José Antonio Lemos dos Santos
Instituído em 2003, o aniversário de Mato Grosso comemora a criação do estado em 9 de maio de 1748, por Carta Régia de Dom João V. Até então, não existia uma data em que Mato Grosso pudesse ser homenageado pelos seus cidadãos de forma conjunta, promovendo e fortificando os laços que os unem como conterrâneos, filhos de uma mesma terra, ainda que de regiões, atividades e origens culturais diversas. Este ano não houve comemorações, justamente por ocasião do 260º aniversário do estado, passados apenas cinco anos da data comemorativa. Entretanto, se não houve festa, os dados da pujança do estado trataram de fazer a festa por si.
Mato Grosso continua o maior produtor de soja, de algodão e de carne bovina do Brasil, e caminha para sê-lo na produção de milho, carne suína e de aves. Segundo maior produtor de açúcar e álcool, este ano passou a ser também o maior produtor nacional de biodiesel, aumentando em 230% - apenas no primeiro trimestre de 2008 – tudo o que produziu no ano passado. Já produz quase 20% da produção nacional do combustível que está revolucionando o mundo! Melhor de tudo, com uma redução de 14% no avanço do desmatamento - segundo o insuspeito instituto IMAZON – ainda que permaneçamos com a maior área desmatada.
Nas exportações, este foi “o melhor abril de todos os tempos” segundo a FIEMT. Com um incremento de 57% em relação a abril de 2007, segue sendo o maior exportador do Centro Oeste, exportando mais que todos os outros estados da região juntos! Líder mundial na reciclagem das embalagens de defensivos agrícolas, Mato Grosso festeja o pioneirismo nacional com o projeto do zoneamento agroambiental para o seu território, após quase 20 anos de cuidadosa elaboração técnica.
Motivo maior de comemoração é que esses números extraordinários foram conseguidos apesar de todos os entraves e agressões sofridas pelo estado e pelo povo mato-grossense nesse período. Nenhuma ajuda, nenhum gesto de simpatia pelo trabalho que engorda o superávit comercial do Brasil e abastece as mesas brasileiras e mundiais. Já pensaram se fossemos nós os produtores das motosserras? Ou de armas, bombas nucleares, ou das outras drogas que violentam e degradam a humanidade? Menos mal, produzimos alimentos.
Mato Grosso paga, porém, o preço por introduzir a agropecuária brasileira na era da tecnologia e da ciência, alcançando níveis de qualidade e produtividade jamais vistos. E por fazê-lo em uma fronteira agrícola que envolve o cerrado, o pantanal e a Amazônia, para os quais não existe ainda uma forma de trabalho comprovadamente sustentável. O sucesso dos pioneiros sempre é acompanhado de problemas novos, muitos nunca enfrentados pela humanidade, e que, por isso, não podem ser confundidos com erros e muito menos com crimes. A questão ambiental não pode ser vista, de forma apressada e simplista, apenas como um caso de polícia, repetindo erro já cometido no século passado com a questão social.
A cada ano os mato-grossenses renovam a esperança de um dia deixar de ser um dos únicos estados do país sem um centro de pesquisas da Embrapa, apesar de ser o maior produtor agropecuário do Brasil. De deixar de ser o único Estado do centro-oeste sem uma ferrovia adentrando seu território, reduzindo os custos econômicos, sociais e – principalmente - ambientais do atual e inadequado sistema de transportes de cargas. De voltar a ter gás para a sua termelétrica, assegurando energia limpa para o desenvolvimento. De ver a União – e não mais o estado - investindo nas suas rodovias federais. De ver concluído o Aeroporto Marechal Rondon.
Mato Grosso comemorou de forma eloqüente seus 260 anos com suas estatísticas de sucesso. Vai continuar assim, pois sua vocação é alimentar o mundo. A cada ano, Mato Grosso prova que unido é muito maior que todas as crises e dificuldades que enfrenta. Sua força é o trabalho de sua gente e a grandeza e diversidade de oportunidades oferecidas por seu território.
Mato Grosso é para ser imitado, ajudado em suas dificuldades e potencialidades, e não agredido a cada manchete dos jornais. Seu aniversário não pode ser esquecido, por mais atordoados que estejamos entre o trabalho que ajuda a alimentar o mundo e o “fogo amigo” do qual temos que nos defender. Daria uma grande festa anual na Praça das Bandeiras, sob o tremular das bandeiras do estado e de todos os municípios mato-grossenses, do norte, sul, leste e oeste do estado. Um aniversário a ser comemorado todo ano, cada vez com mais entusiasmo e orgulho.
(Publicado em 01/07/2008)
José Antonio Lemos dos Santos, arquiteto e urbanista, é professor universitário aposentado . Troféu "João Thimóteo"-1991-IAB/MT/ "Diploma do Mérito IAB 80 Anos"/ Troféu "O Construtor" - Sinduscon MT Ano 2000 / Arquiteto do Ano 2010 pelo CREA-MT/ Comenda do Legislativo Cuiabano 2018/ Ordem do Mérito Cuiabá 300 Anos da Câmara Municipal de Cuiabá 2019.
"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)
terça-feira, 1 de julho de 2008
MATO GROSSO, 260 ANOS
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