"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

CUIABÁ, A PÉROLA E OS PORCOS

José Antonio Lemos dos Santos



      Desde que Cuiabá ganhou a sede da Copa do Pantanal repeti algumas
vezes que esse privilégio e responsabilidade teria sido um estratagema
do Senhor Bom Jesus de Cuiabá para dar uma sacudida nos cuiabanos,
governantes e governados, para que se liguem no momento especial que a
cidade vive, agora polo de uma das regiões mais dinâmicas e produtivas
do planeta, visando a festa do Tricentenário em 2019, esta sim a maior
efeméride cuiabana no século. E parece que esse plano começa a dar
certo. A Copa resgatou o futuro no imaginário cuiabano, virando sua
cabeça cidadã para a frente e para o alto.
     O que ainda resta alcançar é a distinção entre a cidade e os
problemas que a cidade enfrenta. Na verdade ela é vítima de um
sistema de gestão urbana defasado, ilegal e corrupto, por isso
incompetente. A má gestão pública fez a cidade deficitária em
infraestrutura, equipamentos e serviços urbanos que deixaram de
acompanhar seu dinamismo. As novas administrações municipais de
Cuiabá e Várzea Grande trazem esperança de superação para esta
situação crítica. A cidade embora tricentenária revitalizou-se e
está em pleno desenvolvimento como uma adolescente saudável que não
pode ser criticada por necessitar de vestuário novo e maior a cada
momento. Cuiabá está viva e moderna como atestam os avanços trazidos
pela iniciativa privada em empreendimentos de grande porte e alta
sofisticação no ramo imobiliário, no comércio, saúde, educação, lazer
e indústria de um modo geral, que não podem passar despercebidos.
     A Grande Cuiabá é sim uma velha e linda senhora muito maltratada,
mas que rejuvenesceu-se no desenvolvimento regional que ajudou a
construir. Só precisa ser tratada de forma digna por aqueles a
quem cabe cuidá-la, suas autoridades públicas, em especial as dos
municípios que a compõem. Cuiabá é como uma pérola que escapou às
mãos da cidadania e ficou à mercê dos porcos. Há que ser resgatada
e trabalhada em todas as suas facetas de potencialidades e beleza.
Nela está o centro da América do Sul, por exemplo. Uma noite dessas
passei lá e nem a luminária do poste de rua em frente estava acesa.
Tem seu centro histórico tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional,
com um peculiar traçado urbanístico e belos exemplares arquitetônicos,
também desprezado e abandonado. Tem em seu sítio urbano o privilégio
de 2 rios e 21 córregos, riqueza florística, faunística, paisagística
e de composição climática para os quais demos as costas, assim como
também nem notamos que a cidade é caprichosamente emoldurada pelas
silhuetas da Chapada e do Morro de Santo Antonio. Nas proximidades
Cuiabá potencializa ainda o Pantanal, a Chapada dos Guimarães, as
termas de São Vicente, as grutas de Nobres e o lago de Manso.
     Além das belezas e potencialidades naturais a cidade desfruta
de posição estratégica em termos da logística continental e nacional.
É o encontro natural dos caminhos. Cuiabá viabilizou a chegada e o
avanço das rodovias, aerovias e da ferrovia em Mato Grosso e tem
tudo para centralizar o moderno sistema intermodal de transportes 
que o estado tanto precisa. Tem Manso como equipamento de proteção
urbana contra as maiores cheias e sua grande caixa d’água a 100
metros de altura permitindo-lhe um abastecimento por gravidade seguro
e contínuo, mas desprezada. Como também está desprezada a energia
abundante, limpa e barata do gás trazido por um gasoduto que custou
US$ 250,0 milhões. Todas essas maravilhas, naturais ou construídas,
compõem a beleza e a potencialidade real de Cuiabá. Desprezadas aqui,
seriam exploradas por qualquer cidade minimamente gerida como fonte de
emprego, renda e qualidade de vida para sua população. Mas, que fazer?

4 comentários:

  1. Acredito que o CAU/MT tem um imenso potencial para trabalhar sua fiscalização de forma diferenciada e eficiente, como preconizamos no CAU/BR.

    Nosso foco não é o profissional, mas sim nossa cidade.

    Fiscalizar as ocupações irregulares e áreas de risco, fiscalizar a efetiva implementação do Plano Diretor e seus diversos Planos Setoriais.

    Nós arquitetos e urbanistas precisamos estar presente nos diversos órgãos, comissões, conselhos, etc... que tratam das questões urbanas e de urbanidades, pois adquirimos ao longo de muitos anos de estudos competência e habilidade para geri-las.

    Enfim... Não vou me estender neste espaço, mas necessitamos ser mais atuantes e parar de olhar para nosso umbigo.

    O CAU veio para mudar este quadro caótico que se estabeleceu em nossas cidades... Vamos a luta!!!

    Eduardo Chiletto

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    1. Na década de 80 fui Conselheiro do CREA-MT e uma das minhas preocupações era - e é ainda - com as obras clandestinas feitas sem responsável técnico legalmente habilitado ocasião em que cheguei a ouvir de um dos funcionários responsáveis pela fiscalização que eles só fiscalizavam os profissionais registrados no órgão. Não me interessei mais em ser Conselheiro. Pelo percentual de obras sem responsabilidade técnica vistas em Cuiabá e no país, parece que essa "estratégia" perdura. Tenho esperança que o CAU - e seu comentário reforça essa esperança - venha de fato a cumprir sua principal função que é a de fiscalizar o exercício profissional no país, mas dando prioridade àqueles que o fazem ilegalmente sem a devida formação técnica e nem registro no órgão. Para mim isso é fundamental para a viabilização da atividade profissional legal e, principalmente, para a segurança da população. Outro ponto é a exigência junto aos setores públicos a criação de quadros técnicos estáveis em número compatível com a dimensão das cidades, dando destaque à cobrança da implantação da Asseria Técnica pela qual tanto lutamos e que finalmente foi criada por lei federal.

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    2. Grande amigo Zé... Você está fazendo falta no CAU/MT... Nós lá em Brasília estamos exatamente com essa diretriz no sentido de orientar os CAU/UFs neste sentido... Entrará também em pauta para discussão este ano a "residência técnica" (nos moldes próximos da saúde) "linkada" a Lei de assistência técnica, pela nossa Coordenação Nacional de Ensino e Formação, entre outras propostas um tanto "polêmicas". A discussão não será fácil, mas precisamos iniciar este debate o quanto antes e ouvirmos nossos pares.
      Grande abraço.

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