"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 9 de setembro de 2014

FERROVIA E VERGONHA NA CARA

transportabrasil

José Antonio Lemos dos Santos

     A afirmação do ministro dos Transportes na semana passada de que a Ferronorte não chegará a Cuiabá porque não é prioridade do governo federal apenas confirma de boca oficial aquilo que para qualquer bom entendedor já vinha sendo executado por baixo dos panos pelo menos desde 2007, quando surgiram as primeiras notícias sobre a Fico. Como um trem a jato, de imediato aquela novidade entrou no Plano Nacional de Viação e, ainda como “obra em fase de estudos”, substituiu no PAC o trecho da Ferronorte entre Rondonópolis e Cuiabá, já mostrando que o governo federal tinha um novo plano ferroviário para Mato Grosso. Confirmando, logo depois a ALL abriu mão do restante da Ferronorte, um dos maiores sistemas ferroviários do mundo, uma atitude no mínimo estranha para uma empresa que se supunha viver das ferrovias. 
     Daí para frente foi só blablablás e estudos de viabilidade desnecessários e nunca concluídos, tudo para enrolar a população da Grande Cuiabá que constitui quase um terço do eleitorado mato-grossense, situação que exigia muita dissimulação na tocada do novo projeto, que logo contou com o silêncio covarde e interesseiro da classe política local. O ministro não falou nada de novo, mas é uma voz governamental oficializando que foi de fato abandonado o projeto da Ferronorte pelo atual governo federal, ainda que este projeto se mostre cada vez mais atual, voltado objetivamente ao atendimento das demandas logísticas de Mato Grosso, integrando o estado campeão produtivo, levando a produção, mas também trazendo o desenvolvimento. 
     Diante da extrema emergência logística que mata cada vez mais as pessoas nas estradas, degrada o ambiente e causa expressivas perdas ao produtor, não dá para entender como se pode optar por um trajeto de 1.200 Km de Lucas até a Norte-Sul (GO) ainda sem funcionar, e deixar de lado a ligação de Nova Mutum ao maior terminal ferroviário da América Latina em Rondonópolis, em pleno funcionamento a apenas 460 Km, passando por Cuiabá. Não dá para entender o ministro dizer que a ligação de Rondonópolis a Cuiabá saiu da prioridade do governo federal, porque não tem carga. Como, se Cuiabá fica no meio do caminho para Nova Mutum ou Lucas do Rio Verde e metade da produção agrícola de Mato Grosso fica no mercado interno? Além disso, tem a carga de retorno pela qual vêm materiais de construção, combustíveis, insumos e máquinas agrícolas, bem como mercadorias e utilidades diversas destinadas à elevação da qualidade de vida a que o povo mato-grossense tem direito. Ou não tem? Para Brasília o mato-grossense só existe para produzir, exportar e sustentar os superávits da balança comercial brasileira? E a Grande Cuiabá é o maior centro consumidor, centralizador e distribuidor de cargas do estado, servindo também o oeste brasileiro e nordeste boliviano. Como não tem carga?
     Mas as coisas ficam compreensíveis quando se entende que o novo projeto ferroviário federal não tem como objetivo principal a tão urgente solução logística para o estado, que deveria ter. Na verdade querem usar a logística para fazer geopolítica criando sistemas separados ao norte e ao sul para dividir o estado. Azar se as pessoas morram, o ambiente deteriore ou o produtor perca, o que interessa para eles é criar mais uma ou duas pirâmides de cargos públicos para a alegria da imensa maioria da classe política, que seria a única beneficiada da tramoia. Ao invés de qualidade de vida, querem é nos presentear com mais 3 senadores, 8 deputados federais, 24 estaduais, etc., etc. No mínimo. Rindo na nossa cara. Querem rasgar este Mato Grosso unido, cada vez mais forte e campeão, e manda-lo de novo ao fim da fila federativa, de novo sem voz e sem vez. E tudo pago pela gente. 
(Publicado em 09/09/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)

11 comentários:

  1. No Midianews:
    "NEIDE MARIA 09.09.14 11h25
    Até que enfim o nobre professor parou para pensar. Que bom, antes vivia produzindo artigos para falar bem do Lula, da Dilma, do Silval e demais que fazem parte do contexto."

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  2. No Midianews:
    "Francisco Antonio de Almeida 09.09.14 11h56
    É necessário ser realista, trem em Cuiabá para transportar o que? Aqui não tem produção de nada."

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  3. No Midianews:
    "Elias Neves 09.09.14 12h30
    prezado professor JOSÉ ANTONIO LEMOS, eu li e acompanhei diversas matérias de vossa autoria publicada neste post. Em todas elas o senhor era uma dos mais audazes defensores das obras da SECOPA, declarando publicamente que eram perfeitas, dignas de aplausos. Não estou inventando estórias, as publicações servem de provas cabal do que vossa senhoria escreveu. Lamento pela atitude que vossa senhoria teve, quando na verdade era necessário colocar as claras todos os erros dos projetos que agora estão em todas as mídias. Ainda bem que temos os docentes da UFMT, lutando e protestando contra as obras mal feitas. Aguardo sua resposta, publique-se!"

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  4. No Midianews:
    "CALEB MIGUEL DA PAIXAO 09.09.14 18h06
    o francisco antonio o cara acabou de explicar "materiais de construção, combustíveis, insumos e máquinas agrícolas, bem como mercadorias e utilidades diversas destinadas à elevação da qualidade de vida a que o povo mato-grossense tem direito. Ou não tem? Para Brasília o mato-grossense só existe para produzir, exportar e sustentar os superávits da balança comercial brasileira? E a Grande Cuiabá é o maior centro consumidor, centralizador e distribuidor de cargas do estado, servindo também o oeste brasileiro e nordeste boliviano. Como não tem carga?"

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  5. No Midianews:
    "Roger 09.09.14 21h17
    Sou cuiabano, mas convenhamos o que a baixada cuiabana produz???? Meu ponto de vista trilhos e trens que passem onde haja produção, deixe aqui para administração, ou o professor continua naquela de por ser capital tudo tem que passar aqui?? Os impostos e a economia servirao para aplicarmos na educaçao, saude e segurança, se nao roubarem.

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  6. No Midianews:
    "Jorge L 09.09.14 08h46
    Caro professor Antônio Lemos; diante da notícia vazada pelo ministro só cabe ao eleitor, cuiabano em especial, dar o troco nesta eleições aos candidatos envolvidos, não só por questão de brio na cara como também de consciência política. Ao meu ver, os projetos de Riva tendem para a divisão do Estado, assim, eu e minha família até ia votar nele mas, depois de analisar sua aspiração mudamos de idéia."

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  7. No Diário de Cuiabá:
    "Data: 09/09/2014 19:38
    Nome: ROSEMARI VIEIRA BRAGANÇA
    Profissão: Arquiteta e Urbanista
    Localidade: Cuiabá/MT
    Parabéns Professor, artigo genial!!!
    Rosemari

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  8. No Gmail:
    "Prezado José Antonio,
    Total absurdo... Como não existe carga aqui em Cuiabá? E o Porto Seco que já está instalado aqui, não conta? E as plantas de biodiesel instaladas no Distrito Industrial? E a carga de retorno de autopeças/industrializadas que podem ser unitizadas por contêiner?
    E os grãos de Diamantino que é um grande produtor, vai para onde, caso a Ferrovia esteja em operação em Cuiabá? Vai pelo modal rodoviário para Santos e Paranaguá?
    Definitivamente, levantei a bandeira da Ferrovia aqui e a Ferrovia Vicente Vuolo rumo para Cuiabá, esta é a meta nos próximos anos.
    Cansei... Chega de blá, blá, blá...
    Como pontapé inicial, vou ministrar um Curso de Extensão de Ferrovia na Univag.
    Para a devida divulgação para as pessoas do seu relacionamento..
    Vai um abraço,
    Silvio Tupinambá Fernandes de Sá
    Engenheiro Ferroviário e Especialista Terminais Intermodais
    MBA LOGÍSTICA EMPRESARIAL (FGV/RJ)"

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  9. No Gmail 09/09/14:
    "Será que chegamos ao fundo do poço?
    Até o Zé Antônio parece ter perdido a paciência e o eterno otimismo.
    O que será que existe após o fundo do poço?!!!
    Thogo "

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  10. No Gmail em 09/09/14:
    "Parabéns pelo artigo Dr. José Antonio ! E de pessoas como vc que deveriamos que ter como representante no Congresso Nacional em Brasilia . Onde estão os nossos representantes ? Ainda mais que em ano de eleição e não vemos os nossos representantes com essa bandeira . Abs
    ​Cleber"

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