"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 6 de outubro de 2015

FICO E VLT

Colisão de VLT e BRT em charge do Professor José Maria Andrade, especial para o meu livro "Cuiabá e a Copa- A preparação."


José Antonio Lemos dos Santos

     Cerca de um mês atrás, o prefeito de Lucas do Rio Verde, Otaviano Pivetta, atacou em entrevista o projeto do VLT em Cuiabá, dizendo entre outras coisas tratar-se de um “crime” e “um dinheiro que foi tirado das necessidades prioritárias do Estado, para fazer esse sonho louco, que eu não sei de quem foi”. Pena que o sr. Pivetta não tenha usado do seu indiscutível prestígio empresarial e político quando do momento da intempestiva troca do BRT pelo VLT, para tentar impedi-la. Também considerei absurda a troca em artigo intitulado “Sou BRT”, mas, em março de 2011, época da discussão. Hoje, depois gastos mais de R$ 1,0 bilhão, já acho que um absurdo seria o abandono de suas obras.
     Contudo, ao trazer à baila o VLT, o sr. Pivetta nos faz lembrar a tão prometida ferrovia de Integração do Centro Oeste – a Fico, da qual, por coincidência, é um dos principais idealizadores, de 1.200 km, surgida também de uma hora para outra em troca da paralização do projeto da Ferronorte em Rondonópolis, a 460 km de Nova Mutum. Assim, lado a lado, a Fico e o VLT lembram o caso do sujo e do mal lavado.    
     Não sou contra o VLT nem contra a Fico. Sou contra a oportunidade de ambos. O VLT é um modal usado no mundo inteiro e que muito bem pode ser utilizado em qualquer cidade do mundo, em sistemas de modais integrados conforme recomenda a moderna técnica da mobilidade urbana. Mas, considerando que a demanda na época da troca era atender a Copa em um prazo exíguo de 3 anos, era claro que não dava para ser executado. Deveria então ser mantida a opção pelo BRT, já com projeto e financiamento aprovados, de execução mais rápida e a um custo 3 vezes inferior ao do VLT, este sem projeto e ainda em um processo de discussão de financiamento que enfim se desenrolou de forma tumultuada, com denúncia de troca de pareceres técnicos no Ministério das Cidades e, inclusive, com queda de ministro. Um escândalo.    
     Também não sou contra a Fico. Mato Grosso é um gigante produtivo centro-continental e sua redenção é a abertura de caminhos, em todos os modais e direções. Quanto mais, melhor.
Assim, penso que em breve chegará o momento para a Fico. Mas nosso problema hoje é atender a questão da logística de transportes que vem travando nossa potencialidade produtiva, com imensos prejuízos aos nossos bravos produtores, prejudicando o meio ambiente e matando muita gente querida nas estradas. Aliás, este artigo foi provocado pelos dados divulgados pelo Ipea, na semana passada, dando conta que em 2014 ocorreram 4.460 acidentes nas rodovias federais em Mato Grosso, com 283 mortes, mais que a tragédia da boate Kiss que nos faz chorar até hoje a morte de 242 jovens. Nossas estradas tornaram-se trágicas graças, em grande parte, ao dinamismo mato-grossense ter extrapolado em muito a capacidade do modal rodoviário, exigindo ferrovias e hidrovias complementares. Em 2014, esses acidentes em nossas estradas custaram R$ 486,7 milhões, e na produção 18 milhões de toneladas de grãos ficam ao relento aguardando transporte e, quando transportados, cerca de 2 milhões de toneladas de soja e milho por ano são perdidos, “vazando” pelas rodovias. Triste. Puro desrespeito a um povo trabalhador.    
     Nesse quadro emergencial e dramático é incompreensível a paralização do projeto da Ferronorte em Rondonópolis com o maior terminal ferroviário da América Latina em total funcionamento a apenas 460 km de Nova Mutum, em plena área de produção de grãos, a 230 km de Cuiabá, maior polo consumidor, distribuidor e concentrador de mão de obra do estado. 
Projeto paralisado em troca da Fico com 1.200 km em direção à ferrovia Norte-Sul, inacabada em Goiás. Enquanto isso a natureza sofre, a economia perde e o povo morre nas estradas.   

(Publicado em 06/10/2015 pelo Midianews, Jornal Oeste, ....)

Comentários:
No Midianews:
Jorge Luiz  06.10.15 08h56
É bom que os eleitores de MT, principalmente do Vale Cuibá, tenham consciência política e saibam escolher representantes para o Estado, não apoiando políticos bairristas como o Sr. Otaviano Piveta. MT se entende como 141 municípios, não apenas Lucas do Rio Verde.

Lopes  06.10.15 08h26
O que o sr. Piveta queria a época daquele comentário fora de tempo, era isso: REFLETORES

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