José Antonio Lemos dos Santos
Embora mergulhada com todo o mundo em uma grave crise de dimensões ainda não definidas, Cuiabá, junto com Várzea Grande, vive o melhor momento de sua história, deixando de ser aquele pacato centro de um imenso vazio regional e passa a ser a metrópole polarizadora de uma das regiões mais dinâmicas do planeta. Por uma série de razões, caminha celeremente para a realização de sua vocação natural de metrópole centro-continental, encontro multimodal dos caminhos do continente sul-americano. É a tendência; se não é destino, é quase. Só não se realiza se houver algum esforço muito forte em sentido contrário.
No último dia 12, em matéria de Marcondes Maciel, o Diário de Cuiabá trouxe notícia dos prejuízos que a população dos bairros Santa Isabel, Jardim Araçá, Porto e Cristo-Rei vêm sofrendo com os constantes cortes e oscilações de energia que estão acontecendo na cidade ultimamente. Esta matéria me fez lembrar imediatamente da situação que vivíamos antes do funcionamento de Manso, do gasoduto e da Termelétrica Cuiabá I, como prefiro chamá-la. Mato Grosso dependia da energia de Cachoeira Dourada, na divisa de Goiás com Minas, que nos chegava através de uma linha de transmissão, que pela sua grande extensão - quase 800 quilômetros – expunha-se a grandes riscos em seu funcionamento, por fenômenos naturais ou não. Raios, ventanias e até sabotagens eram motivos de preocupação. “Ventou em Jataí, queimou uma geladeira aqui”, como se dizia na época.
Mato Grosso e Cuiabá pagaram muito caro por esta carência energética crônica. Muitas empresas deixaram de se instalar aqui por falta de energia, que na verdade não era bem falta de energia, e sim, um abastecimento inseguro, inconfiável e limitado. Por exemplo, os edifícios residenciais, industriais ou comerciais tinham que ter geradores próprios, um dos custos adicionais que por décadas refreavam o desenvolvimento do estado e da cidade.
Até que aconteceram Manso, o gasoduto e a termelétrica, pela visão e ação de estadista do saudoso Dante de Oliveira, que muita gente importante não entendeu até hoje, ou finge não entender. Mato Grosso, com energia abundante e segura, passou a exportador de energia, com perspectivas fantásticas de novos investimentos, como nos acenava animado o também saudoso José Epaminondas.
Incrível, a termelétrica de US$ 750 milhões está paralisada há mais de ano e com ela um gasoduto de US$ 200 milhões. Pior, nesse período não se viu qualquer reação consistente de nossas autoridades, ou da sociedade organizada cuiabana e mato-grossense. Nem do governo, nem da oposição! Não fosse o maior empreendimento privado em Mato Grosso, marcante por si só, diríamos tratar-se de uma termelétrica no longínquo planeta Marte, nada a ver com a qualidade de vida de nossa gente e as perspectivas de desenvolvimento de nossa terra, cuiabana e mato-grossense.
Também no Diário de Cuiabá, em outra matéria, de Marianna Peres, o governador disse: “Trabalhamos dentro de uma nova filosofia que é chamada 'gás social'. Não será o gás para movimentar a termelétrica e sim para os veículos e para as indústrias que já operam com esse produto.” Grave. Dispensa maiores comentários. A termelétrica vale por milhares de empregos, reais e potenciais, mil empresas, grandes ou pequenas, de norte a sul de Mato Grosso, nos distritos industriais ou nos bairros ricos e pobres de nossas cidades. Mais social, impossível.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 18/11/2008)
José Antonio Lemos dos Santos, arquiteto e urbanista, é professor universitário aposentado . Troféu "João Thimóteo"-1991-IAB/MT/ "Diploma do Mérito IAB 80 Anos"/ Troféu "O Construtor" - Sinduscon MT Ano 2000 / Arquiteto do Ano 2010 pelo CREA-MT/ Comenda do Legislativo Cuiabano 2018/ Ordem do Mérito Cuiabá 300 Anos da Câmara Municipal de Cuiabá 2019.
"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)
terça-feira, 18 de novembro de 2008
TERMELÉTRICA EM MARTE
Marcadores:
Cuiabá,
gás,
Mato Grosso,
termelétrica
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Digite aqui seu comentário.