"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 13 de dezembro de 2011

UM BALANÇO NA COPA

José Antonio Lemos dos Santos


     Um balanço rápido sobre a preparação da Copa do Pantanal e as perspectivas de legado para Cuiabá e o estado, mostra que até agora a grande resposta positiva tem vindo da iniciativa privada. Dentre seus maiores empreendimentos, destacam-se o setor hoteleiro com 15 torres (até o momento) e um sofisticado resort de R$ 63,0 milhões no Lago de Manso, a indústria imobiliária com quase 100 projetos de grande porte, muitos com várias torres, o setor comercial com o Shopping Goiabeiras triplicando sua área, em um investimento de R$ 85,0 milhões e no setor industrial a fábrica de cimento de R$ 390,0 milhões no Aguaçu. Trata-se de um considerável aporte de recursos em um curto prazo. Viriam nesse volume sem a Copa? Acho que não tão cedo. E seria mais com alguma campanha oficial externa para atração de investimentos.
     Entretanto, a situação é alarmante quanto às intervenções de responsabilidade dos governos. Bem verdade que existem pontos positivos, como o andamento das obras da Arena Multiuso, o recapeamento asfáltico da cidade e a duplicação da ponte e avenida Mário Andreazza. Porém é quase só e chega ao absurdo quanto ao aeroporto e a mobilidade urbana. Com a Arena, são os três projetos fundamentais para a Copa acontecer. Até hoje a Infraero não apresentou o projeto básico da nova estação, prometido primeiro para junho, depois para setembro, depois para dezembro e agora para março do ano que vem. Seria fruto do pouco caso com que a Infraero sempre tratou Cuiabá ou o atraso na conclusão do projeto do VLT estaria atrasando a Infraero? Como a data da Copa não muda, creio que o aeroporto chegou ao limite de alerta máximo, mesmo considerando a obra em três turnos.
     Quanto à mobilidade, depende muito da conclusão do projeto do VLT que também não veio à luz até agora. Já manifestei minha curiosidade técnica pela solução da integração de mais de 40 mil passageiros na Prainha sem as desapropriações no Morro da Luz. A conclusão do projeto do novo modal é também determinante para a geometria das avenidas por onde passa, que são as vias estruturais da cidade, logo, as mais importantes no contexto da mobilidade. Já as demais vias estruturais fora do trajeto do VLT chegaram a ter suas licitações suspensas pelo DNIT por motivos risíveis que mais pareciam desculpas para não fazer. Felizmente o bom senso prevaleceu e o governador assinou na semana passada um convênio de R$ 165,0 milhões com o órgão federal para as obras. Ainda bem, mesmo que o cronograma de obras tenha sido empurrado desnecessariamente para os limites da viabilidade construtiva, considerado um regime de três turnos. Ainda assim, viva!
     O Dutrinha é emblemático neste quadro. Desde a demolição do Verdão foi prometida sua adaptação para voltar a ser provisoriamente o único estádio da Grande Cuiabá nas competições estaduais e nacionais. Pois bem, passaram os campeonatos do ano e o Cuiabá, sozinho, classificou-se brilhantemente para série “C” mas ainda não tem onde jogar. Pintaram os muros, derrubaram a única árvore lá existente e a prefeitura comprou o estádio como condição legal para os investimentos do estado. Porém nada de adaptação de fato. Parece que na preparação da festa máxima do futebol mundial, o futebol local foi esquecido.
     São gigantes os desafios que Mato Grosso e o Brasil assumiram ao pleitearem a Copa. Sem abrir mão das críticas, resta torcer para que se realize no tempo que sobra o máximo que a Copa oportunizou, de forma limpa, bem feita e pensando no legado para o povo. No mais, a Copa expõe ao próprio país e ao mundo as entranhas de uma estrutura político-administrativa enrolada, perdulária e incompetente, que precisa ser totalmente reconstruída. Este, o maior legado até agora.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 13/12/2011)

2 comentários:

  1. Análise muito coerente, especialmente na conclusão final. Se o legado da Copa for expôr a incompetência dos governos, em todas as esferas administrativas, já terá valido a pena a vergonha mundial que parece se aproximar.
    Só acho que, apesar de positiva, a resposta da iniciativa privada tende a beneficiar uma parcela muito pequena da população e responde somente a interesses mercadológicos, o que, numa cidade sem o mínimo de planejamento (pelo menos no campo da aplicação) pode vir a ser desastroso.
    É esperar (mais ainda...) pra ver.

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  2. Muito bom o artigo, vou reforçar um pouco, tudo isso que esta acontecendo, vem mostrar o qto não não existe entre os políticos e administradores do estado, um compromisso com o desenvolvimento da nação como um todo, e sim o interesse pessoal e de grupos parasitas, nos deixando a beira de uma situação ridícula diante do mundo, a única vez que a nossa cidade estará em evidência a nivel global, corremos um grande risco de passarmos a ser um grande mico a nível mundial.

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