José Antonio Lemos dos Santos
Ao contrário do vem sendo colocado na emoção de alguns programas políticos na TV, Cuiabá vive atualmente seu momento histórico de melhores e maiores perspectivas de desenvolvimento. Na verdade trata-se de Cuiabá e Várzea Grande, que são uma só cidade, a Grande Cuiabá. Tento me explicar.
Nenhuma cidade vive de si mesma. De Livramento a Nova York toda cidade é o lugar central de uma região – maior ou menor – que gera o excedente econômico que lhe dá origem e sustentação. Cuiabá ao longo de sua história funcionou como o baluarte da civilização em uma vastíssima região – um vazio econômico no miolo continental sul-americano - destinada um dia a ser ocupada e integrada ao processo produtivo nacional e mundial. Os séculos se passaram e só a partir da década de 70, a região de fato começa a ser integrada, mas com tal êxito que hoje é a maior produtora na agropecuária nacional e uma das maiores fontes de alimentos para o mundo. Em suma: Cuiabá, que sempre foi um centro urbano pobre, polarizador de um imenso vazio econômico, hoje é o centro de uma região altamente produtiva, cada vez mais dinâmica e globalizada, rica e ávida pelo consumo de bens, serviços e insumos, que busca ser atendida pelo seu centro polarizador imediato. O desenvolvimento da economia estadual e sua conseqüente verticalização correspondem necessariamente a uma verticalização da rede urbana, com a sofisticação hierarquizada de todas as suas cidades. Assim, o desenvolvimento regional empurra Cuiabá para cima, para novos patamares de qualificação urbana. E isso já está acontecendo.
Segundo. As taxas de imigração caíram muito no Brasil nas últimas décadas, e Cuiabá reflete essa situação com um crescimento populacional beirando a 2%, muito inferior àquelas em torno dos 8% das décadas de 60 e 70. É bom lembrar que taxas acima de 7% são consideradas tecnicamente inadministráveis em cidades de porte médio ou superiores. Mesmo com dinheiro. Como devem invejar os prefeitos cuiabanos que enfrentaram o boom populacional do último terço do século passado.
Terceiro. Em especial na década de 90 a Grande Cuiabá vê a consolidação de mega-projetos que transformam positivamente suas perspectivas de futuro: 1- Manso, que, em seu aproveitamento múltiplo – ainda não totalmente explorado - oferece proteção urbana, a perenidade das águas do Cuiabá e ainda gera a energia que sempre constituiu obstáculo intransponível ao seu desenvolvimento da cidade. 2 - O gasoduto, trazendo o gás, energia limpa e barata, bem como, suas inúmeras aplicações como matéria prima para a indústria, fator de atração para importantes empreendimentos. 3 - A construção da ponte rodo-ferroviária sobre o rio Paraná, de fato o maior de todos os obstáculos à chegada da ferrovia a Cuiabá, com os trilhos chegando a Alto Araguaia, restando ser construídos apenas de 1/3 da distância original até Cuiabá. 4 - A internacionalização do aeroporto Mal. Rondon, readequado como um hub nacional e internacional, de posição central no continente. 5 - Por fim, a instalação do Porto Seco, também com as inúmeras possibilidades que oferece.
Este quadro, somado a uma posição estratégica excepcional, fecha um conjunto de condições favoráveis jamais vivido por Cuiabá e Várzea Grande, e dificilmente encontrado em qualquer outra cidade do Brasil e do mundo. Os novos prefeitos têm que assumir a posição de verdadeiros líderes dos municípios, não apenas chefes das administrações municipais. Líderes lutadores por todos os assuntos do real interesse do município, em qualquer âmbito que se encontrem, do aeroporto a ferrovia, do Porto Seco ao gás, do gasoduto e termelétrica, correndo ainda atrás da fábrica de fertilizantes, e de todos os direitos e oportunidades que a cidade desfruta.
O novo tempo já chegou a nossa cidade e pode ser lido facilmente no seu movimento cotidiano de pessoas, de novas empresas – grandes e pequenas, obras, etc. Não adianta procurá-lo nas estatísticas da década passada ou anteriores. Às futuras administrações das duas cidades cabe a responsabilidade de serem ótimos. Nada menos do que isso: ótimos. Sem desculpas. Basta colocarem-se a altura da cidade que vão administrar, prepará-la para o novo patamar urbano em que foi colocada, otimizando tudo o que tem de bom em suas perspectivas.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 30/09/10)
José Antonio Lemos dos Santos, arquiteto e urbanista, é professor universitário aposentado . Troféu "João Thimóteo"-1991-IAB/MT/ "Diploma do Mérito IAB 80 Anos"/ Troféu "O Construtor" - Sinduscon MT Ano 2000 / Arquiteto do Ano 2010 pelo CREA-MT/ Comenda do Legislativo Cuiabano 2018/ Ordem do Mérito Cuiabá 300 Anos da Câmara Municipal de Cuiabá 2019.
"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)
terça-feira, 30 de setembro de 2008
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