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José Antonio Lemos dos Santos
Stanley Kubrick em “2001,
uma odisseia no espaço” nos mostra numa das mais belas cenas do cinema o
alvorecer da humanidade com o homem criando seu primeiro invento, que teria
sido uma arma adaptada do osso de uma anta. Desde então o homem não parou de
aperfeiçoá-las. Da borduna do osso da anta chegamos aos mísseis nucleares e
outras invenções fantásticas destinadas a dobrar o adversário com a violência e
a morte. O século XXI, porém, nos reservou a mais poderosa e cruel de todas elas,
inimaginável à mais delirante ficção científica. Age sem explodir e sem
destruir bens materiais, mas acaba com a vida humana de forma atroz, não sem
antes espalhar seus malefícios ao maior número possível de vítimas e ceifando
com elas as bases éticas, morais e institucionais de qualquer sociedade. O país
fica oco de valores, dignidade e cidadania, pronto para ser dominado.
A droga é esta mais poderosa arma de
destruição e é a maior ameaça a um povo ou país. Ela penetra as estruturas
sociais e atua de dentro para fora como um forno micro-ondas. E o Brasil vem
sendo sistematicamente bombardeado por essa poderosa arma. Há alguns anos o
Fantástico mostrou que o território de Mato Grosso é a principal plataforma de
disseminação pelo país dessa arma letal que sangra o Brasil, fato que se confirma
com frequência pela imprensa. O tráfico internacional se utiliza da fronteira
mato-grossense para o arremesso em propriedades rurais de fardos com drogas,
lançados por pequenas aeronaves em voos que escapam aos radares que fazem a
segurança do espaço aéreo nacional. Vez por outra temos notícias de apreensões
deste tipo. E quantas remessas não são detectadas? Há décadas discute-se o
assunto em Mato Grosso, inclusive abordando a ideia da criação de uma Base
Aérea em Cáceres utilizando a pista de pouso asfaltada ali existente e ociosa,
e na semana passada em Goiânia o governador Pedro Taques cobrou da União
medidas efetivas para assegurar a necessária segurança na nossa fronteira. E tem
que cobrar mesmo, afinal nossas cidades estão diretamente expostas a este violento
bombardeio.
Jamais será suficientemente enaltecido o
trabalho realizado com todas as dificuldades e riscos pelas polícias militar e
civil do estado, polícia federal, polícias rodoviárias federal e estadual, e
pelo Exército, em ações terrestres. Mas, na questão do controle de nossa
fronteira é indispensável considerar a importância do espaço aéreo. Por mais
zelosas que sejam as ações em terra, dificilmente alcançarão êxito sem um apoio
ostensivo aéreo, com aviões de verdade, portadores do intimidador e vitorioso
emblema da gloriosa Força Aérea Brasileira. Mato Grosso é um dos únicos estados
brasileiros a não ter uma Base Aérea, apesar de uma complicada fronteira de
1100 quilômetros. Mato Grosso do Sul tem e Rondônia também tem. Fica uma brecha
de vulnerabilidade na segurança aérea nacional, justamente na fronteira de Mato
Grosso, por onde o país vem sendo bombardeado. Por que Mato Grosso não tem uma
Base Aérea até hoje?
Cáceres tem posição estratégica para uma Base Aérea, a
montante do Pantanal, equidistante das bases do Mato Grosso do Sul e de
Rondônia, e com uma pista ociosa capaz de receber Boeings. Ao leigo parece bastar
alguns helicópteros, alguns Tucanos ou outra aeronave leve baseados na área para
se mostrarem presentes e em constante vigilância, rápidas o suficiente para
interceptar os teco-tecos que tanto mal vem fazendo ao país, em especial a
Cáceres e à Grande Cuiabá. Não se pode pensar em qualidade de vida urbana para
os cidadãos brasileiros, para Mato Grosso e para Cuiabá, às vésperas de seu Tricentenário,
sem pensar na segurança que começa lá na fronteira.
(Publicado em 28/09/15 pelo Página do Enock, em 29/09/15 pelo Midianews e Jornal Oeste, ...)
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