"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 4 de maio de 2010

SERRA E MATO GROSSO

José Antonio Lemos dos Santos


     Em seu primeiro discurso como candidato à Presidência da República, José Serra abordou o colapso da logística dos transportes em Mato Grosso destacando ser hoje “mais caro transportar uma tonelada de soja de Mato Grosso ao porto de Paranaguá do que levar a mesma soja do porto brasileiro até a China. Um absurdo.” Ótimo para quem acompanha técnica e apaixonadamente há muito tempo a história de Mato Grosso e de seu acesso ferroviário, projeto central para essa redução de custos financeiros, ambientais e de vidas humanas. Não deveria surpreender o discurso do candidato pois foi visando esse problema que o governo FHC, do qual Serra fez parte, trouxe a ferrovia a Mato Grosso, desenvolvendo o visionário projeto do senador Vuolo. Mas foi extremamente alentador ouvir do próprio candidato líder nas pesquisas - em um discurso marcado pelo simbolismo de ser o primeiro - que Mato Grosso e sua logística de transportes é assunto prioritário em sua plataforma. Em especial diante do cruel, injusto e incompreensível tratamento recebido por Mato Grosso nos dois governos de Lula.
     Um dos estados de maior sucesso no país, Mato Grosso é líder nacional em rebanho bovino, soja, algodão, milho, biodiesel, o segundo em álcool, destacando-se em todos os outros segmentos do agronegócio. Nos últimos anos Mato Grosso é o maior responsável pelos superavits da balança comercial brasileira. Em troca sua ferrovia parou, as rodovias federais foram abandonadas, o aproveitamento múltiplo de Manso esquecido e as obras do aeroporto Marechal Rondon paralisadas. A super-safra de milho mais uma vez não tem armazéns. O gasoduto de US$ 250,0 milhões teve seu suprimento cortado pela Bolívia, onde nosso presidente tem enorme prestígio, interrompendo as enormes perspectivas abertas pelo gás, inclusive paralisando a termelétrica de US$ 750,0 milhões, que era a segurança energética de Mato Grosso. O maior investimento privado no estado parado há quase 3 anos! Será por essa perspectiva negativa que o PT não se oferece a governar Mato Grosso, apesar dos nomes competentes e de prestígio que dispõe?
     Escaldados que somos, temos medo de água fria. Daí o alívio com o discurso do candidato, afinal, temos ouvido tantos absurdos. Tem gente afirmando que é mais fácil ligar Lucas do Rio Verde por uma ferrovia de mais de 1000 km, sem projeto, do que por outra de 500, já em construção. Tem gente em fim de governo querendo cancelar a concessão da ferrovia no trecho até Cuiabá, assegurando que depois o governo (qual?) faz outra. E querem trocar a ferrovia por uma esteira de soja, só de ida, sem as cargas de retorno viabilizadoras da tão almejada redução do frete, e cujo destino encontra-se na Grande Cuiabá. E como aceitar o silêncio do governo estadual e, mesmo da oposição local diante de tanto descaso? Quando tinha Dante, Dante cobrava. Depois que ele se foi suas obras ficaram órfãs. Mesmo o ex-prefeito de Cuiabá, candidato ao Paiaguás, que calou-se sobre estes assuntos quando prefeito, parece continuar assim como candidato. Em artigo recente decepcionou ao ficar nas generalidades sem citar diretamente a Ferronorte, o gás, a termelétrica, o aeroporto. Certamente quer a continuidade dessas grandes obras de seu próprio partido. Mas não disse. Ou será que não quer? Mato Grosso precisa de propostas claras de todos os candidatos. Chega de truques e dissimulações. Por isso é ótimo que Mato Grosso seja prioridade clara ao menos para um dos candidatos à Presidência da República. Quem sabe assim outros candidatos ou candidatas façam o mesmo. E os candidatos daqui também.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 04/04/2010)

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