Turistas no Centro Geodésico - Foto José Lemos
José Antonio Lemos dos Santos
Aqueles que nesta série de artigos me dão o privilégio semanal de suas leituras me perdoem, mas renovo a explicação introdutória de que estou aproveitando a ocasião das eleições municipais e da elaboração do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado do Vale do Rio Cuiabá (PDDI/VRC), para destacar alguns importantes fatores positivos capazes de impulsionar o desenvolvimento da Baixada Cuiabana. Fatores que estão aí prontos para serem usados com inteligência. Lembro neste artigo o Centro Geodésico da América do Sul, assim como já lembrei outros potenciais geradores de emprego e renda disponíveis no Vale do Rio Cuiabá e que estão de um modo geral abandonados ou subutilizados. Entre outras fontes, busco inspiração nos diversos artigos em que tratei do tema, desde o publicado em 1986 no saudoso “O Estado de Mato Grosso”, capeando caderno especial sobre o assunto, no qual diversas autoridades da época manifestaram-se a favor em sua quase totalidade.
Estivesse o centro geodésico em qualquer outra cidade do Brasil, há muito seria atração turística importante, promovendo a qualidade de vida de sua gente, ainda mais nesta época em que a integração do continente é tão propalada por motivos desde ideológicos, diplomáticos, comerciais ou culturais, até aos atuais projetos logísticos transoceânicos. Cuiabá tem a exclusividade do marco geodésico continental no antigo Campo D’Ourique, em frente à atual Câmara de Vereadores de Cuiabá identificado pelo Marechal Rondon, reconhecido mundialmente como um dos maiores personagens da humanidade, a ponto de ser indicado ao Nobel da Paz por Einstein e outras entidades científicas internacionais. Seria até hoje o único brasileiro a receber tal honraria. Não recebeu por ter falecido justo no ano da premiação e naquele tempo não havia a premiação post-mortem.
Deville
A ideia era, e ainda é, criar naquele espaço um centro referencial para a cultura sul-americana, aproveitando com as devidas adaptações a atual sede da Câmara, que deveria ser deslocada – e um dia será - para lugar mais destacado e acessível, como aliás chegou a propor Blairo Maggi, então governador, quando da transferência da Assembleia Legislativa para o CPA. Um lugar onde se desenvolvessem estudos, exposições, congressos, festivais e outras atividades sobre as manifestações populares do continente como, por exemplo, cursos das diversas línguas atuais e pré-colombianas (quíchua, aimará, guarani e outras), gastronomia, danças, oficinas de ensino e de fabricação de instrumentos musicais como a belíssima harpa paraguaia, o charango, as flautas andinas, a nossa viola de cocho, etc. Podia até iniciar com uma festa anual simples, aproveitando as colônias locais em um grande abraço sul-americano, em comemoração à cultura popular do continente com barracas de cada país, música, dança, comidas típicas.
Mas é preciso pensar grande, à altura do significado mágico daquele pedaço de terra no antigo Campo D’Ourique. É fundamental que os setores governamentais e empresariais queiram e se articulem, em especial o setor turístico e hoteleiro, este com capacidade ociosa pós-Copa. O voo regular para a Bolívia está prometido para dezembro. Junto às belezas do Pantanal, Chapada e Nobres, das termas de São Vicente, do Memorial Rondon, da Amazônia, do Cerrado e das fantásticas paisagens da agropecuária high-tech, com seus rebanhos, algodoais, campos de girassol e de soja, um centro cultural sul-americano no centro da América do Sul transformará Cuiabá em um pacote de atrações muito vantajoso ao investimento do turista nacional e internacional. Empregos, renda e desenvolvimento, principalmente cultural, é o que Cuiabá e Mato Grosso ganharão. Um dia acontecerá. Por que não agora?
Publicado em 17/09/2016 pela Página do Enock, MidiaNews, Diário de Cuiabá, FolhaMax site do CAU MT, HiperNotícias, ...)
COMENTÁRIOS
No HiperNotícias:
Carlos Nunes - 19/09/2016
"Há controvérsias...o profº Lenine Póvoas, num curso sobre História de MT, que deu certa vez na Academia Matogrossense de Letras, afirmou categoricamente que: campo D'Ourique nunca foi centro geodésico coisa alguma. Nos seus registros históricos constava que confundiram "alhos com bugalhos". Quando Rondon foi escalado para medir a região de MT, fazer mapas, etc, tinha que escolher o marco ZERO da medição, e escolheu aquele lugar, como poderia ter escolhido outro. Então confundiram e afirmaram que lá era o centro geodésico da América do Sul. Como calcular o centro geodésico atualmente? Bem, com essa modernidade atual da tecnologia fica fácil, deve ter um método confiável que mostra onde fica realmente."
José Antonio Lemos dos Santos - 22/09/2016
Prezado Carlos Nunes, agradeço o privilégio da leitura e a gentileza de seu comentário, que ajuda muito a esclarecer esse importante valor de Cuiabá. Antes de tudo, meu repeito à lembrança do saudoso professor Lenine Póvoas. Como sabemos, grosso modo um marco geodésico é um ponto materializado no terreno que assinala uma posição cartográfica precisa. No Brasil e no mundo são milhares ou milhões que juntos formam a rede geodésica. Aqui mesmo tem muitos (ex. na Praça Luis de Albuquerque, no Jardim Alencastro, no mirante da Chapada, etc.). Mas sobre esse assunto cabe lembrar o prof. Aníbal Alencastro que diz que a história desse marco começa com Joseph Barbosa de Sá que no século XVIII já afirmava sobre Cuiabá que: “Achace esta Villa assentada na parte mais interior da América Austral, em altura de quatorze graos não completos ao Sul da linha do Equador, quase em igoal paralelo com a Bahia de Todos os Santos, pela parte Occidental com a cidade de Lima, capital da Província do Peru, em distancia igoal de huma e de outra costa setecentos e sincoenta légoas que sam as mil e quinhentas que tem latitude nesta altura deste continente,...”. Conta ainda Alencastro que Rondon sabendo da informação de Barbosa Sá mandou calcular o tal ponto e em 1909 instalou o importante marco como apoio referencial aos seus trabalhos de implantação da Linha Telegráfica ligando o Rio de Janeiro a Mato Grosso e Amazonas e que depois também serviu de base para o trabalho de consolidação das fronteiras brasileiras e de “marco zero” para a elaboração do primeiro mapa do Brasil ao milionésimo, duas outras hercúleas tarefas cumpridas por Rondon de forma extraordinária. Posteriormente foi realizado o mapa da América do Sul que adotou como base o mapa do Brasil ao milionésimo elaborado por Rondon e seus técnicos, o qual teve como centro para todas suas medidas o marco geodésico instalado no antigo Campo D’Ourique, o marco zero, o centro de todas as distâncias.. Por isso é considerado o Centro Geodésico da América do Sul. Muitos confundem, aí sim, com o centro geográfico, mas este também informado por Barbosa Sá e confirmado geodesicamente naquele local pela equipe de Rondon. Por isso, Cuiabá tem sim o privilégio de ter o Centro Geodésico da América do Sul.
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