"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 30 de janeiro de 2018

SEGURA O VOTO

Opinião e Notícias
José Antonio Lemos dos Santos
     Nem bem iniciando o ano eleitoral de 2018 já começam a ser esboçadas algumas candidaturas, muitas das quais nem serão concretizadas. Mesmo assim surgem ainda discretos os primeiros adesivos nos carros. A regra principalmente para os novatos é começar cedo para “beber água limpa”, isto é chegar nos eleitores antes que eles se comprometam com outros eventuais candidatos. De um modo geral começam buscando familiares, colegas de trabalho, velhos colegas até então esquecidos dos bancos escolares, amigos, em suma, aquele conjunto de pessoas potencialmente formador do que seria seu capital político pessoal. Com base nesses laços pessoais de diversos tipos acabam arrancando compromissos amarrados em “fios de bigode” de difícil escapatória futura. Com as eleições ainda distantes, muitos desses compromissos são sacramentados em frases ditas sem muito pensar sobre assunto tão longínquo, muitas vezes para encurtar uma conversa chata, ou para não ser desagradável. Aí mora o perigo.
     Ano passado houve a tão necessária reforma política esperada para ser a mãe de todas as reformas, mas que afinal acabou parindo um rato. Em relação ao voto em si quase tudo ficou como antes, e este ano abrange a escolha para os cargos de deputados estaduais e federais, senador, governador e presidente da república em eleições majoritárias e proporcionais, que continuam do mesmo jeito só que com o registro do voto no papel, paralelo à votação eletrônica. Outras mudanças mais significativas só em 2020. Como sabemos, os dois tipos de eleição são necessários e existem nas democracias mais avançadas do mundo, uma privilegiando o candidato individual e a outra a proporção em que se distribui no eleitorado as diversas correntes ideológico-partidárias.
     O voto majoritário é simples, vence o candidato que tiver mais votos, mais confiável agora com o registro do voto em papel. Já o voto proporcional não é tão simples assim. Nelas vota-se em listas por partido ou coligação através dos votos dados aos candidatos nelas constantes. Assim, o cidadão escolhe um candidato e seu voto pode eleger outro. Nas eleições proporcionais busca-se a distribuição das cadeiras parlamentares na proporção do poder político dos partidos no universo eleitoral. Tais cadeiras são ocupadas pelos candidatos mais votados em cada corrente, a maioria dos quais não é escolhida diretamente pelo eleitor. Esta é a beleza das eleições proporcionais, mas também seu grande mal entre nós pois as listas não são publicadas.
     Votando em listas desconhecidas o eleitor pode escolher um bom candidato e eleger sem querer outro do mesmo partido ou coligação. O eleito pode até ser um que o eleitor quisesse banir da vida pública. Assim são mantidos aqueles de sempre. E assim o povo é enganado no seu próprio voto, elegendo e legitimando muitos daqueles que não gostaria de ver eleitos ou reeleitos. Fica com a fama de não saber votar. O coitado é ludibriado, paga a conta e ainda leva a culpa.
     O sentido de consciência e responsabilidade do eleitor na hora de votar deve então ser multiplicado nas eleições proporcionais. Antes de nos comprometer com o candidato parente, amigo, colega ou compadre é importante aguardar a oficialização das candidaturas e torcer para que a Justiça Eleitoral publique as listas das eleições proporcionais, o que ajudaria muito a aperfeiçoar a legitimidade e a representatividade das eleições. As listas mostrarão quais os outros candidatos que você poderá eleger ao votar naquele que hoje postula o seu voto. Entre eles pode estar um ou mais candidatos que não se queira eleito, nem pintado de ouro. O verdadeiro amigo entenderá. Importante é não se precipitar em compromisso muito cedo com algum pré-candidato. Segure o seu voto.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

O VOO INTERNACIONAL

exame.abril
José Antonio Lemos dos Santos
     No final da semana o superintendente da Infraero em Mato Grosso informou que a Receita Federal deu seu aval para o Aeroporto Marechal Rondon operar voos internacionais podendo atender até 200 passageiros por hora, o que na prática significaria que do ponto de vista deste órgão Mato Grosso ganhou salvo conduto para voos ainda mais distantes pelo mundo afora através de seu principal aeroporto. Alvíssaras! Porém no momento o foco deve ser a concretização do primeiro voo da linha Cuiabá-Santa Cruz de La Sierra e sua consolidação. A notícia ainda diz que agora só falta a anuência da Polícia Federal. Como sempre, falta ainda alguma coisa para a realização deste antigo e importante projeto mato-grossense. Ainda bem que desta vez está avançando.
     Nas entrelinhas da excelente notícia vem uma outra fundamental indicando a existência de autoridades tanto no estado como no governo federal, em especial na Infraero, realmente interessadas no assunto, tomando providências, reivindicando, cobrando e agilizando as burocracias. Certamente será uma das maiores conquistas para a Grande Cuiabá e Mato Grosso, mas não basta esperar, tem que continuar correndo atrás e vencer obstáculos, alguns inesperados. Ainda falta um passo, prometido como o último antes da efetivação da linha.
     Uma cidade não é um ponto isolado no espaço. Elas funcionam como lugares centrais em redes hierarquizadas produzindo bens e serviços consumidos por uma região de abrangência chamada tecnicamente de hinterlândia. Quanto maior sua hinterlândia maior sua “centralidade” e sua importância regional, que nos casos extremos pode ser o planeta, como no caso de Nova York por exemplo. Sua capacidade de produção de bens e serviços para atendimento das demandas regionais evidentemente dependerá da infraestrutura instalada e em especial de modernas conexões transportadoras de cargas, passageiros, capitais, conhecimentos, notícias, etc. não só com sua hinterlândia mas com o restante da rede de hierarquia superior. Daí se explica tanta disputa por rodovias, aeroportos, ferrovias, etc., pois são determinantes na configuração da rede urbana e do grau de importância de cada cidade. Isso significa trabalho, emprego, renda e qualidade de vida.
     Quando como urbanista tratamos da urgência da ligação de Cuiabá e Mato Grosso ao sistema ferroviário nacional, ou insistimos na ampliação do Aeroporto Marechal Rondon e a implantação da linha aérea Cuiabá-Santa Cruz de La Sierra estamos tratando de fundamentos da sustentabilidade urbana de Cuiabá e do estado. As redes urbanas são dinâmicas e uma posição favorável hoje poderá ser diferente no futuro em função do que se fizer ou não hoje. Corumbá o mais importante centro industrial, comercial e bancário do estado quando Mato Grosso era uno, hoje busca recolocar-se de maneira sustentável na rede urbana de Mato Grosso do Sul. Na época não foi dada atenção aos fatores que lhe dava a hegemonia estadual. Voos internacionais reforçarão a centralidade da Grande Cuiabá e as potencialidades de Mato Grosso.
     O superintendente da Infraero e o secretário estadual de Turismo esperam uma reunião com a Polícia Federal ainda nesta semana para tratar do último passo para a efetivação da internacionalização do Marechal Rondon. Contando desde agosto passado com a autorização do governo boliviano, contando também com a liberação do Ministério da Agricultura e da Anvisa e o que é mais importante, contando com o interesse de uma das maiores empresas da aviação comercial do Brasil, tudo promete para muito breve o início da operação da linha aérea Cuiabá–Santa Cruz de La Sierra, de onde partem voos internacionais diretos de longo alcance. Um grande presente para o Tricentenário.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

DE 88 A 2018

MansoAquicultura

José Antonio Lemos dos Santos
     Em artigo do início de 1989 avaliei o ano de 1988 como “talvez o mais positivo da história recente” de Cuiabá tendo por base o deslanche de alguns macroprojetos fundamentais para o desenvolvimento da cidade e do estado. Enfim tinha sido iniciada a construção da APM de Manso, a Sudam havia aprovado o projeto da ligação de Cuiabá ao sistema ferroviário nacional e havia sido proposta com grande otimismo e alarde a saída rodoviária para o Pacífico via San Matias. Passados trinta anos e iniciando a quarta década pós 88, valeria fazer uma avaliação do que de fato aconteceu com estes projetos e a quantas andaram as expectativas tão positivas. Talvez sirva para alguma coisa.
     Idealizada com a cheia de 1974 visando a proteção da Grande Cuiabá contra novas enchentes, a barragem de Manso teve seu projeto ampliado em fins dos anos 70 para uma barragem multifinalitária destinada à geração de energia, ao abastecimento de água de Cuiabá e Várzea Grande, à irrigação de 50 mil hectares na Baixada Cuiabana, e ao desenvolvimento de projetos nas áreas de turismo e aquicultura. A obra foi de fato iniciada em 88, mas paralisada em 89 e só retomada em 1998 com grandes prejuízos dentre os quais a perda do canteiro de obras inclusive com maquinário pesado. Inaugurada em fins do ano 2000 cumpre hoje seu principal objetivo assegurando níveis mínimos de água e evitando picos de vazões superiores à de 74, como em 15 de janeiro de 2002. Empurrado só por seu próprio potencial Manso está avançando com grandes projetos de piscicultura, a instalação de condomínios de lazer, pousadas de alta sofisticação, e já vive a expectativa da legalização dos jogos com seu grande potencial turístico. Poderia ter avançado muito mais, inclusive no abastecimento de água e irrigação, até hoje sequer prospectados em termos de viabilidade.
Mansomtolx
     A ferrovia também vem avançando, considerando que em 88 seus trilhos estavam nas barrancas do Paraná, em São Paulo. Hoje está em Rondonópolis onde foi instalado o maior terminal ferroviário da América Latina. Em 1989 teve sua concessão outorgada à Ferronorte, concessão que foi repassada diversas vezes, sem ainda cumprir seu primeiro objetivo que era chegar a Cuiabá, depois prosseguir em direção aos portos amazônicos e do Pacífico, levando e trazendo o desenvolvimento para todo Mato Grosso. Inexplicavelmente em 2010 a então concessionária devolveu a concessão a partir de Rondonópolis. Por coincidência ou não, ao mesmo tempo surgia o projeto da FICO, com 1200 km levando a produção de Mato Grosso para Goiás. Depois surgiu outro ligando o leste do estado ao porto de Espadarte no Pará, ainda em construção. E a ferrovia em Mato Grosso virou então ferramenta de geopolítica em vez de logística, envolvendo exageradas ambições regionais e políticas. Encerrando 2017 a óbvia ligação Rondonópolis-Cuiabá–Nova Mutum de apenas 460 Km voltou a ser prioridade para o estado, BNDES, Nova Mutum e a própria atual concessionária (RUMO), resgatando o bom senso nesse assunto fundamental e tão urgente para o estado. Enquanto demora, produção, meio ambiente e vidas são perdidas.
     A saída rodoviária para o Pacífico encontrou forte alento no primeiro governo Maggi, com o governador liderando uma caravana até ao Chile. Mas ficou por aí. Hoje as ligações do Brasil ao Pacífico saíram por Mato Grosso do Sul e Acre. Por aqui nem pela linha aérea entre Cuiabá e Santa Cruz, outrora existente. Agora em dezembro de 2017 uma nova esperança pois autoridades bolivianas disseram em Cuiabá estar negociando com o Banco Mundial a pavimentação entre San Matias e San Inácio. Querem exportar ureia e gás de cozinha para Mato Grosso. Aí finalmente Mato Grosso estaria ligado diretamente ao Pacífico. Será?

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

2018, A ENCRUZILHADA

Resultado de imagem para encruzilhada
pipocasalpimenta.blogspot.com
José Antonio Lemos dos Santos
     Os anos geralmente chegam trazendo ótimas ou no mínimo boas expectativas de futuro. 2018, contudo, chega com a cara um pouco diferente prevendo alguns gargalos sérios para o mundo e principalmente para o Brasil. O mundo com a volta da perspectiva de um confronto nuclear de terríveis consequências para a humanidade, já o Brasil com dois eventos desafiadores para suas instituições nacionais que terão que dar provas de grande maturidade ou, no mínimo, de um grande esforço de amadurecimento, indispensável à consolidação do país como nação civilizada e democrática.
     O risco do confronto nuclear não seria de atemorizar tanto, ainda que seja muito grande o risco da proximidade entre botões nucleares e dedos guiados por cabeças de sanidade duvidosa. Botões são antigos, hoje talvez baste uma tecla “enter” para dar início a um apocalipse pós-moderno. Não haveria o que temer como prognosticou Mao Tsé-Tung na primeira Guerra Fria, diante da ameaça dos EUA e Rússia se engalfinharem com suas bombas nucleares e destruírem o mundo junto. Nessa época eu era adolescente e o medo que pairava no planeta era real quando Mao chamou os “machões” nucleares de “tigres de papel”. Na época a maioria não entendeu, nem eu. Só entendi agora com os poderosos EUA sendo desafiados pela Coreia do Norte, esta naturalmente também montada em um arsenal, ou digamos, em um estoque não tão grande assim de mísseis atômicos. Bomba atômica só é poderosa contra adversários que não as têm. Quando o outro também tem, aí a história é outra. O arrogante nuclear coloca o rabo entre as pernas e a perspectiva da hecatombe se reduz a um “galinhaço” acovardado como o que estamos assistindo. Ainda bem, pois assim temos assegurados os 365 dias de 2018 para cuidarmos de nossos próprios gargalos.
   Já no Brasil os riscos são mais iminentes. Ainda em janeiro haverá o julgamento em segunda instância do ex-presidente Lula, que poderá ou não liberar sua candidatura à presidência da República, em pleito marcado para outubro próximo. São dois momentos que exigirão não só das instituições nacionais, mas de todo povo brasileiro grande maturidade cívica e elevada consciência democrática e republicana para que sejam viabilizadas as decisões constitucionalmente corretas sendo aceitos civilizadamente quaisquer que sejam os resultados advindos dos tribunais e das urnas. A radicalização de posições no qual o país se embrenha pode leva-lo ao caos, isto é, nem para um lado nem para outro, mas para sua destruição enquanto nação. Uma encruzilhada.
     Para Mato Grosso renova-se o grande desafio das eleições majoritárias para governador e senador, bem como as ardilosas eleições proporcionais que exigem especial atenção do eleitor para não votar em um bom candidato e eleger um outro indesejável, ajudando assim a reproduzir este nefasto quadro político que envergonha a nação e sacrifica seu povo. Quanto a Cuiabá a agenda deveria ser a preparação para o seu Tricentenário com projetos que permitam à cidade alcançar melhores padrões urbanos e maior qualidade de vida. O que resta, porém é concluir as obras da Copa, em especial o aeroporto, as trincheiras, os COT’s e a Arena Pantanal, mesmo sem o VLT, e outras obras também inconclusas tais como o novo Aquário Municipal, o novo Pronto Socorro Municipal, a UPA do Verdão, os hospitais Júlio Muller e o Regional da UFMT, as duplicações para Guia, Chapada e São Vicente. Seria um bom pacote. Aproveitando o ano eleitoral, o grande desafio será a viabilização de uma cobrança forte e efetiva da cidadania organizada pois o tempo é curto e os órgãos responsáveis lentos, mesmo para a conclusão de obras que já deviam estar concluídas a muito tempo.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

INESQUECÍVEL, MAS ESQUECIDO II

Como nossa memória é curta. Veja o link abaixo (copie e cole, vale a pena):

https://www.youtube.com/watch?v=z12SRlH-RPQ

domingo, 31 de dezembro de 2017

INESQUECÍVEL, MAS ESQUECIDO.


Veja no link abaixo a imagem indolor e de graça gravada em 360º e a cores, de um dos momentos mais importantes da história de Cuiabá. Copie e cole, vale a pena:   http://360photos.fifa.com/#!startscene=chi_aus




quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

NATAL, PÉROLAS E PORCOS

CristianismoConsciente
José Antonio Lemos dos Santos

     Não se trata da Família Pig do desenho na TV, e sim de nós mesmos, ditos humanos, cidadãos. As coisas em si são boas e belas, pérolas para benefício da Humanidade, mas caídas em mãos humanas é preciso sorte para que não virem lama. Parece que confundimos o barro bíblico que nos modelou com a lama fétida dos chiqueiros e por isso também busquemos a lama para nosso destino enquanto espécie, levando junto tudo o que tocamos. Temos uma notável atração pela porcaria.
     É difícil em pleno Natal iniciar um texto assim, em especial para quem às vezes é criticado justamente por ser otimista e esperançoso, condições aliás indispensáveis ao arquiteto e urbanista. Contudo, pensando bem, ao contrário do que parece, não existe ocasião mais propícia. O Natal ensina que a origem e destino do homem são divinos e não porcos, lembrando a chegada de Deus feito homem para nos ensinar a grande lição, o homem é filho de Deus, obra divina, criado para o bem, para o belo e para o justo. A cada Natal renasce essa esperança do reencontro com o divino e a certeza de ser esse o caminho.
      Enquanto isso, todos vimos o que foi feito da “Casa de Bem Bem”. Uma pérola da cultura mato-grossense, uma joia a ser conservada e reverenciada com carinho. Nada mais compatível aos porcos do que destelhar a casa em pleno período de chuva e parar a obra! Na certa a taipa socada exposta à chuva daria uma boa lama em pleno centro histórico de Cuiabá, área tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional por sua importância nacional.  E não adianta jogar a culpa nas porcas autoridades responsáveis. Tal crime só aconteceu porque somos complacentes com a porcaria deixando que ela avance em seu chafurdar Expresso minha indignação na rede social, escrevo um artigo, desopilo o fígado e fica por isso mesmo. Logo os porcos nos indignarão de novo. Se a cada avanço da porcaria tivéssemos uma reação de fato contundente e objetiva ela não avançaria. Nossa leniência também nos faz porcos, ao menos cumplices da porcaria que assola Cuiabá, e o país.
     Também assistimos complacentes ao absurdo da profusão dos cabos desativados pendurados nos postes da cidade. A porcaria é também aérea. Falam que a prefeitura não pode fazer nada porque não existe lei que obrigue as concessionárias a retirar os cabos obsoletos. Elas que já deviam ter rebaixado a fiação em muitas áreas da cidade agora querem usar nossa paisagem como lixeira. A mesma lei que proíbe o cidadão deixar seu lixo nos logradouros públicos não serve para elas? Presente do Tricentenário? Esperam que algum motoqueiro seja degolado por um desses fios atravessados pelas ruas? Depois virão as lágrimas de crocodilo pela vítima e as promessas de “providências  enérgicas” para que o fato não se repita, lágrimas falsas que o bom português traduz como “de hoje para trás, nunca mais.”  E fica tudo assim.
     Todos sabemos da podriqueira que virou nossa tão sonhada democracia, com os políticos chafurdando felizes às nossas custas. Às vésperas do Natal as câmaras de Cuiabá e Várzea Grande criaram o 13º salário para os vereadores. Falam que é legal mesmo afrontando a Moralidade, um dos princípios da administração pública no país. Pode? E o que fizeram com a Copa, a maior oportunidade de investimentos jamais vista por Cuiabá? Um retrato disso é o novo desbarrancamento da cabeceira da Ponte do São Gonçalo trajeto que se tornou indispensável a boa parte dos cuiabanos. Desculpem-me os porcos, hoje suínos, limpos, por compará-los aos que insistem em querer ser porcos, apesar de sua origem divina. Viva a esperança do Natal do Deus menino!

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

POLO DA VERTICALIZAÇÃO

Imagem Jornalggn
José Antonio Lemos dos Santos

     A proposta de Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado para a Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá (PDDI/RMVC) em apreciação pelo Conselho de Desenvolvimento Metropolitano (CODEM), predestina-se a ser uma guinada positiva na curva do protagonismo da Baixada Cuiabana no desenvolvimento de Mato Grosso. A proposta elaborada pelo prestigioso Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM) merece atenção aprofundada não só das prefeituras e câmaras de vereadores envolvidas como também dos diversos segmentos organizados da sociedade civil desses municípios que poderão se ver como um time regional, irmãos de águas lutando em conjunto por interesses comuns.
     Tratando-se de um plano de desenvolvimento é evidente que “desenvolvimento” é sua palavra-chave, ainda que desgastada por tanto uso. Desenvolvimento nada mais é do que o contrário de envolvimento, daí des-envolvimento. Simples assim, fugindo ao “tecnocratês” desenvolver é tirar o envoltório ou desembrulhar. Desenvolver uma região é desamarrar, soltar suas potencialidades para que evoluam em plenitude visando a melhoria da qualidade de vida da população. Situado no exato centro do continente sul-americano, com localização estratégica em termos do estado, país e continente, e cerca de um terço da população estadual, o Vale do Rio Cuiabá é um pacote de potencialidades que vão desde o turismo, até sua vocação de grande encontro continental de caminhos, passando pela prestação de serviços político-administrativos, de comércio, saúde, educação, cultura e assistência técnica, que já lhe rendem o maior PIB de Mato Grosso.
     O substancial documento apresentado ao CODEM, quando trata do desenvolvimento econômico o faz através do Programa Economia Regional Dinamizadora desdobrado em componentes denominados Desenvolvimento de Cadeias Produtivas e Redes de Serviços; Alimentando a Metrópole e Plataforma Metropolitana de Logística Integrada, acertados porém muito restritos aos limites da própria região. Como sabemos uma metrópole é um lugar central produtor de bens e serviços voltados a uma região que lhe dá origem e sentido, que no caso da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá (RMVC) é muito ampla superando os limites do estado. Esta hinterlândia abriga uma das regiões mais produtivas do planeta em termos de agricultura e pecuária avançadas, mas que ainda sobrevive da exportação de matérias primas sem praticamente qualquer agregação de valor. Agregar valor à produção estadual é um dos maiores senão o maior problema do estado e este é também o maior dos espaços para desenvolvimento da nossa região metropolitana.
     Complementando a importante proposta da Plataforma Metropolitana de Logística Integrada, o PDDI/RMVC poderia contemplar como um componente específico de seu Programa Economia Regional Dinamizadora um corajoso projeto de estruturação da região como polo de verticalização da economia estadual com parques locais especializados, aproveitando tratar-se da principal economia de aglomeração do estado, com farta disponibilidade de mão de obra e estrutura de capacitação profissional, energia, ampla rede hoteleira, bancária e de prestação de serviços diversos. Assim, a par dos beneficiamentos que a produção primária possa ter próximas às suas bases, a RMVC se consolidaria como um polo de produção mais exigente de mão de obra e de complementariedade técnico-industrial, com o boi sendo transformado em sapatos e bolsas, o algodão virando roupas e a soja, girassol e madeira ampliando suas gamas de possibilidades industriais no estado.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

ARQUITETOS, VOOS E FERROVIAS

Imagem AgoraMT
José Antonio Lemos dos Santos

     A quantas anda o voo Cuiabá–Santa Cruz? Antes pergunto, o que tem a ver arquiteto questionando sobre ferrovias, aeroportos ou rodovias? A proximidade do Dia do Arquiteto, dia 15 de dezembro, é boa para tentar esclarecer o que faz e pode fazer o profissional arquiteto e urbanista, atribuições não muito claras ao público em geral. O longo período de permanência no sistema Confea/Crea, sufocada entre mais de uma centena de especializações da engenharia, talvez explique um pouco esse quadro de desinformação sobre tão importante profissão. É certo que a criação ainda recente de um conselho próprio, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo, o CAU, será um divisor de águas e os profissionais arquitetos e urbanistas voltarão a ter o prestígio social que nunca deveriam ter perdido.
     Afinal, qual a função do arquiteto urbanista? A Arquitetura surgiu junto com o homem em função do atendimento de sua necessidade vital que é o abrigo. A espécie humana não nasceu com sua casinha nas costas como o caracol, ou com habilidade natural para fazê-la, ou para fazer seus habitats coletivos como os formigueiros. Sem abrigo o homem morre. Então a Arquitetura surge com a função de trabalhar o espaço transformando-o em abrigo, que deve ser funcional, seguro, belo e antes de tudo digno. Só que o espaço é contínuo e infinito cabendo ao arquiteto trabalhar desde o espaço interior de uma residência, à própria residência, aos edifícios para diversos fins, aos bairros onde eles estão inseridos, à cidade (a grande casa), indo até ao planejamento regional, dentro da concepção atual holística e globalizada que coloca o planeta como a nossa verdadeira grande casa.
     Na amplitude do espaço contínuo e interconectado o arquiteto e urbanista não pode prescindir da simbiose com outros profissionais especializados em suas respectivas áreas como os diversos ramos da engenharia, sociologia, geografia, biologia e a economia, citando só algumas das parcerias indispensáveis à Arquitetura e ao Urbanismo. No planejamento regional, um dos focos são as redes urbanas configuradoras do espaço de uma região, mas que são configuradas pelos fluxos de informações, mercadorias, capitais, pessoas, etc. Tais fluxos definem as redes urbanas, suas centralidades espaciais e hierarquias funcionais, numa abordagem realmente complexa cuja compreensão não prescinde da interação técnica multiprofissional.
     Trabalhando em diversos programas de desenvolvimento no antigo Minter, na hoje revivida Sudeco, na Comissão de Divisão do Estado de 1977 e no próprio governo do estado, pude constatar na prática a importância dos diversos modais de transporte para o desenvolvimento de uma região e de sua rede de cidades, não só como infraestrutura econômica, mas como base de condições para a melhoria dos padrões de vida de seus habitantes. A definição do trajeto de uma rodovia ou ferrovia cria e desenvolve cidades, mas pode também definhá-las e até matá-las. Cabe ao arquiteto e urbanista envolvido no assunto informar a população sobre as potencialidades e riscos. No caso de Cuiabá sua principal vocação é ser um grande encontro continental de caminhos. Daí a pergunta inicial. A quantas anda o voo Cuiabá – Santa Cruz? Com viabilidade comprovada no interesse de uma das maiores empresas aéreas nacionais, com o Marechal Rondon em condições e autorização do governo boliviano desde agosto passado, o que está faltando? Será necessária a iniciativa de algum outro município, como aconteceu com a proposta de extensão da ferrovia até Nova Mutum e assim passar por Cuiabá?

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

A NOTÍCIA DO ANO

revistagloborural
José Antonio Lemos dos Santos

     A ótima notícia para fechar o ano veio de Nova Mutum para Mato Grosso inteiro e, em especial para Cuiabá, Várzea Grande e toda a Baixada Cuiabana com o fórum “Ferrovia e Integração de Modais”, promovido pelo prefeito daquela cidade, Adriano Pivetta. Insisto na questão da ferrovia em Mato Grosso, por tratar-se de assunto vital não só para o agronegócio em si, mas para todos os diversos segmentos de desenvolvimento do estado. Apesar de sua importância a notícia não foi recebida com o destaque merecido. A meu ver era digna de fogos de artifício, banda de música nas praças e um amplo desdobramento em articulações das classes políticas e empresariais de Mato Grosso, em especial em Cuiabá, Várzea Grande, repito. Afinal a ferrovia não é só para levar a produção, mas também para trazer o desenvolvimento.
     Qual a novidade nesse fórum, similar a tantos outros sobre o assunto? A diferença foi as presenças dos presidentes do BNDES e da empresa Rumo, proprietária da ferrovia que chega até Rondonópolis, e do governador do estado, todos eles defendendo a extensão dos trilhos de Rondonópolis até Nova Mutum, para daí seguir aos portos amazônicos e do Pacífico, ou para Goiás. Todos entusiasmados na expectativa do primeiro passo, a expansão dos trilhos de Rondonópolis à Cuiabá. Existiam 3 alternativas divergentes de traçado que se inviabilizavam, pondo em risco até a integridade territorial do estado. Enfim, com a solução mais viável, o fórum trouxe de volta o bom senso aos trilhos.
     Nunca é demais lembrar os prejuízos que a absurda defasagem da atual logística de transportes vem causando a Mato Grosso, o maior produtor agropecuário do Brasil e uma das regiões mais produtivas do planeta. Tais prejuízos apenas começam pela economia com perda de competitividade dos produtos nos diversos mercados nacionais e internacionais. Perda de competitividade pelo alto custo do frete, que implica na supervalorização dos insumos, vazamentos e acidentes com cargas, falta de armazenamento e outras situações que resultam em redução na remuneração do heroico produtor pelo seu trabalho, que em outras condições poderia como agente econômico familiar estar consumindo mais no próprio comércio local de bens e serviços, movimentando toda a cadeia econômica atrelada ao agronegócio.
     A absurda defasagem logística significa também enormes perdas ambientais pela grande produção de gases tóxicos pelos motores das carretas em números irracionais. Pior do que tudo isso é a descabida exposição do mato-grossense ao risco de vida na utilização da atual malha rodoviária seja em viagem de trabalho, turismo ou em busca de serviços médicos e educacionais. Desnecessário maiores comentários sobre o quadro trágico resultante pois cada um de nós tem pelo menos um parente ou amigo vítima de algum acidente rodoviário. Em 2014 ocorreram 4.460 acidentes nas rodovias federais em Mato Grosso, com 283 mortes, mais que a tragédia da boate Kiss que nos faz chorar até hoje a morte de 242 jovens no Rio Grande do Sul. Em um ano! Fora os que morrem depois, ou ficam com sequelas maiores ou menores.
     Toda a gravidade econômica, ambiental e social não é compatível com o pouco caso com que essa importante notícia foi recebida e reverberada pelas lideranças políticas e empresariais de Cuiabá e Várzea Grande principalmente. Sinceramente já esperava esse desinteresse por parte das autoridades e lideranças políticas locais. Para estes, uma ferrovia para Marte talvez despertasse maior interesse. Mas era de se esperar muito mais das lideranças comunitárias e empresariais, em especial destas. Que não fosse pelos grãos perdidos, mas pelas vidas ceifadas.



segunda-feira, 27 de novembro de 2017

OS TRILHOS DO BOM SENSO

ferroviablogspot.com

José Antonio Lemos dos Santos
     No dia 23 de novembro passado durante o fórum “Ferrovia e Integração dos Modais” em Nova Mutum foi defendida a extensão da ferrovia de Rondonópolis até Nova Mutum, passando por Cuiabá, que já devia ser realidade a muito tempo. No evento estiveram presentes autoridades de peso no assunto como o governador do estado e os presidentes do BNDES, e da companhia ferroviária e de logística brasileira (Rumo). Todos entusiasmados. O prefeito de Nova Mutum, Adriano Pivetta, promotor do evento, é claro, esteve presente, porém foi inquietante a ausência dos prefeitos de Cuiabá, Várzea Grande e Rondonópolis, eles que deveriam estar entre os maiores interessados.
     Enfim um passo concreto no sentido da extensão da ferrovia em Mato Grosso, ela que parou em Rondonópolis, a meu ver por excesso de ambições regionais divergentes que acabaram se inviabilizando uma à outra. Um grupo queria e ainda quer a ferrovia partindo de Sinop para os portos amazônicos, outro queria e ainda quer levar de Lucas para os litorais do Pacífico e do Atlântico, outro levar de Água Boa para Curuçá no Pará, cada um puxando a sardinha para seus interesses locais, sem ver o estado como um todo. Ora, se não há recursos para viabilizar uma só dessas alternativas, quanto mais para três? O único ponto convergente entre essas propostas era a interrupção dos trilhos em Rondonópolis excluindo Cuiabá e Várzea Grande da malha ferroviária brasileira como forma de enfraquecer o maior polo urbano do estado, forçando a criação de condições geopolíticas favoráveis a uma futura nova divisão territorial de Mato Grosso.
     E assim, os trilhos ficaram parados em Rondonópolis, com o produtor, a economia e o meio ambiente perdendo, e vidas sequeladas ou ceifadas por uma logística defasada com a produção mato-grossense. Diante de um quadro dramático como este como insistir no abandono de uma possível ligação de 460 Km em ambiente já totalmente antropizado, sem xingus, araguaias ou Himalaias a vencer, entre Nova Mutum e o maior terminal ferroviário da América Latina em Rondonópolis? As alternativas são entre 1.000 e 1.500 km em ambientes carentes de maiores estudos sobre impactâncias ambientais ou indígenas. Como insistir?  Enfim o bom senso parece estar chegando aos trilhos.
     Por certo a chegada dos trilhos a Nova Mutum não será a solução definitiva para a logística estadual, pois Mato Grosso é um estado centro-continental com potencial para produzir várias vezes o que já produz e sempre demandará novos caminhos em todas as direções e em todos os modais. Outra vantagem da priorização dessa ligação é que ela não é incompatível ou excludente com quaisquer das propostas em discussão. Chegando os trilhos a Nova Mutum de imediato poderão prosseguir para Lucas, Sinop e os portos amazônicos. Ou virar a Oeste para Porto Velho, o porto do Madeira e os do Pacífico, ou virar a Leste para Goiás passando por Água Boa e sua bifurcação para o futuro porto de Espadarte no Pará.
     Mato Grosso vai precisar de muitos caminhos para levar sua produção e trazer o desenvolvimento para sua gente trabalhadora que não merece continuar nesse sofrimento apesar de tão produtiva para o Brasil. A tão prometida linha aérea para a Bolívia, por exemplo, a quantas anda? Importante que este processo resgatado pelo governador Pedro Taques e trazido a público pelo fórum promovido pelo prefeito Adriano Pivetta, incorpore também as lideranças empresariais, comunitárias e políticas rondonopolitanas e do Mato Grosso platino, em especial, de Cuiabá e Várzea Grande. Mas, de todo jeito, é muito bom ver nossos trilhos voltarem a seguir as trilhas do bom senso.

domingo, 26 de novembro de 2017

HORA DE CONSTRUIR

José Antonio Lemos dos Santos


     Passadas as eleições e definidos os últimos recursos pendentes, é hora de voltar a trabalhar pela construção efetiva do CAU no Brasil e em Mato Grosso. Viva! Vamos lá minha gente!

terça-feira, 21 de novembro de 2017

REPÚBLICA, SIDNEY E BRUNA VIOLA

ImagemTribunaOnLine

José Antonio Lemos dos Santos
     Ia escrever sobre nossa finada República na passagem de mais um aniversário de sua proclamação a 15 de novembro. Torci para que nesse dia acontecesse algum sinal de saudade cidadã pela falecida, de lamento pelo seu passamento e desse choro surgisse algum brado pela sua reproclamação, agora forte e renovada, ela que sempre se mostrou fraca, mero joguete nas mãos dos poderosos. Mas nada. República, “res-publica”, coisa pública, interesse do povo, bem comum, nada mais distante das atenções de nossa pátria atual onde cada autoridade vive pensando em si, em seu patrimônio, em seu grupo ou quadrilha. Triste, mas em vez de algum lamento ou brado, apenas o silêncio passivo e resignado do gado nos bretes. Enfim, morreu a mais antirrepublicana das repúblicas, e parece que sem deixar saudades. Morreu assim como viveu, desconhecida e, como tal, ninguém chorou ou gargalhou pelo seu desaparecimento. República Porcina, a que foi sem nunca ter sido. 
     Fugindo ao baixo astral, busquei no noticiário temas positivos que ainda existem, mesmo que raros, sufocados por alguma espécie de fascínio especial que as notícias ruins ou dirigidas exercem sobre as mídias. Encontrei a sensacional conquista do Grammy Latino pela conterrânea Bruna Viola no dia 16 em Las Vegas, Estados Unidos. A conquista da cuiabaninha tem algo de especial para os cuiabanos e mato-grossenses pelo apego que demonstra por suas raízes, falando alto que é mato-grossense, contando com orgulho sua história e trazendo gravado em sua viola favorita a bandeira de Mato Grosso para todo mundo ver. E foi buscar na tradicional viola de 10 cordas, meio marginalizada no chamado sertanejo chic ou universitário, e no modão de viola as fontes de sua arte. Toca demais seu instrumento, é muito bonita, tem ótima dinâmica de palco, muita empatia com o público em seus shows e ainda por cima, canta muito, exímia nos rebuscamentos, floreios e revolteios, que a viola permite, levando a alegria com cheiro de terra, autêntica. Além de sua arte encantadora, o Grammy da Bruna Viola é mais um prêmio dado por ela aos seus conterrâneos.
     Já o dia 17 passado trouxe a notícia de mais um terrível sequestro em Cuiabá, solucionado no dia seguinte com o estouro do cativeiro, liberação da pessoa sequestrada e prisão dos bandidos, graças a competência, dedicação e arrojo das Polícias Civil e Militar de Mato Grosso, ainda que enfrentando dificuldades de todos os tipos e que são do conhecimento e indignação públicos. Esta notícia, má em princípio, traz em seu desfecho a atuação vitoriosa dos policiais envolvidos no caso arriscando suas vidas para o cumprimento da missão. E traz também a comprovação da existência de pessoas, ou grupos de pessoas dentro de segmentos profissionais, como no caso destes policiais, para os quais o foco ainda é o bem comum, pelo qual arriscam a vida cotidianamente sem medir consequências pessoais ou familiares. Em especial o policial Sidney Ribeiro dos Santos, o herói representativo de todo o heroísmo de sua corporação em defesa do maior bem comum de qualquer República, a vida de um cidadão.
       Durante a operação houve troca de tiros e o policial Sidney recebeu um tiro no rosto estando ainda em estado muito grave no momento em que escrevo. Todos que admiraram sua bravura concreta e desprendimento, torcem hoje e oram pelo seu restabelecimento pleno. Em ações como as de Sidney e seus companheiros, em gestos como o da Bruna com sua bandeirinha de Mato Grosso na viola ainda pode ser vislumbrada a esperança de que um dia uma nova República seja proclamada, agora de baixo para cima, verdadeira e forte porque criada e cuidada pelo povo, razão e sentido de sua existência.


segunda-feira, 13 de novembro de 2017

JOAQUIM MURTINHO

Foto MidiaNews/Alair Ribeiro

José Antonio Lemos dos Santos   
     “Quem morre em Cuiabá, morre para sempre”, mais ou menos assim se referiu Estevão de Mendonça à peculiaridade cuiabana de esquecer seus vultos, os quais além de morrerem de corpo morriam pelo esquecimento. E ainda morrem. Mais que morto, o finado é esquecido na memória de seus conterrâneos, “mortinho da silva”. Confirmando o pai de Rubens de Mendonça, a prefeitura de Cuiabá emplacou um retumbante “Joaquim Mortinho” na sinalização oficial da rua que homenageia o grande estadista brasileiro Joaquim Murtinho. O erro foi reconhecido e a placa corrigida, não sem antes deixar registrada em fotos e redes sociais as digitais de nossa atual ignorância histórico-cultural que aumenta assustadoramente a cada dia. Logo a terra de Dom Aquino.
     No próximo 7 de dezembro caberia uma homenagem mais digna ao grande cuiabano nascido nesse dia em 1848. Um desagravo talvez. Foi engenheiro civil e médico homeopata, professor da Escola Politécnica, Deputado Federal, Senador, Ministro da Viação e da Fazenda. Para Rubens de Mendonça, foi o maior estadista e financista brasileiro da primeira república. Muitos só o conhecem em nome de escolas ou ruas, aqui(?), no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campo Grande, ou como nome de cidades em Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Seu prestígio era tal que uma vez Dom Pedro II, Imperador do Brasil, um dos governantes brasileiros mais cultos, assistindo a uma palestra dele sobre homeopatia quis questioná-lo, recebendo a sugestão de que quando "tivesse ímpetos de assistir a uma defesa de tese que Sua Majestade não entenda, deixe-se ficar em casa e leia uma página de Spencer".
     Mudaram os tempos e mudaram muito as relações de respeito entre a autoridade política e a autoridade técnica. Hoje qualquer político ou preposto de quinto escalão ou menos acha que pode ignorar o especialista propondo ele próprio sobre questões técnicas que não entende, como na questão urbana. Imagine se não fossemos uma República e ainda tivéssemos imperadores. Felizmente, ainda existem os bons técnicos, como Murtinho, convictos da importância de sua responsabilidade técnica e social.
     Pioneiro da homeopatia no Brasil foi, porém, como Ministro da Fazenda que Murtinho ficou na história. Lembro Joelmir Betting em artigo de 1984 na Folha de São Paulo: “O saneamento da moeda nacional começou com a presença mágica do ministro Joaquim Murtinho (a partir de 1899). Murtinho só não é apostila nas escolas de economia do mundo ocidental porque nasceu no Brasil, teorizou no Brasil, e não em algum reduto da aristocracia acadêmica nos dois lados do Atlântico Norte.”
     Diz mais: “Mal empossado no cargo de chanceler do Tesouro, que ele chamava de “monarca dos entulhos”, Joaquim Murtinho disparou um vigoroso “pacote” econômico, politicamente atrevido: a palavra de ordem era a de acabar, em rito sumário, com a especulação financeira do setor bancário”, e segue, “Murtinho entendia que o Brasil da virada do século não podia tolerar uma economia meramente escritural, era preciso promover o refluxo da poupança nacional do mercado de papéis e de divisas para o mercado de produtos e de serviços.” A inflação foi quase a zero gerando o “pânico bancário” de 1900, com o sistema financeiro “experimentando uma quebradeira em cascata”, diz Betting.
     Aprendi com meu pai, que foi bancário orgulhoso em sê-lo, a reconhecer o valor dos bancos, mas, amargando seus juros, portas giratórias, e o número crescente de taxas exorbitantes, concluo esta homenagem ainda com Betting: “O “czar” Murtinho lavou as mãos enluvadas: que se quebrem todas as casas bancárias, desde que se salvem todas as fábricas, empórios e fazendas...”. Dá para esquecer?

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

DIA MUNDIAL DO URBANISMO

Bandeira do Urbanismo
José Antonio Lemos dos Santos
     A cidade constitui a maior, a mais complexa e bem-sucedida das invenções do homem. Surgida há 5 mil anos, com ela veio a civilização que acelera a evolução humana. De lá para cá o mundo foi se urbanizando e a partir de 2008 já é mais urbano que rural.
     Com a Revolução Industrial a cidade viveu sua maior inflexão até os dias atuais. Até então ela não fora questionada, mesmo tendo enfrentado enormes crises em seu desenvolvimento. Com a industrialização, a urbanização acelera e as cidades se desequilibram gravemente, exigindo controle e intervenções em suas evoluções. Surge então a ciência do Urbanismo, que evolui e supera a etapa do urbanismo modernista da Carta de Atenas, passa pelas experiências pós-modernistas e chega à revolução da eletrônica, da internet e da globalização, com os desafios da compatibilidade ambiental, da inclusão e da busca pelas cidades inteligentes, verdes e sustentáveis.
     De extrema complexidade, a cidade é comparável a um organismo vivo em dimensões imensas, que vão das pequenas vilas até as megalópoles ou às megarregiões urbanas, chegando às centenas de quilômetros quadrados com dezenas de milhões de habitantes. A cidade é um enorme recipiente, articulado regional e globalmente, onde acontecem as relações urbanas em toda sua múltipla diversidade. Sua função é permitir que tais relações aconteçam da melhor forma com sustentabilidade, conforto, segurança e, sobretudo, justiça. Ajudá-las no cumprimento desta função é o objetivo do Urbanismo.
     Em evolução contínua, o Urbanismo reflete a complexidade de seu objeto de trabalho e abrange os diversos campos de conhecimento que a cidade envolve. O urbanista não pode ser um especialista, mas um generalista voltado a entender o organismo urbano com um todo. Não se pode tratar os problemas da cidade sem antes tratar da cidade com problemas. O urbanista precisa saber um pouco de tudo para enxergar o todo, e, em especial, saber que esse conhecimento, embora indispensável, é nada sem a companhia das diversas especializações técnicas nas múltiplas facetas da cidade e da problemática urbana.
     Como me lembrou o colega Altair Medeiros, e como comemoro em artigos quase todos os anos, 8 de novembro é o Dia Mundial do Urbanismo, criado em 1949 para uma reflexão global sobre o assunto. As cidades de novo vivem uma inflexão profunda diante da revolução dos satélites, das fibras óticas e da internet que acena com perspectivas inimagináveis desconstruindo conceitos fundamentais como tempo, espaço e distância, agora na realidade fantástica do ciberespaço, mas ainda atolada no drama da iminência do colapso com a água, lixo, mobilidade, poluição, energia, emprego, fome, moradia e segurança. Mesmo com tantas perspectivas extraordinárias, o problema maior do século XXI são as cidades. E as cidades falhando, explode a civilização.
     Inaceitável que no Brasil o Urbanismo e o urbanista sejam tão desconsiderados. Como podem existir cidades sem órgãos técnicos especializados que a estudem contínua e sistematicamente, mostrando à cidadania opções para suas perspectivas de desenvolvimento? Ainda mais nestes tempos de grave crise urbana geral refletida por exemplo em sua mobilidade. A ausência do Urbanismo asfixia as cidades brasileiras que estressam, mutilam e matam. Mas ainda são os locais da diversidade e da inovação. A criação em 2010 do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) e a Resolução 51/13 são esperanças. Crise é risco e oportunidade. Junto à possibilidade da tragédia está a chance da reinvenção urbana em busca de cidades mais justas, seguras, sustentáveis e humanas. E da própria reinvenção do homem.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

MARAVILHAS EM RISCO (2)

Campo Novo do Parecis (MidaNews)

José Antonio Lemos dos Santos
     O presente é o futuro que chegou rápido, passou depressinha e virou passado. Ainda me lembro lá por 77 ou 78 em um banco à frente a de um hotel de madeira em Sinop ainda embrionária, conversando com o saudoso dr. Fernando Sarmento, ele então técnico da Funasa e eu da Sudeco. Flamenguista doente, enquanto ouvia um jogo de seu time entre os chiados de um Transglobe, já falava da iminência da febre amarela silvestre chegar às cidades brasileiras. Pois, não é? Ela está aí.
     Se 4 décadas passam rápido para um jovem sessentão como eu, imagina para as cidades, que a princípio nascem eternas embora haja tantas “cidades-fantasma” pelo mundo. Aqui em Mato Grosso não as conheço. Sei de algumas estagnadas vivendo um momento de reinserção na lógica produtiva da rede urbana mato-grossense. Muito ao contrário, a rede urbana do estado vem bombando com a explosão produtiva do agronegócio e toda sua cadeia produtiva, desde o serviço médico de alta especialização na capital até os fardos enrolados de algodão nos campos à espera do transporte. Voltamos neste artigo às belas cidades originárias do agronegócio que temo possam não repetir o mesmo bem sucedido desempenho destes seus primeiros aproximadamente 40 anos de existência em termos de padrões urbanísticos e de qualidade de vida.
Sinop (HiperNotícias)
     No artigo anterior lembrei o óbvio de que as cidades não nascem “no pé”, elas são uma invenção do homem e, portanto, objetos técnicos construídos cotidianamente pelos seus moradores. Precisam de um plano para chegarem a um conjunto harmônico. Justamente por terem o planejamento inicial das colonizadoras, ainda que comercial, as nossas maravilhas tiveram um grande diferencial favorável. Nasceram bem-nascidas. Mas os planos sempre têm um horizonte de durabilidade, por isso precisam ser contínuos para que esse horizonte siga sempre avançando mantendo a validade do planejamento. Nossas maravilhas estão no limite do que foi planejado por seus idealizadores e, com o gerenciamento técnico das colonizadoras sendo substituído pelo gerenciamento político, as estruturas técnicas de planejamento e controle originais não mais existem para dar continuidade ao sucesso alcançado. Elas agora crescem ao sabor da política e é preciso voltar a pensar tecnicamente o futuro das cidades, como os pioneiros fizeram.
Campo alagado (DeOlhoNoTempo)

     Cidades com histórico de desenvolvimento acelerado e alto potencial para seguir nesse mesmo ritmo ou maior, não podem esperar 10 anos para rever seus Planos Diretores de Desenvolvimento Urbano, prazo máximo determinado pelo Estatuto da Cidade. Elas têm que ser planejadas, monitoradas e avaliadas a cada dia, em busca da cidade sustentável, compacta, densa e diversificada preconizada pelo urbanismo contemporâneo. 10 anos podem ser uma eternidade irreversível para elas. O espraiamento urbano tem que ser evitado, sob pena das gerações futuras arcarem com elevados custos operacionais per capita por conta de onerosas e subutilizadas redes de água, energia, pavimentação, transporte, coleta de lixo, etc. em especial nas cidades em sítios planos. Estas, com seus problemas de escoamento de águas e esgotamento sanitário que precisam ser equacionados desde já, devem evitar a ampliação das áreas urbanas e a consequente ampliação das bacias de drenagem usando instrumentos como os da edificação compulsória, IPTU progressivo e até a verticalização. Adensar evitando vazios intersticiais, parece ser um objetivo valioso a ser resgatado dos colonizadores. Basta dar uma olhada no Google Earth para observar loteamentos, condomínios e até ocupações irregulares a quilômetros dos centros históricos. O exemplo dos pioneiros deve ser seguido, agora urbanisticamente, pensando a cidade daqui a 40 anos. Passa rapidinho.
(Publicado em 06/11/17 pela FolhaMax, em 07/11/17 pelo Diário de Cuiabá, Midianews, PáginaDoEnock, ArquiteturaEscrita,....)



terça-feira, 24 de outubro de 2017

MARAVILHAS EM RISCO

Lucas do Rio Verde 2014 (JopiPetengill/Secom-MT)
José Antonio Lemos dos Santos
     Mato Grosso é rico em belas atrações naturais ou construídas pelo homem. Dentre estas estão as cidades geradas pelo agronegócio, novas cidades reconhecidas nacional e internacionalmente por sua organização urbanística, elevados padrões de vida e IDHs permitidos com certeza por suas rendas per capita bem superiores à média nacional decorrentes de seus altos níveis de produção em alta tecnologia. Semana passada estive em Sinop e Sorriso onde pude observar seus sucessos. Intencionalmente voltei de ônibus pinga-pinga para aproveitar e rever essa região que não via há muito tempo.
     Ainda espero um dia parar com mais tempo para apreciar cada uma delas em todo esse chamado “nortão”. Acompanho esse desenvolvimento à distância, mas com muito interesse, não só por ser mato-grossense, como também por dever de ofício como arquiteto e urbanista, observando esse imenso laboratório de desenvolvimento urbano. Como profissional, tive a sorte de trabalhar nos projetos do CPA em Cuiabá e depois em Brasília na antiga Superintendência de Desenvolvimento do Centro Oeste (SUDECO) e logo após no antigo Ministério do Interior (MINTER), envolvido nas áreas urbanas e regionais dos programas de desenvolvimento da época tais como PRODEPAN, POLAMAZONIA, POLONOROESTE, PROMAT e PROSUL, elaborando projetos, acompanhado suas execuções e avaliando os resultados para as novas cidades que começavam a surgir. Algumas surgiram depois e ainda nem as conheço.
Sinop 2017 (Foto José Lemos)

     Hoje estão bonitas e são motivos de justo orgulho para Mato Grosso. Então, qual o problema? Tento explicar. As cidades são como organismos vivos que nascem e crescem. Só que não “dão no pé” como uma goiaba. Elas são construídas cotidianamente por seus cidadãos e por isso precisam ter uma ordem, um plano ou projeto. Se não, viram bagunça e o caos urbanístico. As cidades que tratamos aqui tiveram esse bom início já que em sua maioria vieram de projetos de colonização e cada qual teve seu planejamento, ainda que comercial. Mais que isso, foram construídas sob rígido controle das empresas de colonização, evitando o espraiamento e otimizando os custos da infraestrutura lançada e a lançar. Assim, as cidades nasceram ordenadas espacialmente e, logo os bons resultados começam ser vistos pelos habitantes produzindo uma cultura de respeito urbanístico e de cuidados urbanos. A cultura dos imigrantes formadores de suas populações também foi componente considerável na formação e consolidação dessa cultura cidadã.
     Qual o problema então? A preocupação é que todo planejamento de uma cidade tem um horizonte, em geral de 20 a 30 anos ao fim do qual ele se esgota. Por isso hoje os planos são entendidos como processos contínuos com acompanhamento da evolução da cidade passo a passo. As cidades transformam-se a cada dia, em especial cidades com alto potencial de desenvolvimento e os planos dos colonizadores estão esgotados após 40 anos de elaborados. Mais do que quaisquer outras, estas cidades precisam já estar projetando daqui a 20 ou 30 anos, antecipando o futuro como fizeram seus colonizadores. A ameaça a estas maravilhas está na passagem da bem sucedida gestão empresarial para a gestão pública ligada à política, hoje tão questionada no Brasil. Além do dinamismo extremo e das imensas perspectivas de futuro, as terras planas tão favoráveis à agricultura não são tão adequadas ao urbanismo, exigindo cuidados especiais na expansão das zonas urbanas. Sinais preocupantes foram a inundação em Campo Novo e a denúncia de suborno de um vereador na ampliação de um loteamento em Primavera do Leste. Que estas nossas maravilhas possam continuar maravilhosas.
(Publicado em 24/10/2017 pelo Diário de Cuiabá, Midianews, Folhamax, Página d o Enock, Blog do Lúcio Sorge,  ...)

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

MONUMENTOS ILUMINADOS



 José Antonio Lemos dos Santos

     No Dia das Crianças estive na Arena Pantanal com meu filho e netos de Brasília. A Arena estava com sua máscara solar iluminada como deveria estar todas as noites. Ainda que a iluminação estivesse com algumas falhas estava maravilhosa como uma nave extraterrestre pousada em solo cuiabano. Lembrou aquele contato imediato de primeiro grau imaginado por Spielberg em seu filme da década de 70. Meu filho ficou impressionado com o número de pessoas presentes e, inclusive temeroso quanto a possibilidade de um acidente com tanta gente trotando, correndo, andando de skate, patins, bicicletas e quadriciclos em comboios com famílias inteiras felizes, distantes da tradicional e nociva combinação de tv, sofá, pipoca, pizza, cerveja e refrigerante dos lanches de domingos e feriados, que vão nos matando aos poucos.

circuitoMT

     A iluminação de monumentos urbanos é uma prática comum na maioria das cidades do mundo. Destacados com a iluminação não só afagam o ego dos locais como propiciam pontos de encontro agradáveis, e são capazes inclusive de atrair turistas gerando empregos formais e informais, renda e cultura para a população local. Assim são tratados edifícios significativos, estátuas, fontes, obeliscos embelezando e encantando os moradores e visitantes. Sei que alguns contestarão de pronto argumentando que nós precisamos é de hospitais, cadeias, tratamento de esgoto, acabar o aedes aegypti, etc. Penso, entretanto que só trataremos corretamente as mazelas do passado numa perspectiva positiva de construção do futuro. Se ajoelharmos para consertar erros do passado, ficamos de costas para o futuro e não cuidamos nem do passado nem do futuro. Como vem acontecendo. Apesar das tentativas de alguns governantes, dirigir pelo retrovisor nunca dá certo.


     E temos alguns belos exemplos em Cuiabá mesmo, as igrejas do Rosário, do Bom Despacho e Santuário da Auxiliadora quando iluminadas encantam a todos, aos daqui e aos turistas. E como ficou fascinante a igreja do São Gonçalo, no Porto, com o seu Redentor de 3,6 metros recém iluminado a 40 metros de altura. Teria ainda os mastros da Praça da Bandeira, a torre da TVCA e não me lembro de outro. Mas poderiam existir. Um deles é a Ponte Sérgio Mota. É um crime que ela não seja iluminada feericamente. Trata-se de uma edificação monumental de grande beleza e riqueza técnica, pioneira no Brasil nesse tipo de tecnologia. Um cartão postal da cidade desprezado, a nossa Hercílio Luz abandonada. Uns dizem que está assim só porque foi outro que fez.
     Aos que questionam a prioridade de equipamentos que permitem à população a fruição do belo, atividades esportivas e de lazer, gosto de perguntar se têm a ideia de quanto é poupado por ano ao sistema público de saúde pelos bonitos parques urbanos de Cuiabá, inclusive a Arena com sua praça, trazendo satisfação e alegria, que também significam saúde. E à segurança pública também pois a juventude passa ter outras alternativas que não as drogas e a violência para o exibicionismo juvenil, tão naturais nessa faixa etária.
     Outros exemplos que poderiam ser destacados na paisagem cuiabana seriam o obelisco da Praça do Porto, uma homenagem de Corumbá nos 50 anos de sua retomada pelos cuiabanos. O obelisco do Centro Geodésico marcando o centro do continente, o Palácio da Instrucção, o Palácio Alencastro e a catedral metropolitana depois de reformados, o antigo Grande Hotel, a igreja da Boa Morte e Senhor dos Passos e os velhos casarões em restauração pelo IPHAN. Não poderia esquecer o monumento deixado na cidade pela FIFA, uma grande bola  lembrando a Copa 2014 que teve Cuiabá como uma de suas invejadas sedes. Talvez o Tricentenário os ilumine, a eles a aos nossos mandatários.

terça-feira, 10 de outubro de 2017

REFORMA E LISTAS OCULTAS

tribunadainternet.com.br
José Antonio Lemos dos Santos
     Enfim a montanha pariu! Não se esperava mais que um rato. Até evito dizer o que veio à luz em respeito à instituição Congresso Nacional. Fora o deboche dos políticos com o povo brasileiro, só mexeram naquilo que lhes interessava. Primeiro, assegurar a grana para esbanjarem em suas campanhas, pois nem mesmo o maior dos caras de pau defenderia após a operação Lava-Jato a continuidade do financiamento através das grandes empresas. Também aumentaram o poder dos grandes partidos e de seus caciques criando entraves ou mesmo inviabilizando os pequenos partidos. Alguma iniciativa que viesse aumentar a representatividade e a moralidade políticas como a nação inteira esperava de uma verdadeira “mãe de todas as reformas”?
     No fundo ninguém acreditava que eles fossem acabar com a cadeira do esdrúxulo “senador biônico” cuja existência era execrada e sua extinção prometida durante  das campanhas pela redemocratização do país, promessa esquecida tão logo aboletados no poder. Ninguém esperava que fossem mexer com a questão dos suplentes de senadores, os senadores sem votos que hoje ocupam cerca de 20% das cadeiras do Senado. Nem mexer com a absurda possibilidade de membros dos legislativos pedirem licença para a composição de ministérios ou secretariados nos executivos, uma forma explícita de dominação de um poder por outro. Como estas, ninguém acreditava em alguma mexida substancial com objetivo republicano.
     Nem buscaram uma forma de cumprir a decisão da própria Justiça Eleitoral estabelecendo ser do partido a cadeira conquistada nas eleições proporcionais. Quem trocar de partido no mandato, perde a cadeira em respeito aos votos dos eleitores. Enfim, está aí a mais importante das reformas do Brasil jogadas nas nossas caras como naqueles filmes do Gordo e o Magro. Mais alterações na legislação eleitoral a serem mudadas novamente daqui a 2 anos porque não serão cumpridas. Em vez de punir os que se colocaram ou se colocarem fora da lei, mais uma vez muda-se a lei para não serem cumpridas de novo. Como a velha piada do sofá que eu citei a propósito em outro artigo.
     Relembro porém com aos leitores algo que pode ser uma réstia de esperança para as próximas eleições de 2018. Como sabemos, nas eleições proporcionais o voto nunca é perdido, o eleitor vota nas chapas ou listas dos partidos definindo o número de cadeiras a serem conquistadas, sendo eleitos para ocupá-las apenas os mais votados. Assim, é fundamental que o eleitor tenha conhecimento das listas de candidatos. Acontece que no Brasil tais listas não são publicadas e o eleitor fica que nem um bobó, vota em um e elege outro que às vezes nem queria que fosse eleito. Para se ter uma ideia do absurdo da situação nas eleições de 2016 para deputado federal menos de 1 em cada 3 eleitores inscritos votaram diretamente nos eleitos, e para vereador em Cuiabá chegou-se à exorbitância de apenas 1 em 5. É muito injusto dizer que o brasileiro não sabe votar como sempre ouvimos dizer.
     Já que dos políticos não se pode esperar nada melhor no assunto além do que já fizeram, talvez a Justiça Eleitoral possa vir de novo em socorro dos eleitores visando assegurar a representatividade de seu voto já que foi mantido o voto em listas nas eleições proporcionais. Refiro-me à publicação massiva das listas de candidatos dos partidos ou coligações para que o eleitor possa saber quem seu voto pode de fato eleger caso seu candidato escolhido não seja eleito. Imagino que não seja preciso qualquer alteração legal já que se as eleições proporcionais acontecem em listas é natural que essas listas sejam publicadas. Ao contrário, revela-se incompreensível, e até mesmo um absurdo que elas não estejam sendo publicadas até hoje.
(Publicado em 10/10/17 pelo Diário de Cuiabá sem "a cadeira do, ...)

terça-feira, 3 de outubro de 2017

POR QUE?

Foto José Lemos

José Antonio Lemos dos Santos
     Mil perguntas em busca de respostas aquecem a cabeça das pessoas. Este artigo é dedicado a algumas delas. Nem serão abordadas questões tidas como mais complexas tais como quando a ferrovia chegará a Nova Mutum passando por Cuiabá, ou quando o Brasil terá uma verdadeira reforma política? São abordadas aquelas aparentemente mais simples e que por isso mesmo tornam incompreensíveis aos simples mortais o silêncio ou as (des)explicações dadas pelos responsáveis.
     Primeiro, com seu PIB crescendo a 5,1% para uma recessão de 3,6 % no país, a maior recessão da história brasileira, como o governo do estado que mais cresce no Brasil está sempre em grandes dificuldades financeiras em suas sucessivas administrações? Isso para um crescimento populacional de pouco mais de 1%. Quer dizer, as demandas sociais crescem bem abaixo do ritmo de crescimento de suas riquezas, e não podem ser dadas como desculpa. Imaginem se Mato Grosso estivesse em recessão como a maioria dos demais estados brasileiros? Não dá para entender, só suspeitar.
     Por que os ônibus de Cuiabá da última aquisição (2016) não trazem mais em sua numeração externa o ano de sua aquisição? Muita gente não sabia pois a informação não era devidamente passada ao público, mas a bastante tempo os dois primeiros números da identificação dos ônibus indicavam o seu ano de fabricação. Uma forma simples do usuário fiscalizar se o veículo estava dentro de seu prazo de validade conforme definido nas concessões. Em vez de orientar o usuário para agir como fiscal, retiraram a numeração. Um vereador ficou de buscar as explicações, já faz tempo. Não dá para entender, só suspeitar.
Foto José Lemos

      Ainda que sem querer, um dos bons legados da Copa foi ter engajado o cidadão e a mídia em uma constante cobrança sobre o andamento de suas obras, mesmo após a realização do grande evento internacional. Por que não se aplica a mesma cobrança intensa e necessária para as demais obras públicas? Como estão o Pronto Socorro de Cuiabá, o novo aquário, a duplicação para Rondonópolis, o Hospital Central de Cuiabá, a ZPE de Cáceres?
     Por que o desprezo institucional para com o Centro Histórico de Cuiabá, Patrimônio Histórico Nacional tombado pelo IPHAN, diferencial que poderia e deveria estar rendendo muitos empregos e renda para o cuiabano? O Tricentenário poderá ser o elemento aglutinador dos governos estadual e municipal na busca junto ao governo federal os recursos que são também da obrigação da União por se tratar de seu patrimônio histórico? A prefeitura levanta a possibilidade de incentivar o uso do espaço por faculdades, resgatando a vida para o coração da cidade, assunto que poderia ser trabalhado em paralelo com a retirada do lixo aéreo deixado pelas concessionária de energia e telefônicas nos postes. Um patrimônio riquíssimo não aproveitado.
circuitomt

     Dentre diversas outras perguntas que tornam insuficiente o espaço de um artigo, lembro rapidamente do voo internacional de Cuiabá para a Bolívia. Por que não é inaugurado, apesar do interesse da empresa aérea e da autorização do governo boliviano?  Complementando a questão do voo para a Bolívia, porque o Centro Geodésico da América do Sul não é devidamente aproveitado como um polo turístico de interesse internacional gerador de trabalho, renda e cultura para a população? E por que a birra para com o futebol cuiabano, manifesto na absurda interdição do Dutrinha por falta de segurança (quais teriam melhor no estado?) e no tratamento que vem sendo dado à Arena Pantanal, um dos estádios mais espetaculares do mundo, mas que não tem condições de executar o Hino Nacional pelo não funcionamento de seu sistema de som?
(Publicado em 03/10/2017 pelo Diário de Cuiabá, FolhaMax, NewsCuiabá, ODocumento, ...)