"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 15 de outubro de 2013

VITÓRIA DE MARIA


 José Antonio Lemos dos Santos

     Pode ser só mais uma das muitas histórias do futebol, mas sinto a obrigação de contá-la. Sábado passado, dia de Nossa Senhora Aparecida, ia para a missa de entronização da imagem da santa Padroeira do Brasil na Igreja Mãe dos Homens, imagem trazida de Aparecida por minha esposa e minha filha. Ia àquela missa também porque minha esposa levaria a santa até ao altar, sem dúvida uma grande honra para minha família e queria estar presente. Como elas tinham que chegar mais cedo, foram de carro e eu fui depois a pé, numa caminhada de no máximo 15 minutos.
     Caminhar de manhãzinha é muito bom. A cabeça fresca dá revolteios e faz mil viagens, até que parou na lembrança da santa homenageada do dia. Claro que há milhões de assuntos para pensar em Nossa Senhora. Mas adivinha onde foi parar meu pensamento? No futebol. Lembrei-me da fantástica história do jogo decisivo da Copa do Mundo de 1958, contada muitas vezes ao longo destas décadas em que acompanho o futebol, o então chamado esporte bretão. Para os mais novos, a história ou a lenda conta que a Copa de 58 estava preparada para a dona da casa, a Suécia, ser campeã. Não contavam ter pela frente o fabuloso escrete canarinho de Pelé, Garrincha, Zagalo e supercompanhia, que havia goleado a poderosa França. Como as duas seleções jogavam de amarelo, fizeram um sorteio para decidir qual delas trocaria de jaqueta. E, é claro, a Suécia jogou de amarelo. Sem seu talismã, a seleção brasileira ficou abatida psicologicamente. O Brasil nem havia levado camisa de outra cor e tiveram que comprar um jogo de camisas azuis, costurar distintivos e numeração de última hora.
     Essa troca da camisa arrasou realmente o time. Vendo que nessa situação o Brasil perderia o jogo e a Copa, e a vaca ia para o brejo, o chefe da delegação brasileira Paulo Machado de Carvalho viu que tinha que fazer alguma coisa e, num rasgo iluminado de inteligência, no último momento antes da seleção entrar em campo ele pediu a palavra e disse que aquela troca de camisa era um sinal de vitória pois Nossa Senhora Aparecida estava cobrindo a seleção com o azul de seu manto, abençoando a seleção que ia entrar em campo, ia ganhar o jogo e a Copa em homenagem à Padroeira. Resultado: Brasil 5 x 2, campeão do mundo pela primeira vez em terras tão distantes à época. Lenda ou realidade, faz parte das memórias do futebol brasileiro.
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     Ainda caminhando, o drama da seleção de 58 me levou ao drama do futebol cuiabano este ano com o Mixto não se classificando na série D e o Cuiabá naquele momento à beira de ser desclassificado da série C do campeonato brasileiro. Uma vitória em Brasília era improvável, não pelo time, mas por outras situações do futebol brasileiro. Quem sabe com o olhar e uma mãozinha de Nossa Senhora Aparecida? Cheguei quase a prometer em escrever depois sobre o assunto. Mas logo afastei a ideia. Nem cheguei a fazer uma promessa. Nossa Senhora tem muito mais o que cuidar do que um clube de terceira divisão do interior do Brasil. Para mim o Cuiabá estava eliminado e a cidade não teria time em qualquer das séries do futebol brasileiro, justo no ano da Copa. Fui assistir a um filme resignado com a derrota certa e não acompanhei nosso futebol como normalmente faço, no Dutrinha ou no rádio. 
     Saí do cinema com a notícia da vitória do Cuiabá, e as palavras de Émerson, o goleiro cuiabanista, sobre o pênalti que defendeu: 
“- Só tenho a agradecer a Deus por essa defesa. Nem eu sei como defendi. Deus me iluminou e pude pegar a bola. Depois disso, o time cresceu e conseguimos essa vitória importante.” 
     No meu entendimento fiquei devendo contar esta história. 
Émerson defendendo o penaltie.                 Foto: Cláudio Reis

(Publicado em 15/10/2013 pelo Diário de Cuiabá)

Um comentário:

  1. Zé,

    Somente aqueles que realmente creem é que sabem que isso existe e realmente existiu nesta situação. E viva Maria.

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