José Antonio Lemos dos Santos
Cuiabá ganhou a Copa. Mato Grosso ganhou a Copa. E ganhamos muito mais do que a sub-sede do Pantanal. Por antecipação ganhamos a Copa do Mundo de 2014, independentemente da seleção brasileira sair campeã daqui a cinco anos. O valor desta vitória ultrapassa em muito a luta por um projeto de imenso valor urbano, e marca uma importante mudança de postura na vida de uma cidade quase tricentenária.
Cuiabá começou a ganhar a Copa em 2006, com uma visita do presidente da CBF, quando o governador Blairo Maggi decidiu que a capital mato-grossense podia disputar nacionalmente uma das sub-sedes, então apenas 10, do mais importante evento futebolístico mundial, quando nem o Brasil havia sido escolhido como sede da Copa e muito menos que uma das sub-sedes seria no Pantanal. Uma postura de coragem, que nunca faltou ao cuiabano, mas também de atrevimento e audácia, uma novidade para um povo pacato, que, embora sempre tenha sido grande, sempre se viu apequenado, com receio de se elogiar, valorizar suas coisas e de pleitear suas justas reivindicações. Talvez pelos séculos de isolamento, aprendeu que o novo, o bonito, o que devia ser obedecido, sempre vinha de fora, e que seu destino fosse sempre o de seguir atrás, aproveitando as quireras que sobravam da vida na corte.
Com a decisão do governador, a cidade mudou sua postura, ou na língua do futebol, o time mudou seu posicionamento em campo, deixou de jogar só na defesa, só esperando, liberou os alas, dispensou os volantes e partiu para o ataque. O torcedor prefere assim, com o time buscando a vitória. Essa postura faltava para Cuiabá, sempre tão passiva e de boa fé; e mesmo para Mato Grosso, que apesar de alimentar o mundo, vive acuado, acusado de destruidor justo pelos que constróem armas de destruição e morte e se alimentam de nossa produção.
Bastou a decisão corajosa e acertada de pleitear a sub-sede da Copa para que o povo desse integral apoio, a princípio meio desconfiado, mas logo saindo às ruas, discutindo o assunto, descobrindo que sua cidade é uma senhora naturalmente linda, instalada no exato centro geodésico da América do Sul, com muitos atributos exclusivos que podem interessar ao mundo, como sua rica história, sua cultura, seu calor, seus dois rios, seu sítio urbano emoldurado ao norte pela silhueta da Chapada e coroada ao sul pelo imponente Morro de Santo Antonio, o Toroari bororo. Que sua cidade é o centro de uma das regiões mais dinâmicas do planeta e que só precisa ser melhor tratada para explodir em toda sua beleza e qualidade de vida.
Cuiabá ganhou a Copa de 2014, pois por ela recuperou a auto-estima, a visão positiva e a unanimidade por um interesse comum, situação só vista a quase meio século atrás na vitoriosa luta pela Universidade Federal, tão forte que dobrou as vontades dos governos estadual e federal, em pleno autoritarismo. Ganhando a sub-sede aprende que, como capital de um estado campeão nacional de produção, pode e deve ir em busca de tudo aquilo que interessa ao seu desenvolvimento e ao desenvolvimento do estado. Não apenas esperar.
Agora é hora de fazer, de cobrar e principalmente fiscalizar para que a turma do “olho-grande” não desvirtue a conquista, e a sub-sede do Pantanal seja um dos pontos altos da Copa do Mundo de 2014, na terra do tão esquecido presidente Dutra, o cuiabano que lá no passado também teve a coragem de decidir que o Brasil sediaria uma Copa do Mundo, construiu o Maracanã, e fez do Brasil o país do futebol.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 02/06/2009)
José Antonio Lemos dos Santos, arquiteto e urbanista, é professor universitário aposentado . Troféu "João Thimóteo"-1991-IAB/MT/ "Diploma do Mérito IAB 80 Anos"/ Troféu "O Construtor" - Sinduscon MT Ano 2000 / Arquiteto do Ano 2010 pelo CREA-MT/ Comenda do Legislativo Cuiabano 2018/ Ordem do Mérito Cuiabá 300 Anos da Câmara Municipal de Cuiabá 2019.
"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)
terça-feira, 2 de junho de 2009
GANHAMOS A COPA
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