"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

EM CIMA DA ASA

M.Minikoviski

José Antonio Lemos dos Santos

     O voo 1371 de Cuiabá para São Paulo do último dia 24 chamou a atenção da mídia nacional com seus passageiros abrindo a porta de emergência e andando em cima da asa do avião após permanecerem em solo trancados por horas na aeronave aguardando em vão uma escada para desembarcarem no Rio de Janeiro, escala causada por mau tempo no local de destino. Segundo relato de uma passageira que viajava em companhia do marido, dos pais e de 2 filhos crianças, a abertura da porta de emergência teria ocorrido quando os passageiros reclamavam de calor porque as portas estavam fechadas e o ar-condicionado, desligado.
     A empresa aérea em nota informou que o avião havia pousado às 17h50 no Aeroporto do Galeão e foi dirigido ao pátio do Terminal de Cargas, um local distante com “acesso limitado” às escadas e aos serviços de transporte, “o que impossibilitou as atividades de desembarque”. Segundo a Infraero a decolagem para São Paulo se deu às 22h22, portanto
mais de 4 horas presos em solo num avião por falta de escadas! Isso no segundo maior aeroporto do Brasil! Ainda segundo a mesma passageira, “todo mundo entende chuva e aeroporto fechado, ninguém entende ficar sem informação e sem perspectiva por horas e horas". A abertura da porta de emergência e a invasão da asa foram então um legítimo e até natural gesto de desespero e protesto em resposta à sensação concreta de falta de ar e de respeito, o mínimo que se pensava assegurado aos passageiros na compra de uma passagem. 
     Aliás, seria também caso de um passeio em cima de alguma asa as cobranças do ministro da Aviação Civil no dia anterior em sua primeira visita às obras do Aeroporto Marechal Rondon, prioritárias na matriz de responsabilidade do governo federal com a Fifa para a Copa do Mundo 2014. Vale destacar que, em princípio qualquer cobrança é válida em se tratando de obras atrasadas em um compromisso nacional tão importante. Mas, quanto a esta, vinda de onde veio, cabem algumas considerações. Será que o ministro se lembra de que o aeroporto é uma responsabilidade federal, através da Infraero? Será que ele sabe que após a escolha de Cuiabá como uma das sedes da Copa a Infraero demorou 3 anos e 7 meses para aprontar o projeto, para só então sair a ordem de serviço para as obras? Obras que na verdade só deslancharam a partir da presidenta Dilma ter trazido a aviação civil para seu gabinete e feito substituições na direção geral e local da Infraero, mas, principalmente porque o governo do estado chamou para si a execução das obras. Sem estas medidas, a ampliação do aeroporto sequer teria sido iniciada até hoje, inviabilizando a Copa do Pantanal. 
     Outro dia foi a então ministra da Casa Civil, “comandante da força-tarefa” criada para garantir a realização da Copa, quem apareceu na imprensa nacional, não na obra, falando em estrutura de lona para o Marechal Rondon, que já se encontrava coberto. Agora o ministro da Aviação Civil, em sua primeira visita a obra aparece fazendo cobranças que também deveriam lhe destinar. A presença física das altas autoridades, em especial as federais, no acompanhamento de obras essenciais como a do Aeroporto Marechal Rondon, além de necessária, sempre será bem-vinda ao hospitaleiro povo cuiabano. Mas que seja para ajudar. Neste momento em que as obras deslancham, a presença deles será importante para assegurar a continuidade desse ritmo, e até acelerá-lo se for o caso. Por exemplo, a denúncia dos repasses atrasados feita semana passada pela empreiteira é grave e tem que ser esclarecida e resolvida já. Procede a reclamação? Alguém segura o repasse? A Secopa ou a Infraero? Esta obra não pode parar de novo, nem diminuir seu ritmo. Ainda dá tempo, mas não para mais erros. 
(Publicado em 04/02/2014 pelo Diário de Cuiabá)

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