"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 11 de janeiro de 2011

VINTE ANOS ATRÁS

José Antonio Lemos dos Santos


     Nessas arrumações de papelada velha que férias passadas em casa permitem, achei um artigo meu no desaparecido Jornal do Dia de 5 de janeiro de 1991, com um balanço do ano 1990 que findava. 20 anos separam dois mundos e a curiosidade foi inevitável. Aquele amarelecido artigo começava com as pendências deixadas por 89: ferrovia - é claro, Manso e a hoje esquecida saída para o Pacífico, via San Matias.
     Sobre a ferrovia era destacada a visita à fazenda Itamaraty do recém empossado presidente Collor. Como a fazenda era do então dono da Ferronorte e o novo ministro de Infra-Estrutura havia batizado o ano de 90 de “ano ferroviário”, havia esperança para a ferrovia com o novo governo. O artigo destacava ainda o compromisso do governador de São Paulo em construir a monumental ponte rodoferroviária sobre o rio Paraná, bem como o dispendioso encarte na revista Veja, patrocinado por Minas, Goiás e Espírito Santo, defendendo a passagem da ferrovia por seus territórios rumo ao porto de Vitória. Puxado pelo senador Vicente Vuolo, o sistema ferroviário da Ferronorte centrado em Cuiabá era então viabilíssimo e havia se transformado em um projeto nacional. Hoje querem fabricar-lhe uma inviabilidade econômica absurda.
     Sobre Manso, iniciada em 1988 e depois paralisada, o velho artigo comemorava a sua reinclusão no orçamento da União e cobrava dos políticos e demais lideranças empenho na efetivação desses recursos, o que só viria a acontecer 8 anos após, em 1998, funcionando a primeira unidade geradora no final de 2000. Mas a barragem está sub-aproveitada até hoje. Só funciona como reguladora da vazão do rio e como geradora de energia, sendo desprezados os demais aproveitamentos múltiplos para os quais foi projetada e que a compensam ambientalmente. Por que não aproveitá-la para a aqüicultura, irrigação e abastecimento de água por gravidade para Cuiabá e Várzea Grande? Quanto à saída para o Pacífico, só informava que a estrada avançava tanto no Brasil quanto na Bolívia sem se consolidar como um projeto internacional oficial e comemorava as viagens a San Matias que começavam a ficar comuns em 1990. E assim ficou até hoje. Pior, perdemos essa saída para o Pacífico para o Acre, para Mato Grosso do Sul e para os diversos tipos de tráficos.
     Sobre outros assuntos, comemorava a licença ambiental para a fábrica da Antártica, hoje a magnífica AMBEV, depois de uma longa novela que quase tirou a fábrica daqui. E reclamava: “Um estado que precisa de empregos e renda deve preparar-se para respostas mais rápidas e precisas na área do meio ambiente, principalmente a respeito de indústrias alimentícias e outros tipos de agroindústrias de impactos ambientais relativamente baixos. Se não pudermos ter esse tipo de indústria, que outro tipo de industrialização nos restaria?”
     Eram destaques as novas Leis Orgânicas de Cuiabá e Várzea Grande e a implantação do IPDU, cuja revitalização é esperada com a reforma administrativa do prefeito Chico Galindo. Saudava também as imagens da TV Educativa emitidas pela UFMT, reclamando o “absurdo” de não termos até então acesso às redes Manchete e SBT. O artigo realçava ainda a segunda vinda da seleção brasileira – só possíveis porque Cuiabá tinha um estádio para mais de 40 mil espectadores, a afirmação do hoje sumido Muxirum Cuiabano como o grande movimento cultural local, e Liu Arruda, com sua arte autêntica, criando tipos extraordinários. Encerra com a notícia da vinda do Papa João Paulo II a Cuiabá no ano seguinte, aquela que considera a mais importante notícia do ano de 1990.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 11/01/2011)

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