"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 12 de outubro de 2010

ARQUITETOS E ENGENHEIROS UNIDOS

ARQUITETOS E ENGENHEIROS UNIDOS

José Antonio Lemos dos Santos

Estarrecedora a notícia trazida pela paralisação dos arquitetos e engenheiros da Prefeitura de Cuiabá: são apenas 34 profissionais da área da Engenharia e a Arquitetura no quadro administrativo municipal! O número é insignificante diante da complexidade técnica de uma cidade com quase 1 milhão de habitantes, se contada, além da população residente, a população flutuante, a estudantil universitária e a de outras cidades de Mato Grosso com uma segunda residência na capital. É muito pouco para uma cidade que polariza a região que mais cresce no Brasil, uma das mais dinâmicas do planeta, e que tem a obrigação de se preparar para sediar a Copa o Pantanal daqui a menos de 4 anos.
No Brasil são raros os casos de união entre arquitetos e engenheiros como no caso atual. Pelo contrário, são duas profissões que apesar de complementares, colocam-se mais em conflito entre si do que somando esforços na defesa de condições mínimas para o desenvolvimento de suas importantes funções sociais. Enquanto isso as nossas cidades beiram o caos e matam cada vez mais – mortes tecnicamente evitáveis - por falta desses profissionais especializados na gestão edilícia e urbanística em número e condições adequadas. E nesse processo as profissões perdem cada vez mais seu antigo prestígio na sociedade. De um modo geral no Brasil assistimos as cidades em degradação pela ausência da técnica disponível no mundo inteiro, em especial do urbanismo, e, abraçadas com elas, definhando socialmente as profissões técnicas diretamente ligadas ao seu desenvolvimento.
A cidade é uma invenção humana, a maior e mais bem-sucedida de todas. Também a mais complexa. É um objeto artificial que tem que ser construído, portanto, com uma dimensão técnica inalienável. Mas, tem também a característica especialíssima de ser uma construção coletiva com muitos donos. Quem constrói uma cidade não é a prefeitura ou quaisquer governos, mas o cidadão com sua casinha, oficina, loja ou borracharia, e o cidadão é o dono coletivo da cidade. Por isso ela tem também uma dimensão política, do mesmo modo, inalienável. Assim, a construção de uma cidade é um processo técnico e político ao mesmo tempo. Não pode ser só técnica, pois cairia nas garras da tecnocracia, nem só política, pois cai no engodo da politicagem e da demagogia.
O embate entre estas duas dimensões não foi devidamente equacionado no Brasil. Os políticos tradicionais ainda veem a cidade como um butim eleitoral, uma conquista a ser negociada ao longo dos mandatos como “recompensa” pelos esforços despendidos em cada eleição. Assim a técnica e os técnicos surgem como um estorvo e não interessam. A visão política prevalece e as cidades vão literalmente para o brejo, com a população pagando o preço do caos urbano, das inundações e desmoronamentos, dos engarrafamentos e mortalidade no trânsito, da demora burocrática, da ausência do planejamento, ou quando existente, da não execução de suas leis e projetos. Os técnicos em número ínfimo e sem condições adequadas de trabalho, não conseguem corresponder às expectativas da cidadania. Aí a justeza do movimento dos engenheiros e arquitetos da prefeitura de Cuiabá em um protesto que deveria ser ouvido muito além dos nossos limites municipais. No caso cuiabano a questão é antiga. Mesmo quando da implantação do Sistema Municipal de Desenvolvimento Urbano, continuado em diversas administrações, não se avançou na estruturação de um quadro técnico compatível com as dimensões da cidade. O atual prefeito que assumiu outro dia, por ser novo na política local pode ser a chance do resgate da visão técnica da problemática urbana. Cuiabá vive agora um dos mais ricos momentos de sua história. Não pode perder está chance.

Publicado em 12/10/2010 pelo Diário de Cuiabá

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