"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 14 de julho de 2009

A ENTRADA DA CIDADE (II)

José Antonio Lemos dos Santos

     Não foi fácil escrever o artigo da semana passada, principalmente por ter que falar mal de minha cidade abordando seu acesso pela Ponte Júlio Muller e a impressão negativa que deixa ao visitante e mesmo ao cidadão comum. O tempo é um recurso não renovável e por isso é sempre escasso, principalmente para Cuiabá tendo em vista a Copa de 2014 e o tricentenário em 2019. Cinco ou dez anos passam voando e é fundamental que sejam usados positivamente na construção da qualidade urbana indispensável à realização dos dois extraordinários eventos. Contudo, muitas vezes é necessário tocar em algumas feridas urbanas pois podem esconder problemas maiores, prejudiciais à construção do futuro.
     Arquitetura é a arte de transformar os espaços e assim, por formação, o arquiteto e urbanista é um visionário que sempre vê a realidade na perspectiva de sua transformação para melhor, sonhando utopias e imaginando soluções que originam as maravilhas construídas pelo mundo inteiro. A entrada de Cuiabá apesar dos problemas de gestão urbana descritas no artigo anterior, esconde imensas potencialidades naturais, culturais e paisagísticas que devem ser trabalhadas já e que são um “prato cheio” para os arquitetos, cada qual dando asas à sua imaginação a cada passagem por lá. Cito alguns pontos.
     Limite municipal de Cuiabá, mas coração da região metropolitana, centro e borda, a entrada da cidade é uma área rica urbanisticamente, com valores cujo aproveitamento correto pode torná-la um dos pontos mais belos e significativos da cidade. A começar pelo próprio rio que lhe deu origem, com sua beleza natural, sua ponte, e a foz do Prainha – o Ikuie-bo dos Boróros - cujas pedras ainda existentes estão na origem seu nome e do próprio rio, chamadas pelos moradores originais de Ikuia-pá – lugar onde se pesca com flecha-arpão. Deviam estar iluminados, sinalizados, legendados didaticamente e glamourizados turisticamente, com a ponte revista arquitetonicamente, até resgatando seu sentido de monumento urbano com seu antigo e pitoresco arco.
     Para a ponte convergem três grandes avenidas que devem ser repaginadas, com ênfase nos objetivos da mobilidade urbana segura, confortável: nova e especial iluminação viária com fiação rebaixada, arborização, nova sinalização horizontal e vertical, padronização de calçadas. De cara, topa-se no contra-fluxo com a XV de Novembro, de largura generosa, cuja perspectiva monumental é fechada pela torre da Igreja de São Gonçalo, com seu magnífico Redentor de 3,4 metros de altura pairando sobre o globo terrestre a 36 metros do solo. A direita o acesso à Beira-Rio (Avenida Manuel José de Arruda) e a Ten. Cel Duarte, que devem ser articuladas por uma rótula paisagisticamente tratada de forma a presentear a cidade com uma nova perspectiva monumental da Avenida Tenente Coronel Duarte, modernizada como uma autentica passarela de boas vindas aos visitante. Mais a frente, o antigo cais flutuante, hoje abandonado mas sempre sugerindo um pedestal a espera de um grande monumento sobre o rio, livre de ocupações em suas proximidades, que bem poderia ser em homenagem aos intrépidos e esquecidos navegantes platinos, os grandes viabilizadores da ocupação deste miolo continental sul-americano.
     Não há como deixar de referir a um novo tratamento para o espaço do centro esportivo do Dom Aquino, que pode continuar a sê-lo pela facilidade de acessos, envolvendo em seu complexo inclusive a terceira idade, que hoje encontra-se em um espaço segregado. Por fim, mas não menos importante, um novo edifício para o Shopping Popular, agora projetado em caráter definitivo com diversos pisos, destacando numa arquitetura contemporânea, o tradicional caráter inclusivo da cidade.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 14/07/2009)

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