"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

DIFERENCIAL HISTÓRICO DE CUIABÁ

Foto José Lemos
José Antonio Lemos dos Santos
     As melhores cidades do mundo aprenderam faz tempo que o patrimônio histórico urbano não é uma carga inútil ou um sacrifício. Ao contrário, ensinam tratar-se de enorme riqueza e que seu aproveitamento sustentável é seguramente um investimento com enorme potencial de retorno financeiro pelo incremento turístico e de outras atividades produtivas na área beneficiada, ou em termos de empregos, renda, merchandising urbano e elevação da autoestima da população. Esta lição vale para qualquer cidade, pois todas têm o que mostrar, contar e encantar aos seus visitantes. É claro que estes benefícios variarão conforme a importância do patrimônio considerado e seu poder de atração, as facilidades de acesso e as possibilidades de combinação com outras atrações otimizando o investimento do turista.
      O centro histórico de Cuiabá tem um significado que transcende a história local, pois a cidade que nasceu do ouro como tantas outras, foi também a ocupação portuguesa mais a oeste da linha de Tordesilhas, em terras então espanholas, quando este Tratado era rediscutido visando a redefinição dos limites da ocupação continental entre portugueses e espanhóis. Prevaleceu então o direito pela posse, o “Uti Possidetis”, e Cuiabá nessa discussão passa desde cedo a ter uma função estratégica para a Coroa Portuguesa na ocupação da hinterlândia continental que veio posteriormente a se consolidar como território brasileiro. Mais que a história de uma cidade, a história de Cuiabá se confunde com a história do oeste brasileiro, aspecto ainda pouco reconhecido pela história oficial brasileira. Com base neste papel transcendental, Dom Aquino chamou Cuiabá de “Celula Mater”, a célula mãe que está na origem de 3 estados e praticamente todos seus municípios, peça chave na ocupação, defesa, promoção e suporte para esta imensa região que hoje se apresenta como uma das mais dinâmicas no mundo. Este grande diferencial está registrado na fisionomia atual da cidade, ainda que seus traços mais antigos estejam desaparecendo.
     Mas o cuiabano histórico, além da fibra, valentia, alegria e hospitalidade que sempre o caracterizaram, ele é também um personagem simples, pacato e de extrema boa-fé, incapaz de reconhecer seus próprios méritos e virtudes. Assim quando se comemora o aniversário da cidade, de fato deveríamos estar comemorando em conjunto o aniversário do oeste brasileiro. Mas, agora de quê? Ao tratar seu patrimônio histórico o cuiabano deveria estar tratando de um registro cultural pertencente também ao Brasil. Aliás, que outro motivo levaria o Centro Histórico de Cuiabá ao tombamento pelo Patrimônio Histórico Nacional? 
     O Centro Histórico de Cuiabá merece tratamento à altura de seu significado diferenciado, postura que deve fundamentar a busca pelas devidas parcerias com o governo federal, também com grande responsabilidade no assunto. Debaixo de um sol inigualável no exato centro geodésico da América do Sul, à beira do Pantanal, próxima à Chapada dos Guimarães, Nobres, termas de São Vicente, das belezas amazônicas e do cerrado, e mesmo das plantações high-tech com suas floradas dos girassóis e algodoais, Cuiabá não pode abrir mão de seu patrimônio histórico urbano enlaçando um extraordinário pacote turístico para Mato Grosso como poderosa ferramenta para seu desenvolvimento e do estado. Porém uma empreitada como esta exige firme convergência de interesses das lideranças políticas e empresariais, da sociedade civil organizada e das autoridades governamentais em todos os poderes e instâncias. Em suma, união e vontade política, recursos indispensáveis, mas que infelizmente se mostraram escassos nestas décadas em que o assunto tem sido tratado. 

Um comentário:

  1. Prezado professor. Extraviei seu e-mail, mas eu havia salvo o texto que me enviou "Ruínas do Centro Histórico". Publiquei há poucos minutos no meu blog. Abraço!

    ResponderExcluir

Digite aqui seu comentário.