Basta olhar o mapa sul-americano para entender a potencialidade
da BR-163 em termos de estratégia logística para o continente. Quando
concluída, a rodovia ligará Santarém no Pará a Tenente Portela no
Rio Grande do Sul, integrando o Brasil de norte a sul. Contudo, sua
importância não está limitada a seu leito carroçável, pois ao norte
ela chega aos portos amazônicos de Itaituba e Santarém e ao sul acessa
o porto de Cáceres, chegando por águas platinas ao Paraguai, Argentina
e Uruguai. Com estas características e mais a especialíssima condição
de passar pelo exato centro da América do Sul em Cuiabá, a rodovia
impõe-se potencialmente como o mais natural caminho integrador centro-
longitudinal sul-americano, predispondo-se como base para um grande
corredor intermodal de transporte do continente em futuro próximo.
A história da BR-163, a Cuiabá-Santarém, é bem conhecida e
sofrida no dia-a-dia pelos mato-grossenses. Inaugurada em leito
de terra há 36 anos até hoje não foi concluída em asfalto, porém
seu eixo inspirou à época de sua criação a antevisão do futuro
grandioso do centro do continente, com a proposição de mega-projetos
como o da Ferronorte, integrando por ferrovia Mato Grosso ao Pará,
São Paulo, Minas, Espírito Santo, Rondônia, Acre, do Atlântico ao
Pacífico, do Amazonas ao Prata. A visão dos saudosos Vuolo e Iglésias
virou concessão federal e é a mesma que ano passado foi devolvida
parcialmente pela ALL à União. São da mesma época os projetos da saída
para o Pacífico via San Mathias, da Ecovia do Paraguai com porto e ZPE
em Cáceres, bem como o Distrito Industrial de Cuiabá, desenhando um
eixo longitudinal capaz de organizar em forma de espinha de peixe as
demais rodovias e ferrovias a leste e a oeste de Mato Grosso, mesmo as
previsíveis como as variantes ferroviárias até Cáceres, a ligação ao
Peru por Tangará, Diamantino ou Lucas, e até a atual FICO.
A formulação do complexo rodovia-ferrovia-hidrovia, apoiado
pela internacionalização do aeroporto de Cuiabá resultava de uma
visão extraordinária do futuro que profetizava com exatidão toda a
grandeza do desenvolvimento regional que acontece hoje. A Cuiabá-
Santarém firmou-se como a coluna vertebral de Mato Grosso e ajudou a
transformar o estado no maior produtor agropecuário do país e uma das
regiões mais produtivas do mundo. Imagina quando estiver concluída em
sua multimodalidade, transportando para os portos de norte, sul, leste
e oeste do Brasil e do mundo a produção mato-grossense, facilitando
a distribuição aos brasileiros do sul-sudeste dos produtos da Zona
Franca de Manaus e até da China. Principal, trazendo o desenvolvimento
e a qualidade de vida a todos os mato-grossenses através dos insumos e
bens de consumo com tarifas reduzidas, tarifas mais baratas não apenas
em dinheiro, mas também em perdas ambientais e de vidas humanas,
preço maior de dor e sofrimento pago hoje pelos mato-grossenses por
uma logística de transporte totalmente defasada em relação ao atual
dinamismo econômico e tecnológico de Mato Grosso.
De janeiro a outubro de 2012 Mato Grosso produziu um superávit
de 10,44 bilhões de dólares na balança comercial brasileira, 60% do
superávit brasileiro no mesmo período, o terceiro do país! Isto é, de
cada 3 dólares que entrou no país, quase que 2 foram trazidos pelo
suor e trabalho do povo mato-grossense, vencendo dificuldades imensas
dentre as quais a calamitosa situação das estradas. Em função de tudo
o que vem produzindo para o Brasil, Mato Grosso hoje tem condições não
só de continuar projetando seu extraordinário futuro, mas, sobretudo,
de exigir tudo o que precisa e tem direito para seguir seu destino e
vocação de grande celeiro de alimentos do mundo.