"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



segunda-feira, 15 de abril de 2019

O MILAGRE DO TRICENTENÁRIO

Foto José Lemos
José Antonio Lemos dos Santos
     As comemorações do Tricentenário de Cuiabá me preocuparam por muito tempo, em especial nos últimos 10 anos, período em que publiquei artigos a cada aniversário da cidade simulando uma contagem regressiva anual, tendo começado em 2009 com o título “Cuiabá 300-10”. A ideia era lembrar sempre o prazo decrescente que os cuiabanos e principalmente suas autoridades dispunham para a preparação de uma festa digna da efeméride. Aliás, tenho insistido em grafar Tricentenário com “T” maiúsculo, justamente para distinguir a efeméride dos aniversários anuais comuns.
     Para este ano, o ano da festa, minha programação era na semana anterior ao aniversário escrever homenageando a cidade e sua história, e na semana seguinte em outro artigo comentar sobre as comemorações de tão importante data. O primeiro foi bem. É muito fácil e prazeroso falar sobre Cuiabá. O segundo, sobre as comemorações, preferi deletar e não compartilhar minha frustração. Passei a semana sem artigo.
     Após alguns dias, cabeça fria, me veio à memória a emocionante entrada triunfal do Senhor Bom Jesus de Cuiabá em sua Catedral, após bela e fervorosa procissão ecumênica que iniciou fluvial subindo o rio de Bonsucesso até o Porto e de lá a pé até o Centro da cidade, para mim a maior, mais autêntica e expressiva manifestação coletiva de amor e carinho pela cidade em seu tricentésimo aniversário. Lembrei então ter atribuído a alguns anos atrás ao nosso santo padroeiro a invenção da Copa do Mundo em Cuiabá como um artifício para sacudir a nós cuiabanos, natos ou não, com vistas à preparação de sua cidade para o seu Tricentenário, com 10 anos de antecedência.
     A princípio este pensamento foi meio sério, meio brincando. E pelo tamanho da antecedência da imaginada providência divina, 10 anos, já se podia pensar que o Bom Jesus não queria coisa pouca para a festa de sua cidade. Nessa alegoria da imaginação deu até para vislumbrar um cronograma que teria uma etapa de 2009 a 2014 só com as obras da matriz da Copa, e outra de 2014 a 2019, focada em uma matriz especial de obras para o Tricentenário, tocadas já com a experiência adquirida na primeira etapa.
     Qual o que! Hoje percebo que com a Copa do Mundo o nosso Bom Jesus de Cuiabá estava dando de presente à sua cidade a oportunidade de uma grande transformação urbanística para patamares bem superiores, o único realmente digno da grande data. A projeção nacional e internacional que a cidade ganhou, e as grandes obras, não só as públicas, mas em especial os investimentos privados que vieram junto e que geralmente são esquecidos quando avaliamos o legado daquele grande evento internacional, esse o maior presente que a cidade recebeu. Após presenciar a entrada solene do Bom Jesus em sua Catedral na noite do dia 8 de abril de 2019 entendi a inesperada e não sonhada Copa do Mundo como um verdadeiro milagre. Um milagre como o da própria miraculosa sobrevivência da cidade em seus primeiros tempos.
     “Não lanceis aos porcos as vossas pérolas, para que não as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem.” E assim foi, como previsto no Evangelho. Após o sucesso, desconstruímos a Copa e demonizamos suas obras, que estão aí ajudando a cidade na fábrica de cimento, torres hoteleiras, shoppings, aeroporto, trincheiras e viadutos, Mário Andreazza, Guarita e na belíssima Arena dentre tantas melhorias, mesmo que respingadas ou até afogadas na lama da chafurdação. Só a bondade divina pode explicar o fato de nos ter ensinado a não lançá-las aos porcos e mesmo assim ter nos presenteado com pérolas. Hoje só a mesma bondade divina permitiria nos redimir e resgatá-las republicanamente. 

4 comentários:

  1. Parabéns, Zė por sua índole, seu ponto de vista. Perfeito!

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  2. Legado da copa: Milagre a ser contemplado e respeitado em Cuiabá ou fora. Assisti a santa missa na Igreja N.Sra da Penha, Complexo do Alemão, entrei no BRT, passei para o VLT, depois para metrô até a Barra da Tijuca no ar condicionado. Querida Copa.

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  3. Hoje estou com cabeça para atentar aos comentários dirigidos. Parabéns!

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