"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 11 de abril de 2017

CUIABÁ, SONHO E REALIDADE

Doriane Azevedo

     Sempre me indagam qual a Cuiabá 300 anos” dos meus sonhos e, fica claro que estão vislumbrando apenas o ano de 2019. Um dos nossos grandes equívocos enquanto sociedade: o pensar e agir pequeno, de forma imediatista, em curto prazo, sem planejamento. Não se constrói uma cidade, um município assim.
     Cuiabá (que nada mais que é do que NÓS ,SOCIEDADE, construída por nós enquanto indivíduos, enquanto grupos), tem muitas qualidades, mas insistimos em agudizar os defeitos e criar problemas de toda ordem. E como agimos (e aceitamos que nossos gestores ajam também): Falta espaços públicos de lazer e recreação? Rapidamente criam-se “parques”, “orlas decoradas”. Mas, enfrentamos as outras questões que acompanham a criação dos parques? Supervalorização imobiliária e segregação socioeconômica; falsa preservação ambiental na presença de córregos e lagoas usadas como “redes de esgotamento sanitário”. Temos problemas de mobilidade, sem discutir o que implica de fato, falamos muito de condições melhores para pedestres (mas será que lembramos que todos somos pedestres?) e ciclistas (estamos pensando em quem? No ciclista “paramentado” com seus equipamentos de proteção e sua “bike” cheia de recursos, ou no “senhorzinho” que pedala a antiga “Caloi”, contando com sua força para vencer seu percurso árido, inseguro. Alguém fala deste ciclista? Aliás, alguém o vê?). E, “todos queremos” transporte público de qualidade, mas o que apoiamos (e comemoramos) é a construção de viadutos, trincheiras, mais e mais pistas de rolamento, pois a ideia é mais e mais espaço para automóveis privados em circulação e estacionados (sobre as calçadas, tudo bem!), e mais e mais poluição, e mais e mais acidentes, definindo um dia-a-dia perigoso para todos, um futuro alijado para nossos futuros jovens e adultos. Assim vamos acumulando “Parques das Águas” – o que importante é o espetáculo da dança das águas -, “Orlas do Porto – que cenário lindo para brincamos de faz-de-conta que valorizamos nosso patrimônio cultural. Tudo bem se esquecemos a realidade do Porto e do Centro Antigo; VLT's – o que importa é o traçado, e daí se não consideramos quaisquer implicações que este terá no urbano. legados negativos da insistente opção por intervenções urbanísticas pontuais e desarticuladas de uma (necessária e contínua) Política de Planejamento em todas as dimensões.
     É essa a Cuiabá que queremos para nossos próximos 100 anos, porque, 300 anos comemoramos em 2019, mas construímos os 300 anos por muitas décadas, pelo menos até 2119, já pensaram nisso? E por falar em política de planejamento, esta precisa da Gestão para ser implementada . É a gestão do Fulano? Do Cicrano, que é do partido “X”? Ou do Beltrano, do partido “Y”?. Isso importa? Importa como nos posicionamos como sociedade que integra essas gestões. Apoiamos uma Gestão de 04 anos ou Gestões para Cuiabá? Vamos deixar de lado essa discussão e seguir (sem rumo), pois “planejar não é preciso”, “fatos sociais são precisos”.
     Deixa disso Cuiabá, ou melhor, deixa disso, minha Gente!) O sonho, o meu sonho, que acredito que é de muitos, é de uma mudança -, idealizada e materializada, para melhor todo dia, pelo longo prazo que se fizer necessário – nossa existência! E, para realizar esse sonho, não é possível enquanto individuo, muito menos sem planejamento e gestão.
     Cotidianamente sonho com uma ( e acordo disposta todos os dias para trabalhar por uma) Cuiabá que não bateria palmas para fatos sociais – resultado de obras pontuais, desarticuladas do Planejamento do seu território em todas as dimensões (social, político, econômico, cultural...). Para nossos próximos 100 anos (e muitos outros), quero contribuir (enquanto indivíduo, sociedade) com a discussão e planejamento de um conjunto de ações integrais e integradas para que, juntos, construíssemos e consolidássemos uma Cuiabá inclusiva – TODOS EM TODOS OS LUGARES. Um município que se reconhece e se integra em sua Região Metropolitana, no seu Estado, no Brasil.
Quero que este sonho se torne realidade, uma realidade, que como tudo, deve ser construída com paciência e muita persistência, todos os dias, todos os anos, por décadas, independente das Gestões (elas passam, nós permanecemos). Para Cuiabá, para todos nós, desejo que acordemos desse pesadelo que insistem em ser a nossa realidade, para, de fato, construirmos nossa MELHOR REALIDADE PARA OS “NOSSOS” 300 ANOS DE CUIABÁ!!!.

Doriane Azevedo, Arquiteta e Urbanista é Profª Drª FAET/UFMT.

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