei específica para uso e ocupação do solo urbano, e a ideia focal seria que ao final dos mandatos, não alcançando as metas de melhorias estabelecidas em lei, a autoridade pública gestora seja punida na sua condição de elegibilidade com a consequente perda de sua imunidade parlamentar, sem prejuízo de outras penalidades e do direito de defesa.

     E o verão de 21/22 chegou especialmente trágico em vários estados com prejuízos de todos os tipos, inclusive mortes, não só nas áreas urbanas, como em Capitólio, Minas Gerais, a qual, embora similar, foge ao escopo urbanístico deste artigo. Infelizmente, só em momentos dramáticos como este que o assunto recebe alguma atenção pública. Depois tudo é esquecido, até que a próxima tragédia aconteça.

     É claro tratar-se de assunto complexo pelo seu caráter nacional, pelas dificuldades metodológicas e de estruturas técnicas e legais que em grande parte terão que ser criadas em todos os níveis de governo. Mas, mesmo que já devesse estar resolvido há séculos, não se imagina que qualquer iniciativa séria, decidida agora ficará pronta amanhã. O SUS de renome internacional e a própria Lei da Responsabilidade Fiscal ainda estão longe de sua implantação ideal após décadas de suas criações. Também não se pensa, a não ser como instigante utopia, que as tragédias um dia deixarão de existir, mas que se restrinjam aos desastres naturais de fato imprevisíveis tecnicamente.

     Imagino que os instrumentos básicos dessa legislação venham a ser os Planos Diretores de Desenvolvimento Urbano, ou provisoriamente, uma Carta Geotécnica Urbana, e um cadastro nacional das ocupações em Áreas de Risco composto pelos cadastros municipais e estaduais, envolvendo necessariamente os órgãos de Planejamento Urbano e Defesa Civil, amparados por um programa nacional específico destinado a viabilização técnica e financeira das transferências dignas das populações envolvidas para soluções urbanísticas bem concebidas. Repito que não se trata de um projeto de curto prazo, nem barato. Por isso é urgente. Cada ano que passa fica mais atrasado, caro e mortal. Seria um grande avanço se os próximos prefeitos já assumissem sob as novas regras.

     Cidade e Civilização são criações do homem, umbilicalmente ligadas. Uma não existirá sem a outra. A grande ferramenta de segurança para esta convivência é uma outra criação humana: o Estado, criado para manter subjugada a Barbárie, não extinta pelo processo civilizatório. É triste a sociedade brasileira nestes tempos assistir perplexa afloramentos da dimensão bárbara subjacente ao homem civilizado afrontando o Estado oficial desafiando-o ostensivamente, inclusive já lhe abocanhando nacos consideráveis de Poder.

     Comentando o meu artigo anterior, um colega dos mais atuantes e respeitados na área conta sua experiência neste Réveillon em Copacabana, onde após assistir a “16 minutos de fogos de artifício” voltavam para onde se hospedavam quando depararam “com novos fogos de artifício, tão poderosos quanto os patrocinados pelo Estado”, lançados de favelas próximas. E conclui que o poder ostentado por esses “para-Estados” intimidou, quase sepultando todas as suas utopias por esse Urbanismo que teria o poder da transformação e da inclusão que sempre aspiramos. Agarrado a um otimismo que também se esvai, sei que a Civilização já venceu a Barbárie a 5 mil anos atrás e vencerá de novo. A Civilização é a nossa única chance, somos condenados a ela.


terça-feira, 4 de janeiro de 2022

GILMAR MENDES E RESPONSABILIDADE URBANÍSTICA

Charge: Pof. José Maria Andrade

José Antonio Lemos dos Santos 

     A cidade é o “locus” da Civilização. A Civilização é a condição essencial para a existência da cidade. E o homem civilizado fecha essa tríade civilizatória como seu principal agente. A Civilização é um estágio do desenvolvimento humano em que o homem aceita submeter-se a um arcabouço de leis, normas, costumes, princípios religiosos, morais e outros em favor da vivência coletiva, conjunto cuja obediência passa então a interessar a todos. Sem ele a cidade não funciona, nem a Civilização. Comparo Civilização a uma armadura férrea que aprisiona a Barbárie travestindo o antigo bárbaro em civilizado, armadura da qual tenta sempre escapar destruindo a cidade e a civilização que não lhes são naturais. Por isso os controles civilizatórios, quando legítimos e democráticos, tem que ser fortes o suficiente para se fazerem valer.

     A sociedade brasileira vive um momento em que estão sendo contestados ou mesmo descontruídos seus principais parâmetros civilizatórios. Neste contexto se encontram as cidades brasileiras. De instrumentos de promoção da qualidade de vida humana nossas cidades viraram algozes de seu próprio povo. As últimas tragédias urbanas são a continuidade de todas as outras que se sucedem ao longo de nossa história, já até agregadas aos calendários como tristes expectativas de novas tragédias e dolorosas lembranças. A ciência do Urbanismo é uma conquista da humanidade e uma determinação legal em favor das cidades e de suas populações. Entretanto, a raiz dos atuais males que as afligem está na ausência do Urbanismo ou no descaso oficial com que são tratadas suas indicações técnicas consubstanciadas em instrumentos legais como Planos Diretores de Desenvolvimento Urbano, Leis de Uso e Ocupação do Solo Urbano e Código de Obras, dentre outros.

     A alguns anos os arquitetos e urbanistas, profissionais com competência técnica e legal privativas na área do Urbanismo no país, através de seus Conselhos de Arquitetura e Urbanismo (CAUs) dedicaram redobrada atenção sobre esta triste situação da política urbana nacional que tem implicações negativas e dramáticas nas condições da vida no país, buscando alternativas mais eficazes de intervenção em todas as etapas dos processos referentes ao desenvolvimento urbano. Assim, em 2017, no Seminário Nacional de Política Urbana e Ambiental promovido pelo CAU/BR, o CAU/MT apresentou com ótima receptividade proposta no sentido da criação de um instrumento legal de responsabilidade urbanística em âmbito nacional, nos moldes da Lei de Responsabilidade Fiscal, com previsão de punição aos gestores que descumprirem a legislação urbanística, dando destaque às referentes às ocupações de risco, seja em áreas definidas como tal ou em edificações sem condições de habitabilidade. A ideia é que ao final dos mandatos não havendo melhoras nos respectivos indicadores, a autoridade pública gestora seja punida na sua condição de elegibilidade a cargos públicos, sem prejuízo de outras penalidades. Em 2019 a proposta foi levada ao 1º Encontro Amazônico de Arquitetura e Urbanismo e novamente bem recebida, sendo incluída entre as propostas da “Carta de Macapá”.

      Neste final de ano o ministro Gilmar Mendes abordou ideia similar em seu Twitter com grande repercussão. Até agora, meu ver a mais efetiva proposta nestes dias trágicos, trágicos não pelas águas, mas pela irresponsabilidade pública. Quem sabe o ilustre mato-grossense possa unir os 3 poderes nacionais dando ao povo brasileiro uma legislação de responsabilidade urbanística que permita a antevisão de algum Verão futuro sem tragédia neste país? Em um país onde as leis não são cumpridas, parece chover no molhado criar mais uma para fazê-las obedecidas. Porém, somos condenados à Civilização: ou persistimos e progridamos com ela, ou morremos todos. Não há outra saída.


terça-feira, 28 de janeiro de 2020

TRAGÉDIAS DA IMPUNIDADE

Área de risco em Belo Horizonte (Foto:reproduçãotvGlobo)

José Antonio Lemos dos Santos
     A Constituição Federal em capítulo dedicado à Política Urbana determinou que todas as cidades brasileiras com mais de 20 mil habitantes tenham um Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU). Passados mais de 30 anos certamente todas as grandes cidades do país, em especial as capitais, dispõem desse importante documento de controle e ordenação urbana. Grosso modo, pode se dizer que um Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano seria o projeto da cidade, isto é, um documento firmado em lei que estabelece tecnicamente como ela deve se desenvolver em um horizonte de 20 a 30 anos tanto em suas condições sociais e econômicas, como em seus aspectos físicos-urbanísticos, em especial sua base geotécnica, a qual determina entre outras especificações as áreas proibidas ao parcelamento do solo pelos graves riscos que oferecem, seja por alagamento, enxurradas, deslizamentos, ou outros que tais. São as chamadas Áreas de Risco.
     Repito, todas as cidades brasileiras, se não todas, ao menos as capitais e as de grande porte dispõem de um PDDU, e mais, dispõem também de um órgão técnico de planejamento urbano destinado ao acompanhamento de sua implantação. Mas de que adianta as cidades terem seus PDDUs e órgãos de planejamento se eles, via-de-regra, não são obedecidos? Em sua quase totalidade os PDDUs são documentos para “inglês ver”, ou melhor, para os tribunais de contas e os ministérios públicos verem e atestarem a obrigação constitucional, mesmo que esta obediência se dê apenas nos papeis, principalmente no que diz respeito às ocupações das áreas de risco. Não vemos no país iniciativas consistentes no sentido de evitar novas ocupações em tais áreas de risco e muito menos no sentido de reduzi-las através de programas consistentes e bem planejados de transferências dignas das populações que se encontram sob constante ameaça. Só para se ter uma ideia, são estimadas 3,2 milhões de pessoas ocupando áreas de risco em apenas 8 capitais avaliadas por uma recente estimativa a que tive notícia.
     Pois bem, estamos no verão novamente e com ele novas tragédias sempre tratadas pelas autoridades como surpresas excepcionais, muito embora previstas e mapeadas nas leis de uso e ocupação do solo. Neste fim de semana passado 44 pessoas perderam a vida só em Minas Gerais, das quais 26 na Região Metropolitana de Belo Horizonte, com 19 desaparecidos, 3.334 desabrigados e 13.887 desalojados, segundo o último boletim de domingo (26) da Defesa Civil. E de fato choveu como nunca em Minas. Muitos dos sobreviventes perderam tudo ou quase tudo o que tinham. Mas não foi só em Minas. Tristeza e dor se espalham por este Brasil a cada verão. Em geral as autoridades dedicam-se às emergências de praxe refugiando-se às indagações pertinentes e buscam salvação nos números da meteorologia, empurrando por entre lágrimas de crocodilo a culpa para São Pedro, e no esquecimento que sempre vem.
     A Civilização é um estágio em que o homem aceita submeter-se a um arcabouço de leis, normas, costumes e princípios em favor da vivência coletiva. Sem ela a cidade vira o algoz do cidadão, ao invés de promotora de sua qualidade de vida. A raiz dos atuais males que afligem as cidades está no descaso oficial com que são tratadas as determinações técnicas urbanísticas consolidadas nos PDDUs. É urgente uma lei de responsabilidade urbanística nos moldes da lei de responsabilidade fiscal com previsão de punição severa, como a perda da elegibilidade para os prefeitos complacentes com a expansão das ocupações em área de risco, conforme proposta em discussão no âmbito do Conselho de Arquitetura e Urbanismo. Condenados à Civilização, ou progredimos nela ou morreremos todos. E o pior já está acontecendo.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

DIA MUNDIAL DO URBANISMO

 Resultado de imagem para bandeira do urbanismo
José Antonio Lemos dos Santos
     A cidade constitui a maior, a mais complexa e bem-sucedida das invenções do homem. Surgida há 5 mil anos, com ela veio a Civilização que acelera a evolução humana. De lá para cá o mundo foi se urbanizando e a partir de 2008 se tornou mais urbano que rural.
     Com a Revolução Industrial a cidade viveu sua maior inflexão até os dias atuais. Até então ela não fora questionada, mesmo tendo enfrentado enormes crises em seu desenvolvimento. Com a industrialização, a urbanização acelera e as cidades se desequilibram gravemente, exigindo controle e intervenções em suas evoluções. Surge então a ciência do Urbanismo, que evolui e supera o urbanismo de Haussmann, o modernismo da Carta de Atenas, passa pelas experiências pós-modernistas e chega à revolução da eletrônica, da internet e da globalização, com os desafios da compatibilidade ambiental, da inclusão e da busca pelas cidades inteligentes, verdes e sustentáveis.
     De extrema complexidade, a cidade é comparável a um organismo vivo em dimensões imensas, que vão das pequenas vilas até às megalópoles ou às megarregiões urbanas, chegando a centenas de quilômetros quadrados com dezenas de milhões de habitantes. A cidade é um recipiente espacial articulado regional e globalmente, onde acontecem as relações urbanas em toda sua diversidade. Sua função é permitir que tais relações aconteçam da melhor forma com sustentabilidade, conforto, segurança e, sobretudo, justiça. Ajudá-las nesta função é o objetivo do Urbanismo. Em evolução contínua, o Urbanismo reflete a complexidade da evolução urbana e abrange os diversos campos de conhecimento envolvidos. Assim, o urbanista não pode ser um especialista, mas um generalista voltado a entender o organismo urbano com um todo. Não se pode tratar os problemas da cidade sem antes tratar da cidade com problemas. Ao urbanista cabe saber um pouco de tudo para enxergar o todo, e, em especial, saber que, embora essencial, sua ciência é nada desacompanhada das diversas especialidades nas múltiplas facetas da problemática urbana.
     Semana passada vivemos sem maiores reverências o dia 8 de novembro, o Dia Mundial do Urbanismo, data estabelecida em 1949 para estimular a reflexão global sobre o assunto, hoje ainda mais urgente. As cidades vivem nova e grave inflexão diante da revolução dos satélites, das fibras óticas e da internet que acenam com perspectivas inimagináveis desconstruindo conceitos fundamentais como tempo, espaço e distância, agora na realidade fantástica do ciberespaço, porém ainda atolada no drama da iminência do colapso com a água, lixo, mobilidade, poluição, energia, emprego, fome, moradia e segurança. O problema maior do século XXI são as cidades, mesmo com tantas perspectivas extraordinárias. E as cidades falhando, explode a civilização.
     Inaceitável que no Brasil o Urbanismo e o urbanista sejam tão desconsiderados. Como podem existir cidades sem órgãos técnicos especializados que a estudem contínua e sistematicamente, mostrando à cidadania boas opções para seu desenvolvimento? A ausência do Urbanismo asfixia as cidades brasileiras que estressam, mutilam e matam muito. Mas elas ainda são os locais da diversidade e da inovação. As criações do Conselho de Arquitetura e Urbanismo em 2010 com sua Resolução 51 e da Academia de Arquitetura e Urbanismo no ano passado, bem como a realização do Congresso da UIA no Rio ano que vem, são gotas de esperança neste oceano geral de insensibilidade. Crise é risco e oportunidade. Junto à possibilidade da tragédia está a chance da reinvenção urbana em busca de cidades mais justas, seguras, sustentáveis e humanas. E da própria reinvenção do homem.   

terça-feira, 13 de agosto de 2019

O ALVARÁ DE OBRAS II

José Antonio Lemos dos Santos
     Lembrando o grande Odorico Paraguassu, com a alma lavada e enxaguada nas águas vitoriosas dos últimos jogos do Cuiabá na série B do Campeonato Brasileiro e Copa Verde, e dos atletas mato-grossenses nos Jogos Pan-americanos de 2019, retomo a controvérsia do Alvará de Obras tratado em artigo de maio passado. Recordando o noticiário, o fato envolveu a denúncia de ausência de Alvará de Obras para a ampliação de uma residência em Cuiabá. Segundo o noticiário, “noves fora” os mentidos e desmentidos, um vereador teria recebido a denúncia e buscou os setores competentes da prefeitura onde teria sido comprovada a inexistência do tal Alvará. A partir desta constatação teria sido marcada para a manhã seguinte uma visita da fiscalização municipal ao local e, segundo o vereador, com sua presença autorizada.
    Ainda segundo o vereador, no dia seguinte a fiscalização não compareceu e estando em frente à obra denunciada como combinado, resolveu filmá-la por fora fazendo comentários para levar as imagens ainda na sessão da Câmara daquela manhã. Eis que na filmagem surgiu uma pessoa dizendo que não poderia filmar e lhe tomou a câmera, o que foi registrado no vídeo postado nas redes sociais. A partir daí o assunto descambou com versões de todo lado, ofuscando a questão inicial: a existência ou não do Alvará de Obras. Agora, no começo de agosto a Câmara Municipal instaurou processo contra o vereador pedindo sua cassação por quebra de decoro parlamentar, atendendo representação do Sindicato dos Agentes Fiscais da Prefeitura. Tentarei me restringir ao aspecto didático do urbanismo, que interessa aqui.
     A cidade é o espaço da civilização, que por sua vez é condição essencial para a cidade existir, tendo no homem civilizado o fechamento da tríade civilizatória. A civilização é um estágio da evolução humana em que o homem aceita submeter-se a um arcabouço de instrumentos de controle como leis, normas, costumes, princípios e outros em favor da vivência coletiva, cuja obediência é do interesse de todos. Sem ele, nem a cidade, nem a civilização funcionam.
     O Alvará de Obras é uma ferramenta básica de controle urbano, ainda que possa parecer ao leigo apenas uma firula burocrática na vida do cidadão. O Alvará é a porta de entrada de todos os processos urbanísticos pois através dele qualquer tipo de intervenção física no espaço urbano vai ser registrada após análises que avaliam se a intervenção pretendida obedece aos padrões urbanísticos estabelecidos para a cidade. Uma vez realizado, esse registro deve alimentar um cadastro multifinalitário a ser disponibilizado em mapas georreferenciados para efeito do planejamento e seu monitoramento, até que venha a ser substituído pelo “Habite-se”, outro instrumento fundamental de controle urbano. Não são firulas.
     O episódio do Alvará de Obras em Cuiabá ocorreu na mesma semana em que se completava 1 mês da tragédia de Muzema no Rio de Janeiro com 24 mortos, drama evitável como tantas outras se a exigência legal do Alvará de Obras fosse cumprida. Embora seja compreensível que a população em geral desconheça a importância do Alvará de Obras, cabe aos municípios cumpri-lo e às Câmaras e Ministérios Públicos fiscalizar seu cumprimento. Não é à toa que o vereador no centro deste contraditório é arquiteto e urbanista por formação, meu ex-aluno por sinal, nem é à toa que o proprietário da residência em ampliação seja o prefeito municipal, que já afirmou à imprensa dispor do Alvará. Assim, tudo parece fácil de ser resolvido com grande efeito educativo sobre uma das mais importantes ferramentas do urbanismo. E esta discussão, se civilizada, poderá acabar sendo muito útil à cidade.

segunda-feira, 13 de maio de 2019

O ALVARÁ DE OBRAS

José Antonio Lemos dos Santos
     A previsão era escrever sobre o aniversário de Mato Grosso que passou quase despercebido no último dia 09 de maio, contudo um acontecimento inusitado na semana passada forçou a mudança de assunto. O fato envolveu a denúncia da suposta ausência de Alvará de Obras para a ampliação de uma residência em Cuiabá. Tentando um recorte cirúrgico no assunto para ficar apenas no aspecto didático da questão urbanística que é o que interessa aqui, segundo o noticiário, noves fora os desmentidos e mentidos, um vereador teria recebido a denúncia e procurou os setores competentes da prefeitura, onde teria sido comprovada a inexistência do tal Alvará, em função do que teria sido marcada para a manhã seguinte uma visita da fiscalização municipal ao local e, segundo o vereador, com sua presença autorizada.
    Ainda segundo o vereador, no dia seguinte a fiscalização não foi alegando que teria 5 dias de prazo para fazê-lo, e tendo comparecido ao local marcado em frente à obra, resolveu filmá-la externamente fazendo comentários para apresentar as imagens ainda na sessão da Câmara naquela manhã. Eis que durante a filmagem surgiu uma pessoa informando que não poderia filmar tomando-lhe a câmera, o que foi registrado no vídeo. A partir daí o assunto adquiriu outras conotações, com versões prá cá e prá lá, polícia no meio, ficando de lado a questão inicial, que foi a ausência ou não do Alvará de Obras.
     Uso do evento restringindo-me ao lado didático da discussão, aproveitando que justo neste mês fiz dois artigos destacando que a cidade é o espaço da civilização, que por sua vez é condição essencial para a cidade existir com o homem civilizado fechando essa tríade como seu principal agente. A civilização é um estágio da evolução humana em que o homem aceita submeter-se a um arcabouço de instrumentos de controle como leis, normas, costumes, princípios e outros em favor da vivência coletiva, cuja obediência é do interesse de todos. Sem ele, nem a cidade, nem a civilização funcionam.
     O Alvará de Obras é uma ferramenta básica de controle urbano, ainda que possa parecer ao leigo apenas uma firula burocrática na vida do cidadão. Na verdade, o Alvará é considerado a porta de entrada de todos os processos urbanísticos pois através dele qualquer tipo de intervenção física na cidade vai ser registrado após análises que avaliam se a intervenção pretendida obedece aos padrões estabelecidos para a cidade, ou seja, compatibilidade de uso e ocupação do solo,  responsabilidades técnicas devidas, taxas de ocupação, permeabilidade do solo e uma série de outros critérios técnicos. Uma vez realizado, esse registro deveria ir ao cadastro multifinalitário onde estaria disponibilizado em mapas georreferenciados para efeito do planejamento e seu monitoramento, até que venha a ser substituído pelo “Habite-se”, outro instrumento fundamental de controle urbano. Não são firulas.
     O episódio do Alvará de Obras em Cuiabá ocorreu na mesma semana em que se completava 1 mês da tragédia de Muzema com 24 mortos, tragédia evitável, como tantas outras, se a exigência legal do Alvará de Obras fosse cumprida pelos órgãos responsáveis diretamente por sua aplicação ou, indiretamente pela fiscalização de sua aplicação. Não é obrigatório à população em geral saber da importância da exigência do Alvará de Obras, mas cabe aos municípios fazê-la cumprir e às Câmaras e Ministérios Públicos fiscalizar seu cumprimento. Não é à toa que o vereador no centro deste salutar pampeiro é arquiteto e urbanista por formação, meu ex-aluno por sinal. Nem é assintomático que, segundo o noticiário, o dono da residência em ampliação seja o prefeito da cidade, que certamente se interessa em que o caso seja esclarecido.

segunda-feira, 6 de maio de 2019

RESPONSABILIDADE URBANÍSTICA

                                              Macapá -Fortaleza de São José (Foto José Lemos)
José Antonio Lemos dos Santos
     A cidade é o “locus” da civilização, a civilização é a condição essencial para a existência da cidade e o homem civilizado fecha essa tríade civilizatória como seu principal agente. A civilização é um estágio do desenvolvimento humano em que o homem aceita submeter-se a um arcabouço de leis, normas, costumes, princípios religiosos, morais e outros em favor da vivência coletiva, conjunto cuja obediência passa então a interessar a todos. Sem ele a cidade não funciona, nem a Civilização. Comparo a civilização a uma armadura férrea que aprisiona e condiciona o antigo bárbaro travestindo-o de civilizado, o qual, no entanto, à medida em essa armadura venha a enfraquecer tende a escapar e destruir a cidade e a civilização que não lhes são naturais. Por isso os controles civilizatórios, quando legítimos e democráticos, tem que ser fortes o suficiente para se fazerem valer.
     A sociedade brasileira vive um momento em que estão sendo contestados ou mesmo descontruídos seus principais parâmetros civilizatórios. E neste contexto se encontram as cidades brasileiras. De instrumentos de promoção da qualidade de vida humana nossas cidades viraram algozes de seu próprio povo. As últimas tragédias urbanas são a continuidade de todas as outras que se sucedem ao longo da história de grande parte das cidades brasileiras e que já são incorporadas a seus calendários como tristes expectativas de novas tragédias e dolorosas lembranças. A ciência do Urbanismo é uma conquista da humanidade e uma determinação legal em favor das cidades e de suas populações. Entretanto, a raiz dos atuais males que as afligem está na ausência do Urbanismo ou no descaso oficial com que, de um modo geral, são tratadas suas indicações técnicas consubstanciadas em instrumentos legais como Planos Diretores de Desenvolvimento Urbano, Leis de Uso e Ocupação do Solo Urbano e Código de Obras, dentre outros.
     Os arquitetos e urbanistas, profissionais com competência técnica e legal privativas na área do Urbanismo no país, através de seus Conselhos de Arquitetura e Urbanismo (CAUs), em especial o de Mato Grosso, a alguns anos dedicam redobrada atenção sobre esta triste situação da política urbana nacional que tem implicações negativas e dramáticas nas condições da vida urbana no país, buscando alternativas mais eficazes de intervenção em todas as etapas dos processos referentes ao desenvolvimento urbano. Assim, em 2017, no Seminário Nacional de Política Urbana e Ambiental promovido pelo CAU/BR, o CAU/MT apresentou com ótima receptividade proposta no sentido da instituição federal estudar e formular anteprojeto de lei para a criação de instrumento legal de responsabilidade urbanística em âmbito nacional, nos moldes da Lei de Responsabilidade Fiscal, com previsão de punição aos gestores que descumprirem a legislação urbanística, dando destaque as referentes às ocupações de risco, seja em áreas definidas como tal ou em edificações sem condições de habitabilidade. A ideia é que ao final dos mandatos sejam aferidos os respectivos indicadores e em caso de piora a autoridade pública gestora seja punida na sua condição de elegibilidade a cargos públicos, sem prejuízo de outras penalidades. Semana passada a proposta foi reapresentada no 1º Encontro Amazônico de Arquitetura e Urbanismo realizado em Macapá por iniciativa do CAU local, e novamente recebida com especial interesse, a ponto de ser incluída entre as propostas da Carta de Macapá. Em um país onde as leis não são cumpridas, parece chover no molhado criar mais uma para fazê-las obedecidas. Porém, somos condenados à civilização; ou progredimos nela, ou morreremos. E, de fato, parece não haver outra saída.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

CIDADES E CIVILIZAÇÃO

Charge professor Zé Maria
José Antonio Lemos dos Santos
     Dizem os historiadores que a cidade é a maior e mais bem-sucedida invenção do homem. Foram precisos 2,5 milhões de anos desde que o Homo Habilis demonstrou que sabia construir e utilizar suas primeiras ferramentas complementando suas limitações naturais até que o homem inventasse a cidade. Com a cidade o homem deu um salto e evoluiu muito rápido, bastando 5 mil anos para pisar na Lua e poucos dias atrás fotografou um “buraco negro” a 50 milhões de anos-luz da Terra. 
     A invenção da cidade teve como condição essencial uma outra invenção, a Civilização. Cidade e Civilização nasceram juntas e são gêmeas xipófogas inseparáveis. Uma não vive sem a outra. A cidade é o locus da Civilização, a qual por sua vez é condição indispensável para a existência da cidade. E cidade e Civilização não existiriam se o homem não desse um salto qualitativo também essencial, deixando de ser bárbaro para ser civilizado. Só que enquanto a Barbárie supera a Selvageria, a Civilização não supera a Barbárie, apenas a traveste com uma carapaça chamada Ética formada por leis, normas, costumes, princípios religiosos e morais, cuja obediência passa a interessar a todos pois sem ela a cidade não funciona, nem a Civilização. 
     Assim, por baixo da carapaça civilizatória persiste o bárbaro, pronto para escapar, o que acontece quando os controles dos códigos são afrouxados ou deixam de existir. O bárbaro deixa sua casca de civilizado e vai destruir a cidade e a Civilização, local e condição incompatíveis com sua existência. Só há uma forma do bárbaro retornar à sua armadura civilizatória: submetê-lo de novo às normas, regras e padrões, obedecidos por todos. Para isso existem as leis e suas penas.
     Como considerar as cidades brasileiras e suas condições de existência se de um modo geral vivemos em um ambiente de quase barbárie, sem padrões legítimos de convivência e onde as autoridades responsáveis pelos mecanismos de controle estão ausentes ou também se comportam como bárbaros? No urbanismo a situação é trágica desde a fiscalização da responsabilidade técnica profissional até a aplicação das normas dos planos diretores, em especial as leis de uso e ocupação do solo e suas áreas de risco, criminosa e crescentemente ocupadas ao arrepio da lei. Está claro que barbárie dominou nossas cidades e a está destruindo sob o olhar acovardado ou criminoso nosso e de seus gestores, vide as grandes tragédias que emocionam o país ou mesmo as menores, cotidianas de pouco destaque mas que anualizadas são imensas.
     Será que ninguém enxerga um conjunto de edifícios sendo construído, ou uma favela em nítida expansão, agora até verticalmente, em áreas de evidente risco, perceptível como tal até a um leigo? Alguém acredita que uma cidade como o Rio de Janeiro, ou qualquer outra grande cidade brasileira não disponha de uma carta geotécnica ou uma legislação para o uso e a ocupação do solo urbano, mais de 30 anos após a Constituição determinar que a tivessem?  Onde estão os órgãos responsáveis em zelar pelas boas práticas da Engenharia, Arquitetura e Urbanismo no país? Pergunto envergonhado como conselheiro de um deles. E as prefeituras? os prefeitos? os ministérios públicos? a Justiça? Onde estão as responsabilidades? As cidades que historicamente se revelam tão importantes na promoção da humanidade, no Brasil se transformaram em assassinas de seu próprio povo. Ao arquiteto e urbanista brasileiro que por formação tem o dever de entender, trabalhar e ao menos denunciar estes tétricos cenários, só lhe resta emprestar o grito desesperado de Castro Alves: “Meu Deus, meu Deus, mas que bandeira é esta que impudente na gávea tripudia?... Antes te houvessem roto na batalha, que servires a um povo de mortalha.” 

terça-feira, 27 de novembro de 2018

URBANISMO E REPÚBLICA

Morro da Boa Esperança após deslizamento (Imagem:Cidade de Niterói)
José Antonio Lemos dos Santos
     8 de novembro passado, Dia Mundial do Urbanismo e antevéspera de mais uma tragédia urbana anunciada e evitável, 8 anos após o drama do Morro do Bumba com quase 50 mortos. De novo na mesma Niterói, uma das cidades brasileiras mais desenvolvidas, mas que desde 2010 não conseguiu concluir o levantamento de suas áreas de risco. 8 de novembro, início de uma semana que poderia ser encerrada no dia 15 de forma menos melancólica com o 129º aniversário da Proclamação da República. Contudo, na madrugada do dia 10 depois da festinha pelos 3 anos de Arhur, a grande pedra que pairava a anos sobre a cabeça de todos e à vista de todos, rolou no Morro da Boa Esperança soterrando um conjunto de casas matando 15 pessoas, entre elas o pequeno aniversariante e sua irmãzinha Nicole de 8 meses.   
    Comemorar Urbanismo e República no Brasil só se for para lembrar a enorme defasagem civilizatória do país, onde Urbanismo e República não passam de figuras de retórica. Civilização e cidade são irmãs xipófagas inseparáveis em que uma não pode viver sem a outra, e a cidade é o maior e melhor exemplo de uma “res-publica”, do bem comum, sentido maior do conceito republicano. Nada mais incompatível com o urbano do que a barbárie da prevalência de interesses pessoais, partidários ou grupais sobre aqueles princípios civilizatórios vitoriosos em quase todo o mundo da vida colaborativa em um espaço comum, a cidade, que deve funcionar para todos ou não funciona.
     As cidades são objetos artificiais dinâmicos, construídos e em constante construção e reconstrução pelo homem. Entre nós cabe às prefeituras a coordenação dessa obra imensa e contínua, bem como organizar e garantir seu funcionamento seguro, confortável, sustentável e, sobretudo, justo. Como objeto construído, a cidade tem uma dimensão técnica que lhe é inalienável. Ademais, ela é um objeto que tem múltiplos donos, os cidadãos, todos com direitos sobre ela, o que lhe acrescenta outra dimensão, a política, também inalienável. Estas duas dimensões, a técnica e a política têm que funcionar juntas.
     Ocorre que as cidades brasileiras foram dominadas pela política que marginalizou aos poucos até praticamente suprimir a participação técnica em seus processos de gestão. Sem a técnica, a política virou politicagem a qual só interessa ganhar as eleições a cada 2 anos. Salvo umas 5 ou 6, as cidades brasileiras transformaram-se em grandes butins eleitorais a serem exploradas conforme interesses menores. As leis e normas que seriam de execução obrigatória passam a ser tratadas como prerrogativas e aplicadas ou não de acordo com o custo/benefício em número de votos. A ciência do Urbanismo fica de fora pois estorva a liberdade das autoridades na exploração do rico butim e o planejamento urbano vira uma obrigação legal de “ter”, mas não de “fazer”. Daí a falta de estruturas técnicas especializadas nas prefeituras e a não aplicação das leis e outras normas urbanísticas, como as “áreas de risco”, em uma das quais deixaram ficar a casa do Arthur, crime no mínimo de negligência urbanística. Porém, o Urbanismo fica fora até das comissões de apuração das responsabilidades.
     Não foi a chuva, a pedra ou o morro que matou Arthur, sua irmã e vizinhos, mas nossa irresponsabilidade pública. A pedra que pairava sobre aquele brasileirinho, paira também sobre a cabeça de cada um de nós. Sabemos que a qualquer momento ela vai despencar, não só nas áreas de risco, mas nas obras malfeitas, no trânsito bagunçado, na poluição, na infeliz novidade do lixo aéreo, nas inundações como a de Belo Horizonte no dia da República matando 5 pessoas, e em todas as arapucas que a barbárie nacional consegue agregar à nossa vida urbana. 

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

DIA MUNDIAL DO URBANISMO

Bandeira do Urbanismo
José Antonio Lemos dos Santos
     A cidade constitui a maior, a mais complexa e bem-sucedida das invenções do homem. Surgida há 5 mil anos, com ela veio a civilização que acelera a evolução humana. De lá para cá o mundo foi se urbanizando e a partir de 2008 já é mais urbano que rural.
     Com a Revolução Industrial a cidade viveu sua maior inflexão até os dias atuais. Até então ela não fora questionada, mesmo tendo enfrentado enormes crises em seu desenvolvimento. Com a industrialização, a urbanização acelera e as cidades se desequilibram gravemente, exigindo controle e intervenções em suas evoluções. Surge então a ciência do Urbanismo, que evolui e supera a etapa do urbanismo modernista da Carta de Atenas, passa pelas experiências pós-modernistas e chega à revolução da eletrônica, da internet e da globalização, com os desafios da compatibilidade ambiental, da inclusão e da busca pelas cidades inteligentes, verdes e sustentáveis.
     De extrema complexidade, a cidade é comparável a um organismo vivo em dimensões imensas, que vão das pequenas vilas até as megalópoles ou às megarregiões urbanas, chegando às centenas de quilômetros quadrados com dezenas de milhões de habitantes. A cidade é um enorme recipiente, articulado regional e globalmente, onde acontecem as relações urbanas em toda sua múltipla diversidade. Sua função é permitir que tais relações aconteçam da melhor forma com sustentabilidade, conforto, segurança e, sobretudo, justiça. Ajudá-las no cumprimento desta função é o objetivo do Urbanismo.
     Em evolução contínua, o Urbanismo reflete a complexidade de seu objeto de trabalho e abrange os diversos campos de conhecimento que a cidade envolve. O urbanista não pode ser um especialista, mas um generalista voltado a entender o organismo urbano com um todo. Não se pode tratar os problemas da cidade sem antes tratar da cidade com problemas. O urbanista precisa saber um pouco de tudo para enxergar o todo, e, em especial, saber que esse conhecimento, embora indispensável, é nada sem a companhia das diversas especializações técnicas nas múltiplas facetas da cidade e da problemática urbana.
     Como me lembrou o colega Altair Medeiros, e como comemoro em artigos quase todos os anos, 8 de novembro é o Dia Mundial do Urbanismo, criado em 1949 para uma reflexão global sobre o assunto. As cidades de novo vivem uma inflexão profunda diante da revolução dos satélites, das fibras óticas e da internet que acena com perspectivas inimagináveis desconstruindo conceitos fundamentais como tempo, espaço e distância, agora na realidade fantástica do ciberespaço, mas ainda atolada no drama da iminência do colapso com a água, lixo, mobilidade, poluição, energia, emprego, fome, moradia e segurança. Mesmo com tantas perspectivas extraordinárias, o problema maior do século XXI são as cidades. E as cidades falhando, explode a civilização.
     Inaceitável que no Brasil o Urbanismo e o urbanista sejam tão desconsiderados. Como podem existir cidades sem órgãos técnicos especializados que a estudem contínua e sistematicamente, mostrando à cidadania opções para suas perspectivas de desenvolvimento? Ainda mais nestes tempos de grave crise urbana geral refletida por exemplo em sua mobilidade. A ausência do Urbanismo asfixia as cidades brasileiras que estressam, mutilam e matam. Mas ainda são os locais da diversidade e da inovação. A criação em 2010 do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) e a Resolução 51/13 são esperanças. Crise é risco e oportunidade. Junto à possibilidade da tragédia está a chance da reinvenção urbana em busca de cidades mais justas, seguras, sustentáveis e humanas. E da própria reinvenção do homem.

sábado, 1 de abril de 2017

CUIABÁ 300-2

 
DroneCuiabá

José Antonio Lemos dos Santos

     Desde 2009 a cada aniversário de Cuiabá escrevo estes artigos em contagem anual regressiva não só para comemorar o aniversário do ano, mas também para lembrar o tempo disponível para a preparação da cidade para seu Tricentenário. A preocupação era comemorar a efeméride com a cidade engalanada com melhores padrões urbanísticos e jubilosa com sua população usufruindo níveis superiores de qualidade de vida. Esse seria o maior presente. Vale registrar que nesse período aconteceram algumas iniciativas consistentes, destacando-se a feira “Edificar”, evento bianual produzido pelo Sinduscon/MT, Secovi/MT e Indústria D’Eventos tendo como tema a expressão “Cuiabá 300”.
      De fato, essa preocupação vem de 1989 com a Lei Orgânica de Cuiabá na qual foi trabalhado o capítulo da “Política Urbana” com a expectativa de garantir a consolidação das bases de uma gestão urbana moderna, contínua, participativa, feita sob medida para Cuiabá, tendo 30 anos como horizonte de planejamento, isto é, 2019, ou seja, Cuiabá em seu Tricentenário. O capítulo continua lá na Lei Orgânica mas a cidade não consolidou sua política urbana, ao contrário, desmantelou o que vinha sendo montado e a Cidade Verde ficou para trás de outras irmãs brasileiras que tomaram a mesma iniciativa, mesmo que depois.
     Com esse processo interrompido a alternativa à época seria a rápida preparação de uma agenda de projetos importantes, ainda que pontuais, para presentear a cidade. Foi quando aconteceu o milagre. Em 2009 a história surpreende os cuiabanos com o fantástico desafio da Copa do Mundo. Cheguei a acreditar que esse grande evento tivesse sido um artifício do Bom Jesus para treinar nós cuiabanos na preparação de sua cidade dignamente para os 300 anos. Um aprendizado de 5 anos para então se trabalhar uma agenda própria para a festa. Hoje sei que a Copa foi o próprio presente do santo padroeiro para sua cidade. Sem ele não teríamos nem as obras da Copa que ainda relutam em concluir.
     Festejar os 298 anos é exaltar uma cidade nascida entre as pepitas de um corguinho com muito ouro chamado pelos nativos de Ikuiebo, Córrego das Estrelas, que desaguava em um belo rio entre grandes pedras chamado Ikuiapá, lugar onde se pesca com flecha-arpão em bororo. E ela floresceu bonita, célula-mater deste “ocidente do imenso Brasil”. Mãe de cidades e Estados, o aniversário de Cuiabá é também do Brasil neste vasto Oeste brasileiro. Por quase três séculos resistiu a duras penas, tempo heroico que forjou uma gente corajosa e sofrida, mas alegre e hospitaleira, dona de rico patrimônio cultural e com proezas que merecem maior carinho da história oficial. Como um astronauta moderno, vanguarda humana na imensidão do espaço, ligado à nave só por um cordão prateado, assim foi Cuiabá por séculos, solta na vastidão centro-continental, ligada à civilização só pelo cordão platino dos rios Cuiabá e Paraguai. A cidade hoje vibra em dinamismo, globalizada e provinciana, festeira e trabalhadora, centro de uma das regiões mais produtivas do planeta que ajudou a ocupar e desenvolver.

Wikipedia

     Agora só restam 2 anos. Como evitar a simpática mesmice da “Garota Tricentenário” ou de um sambinha comemorativo? Logo, nem um miojo. Ficar nas obras da Copa? Os hospitais da UFMT e da prefeitura? Talvez ao menos um projeto para a revitalização do Centro Histórico envolvendo compromissos dos governos federal, estadual e municipal, abarcando toda amplitude de uma obra como esta, desde o rebaixamento da fiação até sua viabilização como um shopping cultural a céu aberto. Nada tão vergonhoso no Tricentenário do que o Centro Histórico como está. Mas, a esperança morre por último e não custa relembrar que, afinal, Deus é brasileiro e o Bom Jesus é de Cuiabá. Viva Cuiabá!



sábado, 17 de dezembro de 2016

A CIDADE E O NATAL

noticias.uol.com.br

José Antonio Lemos dos Santos

     Ainda refletindo sobre Civilização, Cidade e Cidadania é fácil ver que o conceito de Liberdade também é visceralmente ligado a estas três gêmeas inseparáveis. Peguei o tempo em que a liberdade de um terminava onde começava a do outro. Mas o mundo evoluiu e todos nos transformamos com ele. As melhores tendências do mundo atual apontam para uma visão de inclusão, compartilhamento e sustentabilidade. Hoje seria mais correto dizer que a liberdade de um não mais termina, mas se complementa na liberdade do outro. Não mais a liberdade solitária, mas a liberdade solidária. Ou somos todos livres ou não somos livres.
     O Natal celebra o nascimento de Jesus Cristo que veio para religar o homem a Deus, como Maomé, Buda e outras figuras grandiosas, conforme seus seguidores de fé. Aliás, essa “re-ligação” com o divino está na origem da palavra “religião” e é o mais importante estágio da evolução humana, mesmo que o homem ainda evolua muito. Religado a Deus o homem pensa no outro como irmão e que a felicidade está na comunhão, comum-união de todos na grande família divina. A felicidade solidária, não solitária. Amar o próximo como a si mesmo e a Deus sobre tudo.
     A cidade é uma invenção humana, a maior e mais bem sucedida delas. Um objeto artificial que é construído numa construção permanente. Importante é que se trata de uma construção coletiva, feita no dia-a-dia com o trabalho de cada cidadão, que por isso é seu verdadeiro dono. A cidade é do cidadão, célula da cidadania. Ele constrói a cidade com sua casinha, do casebre à mansão, com seu estabelecimento comercial, da pequena borracharia aos grandes empreendimentos. E a cidade é construída para ser o lócus das múltiplas relações urbanas, sendo justamente a convivência lado a lado dessas diversas relações, na integração e no conflito de seus diferentes interesses que surge a fantástica sinergia das cidades que faz a Humanidade dar saltos de desenvolvimento cada vez mais rápidos ao longo da História. A cidade é a unidade dessa diversidade e por isso é solidária. Ou pensamos um no outro, do passado, do presente e do futuro, ou perecemos como seres urbanos, como civilizados.
     Como no conceito de Liberdade, a cidade de cada um não mais termina onde começa a cidade do outro, elas se complementam. A cidade de um embeleza ou enfeia, ajuda ou atrapalha a cidade do outro, pois não existe uma cidade para cada um, a cidade é uma só, ainda que percebida pelas pessoas de maneira diferente, de acordo com o uso individualizado. A cidade é uma só e de todos, da cidadania, ou não é de ninguém e começa a morrer. É a expressão máxima da comunhão do espaço na grande obra destinada ao bem de todos. É o bem comum a ser compartilhado, convivido por todos. E aí ela é divina. Talvez por isso as cidades ficam especialmente belas no Natal.
     A grave crise das cidades no mundo, em especial Cuiabá e Várzea Grande só será resolvida quando a cidadania retomar a cidade como sua, seu maior bem, feita por ela e que tem as autoridades públicas como seus funcionários para coordenar e promover essa grande obra. Não basta mais cada um fazer sua parte e, muito menos, apenas esperar El-Rey. Além de fazer nossa parte, temos direito a que o outro faça a parte dele, de acordo com o projeto comum firmado nas leis urbanísticas, no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano que, por isso, deve ser técnica e democraticamente elaborado. Construir a cidade, além de cada um fazer bem sua parte, é participar ativamente, apoiar, discutir, criticar, aplaudir e cobrar. Só ou em grupo. E já existem bons sinais nesse sentido. Além da cidade de cada um, há sempre a cidade do outro. Nada mais cristão, nada mais natalino.
(Publicado em FolhaMax em 17/12/16, na Página do Enock e no MidiaNews em 18/12/16, em 21/12/16 no HiperNoticias, no Diário de Cuiabá (Cuiabá e o Natal), no dia 23/12/16 no TribunaMT, ...)
COMENTÁRIOS
Na Página do Enock:
Osmir  24/12/16
"Acorda Zé, enquanto estivermos sendo administrados por esses incompetentes e despreparados, continuaremos sendo uma cidade desordenada , suja ,mal cuidada,e o que é pior saqueada em todas gestões. Fale sobre flores"!

Vicente Araújo  25/12/16
"Osmir será sempre um pontinho fora da curva. Sua metralhadora giratória (em sentido figurado) está sempre matraqueando contra as opiniões dos técnicos e especialistas, como se soubesse de tudo e dominasse os conhecimentos de todas as ciências e ofícios. Trata-se de uma mente doentia (em seu viés fascista, antidemocrático e autoritário) ou apenas um saudosista das ditaduras militares que solaparam a América Latina e o mundo (filho tardio do militarismo golpista)? Ora, Osmir, acerte esse passo com sua contemporaneidade ou viverá para sempre nesse serviço sujo de atormentar os ambientes democráticos e republicanos, sempre com suas opiniões deseducadas, grotescas, marcadamente estúpidas e desaforadas. Osmir porventura imagina que a sociedade brasileira e suas instituições seja uma grande caserna a céu aberto? Osmir imagina que seus maus modos e rudeza poderão calar as pessoas? Cala a boca Magda, digo, Osmir… ou fale construtiva e educadamente para ser recebido como um verdadeiro camarada! Com esses seus modos será sempre tratado como um infiltrado nas fileiras democráticas! Creio que até Papai Noel está de saco cheio com você!"

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

A CIDADE E AS LEIS

MPE

José Antonio Lemos dos Santos

     No último artigo relembrei que Civilização, Cidade e Cidadania nasceram juntas, xipófagas inseparáveis, uma não vive sem a outra e sem elas retroagimos à Barbárie. Citei o caseiro Francenildo Santos do caso Palocci de 2006, o técnico Hígor Guerra do VLT em 2011 e o ex-ministro da Cultura Marcelo Caleri de agora, 2016, como bastiões da Civilização nesta sociedade que cada vez mais se barbariza, ainda que sabendo que como eles existem anônimos muitos milhões de outros verdadeiros cidadãos por este Brasil afora. Entretanto, poderia e deveria também ter citado o Ministério Público Estadual como um destes baluartes na figura do promotor Carlos Eduardo Silva, sempre atento aos já corriqueiros deslizes na aplicação da legislação urbanística.
     A razão principal do Ministério Público é fazer as leis serem cumpridas, fortaleza da Civilização e das cidades, gêmeas que não sobrevivem sem as leis. Como poderiam conviver no espaço urbano milhares, milhões de cidadãos sem normas, estatutos, leis para ordenar essa convivência? O próprio Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, o projeto da cidade, determinado pela Constituição Federal, é expresso em leis que precisam ser cumpridas, senão as cidades degringolam. Pois bem, passou-me despercebido, mas no dia 29 de novembro o noticiário local trouxe matéria informando sobre a anulação pela Justiça da Lei Complementar 367 de 4 de novembro de 2014 que criava o Distrito do Barreiro Branco em Cuiabá, em atendimento à ação civil pública proposta pelo Ministério Público Estadual.
     Nada contra a criação de novos distritos, desde que tecnicamente viáveis e seguindo os ritos legais de tramitação. O problema é que a lei de criação do Distrito do Barreiro Branco vinculando sua área urbana “aos índices das Zonas de Expansão Urbana, possibilitaria que conjuntos habitacionais e outros empreendimentos imobiliários de considerável impacto ambiental e urbanístico fossem edificados no local”, conforme explicado pelo promotor Carlos Eduardo Silva. E qual o problema? É que o Plano Diretor, revisto em 2007, proibiu por 10 anos a expansão da Zona Urbana de Cuiabá, reforçando sua orientação máxima de fazer a “cidade crescer para dentro” evitando seu maior espraiamento que  gera custos operacionais elevadíssimos. Por isso as cidades hoje devem ser compactas, densas e diversificadas.
     Fora das zonas urbanas é proibido o parcelamento do solo para ocupações urbanas, conforme a Lei Federal 6766/79 e assim poderosos interesses fundiários sempre forçam a ampliação dos perímetros urbanos através de artifícios diversos, como “generosas” doações ao poder público de terras fora do perímetro. Mas em Cuiabá a criação do Distrito do Sucuri em 2011 inaugurou uma nova “metodologia” de ampliação ardilosa das Zonas Urbanas. Criaram um novo distrito limítrofe à sede do município, definindo a Zona Urbana desse novo Distrito com cerca de 400 habitantes em dimensões suficientes para “encostar” nos limites da Zona Urbana do Distrito Sede de Cuiabá, em área bem maior que os 700ha da Morada da Serra, de 120 mil habitantes.    
     Seria brilhante se esquecêssemos que o novo Distrito é parte de Cuiabá, e assim sua Zona Urbana também proibida de ampliações. O sucesso da capciosa criação do Sucuri e o mesmo tipo de motivação estimularam então a criação do Distrito do Barreiro Branco, com uso da mesma “metodologia” e tendo como pretexto melhorias na qualidade de vida da população residente naquela área, benefícios que nada tem a ver com a criação de distritos e só dependem do interesse político, o mesmo demonstrado na artificiosa criação do Sucuri e do Barreiro Branco. Mas a Justiça tarda e não falha.E é a esperança das cidades.
(Publicado em 13/12/16 pelos sites NaMarra e Arquitetura Escrita, no dia 14/12/16 pelo Diário de Cuiabá, Midianews, Norte do Araguaia, Jornal da Notícia  ...)

sábado, 3 de dezembro de 2016

FRANCENILDO, HIGOR E CALERO


José Antonio Lemos dos Santos 
www.galeria.colorir.com

     Corre à solta pelas redes sociais uma tese no mínimo temerária querendo igualar as gravíssimas e danosas façanhas dos grandes corruptos nacionais, públicos ou empresariais, de todos os partidos, com os pequenos erros cometidos pelos simples mortais pecadores. Que atire a primeira pedra ... Nesta linha entram também órgãos públicos, como a CGU, e alguns órgãos da imprensa. Outro dia vi a notícia de um concurso de redações patrocinado pelo Ministério Público de Contas de Mato Grosso com o tema “Como evitar as pequenas corrupções do dia a dia” cuja “ideia é mostrar aos jovens que a corrupção não acontece só no poder público, mas quando furamos uma fila no banco ou não levantamos no ônibus para alguém mais velho sentar, por exemplo”, como explicado na matéria.
      Seria correta a comparação? Qual o sentido em se levantar de forma tão massiva uma tese discutível como esta? Não vejo outro resultado mais imediato que não a fragilização do cidadão que neste momento cobra indignado, como nunca cobrou antes, a punição dos que lesaram e lesam os cofres públicos usando indevidamente as prerrogativas dos cargos ou mandatos que ocupam.
     A Civilização é um estágio superior de consciência do Homem onde ele se submete a mecanismos de controle sociais para que possa viver e usufruir das grandes vantagens da vida em conjunto. O homem civilizado nada mais é que o bárbaro revestido por uma carapaça de normas, regras, padrões morais, religiosos, familiares, cívicos, etc. que grosso modo poderia ser chamada de Ética. O bárbaro continua existindo, doido para deixar essa couraça diante da menor fragilidade dela, para então buscar satisfazer a qualquer preço seus instintos animais sem pensar no outro ou na sociedade em que vive, que só existem para ele na conveniência do discurso. Quanto mais completa sua formação ética mais o civilizado resiste por si só às tentações da barbárie, quanto menos completa mais vulnerável.
     Trigêmeas, Civilização, Cidade e Cidadania nasceram juntas, xipófogas inseparáveis. Uma cidade ou uma nação sem valores éticos, sem leis, ou com leis para inglês ver, é um amontoado de bárbaros, é caos que assistimos. No Brasil as cidades, a cidadania e o cidadão estão cada vez mais frágeis diante da liquidificação ou “relativização” dos valores e padrões que formam a carapaça ética civilizatória, que podem evoluir mas não deixar de existir. Muitos sucumbem ao barbarismo, porém a grande parte do povo brasileiro resiste bravamente, apesar da humilhação, da prepotência e do escárnio como tratados pelos que só visam seus interesses bárbaros, pessoais, empresariais ou de grupos, atropelando cínicos os interesses comuns.

     Saltam à memória as figuras do caseiro Francenildo que em 2006 derrubou um poderoso ministro quando, apesar das ameaças e armações feitas contra ele, trouxe à luz algumas graves “malfeitorias” que a alta autoridade andava praticando. Lembro também de Higor Guerra, técnico do Ministério das Cidades, que em 2011 deu Nota Técnica desfavorável à mudança do BRT para o VLT em Cuiabá e diante da substituição de seu Parecer no processo veio a público denunciar a irregularidade e acabou derrubando outro poderoso ministro. Por fim, cabe homenagear a figura do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, que outro dia, agora em 2016, também não se atemorizou e denunciou as pressões que vinha sofrendo de um colega de ministério para forçar um órgão sob sua vinculação liberar um empreendimento em favor de interesses não republicanos. E existem milhões de Caleros, Higores e Francenildos pelo Brasil afora. Não somos bandidos, vamos cobrar sim!
(Publicado em 03/12/16 pelo FolhaMax, NaMarra, Arquitetura Escrita, em 04/12/16 pelo MidiaNews, MatoGrossoNotícias, em 05/12/16 pela PáginaDoEnock, em 06/12/16 pelo HiperNotícias, em 07/12/16 pelo Diário de Cuiabá, ..)
COMENTÁRIOS
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Benedito Addôr - 06/12/2016
Só desculpem a nossa falha, ontem foi 05/12, quando teve o julgamento do auto no Conselho Superior do Ministério Público. Com 63 anos de idade, já estou dentro do Estatuto do Idoso, e posso errar datas. Foi ontem, dia 05, às 9:00 horas da manhã. Tenho outro Inquérito Civil Público, no Ministério Público Federal. Espero que esse dê as respostas que formulo. Alguém tem que responder. A luta continua. Quero saber sobre a validade das Declarações do IPHAN. Afinal de contas elas prestam para que? A aplicação da Instrução Normativa, que regulamenta todo o patrimônio histórico do centro de Cuiabá., é aplicada por conveniência: quando é conveniente para o governo aplica, quando é para o cidadão, não aplica? A propaganda do VLT divulgada internacionalmente, que mostra que as casas não atrapalham a passagem do VLT, foi enganosa ou não, ou meio enganosa? Essa pode ser consultada no Youtube. Parecer que o IPHAN deu ou vai dar ainda, em 2015/2016, pode se fundamentar em projeto que ele mesmo elaborou, junto à Secopa. Eu já sei qual é esse Parecer. Nunca irá contra o projeto que eles mesmos elaboraram. Gostaria de ter acesso a outras Atas de Reunião, entre IPHAN/Secopa, para saber até onde o IPHAN participou do projeto, e se foram levantados os custos da obra. Pessoa da Secopa havia me dito, em 2012, que havia 2 projetos para a área: um com as casas que custava "x"; e outro retirando as casas, que custava de 5 a 8 vezes mais. Quantos milhões de reais dá a diferença de um projeto para outro?
Benedito Addôr - 06/12/2016
Falando no Calero, surge o IPHAN e o VLT. Quase todo mundo sabe que, desde 2012, brigo para conservar os imóveis frontais à Igreja do Rosário, na área apelidada de Ilha da Banana. Ontem, 09/12, o recurso que interpus aos autos da Inquérito Civil, foi julgado pelo Conselho Superior do Ministério Público. Confesso que, entrei com reclamação no MPE, em busca de várias respostas a inúmeras perguntas; e sai de tudo isso "boiando" ainda mais, sem saber de nada. Entre as perguntas, destacam-se: 1) o IPHAN/MT, durante anos, deu Declarações dizendo que os imóveis tinham proteção especial; fazem parte do Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico de Cuiabá; e estão subordinados a Instrução Normativa que regulamenta todo patrimônio histórico da cidade. Indaguei do MPE sobre a validade dessas Declarações - Vale o que está escrito e assinado? Elas tem fé pública? Enfim prestam para alguma coisa? Qualquer declaração que a gente recebe de um Órgão Público Federal, a gente pode acreditar naquilo que está escrito e assinado? O MPE não respondeu a essa pergunta. 2) sobre a Instrução Normativa, no seu Artigo 2º (único de fala em Preservação) diz claramente que: A Preservação do conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico da cidade de Cuiabá e DE SEU ENTORNO, será assegurada pela proteção, conservação, manutenção e revitalização das características culturais da cidade...indaguei do MPE se essa Instrução Normativa funciona ou não funciona, vale ou não vale, pois ela garante a preservação assegurada dos imóveis. Quem me disse isso foram vários advogados, professores de Universidade consultados, ao longo do tempo; depois de analisar me disseram que os imóveis tem proteção especial, por causa dessa Instrução. O MPE não me respondeu nada sobre isso. 3) a desapropriação da área começou em 2012, onde o governo de MT fez até uma propaganda para o mundo inteiro, que pode ser visualizada até hoje no Youtube: VLT CUIABÁ-VÁRZEA GRANDE 2012; nela demonstra que as casas nunca atrapalharam a passagem do VLT, pois a estrutura do mesmo, trilhos, etc, será construída atrás das casas, onde fica o Centro Comercial Morro da Luz. Indaguei do MPE, se um governo que faz uma propaganda mundial; e nessa parte específica, vem com outra estória, se essa propaganda pode ser considerada com "propaganda enganosa"? Questionei: O que é uma propaganda enganosa? Não tive resposta do MPE. 4) através de uma Ata de Reunião entre o IPHAN/MT e a Secopa, conseguida por integrante da Defensoria Pública, Dr. Ayr Praeiro, tomei conhecimento de que, desde 2012, em conjunto, estão elaborando um projeto para demolir as casas; agora, em 2015/2016, o IPHAN/MT disse aos Ministérios Públicos (estadual e federal), que está simplesmente dando um Parecer. Como fica esse Parecer, que será dado em cima de projeto já elaborado? Não deveria o IPHAN ser imparcial, para dar o Parecer adequado? É evidente que esse Parecer será para demolir as casas, porque assim já decidiram faz tempo, fazendo até projeto para isso. É aqui que entra a denúncia do ex-ministro da Cultura, Marcelo CALERO, teria sido o IPHAN/MT usado politicamente, em 2012? Questionei isso também ao MPE, e não obtive resposta. Agora estou procurando outro Órgão Público que tenha a capacidade de responder-me a todas essas questões; de preferência por escrito. O que sinto muito, é que, nesse imbróglio da desapropriação desnecessária dos imóveis da Ilha da Banana, já tenha até morrido gente. Em outubro/2012, a senhora Maria Rita dos Santos Rodrigues, moradora do local há mais de 40 anos, recebeu a visita do pessoal da Secopa, com a mesma estória - que a casa não era mais dela por causa do VLT; sendo hipertensa, não aguentou a pressão psicológica e teve um gravíssimo AVC, ficando imobilizada numa cama por mais de 2 anos, vindo a falecer em 2015. Depois fiquei sabendo que o Decreto do Silval, nº 1.252, de 18 de julho de 2012, pelo qual o pessoal da Secopa, começou a ameaçar os moradores de despejo, e a expulsar vários comerciantes, não abrangia os imóveis, mas sim somente o Centro Comercial Morro da Luz. Portanto uma visita desnecessária, inconveniente até legalmente, causou o gravíssimo AVC na senhora Rita. Adianta perguntar para o MPE se esse erro fatal poderia ser considerando um crime, e a família receber até uma indenização por isso? Não vou nem perguntar porque não vou obter nenhuma resposta do MPE. Aí indago aos entendidos, como a OAB/MT, para quem comunico oficialmente, com provas, todas essas denúncias? E muitas outras. Mas me indiquem um Órgão que responda até por escrito, e tome providências. Por favor.

Carlos Nunes - 09/12/2016
Puxa vida! Enquanto o Sr. Ador luta pelos seus direitos, igual um condenado, o Fantástico, na matéria Cadê o Dinheiro que estava Aqui, mostrou, o Eder Moraes dizendo que levaria de propina 5 Milhões de reais pelo VLT. Só serviu para encher os bolsos de alguns, e matar senhoras indefesas com AVC. VLT é filhote da Corrupção, e filhote cresce e dá cria, outros filhotinhos. Nessa retomada do VLT, todo mundo tem que ficar com os "olhos e ouvidos" escancarados, para ver se não vai acontecer tudo de novo - alguns vão encher os bolsos. Precisa colocar a PF para tomar conta do dinheiro, senão o Fantástico vai mostrar outro escândalo - alguém levaria não sei quantos milhões pelo VLT.

Carlos Nunes - 09/12/2016
Na pirâmide social, onde os privilegiados ficam no topo e a maioria do povo brasileiro fica na base, tem uma regra moral básica: o topo tem que dar bons exemplos, senão a base vê, e filosofa - se eles podem, porque nós não podemos. Uma cúpula que dá mal exemplo, geralmente é derrubada pela base. No processo democrático isso fácil; é só o povo aprender a votar. Infelizmente "maus brasileiros" vendem o voto para políticos corruptos. Hoje os telejornais informaram que 70 executivos da Odebrecht fizeram delação premiada, que vai derrubar uma porção de corruptos...vai ser um tal de "esse recebeu propina também"; e os acusados fugindo como o d...foge da cruz. 70 executivos da Odebrecht vão derrubar será quantos políticos? Se cada um derrubar 3, dá 210. E o Sarney na gravação disse: a delação da Odebrecht vai ser igual a uma ponta100, errou vai ser uma ponto200 ou mais. E viva os delatores premiados que ainda vão salvar o Brasil, pelas linhas tortas, mas vão. Igual aos sonegadores, que estão repatriando Bilhões, e estão salvando os municípios brasileiros. A que ponto chegou a pátria amada Brasil...depende de delatores premiados e de sonegadores.

Carlos Nunes - 10/12/2016
Essa Opinião do José Antônio foi ótima, porque mostrou 3 brasileiros que foram "estranhos no ninho" - fizeram a diferença. O Brasil está na véspera de ver surrupiarem direitos adquiridos conquistados depois de muita luta; estou me referindo à Reforma da Previdência é claro. A professora, Doutora em Economia, DENISE LOBATO GENTIL, contesta veementemente até o marketing desse governo que fala sobre o déficit estrondoso na Previdência; segundo ela é só para retirar direitos e privatizar. Ela diz que realmente as contribuições previdenciárias não cobrem as despesas; mas que entra muito dinheiro na Previdência, de outras formas: quando se constrói um prédio, um percentual sobre o valor do imóvel entra na Previdência; tem a fiscalização da Previdência que capta muito dinheiro...tudo isso entra numa conta única do governo, e é desviado para outras finalidades. Que outras finalidades são essas? Segundo o Balanço da Seguridade Social 2011/2015, analisado pela professora, a situação é a seguinte: sempre houve Superavit. Aí, vai uma pergunta básica, pelo sim e pelo não, por que não entrevistam, fazem matérias, reportagens, com essa Doutora em Economia, para ela nos explicar, tintim por tintim, que estória é essa? Entre a palavra de um Francelindo, Higor e Calero, em quem nós acreditamos, neles ou no sistema de Poder? Neles é claro, ou não? A Doutora DENISE LOBATO GENTIL era para ser chamada até pelo Congresso Nacional, para explicar tudinho. Estão prestes a retirar direitos desta gerações, e de todas as futuras gerações...nossos filhos, netos, bisnetos, tataranetos. A mais prejudicada será a Mulher Brasileira, que hoje aposenta com 60 anos, e 30 de contribuição; vai passar a aposentar com 65 anos, e se quiser ganhar "melhorzinho", terá que contribuir 49 anos - 19 anos a mais do que contribui hoje. Teria que começar a trabalhar com 16 anos, ficar 49 anos com a carteira assinada, empregada, contribuindo; isso é impossível, pois ninguém vai conseguir isso.

Carlos Nunes - 12/12/2016
Aproveitando essa matéria sobre os 3 mosqueteiros tupiniquins, Francenildo, Higor e Calero, que representam o melhor do povo brasileiro - A HONESTIDADE; e revendo algumas opiniões da professora, Doutora em Economia, DENISE LOBATO GENTIL, na internet mesmo, ficou evidente PORQUE esse governo quer fazer a Reforma da Previdência, ferrando esta e todas as outras gerações. Trata-se de um NeoLiberalismo ao cubo: primeiro faz uma PEC congelando gastos por 20 anos; depois uma Reforma da Previdência que retira inúmeros direitos do trabalhador, no que é mais sagrado, a sua Aposentadoria; e finalmente virá uma Reforma Trabalhista, que vai retirar mais direito ainda. O Valor do Trabalho vai ficar baratinho, baratinho; aí vira de fora, muitos capitalistas "selvagens" com muito dinheiro; e vão querer comprar todo mundo. Essa luta entre o Capital e o Trabalho que já estava ultrapassada, vai surgir de novo. Aí alguém pergunta: quem é o mentor de tudo isso? Um homem que veio do meio dos banqueiros, só sabe falar a linguagem para favorecer o Capital - Henrique Meirelles. Pró banqueiro vai ser uma maravilha, uma beleza, ou alguém duvida disso? Quem vão gerar os empregos futuros? Os Capitalistas é claro. Será que não tem no Brasil Economistas, que pensem em primeiro lugar no POVO BRASILEIRO? Só pensam em banqueiros, em encher o caixa do governo, rapando o bolso do povo e retirando direitos adquiridos.
Carlos Nunes - 11/12/2016
Pois é, de um lado Francenildo, Higor e Calero, que tiveram a coragem em denunciar irregularidades...de outro: primo, caranguejo, gremista, babel, angorá, polo, Ferrari, botafogo, MT(não é mato groso não) e muitos outros políticos corruptos, apelidados pelos executivos da Odebrecht. Esses, ou eram "amigos da empresa", que cobravam até mais propina para ser mais amigo ainda; ou tinham potencial para fazerem muito mais coisas, no futuro. Não se sabe qual é pior: ou esses políticos corruptos, ou a Odebrecht nessa política empresarial, de ganhar a qualquer preço, mesmo nas coisas imorais. A estória é mais ou menos como a pastora Yonara descreveu, e divulgou no Brasil inteiro: estava ela dormindo, quando dois Anjos a retiraram do corpo, e a levaram até o inferno para conhecer. Lá numa sala enorme, numa mesa comprida, estava na cabeceira o próprio d... (não é bom nem falar o nome que dá um azar danado); e chegavam muitas pessoas, que sentavam a mesa, conversavam com o d..., e saiam. E os Anjos disseram: esses também saem do corpo enquanto dormem, vem pra cá, e troca a Alma pelo poder e pelo dinheiro; vão virar funcionários do d... Vote! Salve DEUS! Graças a DEUS! Que Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, nos proteja.
Carlos Nunes - 11/12/2016
E ontem a rede Globo fez um Jornal Nacional só enfocando a delação premiada dos integrantes da Odebrecht; só de um já deu para derrubar a República inteira; e outro vai começar abrir o bico sobre o Poder no Rio de Janeiro. Agora está um bafafá, os acusados indo atrás de quem divulgou as informações para a rede Globo. Tal como o Francenildo, o Higor e o Calero, quem divulgou as informações merece receber uma medalha de herói nacional, pois desmascarou vários "lobos em pele de cordeiro". Aí, no país da inversão de valores, na certa vão punir o cara que divulgou - alguns gostariam que nós, os eleitores, os verdadeiros donos do Poder, não soubéssemos essa estória nunca. Como somos uns "donos do Poder" mequetrefes, ou não sabemos de nada, ou somos os últimos a saber; entretanto devíamos sim ser os primeiros a saber. E viva a Imprensa Brasileira! Viva a rede Globo! Que de vez em quando desce do muro, e dá uma dentro. E viva os delatores premiados que, mesmo sendo as linhas tortas, vão ajudar a salvar o Brasil. Pra eles só podemos dizer: CONTEM TUDO! MAS TUDO MESMO! TINTIM POR TINTIM. O que foi preocupante na delação da Odebrecht foi o delator dizer que existem duas formas de passar propina para político safado: ou como doação legal ao partido, ou como caixa 2. Fico imaginando lá no TSE muitas doações partidárias, que no fundo, no fundo são propinas disfarçadas...e o TSE achando que está tudo uma beleza. Não, só foram feitas para pegar obras em Licitações e Concorrências Públicas; só por isso. E um político reclamou dizendo que merecia mais dinheiro, porque era "amigo da empresa".

Carlos Nunes - 13/12/2016
Pois é, lá na Praça uma turma amigos dizia: ninguém é mais honesto no Brasil; não tem um...a gente não pode confiar em ninguém. Aí, meti o bico na conversa e disse: tem 3 brasileiros - o Francenildo, o Higor e o Calero. E completei: a maioria da povo brasileiro é honesto, trabalhador e sobrevive com 880 reais por mês. Tem uns desonestos pra burro: o primo, o caju, o caranguejo, o gremista, o babel, o angorá, o polo, o Ferrari, o botofogo, e um tal de MT (não é mato grosso não), e outros, no total dá mais de 50. No país da inversão de valores, agora querem punir quem vazou a informação da delação; querem até anular a delação, tornando-a inválida. Ora, quem vazou a informação devia receber uma medalha de patriota. Nos Estados Unidos, Jornalistas descobriram uma conversa estranha, dizendo que, espiões de um partido, haviam espionado o escritório do outro partido, no Edifício Watergate...o NIXON, só porque deu a ordem pra espionar, caiu. Aqui no Brasil, o executivo da Odebrecht detalha encontro com um tal MT, descrevendo sala, móveis, dia, horário, local, pedido de 10 MILHÕES, e querem anular a delação. Não admira que o De Gaulle, que já faleceu faz tempo, na vez que esteve no Brasil, disse: O Brasil não é um país sério. Puxa vida! Não é sério até hoje? Quando vai ser? Ainda bem que existem o Francenildo, o Higor e o Calero.



terça-feira, 5 de novembro de 2013

DIA MUNDIAL DO URBANISMO

Emblema do Urbanismo:sol, vegetação, ar                        caudf.org.br


José Antonio Lemos dos Santos

     A cidade constitui a maior, a mais complexa e bem-sucedida das invenções do homem. Surgida há 5 mil anos, com ela veio a civilização que acelera a evolução humana. De lá para cá o mundo foi se urbanizando e a partir de 2008 já é mais urbano que rural.
     Com a Revolução Industrial a cidade viveu seu momento de maior inflexão até os dias atuais. Até então ela não fora questionada, ainda que tenha enfrentado importantes crises em seu desenvolvimento. Com a industrialização, a urbanização acelera e as cidades se desequilibram gravemente, exigindo controle e intervenções em seu desenvolvimento. Surge então a ciência do Urbanismo, que evolui e supera a etapa do urbanismo modernista da Carta de Atenas – implodido em Pruitt-Igoe - passa pelas experiências pós-modernistas do Novo Urbanismo Americano e chega à revolução da eletrônica, da internet e da globalização, com os desafios da compatibilidade ambiental, da inclusão e das possibilidades das cidades inteligentes, verdes e sustentáveis.
     De extrema complexidade, a cidade é comparável a um organismo vivo em dimensões imensas, que vão das pequenas vilas até as megalópoles ou às megarregiões urbanas, chegando aos milhares de quilômetros quadrados com dezenas de milhões de habitantes. A cidade é um enorme recipiente, articulado regional e globalmente, onde acontecem as relações urbanas em toda sua múltipla diversidade. Sua função é permitir que tais relações aconteçam da melhor forma com sustentabilidade, conforto, segurança e, sobretudo, justiça. Ajudá-las no cumprimento desta função é o objetivo do Urbanismo.
     Em evolução contínua, o Urbanismo reflete a complexidade de seu objeto de trabalho e abrange os diversos campos de conhecimento que a cidade envolve. O urbanista não pode ser um especialista, mas um generalista voltado a entender o organismo urbano com um todo. Não se pode tratar os problemas da cidade sem antes tratar da cidade com problemas. O urbanista precisa saber um pouco de tudo para enxergar o todo, e, em especial, saber que esse conhecimento, embora indispensável, é nada sem a companhia das diversas especializações técnicas nas múltiplas facetas da cidade e da problemática urbana.
     8 de novembro é o Dia Mundial do Urbanismo, criado em 1949 para uma reflexão global sobre o assunto. As cidades de novo vivem uma inflexão profunda diante da revolução dos satélites, das fibras óticas e da internet que acena com perspectivas inimagináveis desconstruindo conceitos fundamentais como tempo, espaço e distância colocados agora no seio da realidade fantástica do ciberespaço, mas ainda atolada no drama da iminência do colapso com a água, lixo, mobilidade, poluição, energia, emprego, fome, moradia e segurança. Mesmo diante de tantas perspectivas extraordinárias, o problema maior do século XXI são as cidades. E as cidades falhando, a civilização explode.
     Inaceitável que no Brasil o Urbanismo e o urbanista sejam tão desconsiderados. Como podem existir cidades sem órgãos técnicos especializados que a estudem contínua e sistematicamente, apresentando à cidadania alternativas para suas perspectivas de desenvolvimento? Ainda mais nestes tempos dos grandes investimentos da Copa e da grave crise da mobilidade urbana. A falta do Urbanismo asfixia as cidades brasileiras que estressam, mutilam e matam. Mas ainda são os locais da diversidade e da inovação. O surgimento do CAU no ano passado e a Conferência Nacional das Cidades agora em novembro são esperanças. Crise é risco e oportunidade. Junto à possibilidade da tragédia está a oportunidade da reinvenção urbana em busca de cidades mais justas, seguras, sustentáveis e humanas. E da própria reinvenção do homem. 

(Publicado em 05/11/2013 pelo Diário de Cuiabá)