"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



quarta-feira, 20 de julho de 2016

DESCONSTRUÇÕES

José Antonio Lemos dos Santos
Hospital Central - Cuiabá olhardireto.com.br

     Na arquitetura “desconstrução” é o método de projetar a partir da desmontagem de um objeto para depois remontá-lo melhor do que antes, questionando a existência de cada peça, indagando sempre se não poderia ser diferente antes de reposicioná-la. Embora leigo em Política permaneço o animal político aristotélico vivendo seus benefícios e malefícios, tendo que conviver com ela e suas inovações, e uma dessas foi a absorção da expressão “desconstrução”. Só que seu uso na política não é para reconstruir melhor, mas para destruir.
     Observei a expressão pela primeira vez nas últimas eleições presidenciais com a candidatura nascida forte de Marina Silva, mas que logo esboroou após sofrer de seus adversários um competente processo de “desconstrução política”. Matutando sobre o assunto indaguei se essa prática não seria antiga apenas travestida com um novo nome. Lembro de Dutra, cuiabano, eleito presidente pelo antigo PSD, mas derrotado em sua terra onde a UDN era muito forte, tão forte que concluiu sua vitória local apagando a figura do ilustre presidente da memória da maioria dos cuiabanos a ponto de até hoje Cuiabá não ter uma avenida de destaque denominada “Presidente Dutra”, mas tem a “Rua Brigadeiro Eduardo Gomes” em homenagem ao derrotado por ele no país. Ainda entre nós, tem a figura do grande líder empresarial e político do século passado Totó Paes que também “foi sumido” de nossa história.
     Mas é nas obras onde mais se pode constatar o cruel maquiavelismo chamado hoje de “desconstrução”. Desde o tempo dos meus avós é muito comum as pessoas reclamarem dos governantes abandonarem as obras de seus antecessores. Por exemplo, o projeto do complexo do CPA foi descontinuado deixando inclusive sua importante Avenida inconclusa a 700 metros de se ligar à Avenida da Prainha. Na mesma época tivemos o belíssimo Projeto Cura até hoje semiabandonado. As ruínas daquele que seria o Hospital Central do Estado também estão aí, eloquentes.
Ginásio da Lixeira- Cuiabá cuiaba.mt.gov.br

     Para encurtar lembro que o governador Dante talvez tenha sido o que teve mais projetos desconstruídos ou abandonados: a ferrovia transoceânica da FERRONORTE que depois de trazida por ele até Mato Grosso ficou parada por muito tempo e enfim levada até Rondonópolis e ali trocada pela transoceânica da FICO, embora esta seja no mínimo 640 Km mais longa; o complexo Gasoduto-Termelétrica de U$ 1,0 bilhão de dólares, do qual ficou a Termelétrica, já que o gasoduto foi completamente desmoralizado, quando deveria ser instrumento para a verticalização da economia mato-grossense tendo como base a Baixada-Cuiabana; a APM de Manso, que a grande maioria de nossas autoridades sequer sabe que APM significa Aproveitamento Múltiplo de Manso, envolvendo segurança contra inundações urbanas, regularização da vazão do rio, irrigação rural e abastecimento de água para toda a Baixada, piscicultura, turismo, além da geração de energia; o Porto-Seco cujo objetivo não era só agilizar as exportações mas criar um parque para a montagem de produtos eletrônicos para exportação e fazer de Cuiabá um entreposto importador para distribuição no Brasil; e por fim o Aeroporto cuja internacionalização legal e o inicio de sua ampliação foram conseguidas por ele prevendo um hub aeroviário de abrangência continental, mas não concluídas até hoje, mesmo com a Copa. Tudo abandonado, retardado ou esquecido, para esquecê-lo. Azar do povo.
     Idos 1 ano e meio de um novo governo estadual, as obras da Copa também parecem estar sendo desconstruídas. Que os atuais governantes chegados ao poder nas asas da confiança e das boas perspectivas, e ainda com muito crédito, não deixem que antigas práticas desconstruam o próprio governo e a esperança que trouxeram ao povo mato-grossense.
(Publicado em  20/07/2016 pela Página do Enock, em 21.07/16 pelo Diário de Cuiabá, Midianews, PautaExtra, ArquiteturaEscrita,..)

Comentários
Por e-mail:
21/07/16   09:44
Bom Dia Dr. José Antonio ! 
Parabéns pelo excelente artigo .Abs 
​Cleber
 No Facebook
Abílio Brunini Moumer:
Infelizmente professor. Infelizmente. Os políticos "não sabem" dar continuidade e terminar as obras de seus antecessores, muitas vezes para não oferecer o mérito, outras para denigrir a imagem do antecessor. Outra coisa que vejo muito é interesse em perpetuar o nome, desta forma, cada um fica criando novas e novas obras, muitas vezes das quais o mesmo não será capaz de terminar, outras para pedir a reeleição ou deixar um sucessor. Tanto é que na campanha para eleger o Silval o que mais se falava é que ele terminaria as obras e o VLT, coisa que o Blairo tinha iniciado. Assim a história continua se enrolar.
Enfim, sou à favor de criar a LEI DE RESPONSABILIDADE URBANÍSTICA. Se não cumprir as metas urbanas e concluir projetos fica inelegível e também corre o risco de se perder o mandato. Se não cumprir as promessas de campanha durante o mandato fica inelegível. E se não concluir as obras existentes, fica impedido de iniciar novas obras. TEM QUE SER MAIS RÍGIDO com este povo. Começar novas obras o tempo todo é fácil, mas terminar que é importante.;


Jandira Maria Pedrollo:Isso! Acabar com o estelionato eleitoral

Manuel Perez:
Muito bom seu artigo, Zé. Acrescento a descaracterização do projeto original do CPA. Lembra que talvez tenha sido um dos primeiros no Brasil a propor teto verde. Também foi pioneiro não uso de escritório panorâmico (landscape office), Tudo isso foi para o espaço. retrocedemos, pois os prédios projetados em seguida foram daqueles antigos..cheios de salinhas. Sem falar no uso dos pilotis que foram totalmente exterminados. Uma pena tudo isso...ver o retrocesso vencendo.....

No Midianews;

Celso Ribeiro  21.07.16 11h14
Que bacana seu posicionamento Professor. Foi muito interessante essa elucidação.
Quem sabe, essas ponderações sobre "Desconstruções", vinda de alguém com o
seu  quilate possa trazer luz aos nossos atuais gestores.
Jorge Luiz  21.07.16 14h02
Infelizmente, Professor José Antonio, os dois cuiabanos ilustres - Eurico Dutra
e Dante de Oliveira, ainda continuam desprestigiados pelos próprios cuiabanos.
Everton Carvalho  21.07.16 14h19
O PROFESSOR ESTÁ COBERTO DE RAZÃO. PRECISAMOS DE UMA REFORMA
POLÍTICA QUE DÊ CONTA DE ESTANCAR ESTA PRÁTICA DE DESCONSTRUÇÃO.
AS OBRAS E POLÍTICAS PÚBLICAS PRECISAM DE CONTINUIDADE PARA DAR
OS RESULTADOS PARA A SOCIEDADE. NESTE CASO DO VLT DE CUIABÁ OS
CUSTOS  DA DESCONSTRUÇÃO PODEM CHEGAR A R$ 3 BI!!

No FolhaMax
Inacio  Quinta Feira, 21 de julho de 2016  - Gostei deste texto...


quarta-feira, 13 de julho de 2016

VIVA, A ARENA LIBERADA!

Ontem conferindo a bem vinda liberação da Arena Pantanal com o sobrinho-neto Tomasso.
Foto Tati Lemos


José Antonio Lemos dos Santos

     Depois de quase um ano e meio com sua capacidade limitada a 10 mil torcedores e uma recente determinação judicial de interdição total para conclusão das obras restantes e correção dos problemas construtivos que estariam colocando em risco a integridade física de seus frequentadores, o que justificaria sua interdição, enfim a Arena Pantanal foi liberada. Viva! Pena que tenha sido umas 3 semanas após a CBF transferir para Maceió o jogo Brasil x Bolívia, valendo pelas eliminatórias da Copa 2018, originalmente previsto para Cuiabá, e umas 2 semanas após o Luverdense desistir de mandar seu jogo contra o Vasco na nossa Arena. Perda para o comércio local, em especial hotéis, bares e restaurantes, para a cidade e o turismo de um modo geral. Mas, viva!
     Esperava-se que em 2015 e 2016 a Arena Pantanal se consolidasse como um dos principais palcos multimídia do Brasil para grandes ventos esportivos e culturais de abrangência global, inclusive pela vantagem de ser a mais compacta das Arenas e, portanto, a de menor custo relativo frente às concorrentes. 2016 prometia muito pois com as Olimpíadas os estádios cariocas ficaram indisponíveis para o campeonato nacional e seus grandes times teriam que mandar os jogos em outras cidades. A Arena Pantanal mostrava-se a princípio como uma das favoritas. O Botafogo chegou a apresentar proposta de mandar seus principais jogos aqui e, como já dito acima, um dos jogos do Brasil na eliminatória estava pré-agendado para a Arena Pantanal. Ao menos deu para o Cuiabá Arsenal fazer a abertura do campeonato nacional de futebol americano com uma grande vitória sobre o Corinthians Steamrollers, diante de um público que só não bateu o recorde da própria Arena de maior público brasileiro para o futebol americano porque às vésperas houve a interdição total da Arena e não se sabia se estaria liberada para o jogo. Pior, as autoridades, conscientes ou não, se referem a esses problemas na Arena como “estruturais” e estrutura para o leigo significa o esqueleto que sustenta o edifício, a ponto do apresentador Heródoto Barbeiro no Jornal da Record (08/07) dizer em rede nacional que a arena de Cuiabá estava caindo. Epacabá!)
     E assim a Arena ficou esse tempo interditada pela incrível conta de 2 rufos na cobertura e umas placas de fibrocimento da fachada, que foram enfim consertados a um inacreditável custo de 6,0 mil reais, uma bagatela em relação aos 600,0 mil reais que o governo diz gastar por mês em sua manutenção. Ou seja, por uma fração milesimal de seu custo construtivo, a Arena Pantanal ficou interditada em sua carga máxima por quase um ano e meio. Mas o governo promete que esse valor será cobrado da construtora e o estado não terá qualquer prejuízo, promessa que deixa a dúvida se não implicaria no risco de provocar mais uma judicialização entre as tantas judicializações e investigações sem fim que vêm atrasando a conclusão das obras da Copa e atravancando o desempenho do secretário Chiletto. Nesse valor, uma vaquinha entre os usuários e admiradores da Arena seria melhor ideia.
     Uma arena não é o mesmo que um estádio. Trata-se de equipamento multiuso conectado ao planeta através dos mais modernos meios de comunicação e deve buscar sua otimização como plataforma para eventos onde o público vai muito além de suas arquibancadas e seu lucro não passa necessariamente pelas bilheterias locais. Esse uso ampliado é que vai viabilizar seu uso com eventos locais. Mas para isso é preciso pensar a altura de uma arena, criando uma estrutura própria de gestão, não só para manutenção, mas também para disputar e captar eventos com antecedência, envolvendo inclusive o ginásio Aecim Tocantins como um fantástico complexo esportivo, cultural, turístico e de lazer local.
(Publicado em 12/07/16 na Página do Enock, em 13/07/16 no Midianews, ...)

terça-feira, 5 de julho de 2016

A COPA DO PANTANAL, 2 ANOS

Foto José Lemos

José Antonio Lemos dos Santos

     São pouco mais de 700 dias que, entretanto, parecem séculos. Em curto tempo, a Copa do Pantanal enquanto evento desapareceu na nossa memória, sumida na fuligem da velha politicagem local dos governos desconstruírem a obra dos antecessores pelo abandono, falta de manutenção ou funcionamento. Mas isso é outro assunto. Também não me refiro aos investimentos privados tipo fábrica de cimento, resort, shoppings, hotéis, nem às sempre tão focalizadas obras públicas.     
     Passados 2 anos de sua realização, tento lembrar o evento global em si, que foi Copa do Pantanal, que de fato aconteceu aqui em Cuiabá, um fato histórico comprovável nos arquivos da época dos sites noticiosos, e que pode ter seu início simbólico na chegada do primeiro torcedor estrangeiro, no dia 3 de junho, o chileno Cristian Guerra, após 4 meses de viagem de bicicleta e 5 jogos de pneus. O grande palco foi a maravilhosa Arena Pantanal, aquele luminoso espaço high-tech que traduziu tão bem o encantamento da tríade vitruviana, a ponto de transportar cerca de 40 mil pessoas confortavelmente a cada jogo para um mundo de alegria, vibração positiva, selfies, whatsapps, como se fosse uma nave mágica de sonho, escolhida pela crônica esportiva internacional como a mais funcional das Arenas, mas que hoje está impedida de receber jogos nacionais por falta de alvarás(!). E teve ainda o Fan Fest, no qual eu não fazia a menor fé, mas que chegou a receber mais público que a própria Arena; a Arena Cultural da prefeitura, um show diário de cultura local para milhares de pessoas, e a Praça da Popular, espaço do coração adotado por todas as torcidas.
EsportesTerra

     Mas na grandiosa festa pantaneira o principal que me salta à memória é o nosso povo, uma gente em princípio tão simplória, desconfiada e arredia, que, porém, foi capaz de dar show de alegria, calor humano, receptividade e civilidade, condição primeira para a realização de um evento desse porte. Isso não se compra e nem pode ser esquecido. O principal para a Copa Cuiabá já tinha pronto, sua gente, e teve ainda a sorte ter recebido primeiro as torcidas do Chile e da Austrália. Juntas com o cuiabano a empatia foi imediata. Os australianos mais comedidos em gestos e expressões, mas muito expressivos com seus grandes e vistosos cangurus infláveis e suas vestimentas quase carnavalescas. Já os chilenos com uma alegria contagiante, de caráter mais patriótico, com rostos pintados nas cores nacionais e a camisa da seleção, enrolados na bandeira de seu país. Subitamente nas ruas, praças, shoppings ouvia-se um grito forte e solitário “chi-chi” logo seguido por dezenas ou centenas de outras vozes “lê-lê, chi-chi, lê-lê”. Impressionante. Para mim, a mais genuína festa de massa que presenciei em meus mais de sessenta anos. E depois vieram os russos e coreanos, bósnios e nigerianos e, ao fim, colombianos e japoneses, todos sem timidez no uso das cores, cantos, gritos pacíficos, mascotes e fantasias ensinando que, mesmo distantes no espaço os povos podem ser muito afins na alegria e na cordialidade.
     Aos milhares vieram também torcedores de outros países, e brasileiros de muitas cidades de Mato Grosso e do Brasil, todos integrados num grande momento de alegria espontânea e genuína. E aquela que pensavam ou torciam para ser o patinho feio da Copa, na verdade era um belíssimo tuiuiú que serenou bonito no alto e assentou ainda mais lindo no chão. E a menor e menos preparada das sedes, com seus rios e seu calor sadio, seu sotaque e modo de viver, do tereré e do guaraná, do Siriri e do Cururu, virou uma grande festa internacional de paz e harmonia indelével no exato coração sul-americano e na memória do povo cuiabano. Jamais será esquecida.
(Publicado em 05/07/2016 pelo Midianews, Folhamax, ...)
Rene Dioz

Comentário por e-mail:
05/07/2016 08:05h
"Bom dia 
sobre a Copa, uma sugestão, a população deveria fazer um relogio bem como aqueles que fizeram Falta 700 dias para realização da copa do mundo em cuiaba, deveriamos fazer um relogio dizendo se passou 700 dias da copa e cade as obras da copa! 
parabéns pela matéria
att
Dalvadisio Junior"

Agripino

14:55 (Há 6 horas)
para mim

"Excelente comentário!"

Comentário no Midianews:

Carlos Nunes  05.07.16 08h57
Pois é, a Copa passou e deixou uma herança maldita...a gente não sabe o que foi pior: a FIFA ter saído do Brasil com um lucro superior aos 5 Bilhões de Dólares, isenta de pagamento de impostos, ou o Jornal Nacional ter noticiado, há pouco tempo, que as raposas da FIFA (ex-presidente e ex-secretário) receberam de propina 240 Milhões de Reais (puxa vida foram descobrir isso só agora). Mas (sempre tem um mas), a irmã gêmea da Copa, AS OLIMPÍADAS, estão aí...tudo igual ou pior. O Jornal da Record fez 5 matérias, intituladas, RIO DE JANEIRO NA LAMA, aonde acusa Corrupção nas Olimpíadas e até aponta alguns suspeitos. Para ter 17 dias de Olimpíadas endividaram, emprestaram, gastaram o que tinha e o que não tinha...agora o governador Francisco Dornelles declara "estado de calamidade pública"...NÃO TEM DINHEIRO prá nada. Olimpíada virou prioridade estadual. Ciclovia do Rio desaba e até mata gente, a qualidade da obra não aguentou nem uma ondinha do mar. Agora vem o pior: os sites noticiam uma bomba - Abin confirma ameaça do estado islâmico, apareceu no twitter deles...Brasil, vocês são nosso próximo alvo. Vote! Dizem que vem por aqui atrás daqueles países que estão jogando bombas e mais bombas neles. Que Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, nos proteja do estado islâmico. Amém!"
"
Etevaldo d'Almeida  05.07.16 11h39
"Isso tudo é resultado da histeria coletiva que toma conta Brasil vez em quando, e como nossos líderes só pensam em si e nos partidos, dá nisso de vez e sempre. E o pior é não aprendemos. Por que que a gente é assim?"
marcos  05.07.16 15h15
"Pois é. O José Antonio faz sempre um comentário positivo sobre o evento da Copa do Mundo em Cuiabá. Precisamos deixar de sermos negativistas, levantar a cabeça e nos aproveitarmos desse legado."

Na Página do Enock:
Paulo Mattos disse:



sábado, 2 de julho de 2016

A ARENA, ENFIM, ILUMINADA DE NOVO!


Foto José Lemos  02/07/16

Foto Lydia Lemos 02/07/16

Enfim a nave intergalática pousada em Cuiabá foi de novo iluminada relembrando um pouco de sua Arquitetura mágica. E assim deveria ficar sempre a ARENA PANTANAL para ajudar Cuiabá e Mato Grosso a encantar seus moradores e visitantes. Parabéns ao governo do estado!

quinta-feira, 30 de junho de 2016

ROBERT VENTURI, 91

ROBERT VENTURI & DENISE SCOTT BROWN -Artium

Um revolucionário da Arquitetura que no último dia 25 completou 91 anos. Compartilho abaixo seu GENTIL MANIFESTO, texto fundamental para a compreensão da Arquitetura contemporânea, incluído em seu livro de 1966 "complexidade e contradição na Arquitetura".

"Gosto de complexidade e de contradição em arquitetura. Não gosto da incoerência ou arbritariedade de uma arquitetura incompetente, nem do preciosismo intrincado do pitoresco ou do expressionismo. Pelo contrá­rio, refiro‑me a uma arquitetura complexa e contraditória, baseada na riqueza e na ambigüidade da experiência moderna, inclusive na experiên­cia que é inerente à arte. Em toda parte, exceto em arquitetura, comple­xidade e contradição sempre foram reconhecidas: da comprovação da máxima inconsistência da Matemática, por Güdel, à análise de T. S. Eliot sobre a poesia 'difícil', até à definição de Joseph Albers sobre a qualidade paradoxal da pintura.”

“Mas a arquitetura é necessariamente complexa e contraditória, até no inclusivismo dos tradicionais elementos vitruvianos: comodidade, solidez e encanto. E hoje as necessidades de programa, estrutura, equipamentos mecânicos e expressão, mesmo de edifícios simples em simples contextos, são diversas e conflitantes de modo anteriormente inimaginável. Somam‑se às dificuldades a dimensão e a escala sempre crescentes da arquitetura no planejamento urbano e regional. Acolho os problemas e exploro as incertezas. Ao abraçar contradição e complexidade tenho como objetivos tanto a vitalidade como a validade.”

“Os arquitetos não podem mais aceitar a intimidação da linguagem puritanamente moral da arquitetura moderna ortodoxa. Gosto mais de elementos híbridos do que 'puros', de comprometidos mais do que 'limpos', dos distorcidos mais do que dos 'diretos', ambíguos mais do que 'arti­culados', dos perversos e impessoais, dos convencionais mais do que dos projetados', de acomodações em vez de 'exclusões', dos redundantes em vez dos 'simples', tanto conhecidos quanto inovadores, inconsistentes e equívocos em lugar de 'diretos e claros'. Sou pela vitalidade confusa, contra a 'unidade óbvia'. Incluo o non sequitur e proclamo a dualidade.”

“Prefiro a riqueza de significados à clareza do significado; a função implícita à função explícita. Prefiro 'ambos, um e outro' a 'ou um ou outro'; preto e branco, e às vezes cinza, a preto ou branco. Uma arquite­tura válida evoca muitos níveis de significado e combinações de focos: seu espaço e seus elementos tornam‑se legíveis e trabalháveis de diversas formas simultaneamente.”

“Mas uma arquitetura de complexidade e contradição tem uma obrigação especial para com o todo: sua verdade deve estar em sua totalidade ou em suas implicações de totalidade. Deve incorporar a difícil unidade da inclusão ao invés da fácil unidade da exclusão. More is not less".

(Extraído de ARQUITETURAS & TEORIAS, João Rodolfo Stroeter, Editora Nobel – 1986)

domingo, 12 de junho de 2016

PROPORCIONAIS ENGANOSAS


José Antonio Lemos dos Santos

     Que me perdoem os especialistas em política, mas, como cidadão abordo um assunto que muito me incomoda, ligado à tão necessária reforma política no país. Trato das eleições proporcionais, ou melhor, a forma como ela é praticada no Brasil, que parece desvirtuar maquiavelicamente as intenções de voto do eleitor, sendo comum ser imputado ao cidadão a culpa pela má qualidade de nossos governantes.
     Como sabemos, no Brasil temos dois tipos de eleições, as majoritárias e as proporcionais, e é importante que existam as duas. Nas majoritárias vence o candidato que tiver mais votos. É simples e todos sabem em quem vota e a quem elege. Nas proporcionais já não é tão simples. Nestas o objetivo é eleger a proporção do poder político entre as diversas correntes partidárias, proporção esta expressa no número de cadeiras que cada corrente conquistar contando os votos de todos os seus candidatos. Estas cadeiras, conquistadas com o voto de todos – todos - os candidatos do partido ou coligação, serão ocupadas apenas pelos mais votados, os quais, em geral não são aqueles escolhidos diretamente pelo eleitor. Por isso os mandatos das eleições proporcionais são dos partidos e não dos candidatos. Esta é a beleza das eleições proporcionais, mas também seu grande mal entre nós. 
     Em suma, o eleitor pode escolher um bom candidato e eleger sem querer outro, até mesmo um que ele quisesse banido da vida pública. E por que acontece isto? Porque as listas dos candidatos definidas por partido ou coligação não são mostradas aos eleitores, deixando-os sem saber quem seu voto pode eleger de fato. E mais, as listas de candidatos dos partidos são montadas habilmente pelos seus caciques de forma a garantir sua própria permanência no poder ou a eleição de seus escolhidos. Não seria uma obrigação natural da Justiça Eleitoral promover a divulgação de tais listas? Por que não divulga?
     Sem discutir a qualidade dos candidatos, mas tomando, por exemplo, as últimas eleições para a Câmara Federal em Mato Grosso temos que os candidatos eleitos não tiveram em seu nome nem sequer a metade dos votos dados a todos eles, eleitos e não eleitos. Apenas 45%. Isto é, 55% dos que votaram para deputado federal votaram em outros candidatos, votos que somados pela legenda definiram os escolhidos para as 8 cadeiras, cada uma valendo 167.664 votos. Pior, contando com as abstenções a proporção dos que votaram nos candidatos eleitos fica em restrita a 35%, isto é, em cada 3 eleitores inscritos apenas 1 votou nos eleitos! Como dizer que os eleitores os elegeram? 
     O problema não está em votar em um e eleger outro, mas no eleitor não saber quem de fato pode eleger com seu voto. As eleições proporcionais são importantes e existem nas democracias mais evoluídas do mundo, mas no Brasil parece distorcida. Lá fora o eleitor sabe em quem vota e quem eventualmente seu voto pode eleger. Aqui não. Por que não divulgam ao eleitor a lista de candidatos que seu voto pode de fato eleger? Podia ser no verso dos “santinhos”, ao invés de calendários ou escudos de times de futebol. A publicação das listas dos candidatos poderia ser uma boa e fácil providência enquanto a reforma política não vem, se é que um dia virá de verdade. Com elas o eleitor veria que junto a seu candidato preferido pode ter outro ou outros que ele não quer eleger, podendo mudar sua escolha para outra lista. Aí os partidos pensariam melhor ao escolher seus candidatos. 
(Publicado em 10/06/16 pela Página do Enock, no dia 11/06/16 pelo Diário de Cuiabá e Midianews, FolhaMax, ...)

Comentário no FolhaMax:
"Cidadão | Domingo, 12 de Junho de 2016, 19h58

0

0
Falta uma reforma eleitoral. O político na verdade também é um servidor público, pois é eleito para cumprir o papel de ser representante da sociedade no atendimento das demandas sociais. Como servidor público deveria atender alguns critérios essenciais ao bom desempenho do cargo, tais como: ficha limpa, escolaridade mínima exigida (ideal nível superior) ser conhecimentos de áreas básica da gestão pública, dentre outros pré-requisitos exigidos para participar de um concurso público. Caso contrário, o filme que estamos assistindo vai continuar, só mudarão os atores."

No Midianews:
"
Eliezer  11.06.16 22h20
Grande artigo! como se ve o sistema é montado exatamente pra que o eleitor nao saiba em quem votou e nem o eleito tenha compromisso com o eleitor. ainda vem analistas politico mal informado falar que a culpa é do eleitor que tem a memoria curta e descompromissado pq nao lembra em qm votou. como lembrar se o cara quer na la nao foi o que ele depositou o voto? esse sistema é o mais vil e perverso de todos."

Comentário por e-mail:
Ermelinda De Lamonica Freire 12/06/16:
"Sou favorável ao voto nulo, caso os candidatos não sejam recomendáveis."

domingo, 8 de maio de 2016

ESTADO UNIDO DE MATO GROSSO


José Antonio Lemos dos Santos

     O dia 9 de maio marca o aniversário de Mato Grosso e ainda não é comemorado com toda a efusividade e orgulho que o homenageado merece. A data lembra 1748 quando o rei de Portugal, dom João V, através de Carta Régia determina a criação de duas Capitanias, “uma nas Minas de Goiás e outra nas de Cuiabá”. A que seria das Minas de Cuiabá virou a Capitania de Mato Grosso e para governá-la foi nomeado dom Antonio Rolim de Moura, futuro Conde de Azambuja, que tomou posse e permaneceu em Cuiabá até Vila Bela ficar pronta. Morou em Cuiabá próximo à pracinha que lhe homenageia, conhecida como Largo da Mandioca. Depois chegou a ser vice-rei, o governante maior no Brasil na época, representante local de El-Rey. Se o presente para Cuiabá em seu Tricentenário pudesse ser a revitalização do seu centro histórico, ao menos com um projeto completo envolvendo os governos federal, estadual e municipal, a reconstrução histórica da casa de Rolim de Moura seria mais uma poderosa atração nesse que poderá ser um novo polo cultural e turístico cuiabano, gerador de emprego e renda.
     Sei que muitos acham que não temos nada a comemorar, alegando que em Mato Grosso faltam escolas, hospitais, esgoto, rodovias, ferrovias, etc. São os que só enxergam o que falta. E é bom que existam pessoas assim, desde que de forma construtiva. Prefiro enxergar aquilo que existe, em especial o que foi produzido pelo trabalho do povo, autônomos, patrões e empregados, apesar de todas as dificuldades e de tudo o que nos falta. Mato Grosso é hoje o maior produtor agropecuário do país, liderando o país em gado, algodão, milho, girassol, milho de pipoca, feijão, soja e também é um dos maiores produtores de ouro, diamante, madeira, álcool, biodiesel, carnes de frango, suíno e peixe. Melhor, Mato Grosso não produz armas, instrumentos da morte, como muitos dos que nos criticam. Ao contrário, com orgulho ajuda a matar a fome do mundo, ainda que sem plena consciência desse importante papel.
     Para chegar a esta posição Mato Grosso conta com a extensão e diversidade produtiva de seu território e, principalmente, com o trabalho sofrido e determinado de sua gente em todos os cantos. Comemorar os 268 anos de Mato Grosso é festejar a grande obra do mato-grossense que ano passado, apesar da crise, produziu um superávit comercial de US$ 13,7 bilhões, mais de 2/3 (66,4%) do saldo comercial brasileiro, o que daria para construir vários hospitais, escolas, ferrovias, duplicações rodoviárias e melhorar a qualidade dos serviços públicos. É o sexto estado maior exportador do Brasil e literalmente vem entupindo o Brasil alimentos, para consumo nacional e mundial, em um país que não se preparou, e não se prepara, para o tanto que este estado gigante produz, descompasso que tem custado caro em termos econômicos, ambientais e de vidas humanas aos mato-grossenses. 
     Comemorar os 268 anos de Mato Grosso não é ufanismo idiota, é festejar a riqueza construída, mas também cobrar tudo o que o povo que a produz tem direito. É ver hoje Mato Grosso rico espantando a pobreza que sempre foi o álibi dos maus governantes. O mato-grossense tem que festejar com alegria, orgulho e muitas cobranças. O sucesso de Mato Grosso é a força do trabalho de seu povo unido na grandeza e diversidade de seu território, e seu maior produto é sua gente, que lembro na figura de Rondon, um dos maiores homens gerados pela a Humanidade, cuja data, 5 de maio, passou despercebida em sua própria terra. Ainda com muito a consertar, Mato Grosso é para ser festejado, imitado e, sobretudo, aplaudido.  Viva Mato Grosso, unido e forte!
brasil.gov.br

(Publicado em 08/05/2016 pelos site Midianews, JornalOeste de áceres, Página do Enock, MatoGrossoNoticias, ...)

Comentários em sites:
No Midianews:

Benedito Carlos Teixeira Seror  08.05.16 12h21
Leio com muita atenção os artigos do Prof. José Antônio Lemos e sempre fico impressionado com seu otimismo, e o admiro pela coragem com que expõe e defende suas ideias. Torço para que em breve Mato Grosso seja definitivamente inserido no mundo das oportunidades para todos, modernizando-se, sem perder suas ricas tradições. O débito de políticas públicas que existe para com os que aqui vivem precisa urgentemente ser quitado. Com educação e cidadania conquistadas, poderemos alavancar as transformações de há muito aguardadas.
Nelson  08.05.16 16h13
Parabéns também para vc professor José Antonio Lemos pelo artigo que registra data de aniversário do nosso poderoso estado de Mato Grosso citando o primeiro governador Dom Rolim de Moura, personagem importante da nossa história relegado ao olvido pelos matogrossenses tal como o prédio que o abrigou.
manoel  09.05.16 09h51
"ALIMENTOS PARA O MUNDO" - Esta é a vocação deste Estado fenomenal. Parabéns Mato Grosso.

Comentários direto no Blog, ver abaixo:

quinta-feira, 21 de abril de 2016

TIRADENTES, UM HERÓI NECESSÁRIO

José Antonio Lemos dos Santos

esquadraodoconhecimento.wordpress.com
Quadro de Pedro Américo - 1893

     Não tivesse existido, seria necessário inventá-lo, Tiradentes um herói absolutamente necessário nos dias de hoje. No mesmo mês em que é homenageado, encerra-se também o prazo para os brasileiros entregarem suas declarações do Imposto de Rende e recolherem aos cofres públicos o saldo ainda devedor eventualmente apurado. Pode ser que esta coincidência seja apenas mais uma daquelas finas ironias com que a história vez por outra desafia nosso poder de reflexão. Aproveitemos. 

     Tiradentes morreu porque conspirou contra o Quinto cobrado pela Coroa Portuguesa e que significava 20% do que ouro produzido! Por essa causa rebelou-se contra a Coroa, propôs a independência do Brasil, e foi traído, enforcado, com seu corpo esquartejado. Seus restos foram exibidos em diversos pontos bem visíveis pelo povo, e sua cabeça exposta na praça pública de Vila Rica. Em 2015, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), o brasileiro arcou com uma carga tributária média de 41,37%. Trocando em miúdos isso significa que de tudo o que produzimos, entregamos, em média, mais de 41% para os governos, isto é, para os governos federal, estaduais e municipais somente para manter uma máquina político-administrativa perdulária, improdutiva e que se mostra cada vez mais voraz e cada vez mais corrupta. Traduzindo em dias trabalhados, o brasileiro teve que trabalhar 151 dias em 2015, até o dia 31 de maio, o mesmo que em 2014 exclusivamente para alimentar a sanha dos governos, inclusos Executivo, Legislativo e Judiciário. Em média! Tem gente que paga muito mais. Durante cinco meses tivemos o povo, patrões, empregados e autônomos “carregando pedras feito penitentes, erguendo estranhas catedrais”, como já cantou um dia o Chico Buarque dos bons tempos. 
     Não se trata de atacar este ou aquele governo. A voracidade fiscal vem de muito tempo. Em 1947, quando tínhamos o cuiabano Eurico Gaspar Dutra como Presidente, a mordida do governo ficava em 13,8% do PIB e em 1962 era 15,8%, tendo chegado aos “insuportáveis” 18,7% em 1957, quando da construção de Brasília. Em 1992 já girava em torno dos 26% e de lá para cá disparou, chegando em 1994 aos 29,8%, 35,84% em 2002 e para mais de 41% no ano passado. Quanto será este ano? Governar assim é fácil, principalmente quando não se tem a menor preocupação em oferecer a infraestrutura e os serviços públicos de qualidade em troca de tão generosa contribuição. Só que agora a situação é pior. Não bastasse a expropriação voraz do produto do trabalho brasileiro hoje ela vem com as confissões cínicas de roubos por parte de bandidos, elevados à condição de “heróis da pátria” que somos obrigados, impotentes e envergonhados, a engolir cotidianamente em nossas salas diante de nossos filhos e netos. Até onde vamos? 
     Tiradentes virou herói nacional com a República. Mas sua imagem também foi sendo pouco a pouco adaptada aos interesses do poder. Virou o herói da Liberdade, da Independência e da Democracia, sem referência à sua principal luta, contra a opressão fiscal a que era submetido o povo brasileiro pelo governo da época. Transformaram-no em um herói aceitável, cooptado com suas marquetadas barbas longas como as de um profeta e sua túnica angelicalmente alva como se fosse um daqueles doces e meigos santinhos de papel. 
     Tiradentes, patrono dos nossos valorosos policiais militares é um herói atualíssimo que precisa ser resgatado na essência de sua mais importante luta. Quem dera sua figura inspirasse um pouco de bravura aos seus conterrâneos, impelindo-os a exigir que a coisa pública seja um dia tratada, não como um butim apropriado por uma minoria, mas com o devido respeito republicano, em favor de todo o povo brasileiro. 

(Publicado em 20/04/16 pelo Jornal Oeste, de Cáceres e pela Página do Enock, e em 21/04/16 pelo Diário de Cuiabá e pelos sites Midianews, Hipernotícias,...)



Comentário por e-mail:
"Parabéns Dr. José Antonio pelo excelente artigo. Bem apropriado pelos dias atuais. Abs 
​Cleber" (Em 21/04/2016).

Comentário no site Hipernotícias:
"Carlos Nunes - 21/04/2016
Na verdade no Brasil só tem um herói nacional, o Tiradentes - quando foi preso assumiu toda a culpa sobre si mesmo, dizendo que os companheiros eram inocentes, só ele era culpado; por causa disso foi enforcado, esquartejado, e seu corpo espalhado em partes pelo Rio de Janeiro; sua casa foi demolida e no terreno foi espalhado uma substância para que nunca nascesse nada. Alguns historiadores dizem que algum tempo depois, chegou uma carta da rainha de Portugal, dando-lhe o perdão, chegou tarde demais. Comparando o Tiradentes com os personagens de hoje, vê-se um tremendo contraste, uma inversão de valores tremenda...os que são pegos, até com dinheiro na cueca, juram que são inocentes, que não sabem de nada, o não fui eu, não tem nenhuma prova contra mim, o nunca roubei nada...são as desculpas de hoje. E todo dia aparece mais um delator premiado que aponta: esse recebeu propina também. Aquela coragem do Tiradentes parece que sumiu do Brasil."

Comentários diretos ao Blog, ver logo abaixo.


sábado, 16 de abril de 2016

1º SEMINÁRIO DE POLÍTICA URBANA E AMBIENTAL DO CAU-BR

Trecho de matéria do site do CAU-BR sobre os resultados do 1º Seminário Nacional de Política Urbana e Ambiental do CAU-BR realizado em Brasília nos dias 12 e 13 de abril.

www.caubr.gov.br

“É urgente o resgate da cidade pela cidadania”, afirmou o arquiteto e urbanista José Antônio Lemos, conselheiro estadual do CAU/MT, um dos palestrantes do segundo e último dia do Seminário. Ele sugeriu a criação de uma “Lei de Responsabilidade Urbanística”, à qual estariam submetidos todos os prefeitos. Pela proposta, os prefeitos a serem eleitos em outubro deveriam assumir o compromisso de, ao deixarem seus cargos, entregarem suas cidades mais adensadas (“crescer para dentro”), com menor número de ocupações irregulares ou de risco, mais áreas de preservação ambiental e novos espaços públicos.

Leia mais em   http://www.caubr.gov.br/?p=54592 

quarta-feira, 6 de abril de 2016

CUIABÁ 300-3!

cuiaba.mt.gov.br

José Antonio Lemos dos Santos

     Desde 8 de abril de 2009 a cada aniversário de Cuiabá escrevo artigos cujos títulos simulam uma contagem regressiva até 2019, ano de seu Tricentenário. Já estamos a apenas 3 anos da grande data. Essa preocupação com os 300 anos de Cuiabá já vinha desde 1989 quando a então nova Lei Orgânica do Município estabelecia um capítulo especial para a Política Urbana adotando entre suas ferramentas o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, cujos horizontes de planejamento vão de 20 a 30 anos, já forçando nosso olhar para o ainda distante 2019.
     Em 1999, a 20 anos do Tricentenário, o IPDU coloca em público a expressão “Cuiabá 300” como meta de trabalho, buscando estruturar o desenvolvimento urbano de forma que a cidade alcançasse padrões urbanísticos e de qualidade de vida mais elevados até 2019. Mas, esse processo foi interrompido e a alternativa que restou foi a preparação em tempo hábil de uma agenda de projetos pontuais para presentear a cidade. Em compensação, de imediato, em 2009 a história surpreende os cuiabanos com o fantástico desafio da Copa do Mundo. Estou cada vez mais convencido de que esse grande evento foi um artifício do Bom Jesus para um choque em nós cuiabanos fazendo-nos entender os novos tempos que a cidade vive e, assim, prepará-la condignamente para o seu Tricentenário. A cidade, enfim, teria que olhar para o futuro. Contudo, finda a Copa, o futuro sumiu de novo à nossa frente.
     Comemorar os 297 anos é exaltar uma cidade surgida entre as pepitas de um corguinho com muito ouro que era chamado pelos nativos de Ikuiebo, Córrego das Estrelas, que desembocava em um belo rio em meio a grandes pedras chamadas Ikuiapá, lugar onde se pesca com flecha-arpão em bororo. E ela floresceu bonita, célula-mater deste “ocidente do imenso Brasil”. Mãe de cidades e Estados, o aniversário de Cuiabá é também o aniversário do Brasil neste vasto Oeste brasileiro. Por quase três séculos sobreviveu a duras penas, tempo heroico que forjou uma gente corajosa e sofrida, mas alegre e hospitaleira, dona de um riquíssimo patrimônio cultural e com proezas que merecem maior carinho da história oficial brasileira. Como um astronauta moderno, vanguarda humana na imensidão do espaço, ligado à nave só por um cordão prateado, assim Cuiabá ficou por séculos, solta na vastidão centro-continental, ligada à civilização só pelo cordão platino dos rios Cuiabá e Paraguai. Cuiabá hoje vibra em dinamismo, globalizada e provinciana, festeira e trabalhadora, centro de uma das regiões mais produtivas do planeta que ajudou a ocupar e desenvolver.
     Agora só estamos a 3 anos do Tricentenário. O que poderia ser feito, para não ficar apenas na simpática mesmice da “Garota Tricentenário” ou de um bolo de 300 metros lambuzando a praça? Concluir as obras da Copa? Os hospitais da UFMT? Talvez, enfim, ao menos um projeto completo para a revitalização do Centro Histórico de Cuiabá envolvendo os governos federal, estadual e municipal, com recursos assegurados para sua execução e abarcando toda amplitude de um projeto como este, desde o rebaixamento da fiação, repaginação urbanística, incentivos tributários, até um modelo de gestão do espaço a ser tratado como um shopping cultural a céu aberto. Nada mais vergonhoso no Tricentenário do que o Centro Histórico como está, sem ao menos um projeto. Para quem já trabalhou e viu tanta gente boa trabalhar por esse projeto a mais de 30 anos, parece impossível crer que vá acontecer em apenas 3 anos. Mas, como a esperança é a última que morre, não custa nada relembrar o assunto, afinal Deus é brasileiro e o Bom Jesus é de Cuiabá. Apesar da não tão recomendável experiência da Copa, quem sabe Ele interceda de novo por sua terra?
(Publicado em 06/04/2016 pela Página do Enock, Site do CAU-MT, Jornal Oeste e em 08/04/2016 no Midianews ...)

Comentários por e-mail;
Em 07/04/16 Archimedes Lima Neto - Assoc. Bras. de Eng. Civis:
"Tão perto... 300 -3 ..."

Em 08/04/16 Cleber Lemes
"Bom Dia Dr. José Antonio ! 
Parabéns pelo excelente artigo, suscinto mas objetivo, uma aula de história. Faço minha as suas palavras em prol da Comemoração dos 300 anos de Cuiabá, não com bolo , mas sim com a revitalização do Centro histórico , bem como uma atenção dos nossos governantes Federal/ Estadual e Municipal para uma SAUDE mais digna. Abs 
​Cleber"

Mais comentários diretos ao Blog, ver abaixo.

quinta-feira, 31 de março de 2016

ZAHA SE FOI!

DEZEEN.COM


                                                  ZAHA HADID   31/10/50 - 31/03/2016


      Zaha Hadid foi aquela arquiteta de vanguarda que não se acomodou ao sucesso de suas            primeiras revoluções. Prêmio Pritzker 2004 continuou sempre evoluindo e do desconstrutivismo original chegou às  atuais formas "líquidas" que tão bem expressam a sociedade contemporânea em que vivemos.




Imagens bbc.com

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

MATO GROSSO EM SAMBAS-ENREDO

youtube.com

Para conhecer ou não esquecer. Tereza de Benguela com Vila Bela e Joãozinho Trinta na Sapucaí em 1994. Cuiabá com a Mangueira em 2013. Sorriso com a Unidos da Tijuca em 2016 e Mato Grosso sendo homenageado pela Mancha Verde também em 2016. Está bem aí ao lado na seção Mato Grosso, no canto esquerdo do Blog. Basta clicar.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

PASSE LIVRE UNIVERSAL

José Antonio Lemos dos Santos
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 05/08/2014)


     Final do mês passado a Firjan divulgou pesquisa mostrando que os custos dos congestionamentos viários geraram em 2013 um prejuízo de R$ 98,0 bilhões, apenas nas Regiões Metropolitanas do Rio e São Paulo, considerando apenas a produção não-concretizada e o gasto extra de combustíveis. Isso só em um ano e sem contar a perda do tempo da população, vidas ceifadas ou mutiladas, poluição, estresse, etc. E reclamamos dos gastos totais com a Copa, estimados em R$ 25,0 bilhões. 
     Vale recordar que mesmo com as superações trazidas pelos novos tempos, a velha Carta de Atenas segue como um documento básico do Urbanismo. Uma de suas principais interpretações confere às cidades 4 funções básicas, moradia, trabalho, lazer e circulação, com a “quarta função” tendo como objetivo “só” estabelecer uma “comunicação proveitosa” entre as outras 3 funções. Embora última na descrição das funções urbanas e sem um objetivo em si própria, a Carta chega, contudo, a tratá-la como “primordial” à vida urbana, pois a ela cabe conectar as demais 3 funções que não funcionam desconectadas entre si. Ou seja: sem circulação, as cidades param. Isso a Carta de Atenas já dizia. 
     Com o tempo os conceitos avançaram e a circulação chegou ao âmbito da mobilidade urbana, na qual as várias modalidades de transporte se integram, desde os pés, para articular as funções urbanas de forma segura, justa, sustentável e - por que não? – até prazerosa. As cidades cresceram em dimensões físicas, população, complexidade e dinamismo. Fazê-las caber no ciclo solar de 24 horas torna-se cada vez mais difícil. Hoje a circulação ultrapassa sua formulação original de função urbana, e chega a caracterizar-se como condição indispensável à vida das cidades, do banco à borracharia, da fábrica à escola, da mansão ao barraco, do patrão ao operário. Basta ver o colapso geral das cidades quando das paralisações no transporte coletivo, tronco principal da mobilidade urbana. Ou se atentar para os custos de seu mau funcionamento citadas no início deste artigo. 
     Ano passado o Brasil viveu grandes manifestações populares contra o desrespeito com que as coisas públicas são tratadas pelas autoridades no país, e um movimento pelo passe livre para todos – não só para estudantes - foi o deflagrador de toda essa saudável e democrática convulsão pública. De imediato muitas prefeituras reduziram as tarifas em alguns centavos, mas não foram a fundo na questão, e tudo parece ter ficado por isso mesmo. Mas não dá mais para esconder, a solução da mobilidade urbana hoje é fundamental para todos e não pode mais ser imputada apenas ao usuário de ônibus. 
     A solução exige uma revisão de conceitos sobre a cidade e nela a mobilidade urbana. O transporte público é um serviço de custo muito elevado que serve a todos, mas quem paga é só o usuário, justo aquele em piores condições para fazê-lo, mas que, além de pagar na tarifa, paga também na carne e na cuca as mazelas de um transporte de péssima qualidade. Distribuir seus custos e sua acessibilidade a todos através de uma política de passe livre universal é a solução a ser pensada como o eixo da necessária revolução na mobilidade urbana e, por consequência, nos padrões da vida urbana no Brasil. Tratá-la como já se faz com a iluminação pública? Não se trata da criação de um novo imposto, e sim de redistribuir entre todos aquele imposto em forma de tarifa que é pago só por uma parte da população. A baixa qualidade e o alto custo do transporte coletivo expulsam os usuários para outros modos de transportes, como a moto. Menos usuários, maior a tarifa, numa espiral negativa acelerada. Só o passe livre universal, numa nova visão de cidade e de mobilidade urbana, pode reverter essa tendência.