José Antonio Lemos dos Santos
Em gentil atenção ao nosso artigo da semana passada, o vereador Vicente Vuolo enviou cópia do seu projeto sobre o Parque da Cidade, esclarecendo que ele não estabelece a área do 44' BIM como o local de sua futura instalação. Esta área entra na justificativa do projeto apenas como uma sugestão, sendo proposta uma Comissão para a escolha da localização mais adequada, a qual terá total liberdade para optar por uma outra área, se isto for necessário à viabilização do reencontro urbano da população com a natureza.
Estas informações destacam ainda mais a importância do projeto do jovem vereador, pois, mesmo vetado, serviu para evidenciar o quanto de expectativa existe na cidade por um parque como o proposto, servindo também para mostrar que o Exército não pode continuar sendo visto como uma instituição inacessível aos interesses das comunidades onde se instala, dispondo-se a conversar sobre o assunto. Por sua vez amplia a validade de uma contraproposta ao próprio Exército em termos de sua área no "Mãe Bonifácio": uma área também central, de dimensões maiores às do 44' BIM, com acesso facílimo pela Perimetral e bem conservada em sua vegetação natural. Lá o Parque da Cidade já estaria praticamente pronto, bastando alguma limpeza e uma infraestrutura leve de manutenção e apoio que pode ir sendo instalada aos poucos. Um parque é antes de tudo uma área verde, o resto é complemento.
A questão do Parque da Cidade, me fez lembrar um assunto que merece especial atenção: por ocasião da instalação do Comando Militar do Oeste em Campo Grande a imprensa noticiou, com destaque, que a sede daquele Comando em 1990 estaria instalada em Cuiabá. Como já aconteceu uma situação semelhante com a finada SUDECO, — que também se instalou "provisoriamente", em Brasília, lá ficando até sua extinção —, guardei os recortes do noticiário para ver em que pé as coisas iam ficar. A instalação em Campo Grande se deu em 1986, 9 de janeiro, e de lá para cá não tive conhecimento de nenhum desmentido, fazendo-me supor que meus recortes ainda continuam válidos. O Comando não veio até hoje e. o que é pior, não vi manifestação alguma no sentido de perguntar, cobrar. ou qualquer outra atitude que fosse no sentido da viabilização, ou sequer, do esclarecimento de tão importante notícia.
Apesar da lembrança não pretendia escrever sobre o assunto, para não misturar as coisas quando tudo parece ir tão bem em relação ao nosso primeiro parque urbano. Entretanto, na semana passada a imprensa nacional divulgou uma outra notícia dando conta que o Exército pretende fiscalizar diretamente a "fronteira andina do país", do Paraná até Roraima, para impedir a penetração dos tóxicos. Nesse caso o Comando Militar do Oeste teria importante papel a desempenhar pois sua atribuição vai de Mato Grosso do Sul até Rondónia, quase a metade da tal fronteira a ser defendida. Vencer a guerra contra as drogas talvez seja hoje o projeto nacional de maior prioridade para a população brasileira, em cujas batalhas assiste impotente à imolação de sua juventude. A entrada do Exército Nacional nessa luta é a única esperança que pode ser vislumbrada.
Tanto para o bem como para o mal Cuiabá tem localização estratégica nesse vasto campo de batalha um território marcado em seus limites pelo suor e pelo sangue de sua gente. em episódios como as defesas de Dourados e de Barão de Melgaço, da Retomada de Corumbá, ou da epopeia de Rondon. Cuiabá poderia retomar patrioticamente o assunto. dispondo-se a oferecer todas as facilidades possíveis para que o Comando Militar do Oeste reavaliasse suas conveniências e possibilidade de vir se instalar no centro do seu palco de operações. A indiferença em relação à possibilidade de instalação de um Comando Militar em nossa cidade, pode ter sido explicada por certos receios que, justificados ou não, cercavam a imagem de nossas Forças Armadas. Nestes novos tempos, deixar de abordar este assunto pode até dar a impressão de pouco caso, como se a presença de um quartel a mais ou a menos, ainda que Quartel General, não fizesse diferença alguma na vida de uma cidade como a nossa. Certamente esta impressão não é verdadeira. Se for bom para o Brasil que o Comando Militar se instale em Cuiabá, para Cuiabá e para os cuiabanos será melhor ainda.
(Publicado pelo extinto JORNAL DO DIA, em 01/10/1991)
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