"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 20 de maio de 2014

O CUIABANO QUE TROUXE A COPA

José Antonio Lemos dos Santos

     Domingo passado, dia 18, devíamos ter reverenciado Dutra, o cuiabaninho do Mundéu que vendia bolos no centro de Cuiabá e que chegou a presidente da República. Filho de viúva de veterano da Guerra do Paraguai, pobre, sem nenhuma ajuda saiu daqui lavando pratos nas lanchas e trens que o levaram a um colégio militar, e de lá à presidência da República e à História do país. Foi e venceu, mantendo forte influência na política brasileira até o fim da vida. Um motivo de orgulho nacional, cujo aniversário, entretanto, passou despercebido, em especial, em sua própria terra, desprezo agravado por ser o ano da Copa do Mundo, da qual Cuiabá é uma das sedes. Dutra merecia ser homenageado pela Copa do Pantanal, pois foi este cuiabano quem trouxe para o Brasil a primeira Copa do Mundo, em 1950. Presidente, queria mostrar ao mundo um Brasil novo, com grandes cidades, que deixava de ser rural e se industrializava. Construiu o Maracanã, o maior do mundo, que junto com a Copa trazida por ele foi um dos motivos da consolidação do futebol como uma das maiores paixões nacionais.
     Não fosse pela Copa, mesmo assim o aniversário de Dutra tem que ser lembrado. Injustiçado pela história oficial, sua vida pública inicia como ministro da Guerra, onde ficou por 9 anos, o ministro brasileiro mais duradouro, onde criou a FEB e depois, com o apoio dos oficiais vitoriosos contra as ditaduras nazifascistas, forçou a queda do ditador Getúlio. E de  
ministro foi a presidente pelo voto do povo, tendo sido um dos mais importantes pelas inovações que trouxe ao Brasil. De imediato convocou a Constituinte organizando a volta do país à democracia. Eleito para um mandato de seis anos curvou-se à nova Constituição aceitando os cinco anos que estabelecia, mesmo sendo presidente e o militar mais poderoso do país. Aos que temiam a volta de Getúlio e lhe propunham um golpe para ficar mais um ano, respondeu: “nem um minuto a mais, nem um minuto a menos do que manda o livrinho”. Virou “o homem do livrinho”, da Constituição mais democrática que o Brasil já teve, assinada por ele. Como pode ser esquecido?
Dutra, o primeiro a subir a rampa do Maracanã. (jblog)

     Dutra introduziu o planejamento no Brasil com o Plano SALTE e criou o CNPq, cuja Lei de criação é tida com a Lei Áurea da tecnologia brasileira. Implantou o conceito de Produto Interno Bruto e pavimentou a primeira grande estrada no Brasil, a Via Dutra. Criou o Instituto Rio Branco, base da qualidade de nossa diplomacia, e a Chesf. É dele também a criação do Estado Maior das Forças Armadas e da Escola Superior de Guerra, fundamento da inteligência estratégica nacional. Criou ainda os sistemas Sesi, Sesc e Senai, e durante seu governo foi inaugurada a TV no Brasil. Ficou com a culpa do fechamento do Partido Comunista, na verdade uma decisão do STJ, e por isso, e também por ter fechado os cassinos, desagradou à esquerda formadora dos historiadores, jornalistas e artistas da época, e foi jogado ao ostracismo.
 Dutra assina Decreto de criação do Sesi. (sesisp.org.br)

Foto viadutra.com.br

     Uma das promessas iniciais da Copa do Pantanal foi a criação do Memorial Dutra, uma justa e oportuna homenagem a um presidente tão importante para todos os brasileiros em sua terra natal. O projeto foi depois abandonado pela Copa, mas não pode ser abandonado pelos cuiabanos. Talvez até ampliado com o nome em uma rua como já tem o adversário que derrotou nas eleições presidenciais. Não teria sobrado um viaduto, trincheira ou avenida para ele? Talvez trazer para Cuiabá um Colégio Militar, prometido desde a década de 50? Toda cidade é um centro de produção, mas o produto de uma cidade vai muito além da economia. Seu principal produto é sua gente e a qualidade de seu povo deveria ser a melhor medida de seu sucesso. Por isso, as cidades lembram e reverenciam seus vultos. Infelizmente, nem todas. 
(Publicado em 20/05/14 pelo Diário de Cuiabá)

14 comentários:

  1. No Midianews:
    "Abdão Moreno 20.05.14 14h11
    Obrigado José Antonio, por esta importante matéria, que deveria ser impresso em panfletos e e ser distribuido em todas as escolas e instituições púbicas de Mato Grosso, e desse texto fosse tirado questões de Concursos públicos e Vestibulares da Unemat e e outras Universidades matogrossenses."

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  2. No Midianews:
    "Maria 20.05.14 14h20
    Parabéns professor, uma bela lembrança a um povo sem memórias!"

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  3. No Midianews:
    "Márcia Martins 20.05.14 15h03
    Importante lembrança. Concordo plenamente com o Sr. Antônio. Eu acho que deveríamos ter um memorial ao Presidente Dutra em Cuiabá.

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  4. No Midianews:
    "Gean 20.05.14 18h04
    Que coisa linda esta matéria, 90% dos cuiabanos não sabem desta riqueza de história, a Câmara de Vereadores deveria junto ao Prefeito fazer um museu em Homenagem aos ilustres cuiabanos que deram sua contribuição ao Brasil, como Dante, o nosso presidente Eurico Gaspar Dutra, ao Marechal Rondon, entre vários outros, cadê a "obrigação" dos vereadores da capital lutar por um ideal, um valor histórico e rico para a cidade de Cuiabá e seu estado Mato Grosso??"

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  5. No Facebook:
    Roberto Loureiro 20/05/14
    "Magnifico!Devia ,este texto, ser tema obrigatório nas escolas .Nossa Cuiabá teima em nãoter memoria.Uma lastima."

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  6. No Facebook Abílio Jacques Brunini Moumer 20/05/14:
    "Juro que na primeira lida rápida do título, pensei ter visto, "os cuiabanos trouxas da copa", ainda bem que prestei atenção e li o artigo, que por sinal é muito bom, como sempre. Porém logo após lê-lo percebi que minha percepção primária não estava tão errada assim. Somos capazes de em obras públicas dar nome de Pai de político, com pouca significância, mas as nossas referências históricas são esquecidas."

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  7. Parabéns José Antônio - Bela Matéria - Sou Paranaense e estou em MT há 37 anos - Muito me admiro nossos políticos locais, em vez de homenagear pessoas que realmente fazem alguma coisa ficam puxando saco de políticos corruptos

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  8. No Midianews:
    "Wanderley Pedro de Andrade 21.05.14 00h12
    José Lemos, seus artigos são um convite para que "zelemos" não somente por Cuiabá, mas também pela Cultura, pela História, pelo resgate dos nomes de nossos ídolos do passado (até porque no presente não os temos). Obrigado por nos brindar com os frutos de seus estudos, de seu capricho e entusiasmo pelas coisas nossas. Por essas e outras, tenho orgulho por sermos daquela época em que começamos apreciar, a amar e a defender, mesmo com as nossas limitações, a nossa tão querida Cuiabá, o nosso querido Mato Grosso. Por falar nisso, deixo um pedido: aproveite esse seu importante espaço midiático para dizer a quem interessa possa que não somos filhos "do Mato Grosso" e sim "de Mato Grosso"; que não moramos "no Mato Grosso" e sim "em Mato Grosso. Um grande abraço.

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  9. No Midianews:
    "Jota Alves 21.05.14 05h27
    Com Silva Freire, Wlademir Dias Pino, e outros, tentamos criar o Panteon...Murtinho,Azeredo,Rondon, Dutra, Traçaia. Será que há uma foto do presidente Dutra no Estádio Dutrinha? O desprezo é incrível. Estamos pagando caro por isso. Os Bárbaros não conheciam, e por isso não respeitavam, a história de Roma."

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  10. No Midianews:
    "aluizio manoel de oliveira 21.05.14 07h21
    Cuiabá tem uma história muito linda. Talvez são esses antepassados que irão trazer de volta o orgulho ao povo cuiabano. Porque ultimamente estão acontecendo coisas, que estão nos deixando de cabeça pra baixo. São essas mesmas pessoas que deixam os cuiabanos de cabeça para baixo, que acabam ocultando os valores deste povo. É a inversão de valores. Mas, bola pra frente. vamos lá Cuiabá!!! "Depois da lama, poderá vir o asfalto!""

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  11. No Midianews:
    "raphael curvo 21.05.14 10h33
    há muito deixou de ser lembrado.....mas existe um por que?...pelo que sei...nunca voltou a Cuiabá....e corria falas popular de que não gostava de onde nasceu....averigue"

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    1. Ele voltou aqui como presidente. Tive oportunidade de conversar com o Cel. Zaramella que foi seu ajudante de ordem enquanto esteve aqui que me disse que o presidente ajoelhou junto ao túmulo da mãe no Cemitério da Piedade, andou pela cidade, visitou amigos.

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  12. No Diário de Cuiabá:
    ""Pois é, professor: o brasileiro, onde se inclui os cuiabanos, que não sou, apesar de meus netos e bisnetos serem, é carente de informações e, pior, de conhecimentos. Muito bem lembrado e posto seu artigo. Não se surpreenda, porém, se ganharmos a Copa - o que, com muita dor no coração, espero que não aconteça, para consolidar a derrocada do PT, dos quadrilheiros - quantos 'heróis' da bola serão lembrados para 'homenagear' alguns de nossos logradouros/obras com seus nomes. Deus que, embora mereçamos, não nos castigue!"

    JOÃO GALDINO DE MEDEIROS, economista, Cuiabá/MT "

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  13. No Diário de Cuiabá:
    ""Parabéns, professor José Antônio Lemos dos Santos, por mais um belo artigo neste jornal. O presidente Dutra é merecedor, sim, de nossas homenagens. Como não foi possível reverenciá-lo durante a Copa, por que não fazê-lo no tricentenário de Cuiabá? O Memorial Dutra poderia ficar no prédio histórico situado em frente ao estádio Dutrinha, um espaço que parece não estar sendo utilizado."

    LUIZ EDUARDO ARRUDA, Cuiabá/MT "

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