José Antonio Lemos dos Santos
Meu artigo da semana passada sobre as ferrovias transoceânicas teve o privilégio de conviver com uma sequência de 3 importantes e oportunos artigos de Onofre Ribeiro abordando o mesmo tema, publicados em diversas mídias de Mato Grosso. Com a habitual competência, o estimado articulista descreve em linhas gerais o que é o projeto dos chineses para a ferrovia ligando o litoral do Rio de Janeiro ao litoral do Peru, passando por Lucas do Rio Verde, para em seguida descrever os cenários extraordinários que se descortinam com os trilhos propostos a levar grãos para China e trazer para o Brasil “produtos chineses, tratores, máquinas, fertilizantes, químicos, elétricos e eletrônicos”. Diz ainda que a expectativa é que sua construção dure 6 anos, “depois que começar”.
Onofre Ribeiro prevê ainda que um novo mundo se descortinará com profundas transformações para Mato Grosso e para o Brasil. Do alto de seu conhecimento de Mato Grosso acrescenta tratar-se de “uma imensa engenharia geopolítica, econômica e um novo posicionamento no poder político mundial”, com o qual “os EUA e União Europeia não concordarão de mansinho. Vão reagir e nos veremos aqui no Centro-Oeste brasileiro envolvidos numa guerra de interesses internacionais”, o que me soou como um alerta muito procedente aos mato-grossenses.
Ou seja, nós metidos em uma grande guerra estratégica, conforme o título dos artigos. E tomo a liberdade de acrescentar: mundial; acrescentando mais ainda: com a qual nada temos a ver. A vocação de Mato Grosso é produzir e alimentar o mundo com sustentabilidade e segurança ambiental crescentes. Sua redenção é conectar-se ao planeta por diferentes vias de informações, cargas e pessoas. Mato Grosso precisa de trilhos, hidrovias, aerovias, infovias para se ligar ao mundo com rapidez, segurança e modernidade, compatíveis com a alta tecnologia e produtividade do trabalho de sua gente. Mato Grosso é o maior produtor agropecuário do Brasil, dando-se ao luxo de não precisar derrubar uma só árvore para dobrar sua produção. Maior criador de gado no Brasil, tem suas perspectivas ampliadas com a recente abertura dos EUA para a carne brasileira. É fantástica a sinergia das condições naturais de seu território com a coragem empreendedora e dedicação ao trabalho de sua gente que por anos garante significativos superávits à balança comercial brasileira.
Contudo o mato-grossense encontra-se encalacrado em um trágico quadro logístico nos transportes que traz enormes prejuízos financeiros aos produtores, degrada o meio ambiente e ceifa vidas. Mato Grosso precisa para já da ferrovia chegando à sua grande zona produtora no médio-norte, urgente e não para quando forem resolvidas questões da geopolítica mundial sobre as quais não tem o menor controle. Lucas Do Rio Verde encontra-se a 560 km do maior terminal ferroviário da América Latina, em Rondonópolis, passando por Nova Mutum e Cuiabá em área já antropizada. Por que priorizar Goiás a 1.200 km, com araguaias e xingus a vencer, e ainda aguardar estratégias internacionais de desenlaces imprevisíveis? Só para não passar por Cuiabá, isolando-a, como querem alguns? Trecho importante do projeto chinês, a FICO surgiu com a justificativa de dar escoamento por um futuro porto em Ilhéus na Bahia, fugindo dos portos do Sudeste supostamente congestionados. Mas agora, surpresa, a transoceânica chinesa vai para o Rio de Janeiro! Ora, assim, a saída por Rondonópolis deveria voltar a ser a prioridade máxima. Quando forem resolvidas suas questões internacionais, que sejam bem-vindas a FICO, os chineses e sua transoceânica. Mas, não dá para ficar esperando.
(Publicado em 03/08/2016 pela Página do Enock, HiperNotícias, em 04/08/16 pelo Diário de Cuiabá, Midianews, CAU-MT...)
Comentários
No MIDIANEWS:
Pedro Correa 04.08.16 19h31 | ||
"Só para não passar por Cuiabá, isolando-a, como querem alguns? Energúmenos, é claro, imagine um dos maiores polos consumidores, nas cercanias da dita ferrovia ficar de fora de seu traçado."
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Ze, espero que isto seja entregue de fato aos chineses. Se a norte sul tivesse sido uma ppp já estaria funcionando há 10 anos e dando emprego para um monte de gente
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