"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



quinta-feira, 21 de abril de 2016

TIRADENTES, UM HERÓI NECESSÁRIO

José Antonio Lemos dos Santos

esquadraodoconhecimento.wordpress.com
Quadro de Pedro Américo - 1893

     Não tivesse existido, seria necessário inventá-lo, Tiradentes um herói absolutamente necessário nos dias de hoje. No mesmo mês em que é homenageado, encerra-se também o prazo para os brasileiros entregarem suas declarações do Imposto de Rende e recolherem aos cofres públicos o saldo ainda devedor eventualmente apurado. Pode ser que esta coincidência seja apenas mais uma daquelas finas ironias com que a história vez por outra desafia nosso poder de reflexão. Aproveitemos. 

     Tiradentes morreu porque conspirou contra o Quinto cobrado pela Coroa Portuguesa e que significava 20% do que ouro produzido! Por essa causa rebelou-se contra a Coroa, propôs a independência do Brasil, e foi traído, enforcado, com seu corpo esquartejado. Seus restos foram exibidos em diversos pontos bem visíveis pelo povo, e sua cabeça exposta na praça pública de Vila Rica. Em 2015, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), o brasileiro arcou com uma carga tributária média de 41,37%. Trocando em miúdos isso significa que de tudo o que produzimos, entregamos, em média, mais de 41% para os governos, isto é, para os governos federal, estaduais e municipais somente para manter uma máquina político-administrativa perdulária, improdutiva e que se mostra cada vez mais voraz e cada vez mais corrupta. Traduzindo em dias trabalhados, o brasileiro teve que trabalhar 151 dias em 2015, até o dia 31 de maio, o mesmo que em 2014 exclusivamente para alimentar a sanha dos governos, inclusos Executivo, Legislativo e Judiciário. Em média! Tem gente que paga muito mais. Durante cinco meses tivemos o povo, patrões, empregados e autônomos “carregando pedras feito penitentes, erguendo estranhas catedrais”, como já cantou um dia o Chico Buarque dos bons tempos. 
     Não se trata de atacar este ou aquele governo. A voracidade fiscal vem de muito tempo. Em 1947, quando tínhamos o cuiabano Eurico Gaspar Dutra como Presidente, a mordida do governo ficava em 13,8% do PIB e em 1962 era 15,8%, tendo chegado aos “insuportáveis” 18,7% em 1957, quando da construção de Brasília. Em 1992 já girava em torno dos 26% e de lá para cá disparou, chegando em 1994 aos 29,8%, 35,84% em 2002 e para mais de 41% no ano passado. Quanto será este ano? Governar assim é fácil, principalmente quando não se tem a menor preocupação em oferecer a infraestrutura e os serviços públicos de qualidade em troca de tão generosa contribuição. Só que agora a situação é pior. Não bastasse a expropriação voraz do produto do trabalho brasileiro hoje ela vem com as confissões cínicas de roubos por parte de bandidos, elevados à condição de “heróis da pátria” que somos obrigados, impotentes e envergonhados, a engolir cotidianamente em nossas salas diante de nossos filhos e netos. Até onde vamos? 
     Tiradentes virou herói nacional com a República. Mas sua imagem também foi sendo pouco a pouco adaptada aos interesses do poder. Virou o herói da Liberdade, da Independência e da Democracia, sem referência à sua principal luta, contra a opressão fiscal a que era submetido o povo brasileiro pelo governo da época. Transformaram-no em um herói aceitável, cooptado com suas marquetadas barbas longas como as de um profeta e sua túnica angelicalmente alva como se fosse um daqueles doces e meigos santinhos de papel. 
     Tiradentes, patrono dos nossos valorosos policiais militares é um herói atualíssimo que precisa ser resgatado na essência de sua mais importante luta. Quem dera sua figura inspirasse um pouco de bravura aos seus conterrâneos, impelindo-os a exigir que a coisa pública seja um dia tratada, não como um butim apropriado por uma minoria, mas com o devido respeito republicano, em favor de todo o povo brasileiro. 

(Publicado em 20/04/16 pelo Jornal Oeste, de Cáceres e pela Página do Enock, e em 21/04/16 pelo Diário de Cuiabá e pelos sites Midianews, Hipernotícias,...)



Comentário por e-mail:
"Parabéns Dr. José Antonio pelo excelente artigo. Bem apropriado pelos dias atuais. Abs 
​Cleber" (Em 21/04/2016).

Comentário no site Hipernotícias:
"Carlos Nunes - 21/04/2016
Na verdade no Brasil só tem um herói nacional, o Tiradentes - quando foi preso assumiu toda a culpa sobre si mesmo, dizendo que os companheiros eram inocentes, só ele era culpado; por causa disso foi enforcado, esquartejado, e seu corpo espalhado em partes pelo Rio de Janeiro; sua casa foi demolida e no terreno foi espalhado uma substância para que nunca nascesse nada. Alguns historiadores dizem que algum tempo depois, chegou uma carta da rainha de Portugal, dando-lhe o perdão, chegou tarde demais. Comparando o Tiradentes com os personagens de hoje, vê-se um tremendo contraste, uma inversão de valores tremenda...os que são pegos, até com dinheiro na cueca, juram que são inocentes, que não sabem de nada, o não fui eu, não tem nenhuma prova contra mim, o nunca roubei nada...são as desculpas de hoje. E todo dia aparece mais um delator premiado que aponta: esse recebeu propina também. Aquela coragem do Tiradentes parece que sumiu do Brasil."

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Um comentário:

  1. Infelizmente estamos vivendo e vendo um 'Reality Show' todos os dias, em todos os meios de comunicação, pelos políticos nacionais e regionais. Um show de horror, ao vivo e a cores!
    A vergonha, a moral, integridade e princípios já não existem mais, o que vale é quem vai levar a melhor, quem vai roubar melhor!
    Aos olhos do mundo em 360˚graus, vigilantes globalmente, somos um saco de piada!
    Viva Tirantes!!!
    Viva 21 de Abril!
    Viva nosso ativista militante político de 1780!

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