José Antonio Lemos dos Santos
Para Cuiabá o ano de 2009 é especial pois abre a última década de seu terceiro século de existência. Não é pouca coisa para uma cidade que teve que enfrentar inúmeras dificuldades para manter-se viva. Sem nunca ter o apoio nacional nos investimentos necessários à sua promoção ou sobrevivência - a não ser na gente das mais diversas origens que veio para formar o povo cuiabano - primeiro serviu como bastião da coroa portuguesa em meio ao território espanhol de então, depois, vanguarda ocidental na defesa e ocupação do território brasileiro e, hoje, como cidade moderna e dinâmica, centro polarizador e articulador de uma das regiões mais dinâmicas do planeta.
Qual o presente para uma cidade que completa 300 anos? Como para qualquer pessoa, o principal é que o aniversário reflita um momento saudável, feliz, com amplas perspectivas de realizações com todos os seus. O presente é apenas uma lembrança física desse momento. Para uma cidade isto significa o funcionamento de suas atividades com sustentabilidade, conforto, segurança e, sobretudo, justiça, isto é, a utopia do Urbanismo, uma situação não realizada por qualquer cidade no mundo e a ser buscada constantemente por elas. A década que iniciamos é o que nos resta para a construção dessa utopia em Cuiabá, o melhor presente para seu tricentenário, em 2019.
Em 1999, faltando 20 anos para os 300 anos da cidade, o IPDU propôs a adoção do tricentenário como foco das ações do desenvolvimento urbano a partir daquela data, lançando a expressão “Cuiabá 300”. Com o mesmo objetivo, o prefeito Wilson Santos, em sua primeira administração concebeu o projeto “Cuiabá 300 Anos”. Tanto agora, como a 10 anos atrás, a proposta não conseguiu sensibilizar a cidadania a ponto de envolvê-la em um grande projeto comum.
Sabemos que Cuiabá está distante da utopia urbana e 10 anos é um tempo curto para uma empreitada de tal porte, o que deve ser compensado com o envolvimento e a participação de toda a cidadania, a verdadeira dona e construtora da grande obra comum que é a cidade. A motivação coletiva é o primeiro desafio a ser superado e, uma vez conseguido, há quer mantido crescente de forma a explodir na festa de 2019. Um desafio supra-partidário a ser encarado sobretudo pela parte da sociedade civil organizada que já se preocupa com o assunto, e pela prefeitura, que não pode desistir de seu grande projeto, indispensável como instrumento de catalisação e controle de todos os esforços.
No meio do caminho, a Copa do Mundo de 2014 pode ser o grande exercício desse esforço coletivo por um objetivo comum. Assim também a realização anual da Corrida de Reis, cada ano mais bela e importante no cenário esportivo. Desde já, porém, não se pode pensar a festa de 2019 com o aeroporto do jeito que está, com o gasoduto e a termelétrica desativados, a rodovia Cuiabá-Rondonópolis em pista única e, principalmente, sem os trilhos da ferrovia. A história não perdoará esta geração de cidadãos e de políticos.
Motivação é matéria prima abundante a ser despertada, exigindo para isso, entretanto, competência, persistência e, principalmente, confiabilidade permanente. Todo mundo quer uma cidade melhor. O problema é que muitos entendem que essa cidade melhor é obrigação dos outros e não sua também. A cidade é uma obra de todos, e mais se aproximará do ideal, quanto mais a cidadania assumi-la como sua, de seu interesse, com obrigações a cumprir e a cobrar junto aos governos, aos demais moradores e a si própria enquanto conjunto de cidadãos.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 13/01/2009)
José Antonio Lemos dos Santos, arquiteto e urbanista, é professor universitário aposentado . Troféu "João Thimóteo"-1991-IAB/MT/ "Diploma do Mérito IAB 80 Anos"/ Troféu "O Construtor" - Sinduscon MT Ano 2000 / Arquiteto do Ano 2010 pelo CREA-MT/ Comenda do Legislativo Cuiabano 2018/ Ordem do Mérito Cuiabá 300 Anos da Câmara Municipal de Cuiabá 2019.
"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
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