"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



quarta-feira, 23 de agosto de 2017

O SENADOR ESQUECIDO

OlharDireto
José Antonio Lemos dos Santos

     Lavado e enxaguado nas águas da vitória do Cuiabá contra o Salgueiro, recordo que toda cidade é um centro produtor, mas sua produção extrapola os bens e serviços. Seu principal produto é a sua gente e a qualidade de seu povo é a melhor medida do sucesso de uma cidade. As cidades lembram seus vultos como modelos para continuar a produzi-los em todas as áreas da vida. Nos meus tempos de grupo escolar, estudávamos suas biografias aprendendo a respeitá-los, e por eles aprendemos a respeitar nossa gente, a boa cepa de onde surgiram.
     Triste como algumas grandes figuras mato-grossenses foram esquecidas pela história. Dia 22 de agosto é aniversário de nascimento de Antonio Francisco Azeredo, lembrado como Senador Azeredo, nome do tradicional colégio do Porto, antigo “Peixe-Frito” da saudosa professora Delza Saliés e tantas. Não fossem Rubens de Mendonça e a Internet, seria impossível falar sobre este cuiabano, nascido em 1861 e que chegou a Presidente do Senado Federal por mais de 15 anos, até ser deposto pela revolução de 30 e exilado na Europa. Até outro dia era o primeiro dos homenageados na Galeria de Bustos do Senado.
     Sobre o Senador Azeredo, porém, até na Internet as referências são mínimas, vestígios encontrados em sites que tratam de outras personalidades e outros assuntos. Contudo, nesse pouco dá para perceber uma personalidade que merecia maior atenção dos mato-grossenses. Abolicionista e republicano, segundo Rubens de Mendonça ele trabalhou no jornal “Gazeta da Tarde” de José do Patrocínio, antes de comprar um pequeno jornal carioca denominado “Diário de Notícias”, que logo transformou em um dos maiores e mais influentes jornais do país, no qual colocou como redator, nada mais nada menos do que Rui Barbosa. Foi eleito Deputado à Constituinte e à Primeira Legislatura por Mato Grosso, chegando a ser o Primeiro Secretário da Câmara, até que assumiu o Senado no lugar de Joaquim Murtinho, quando este, também cuiabano, saiu para ser Ministro da Viação e da Fazenda e entrar na História como o maior estadista do Brasil na Velha República. Senador por quase trinta anos, e presidindo a Casa por muitos anos, Antonio Francisco Azeredo deu posse a alguns Presidentes da República. Foi também escritor, não apenas de seus discursos, mas de algumas obras que hoje despertariam interesse. Foi também comendador da Legião de Honra da França, e condecorado em diversos outros países.
     Sua maior obra para os mato-grossenses e cuiabanos em especial, foi, como fizeram alguns outros, ter levado a figura de um conterrâneo a posições de tão grande destaque e influência na vida nacional. Sua vida deveria ser mostrada como exemplo aos jovens locais que resistem às tentações dos descaminhos, acreditam em si e nas perspectivas positivas da vida, e vão à luta apesar das dificuldades, como um dia fez o jovem Antonio Azeredo. Como Rondon, Dutra e outros, Antonio Azeredo também teve sua grande oportunidade ao cursar um colégio militar, na época talvez a única chance de subir na vida para os jovens mato-grossenses.
     A este propósito recordo que em 1957 a Prefeitura de Cuiabá doou o terreno do antigo “campo de aviação”, hoje ocupado pela Vila Militar, para que ali fosse construído o Colégio Militar de Cuiabá. Se tivesse virado realidade, quantos outros milhares de jovens mato-grossenses teriam sido beneficiados? Cuiabá não deveria voltar a pensar no assunto? O belo prédio do 44º BIM, construído por Dutra seria uma boa alternativa para um Colégio Militar com nome de seu construtor e um memorial como centro de referência à sua história.

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