"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



quarta-feira, 8 de abril de 2015

CUIABÁ 300-4

brasilcidade.com.br

José Antonio Lemos dos Santos

     Desde o anúncio da sede da Copa em Cuiabá tenho repetido cada vez mais convicto que esse grande evento foi um artifício do Senhor Bom Jesus para um choque em nós cuiabanos fazendo-nos entender os novos tempos que a cidade vive e, assim, prepará-la condignamente para o seu Tricentenário. Com a Copa Cuiabá voltaria os olhos para o futuro, discutindo projetos e melhorias em seus padrões urbanísticos. Minha grande expectativa de legado da Copa era que uma vez forçada a voltar-se para o futuro e concluídas as obras Cuiabá permanecesse para sempre nessa postura, emendando de imediato com uma nova matriz de projetos, compromissada agora não mais com a FIFA, mas com o tricentenário, compromissos do cuiabano com sua cidade, do mato-grossense com sua capital, do Brasil com a cidade baluarte da expansão ocidental de seu território. Que nada! Passada a Copa, o futuro sumiu de novo de nossa frente atolados que ficamos em obras importantes, mas inconclusas, mal feitas, suspeitas de corrupção, que precisam, é claro, ser concluídas, corrigidas, inclusive, com a punição dos que erraram tecnicamente ou que tenham se aproveitado indevidamente desta oportunidade histórica de investimentos para a cidade. E - por que não? – também aplaudir os que, limpos, conseguiram fazer muita coisa que hoje já ajuda a cidade, apesar das imensas dificuldades técnicas, burocráticas e políticas. 
     Neste 8 de abril de 2015 comemoramos os 296 anos de Cuiabá, a apenas 4 anos de seu tricentésimo aniversário. Aprendemos com a Copa, ou devíamos ter aprendido, que 5 anos é prazo curto para intervenções significativas na cidade, ainda que pontuais. 4 anos é menos ainda. Meu temor é que só na véspera da festa nos preocupemos com ela, sem ter então como fugir da ideia de um bolo de trezentos metros ou quilos lambuzando o Jardim Alencastro e dos indefectíveis concursos para logotipo, garota, samba, rasqueado ou lambadão, para símbolos daquela que deve ser a grande data de Cuiabá no século.
     Comemorar os 296 anos é exaltar uma cidade que nasceu entre as pepitas de um corguinho com muito ouro, tanto que era chamado pelos nativos de Ikuiebo, Córrego das Estrelas, que desembocava em um belo rio em meio a grandes pedras chamadas Ikuiapá, lugar onde se pesca com flecha-arpão em bororo. A cidade floresceu bonita, célula-mater do Oeste brasileiro, raiz de tudo neste “ocidente do imenso Brasil”, mãe de cidades e Estados. Por quase três séculos sobreviveu a duras penas, período heroico que forjou uma gente corajosa e sofrida, mas alegre e hospitaleira, criadora de um dos mais ricos patrimônios culturais do Brasil e com proezas que merecem melhor tratamento da história oficial brasileira. Como um astronauta moderno, vanguarda humana na imensidão do espaço, ligado à nave só por um cordão prateado, assim Cuiabá sobreviveu por séculos, solta na vastidão centro-continental, ligada à civilização apenas pelo cordão platino dos rios Cuiabá e Paraguai. 
     Próxima de completar seus 3 séculos de existência, Cuiabá polariza hoje uma das regiões mais produtivas do planeta que ajudou a ocupar e desenvolver, esta que agora a empurra para cima demandando serviços de sofisticação crescente em sadio processo de simbiose regional. Aos 296 anos, Cuiabá vibra em dinamismo, globalizada e provinciana, festeira e trabalhadora. Com gente nova e competente no assunto na prefeitura e Estado, nos 4 anos restantes talvez ainda dê para ao menos revitalizar seu centro histórico, presenteando a cidade com seu velho coração totalmente remoçado e pulsante na metrópole que se firma cada vez mais bela no coração continental, buscando também ser cada vez mais justa, democrática e sustentável. Mas tem que ser já. Viva Cuiabá! 
(Publicado em 07/04/2015 pelo Diário de Cuiabá e Midianews, informativos CAU/MT e UNIC)
COMENTÁRIOS:
No Midianews:
"Elias Neves  07.04.15 17h48
No apogeu das obras o "nobre" professor José Antônio sempre parabenizava os eficientes projetos e a condução das obras. Resumindo: poupe-me pelos seus cabelos brancos."

"José Maria  07.04.15 16h21
Parabéns ao José Lemos por mais uma bela narrativa. Particularmente, acho que não temos o que comemorar nos 296 anos de aniversário desta cidade que tantos amamos, uma vez que várias oportunidades foram desperdiçadas com a Copa do mundo. Espero que ao menos no aniversário de 300 anos tenhamos muitas coisas a se comemorar, não apenas no aspecto urbanístico, mobilidade urbana, mas principalmente em saúde, segurança, educação."
"marcos  07.04.15 22h43
Prezado amigo.Continue a apresentar sua idéias, as quais considero necessárias na falta de presença de outros articulistas cuiabanos.Na verdade não temos um projeto para Cuiabá, que possamos chamar de nosso.Os críticos de primeira hora são os mesmos.Não tem a visão de futuro que precisamos para nossa cidade.Para que isto aconteça necessitamos de mentes preparadas e motivadas, como a sua. Do amigo Marcos Vinícius"

Um comentário:

  1. Caro José Antonio, embora com atraso quero parabenizá-lo pela sua sincera crítica ao que precisava ser criticado e, ao mesmo tempo com espírito de justiça, elogiar o que merece ser elogiado; este equilíbrio em seu julgamento demonstra sua isenção a partidarismos. Também ponho em relevo a belíssima comparação: "Como um astronauta moderno, vanguarda humana na imensidão do espaço, ligado à nave só por um cordão prateado, assim Cuiabá sobreviveu por séculos, solta na vastidão centro-continental, ligada à civilização apenas pelo cordão platino dos rios Cuiabá e Paraguai". Parabéns, José Antonio! Bola pra frente na busca das melhorias para a sua cidade natal!

    ResponderExcluir

Digite aqui seu comentário.