"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 7 de julho de 2009

A ENTRADA DA CIDADE

José Antonio Lemos dos Santos

     Dizem que a primeira impressão é a que fica. Sendo assim, Cuiabá dificilmente deixa uma boa impressão aos seus visitantes quando chegam. Não trato dos acessos rodoviários, nem do muquifo de desembarque da Infraero. Trato da entrada de Cuiabá pela Ponte Júlio Muller, que pode ser considerada seu acesso principal, usado pelos principais formadores de opinião nacionais e internacionais, tais como autoridades, empresários, artistas, grupos turísticos, etc. Limite municipal, na prática, não limita nem divide nada, mas é o centro de uma grande cidade que envolve alguns municípios. De fato, uma das importantes áreas metropolitanas do país como pólo de uma das regiões mais dinâmicas do planeta e por sua posição estratégica continental. Centro e limite, essa entrada de Cuiabá é uma área rica urbanisticamente, com muitos valores cenográficos e culturais cujo aproveitamento correto pode torná-la um dos pontos mais belos e significativos da cidade. Contudo o que se tem hoje é o que há de pior, um faroeste urbanístico logo de cara, na entrada da cidade!
     Em grande parte remanescente do antigo “Acampamento Couto Magalhães”, da época da Guerra do Paraguai, nesse local existiram os bairros do Terceiro, Ana Poupino e Barcelos, destruídos pela cheia de 1974. A partir daí surgiram algumas ocupações compatíveis, como o Parque de Exposições e o belo Centro Esportivo Dom Aquino, bem com outras ocupações de regularidade discutíveis e discutidas até hoje. Muitas foram retiradas pela prefeitura, outras permanecem, e o que é pior, algumas outras estão sendo acrescentadas hoje. O símbolo maior de toda essa bagunça urbana bem poderia ser um mourão de arueira cravado além da tangência da curva da principal via de acesso a Cuiabá, para dentro de uma das pistas de rolamento. Todo dia engarrafamentos, acidentes, desconforto e acima de tudo, feiúra e desurbanidade, sinônimo de incivilidade. Ainda não aconteceu um acidente de maiores proporções porque o Senhor Bom Jesus de Cuiabá continua generoso e condescendente com sua terra.
     Resumindo, para doer menos: é péssima e vergonhosa a impressão desse primeiro contato. Pior, é uma impressão inescapável, cotidiana, que se renova dolorosa no peito cuiabano, pois se trata do core da grande cidade, passagem obrigatória da maioria da população. Feio, inseguro e incivilizado, expressa a impotência de todos os poderes públicos responsáveis pela construção da civitas, o bem urbano comum, impotência que na verdade envolve uma complexidade de autonomias e competências que se superpõem e se entrechocam por quase duas décadas e que supera a vontade individual dos governantes em resolver um assunto aparentemente tão simples. Como servidor público, participei de grande parte desse processo, e sou testemunha das dificuldades geradas por um barroquismo institucional descabido, incompatível com os tempos atuais e com uma cidade moderna e dinâmica.
     Há que se fazer um corte decisório e decisivo, em que todas as instituições envolvidas se re-unam pela solução de um problema comum grave, que vai além da estética urbana, envolve a segurança pública e questiona nossos padrões de civilidade. Que sejam definidos logo os direitos das partes e, segundo critérios técnicos, regularizado o que puder ser regularizado, desapropriado devidamente o que tiver que ser desapropriado, mas que se libere a área para ser urbanizada de acordo com os padrões contemporâneos e com o interesse público prevalecendo. E tem que ser urgente, pois o tempo voa. De outra forma, outras décadas passarão, e a chegada dos turistas de 2014 não será necessária para passarmos a vergonha que já passamos hoje.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 07/07/2009)

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