"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



segunda-feira, 8 de outubro de 2018

O VOO DA ÁGUIA

Imagem Internet
 José Antonio Lemos dos Santos
     Neste domingo do primeiro turno das eleições o Facebook trouxe uma foto e um comentário sobre o “Monumento Ulysses Guimarães” na avenida do CPA lembrando sua construção na gestão do prefeito Dante de Oliveira e que simbolizaria “a ação metafórica de uma Águia voando em direção à região norte do Estado de Mato Grosso, onde por certo está e estará ocorrendo o desenvolvimento, principalmente o econômico financeiro e ainda a miscigenação das culturas que para cá vieram...” Oportuna a lembrança justo na semana em que a Constituição Brasileira completava 30 anos e exato no dia da realização uma das eleições mais importantes e difíceis já realizadas no Brasil.
     O monumento, hoje bem degradado, projetado com o colega Ademar Poppi, suscita algumas interpretações, umas lúcidas como esta da postagem, outras jocosas como a que dizia que o marco de fato apontava para o Palácio Paiaguás que seria o alvo político do então prefeito. Lembro também de uma tipo mundo-cão que via os círculos concêntricos em pedra portuguesa (não mais existente) em volta do monumento como se fossem ondas circulares no mar em torno do rabo semimergulhado do helicóptero em que faleceu o grande político brasileiro. Criatividade.
     Mas, de fato o monumento foi proposto por Dante de Oliveira como uma homenagem a Ulysses Guimarães, o político fiador do processo de redemocratização do Brasil e de sua nova Constituição. Foi idealizado como expressão simbólica da transição entre o período militar e a democracia que se instalava no país. O partido arquitetônico foi então uma águia, uma ave forte, valente, criada pelo renomado escultor Nikos Vlavianos, simbolizando a democracia alçando seu voo no Brasil, um voo que se pretendia cada vez mais alto, livre, seguro e verdadeiro, como pretendemos até hoje. Uma vez aprovado o partido era preciso que ele tivesse uma direção, um rumo determinado e escolhemos o Norte, o marco zero da bússola, a partir do qual todas as direções se orientam.
     Mais que agradável, a referência ao também chamado “Monumento à Democracia” neste momento é muito oportuna pois enseja uma avaliação de a quantas anda nossa águia democrática em seu tão acalentado voo alçado a cerca de três décadas atrás. Em especial agora em que acaba de ultrapassar um momento de enorme turbulência sendo bombardeada por todos os lados, à esquerda e à direita, talvez a maior barreira de fogos que já tenha enfrentado dentre os diversos momentos de risco que enfrentou. A morte de Tancredo, a posse de Sarney, os impeachments de Collor e Dilma foram momentos em que a democracia se mostrou suficientemente forte para resistir e resistiu, ainda que enlameada pela a corrupção que vinha se generalizando e se generalizou plenamente. No início de 2018 a agenda das enormes dificuldades para o ano já se mostrava lotada em especial com o julgamento em segunda instância do ex-presidente Lula e seus graves desdobramentos e também com as eleições previstas para outubro que já se prenunciavam em tons de radical polarização. Tudo isso envolto em um ambiente de forte desemprego. Porém, além das previsões vieram o escândalo da JBS e a greve dos caminhoneiros. Muito difícil. As chances da nossa águia da democracia ser abatida tornaram-se então enormes.
     Eis que em meio à tormenta surge uma força de alento com pesquisa Datafolha constatando o apoio à democracia por 69% da população brasileira, número jamais alcançado no Brasil, nem mesmo durante as primeiras eleições após a redemocratização, quando se instalou em Cuiabá a águia de bronze que lembramos hoje a alçar seu voo democrático em nosso país. Ainda que chamuscada, ferida, enlameada, a grande ave valente persiste em seu voo e vai vencendo os obstáculos.

3 comentários:

  1. Meu caro José Antônio, será que ultrapassamos mesmo este momento de turbulência, como você escreve? Acho que estamos metidos no olho do furacão... talvez eu esteja errada e você certo, talvez eu esteja assustada com os possíveis rumos que vai ser dado a este país que no momento está sem rumo! Mas como sempre, você é porta-voz da esperança e lança uma luz no fim do túnel quando diz que "Ainda que chamuscada, ferida, enlameada, a grande ave valente persiste em seu voo e vai vencendo os obstáculos".Deus te ouça, José Antônio, arauto da esperança! Grande abraço

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  2. Prezado José Antônio, o Brasil carece bastante deste culto as suas grande personalidades, principalmente neste momento em que impera a tensão entre correntes divergentes. Por isto, seu artigo foi bastante oportuno e espero que possa ter servido para reflexão de muitos. Forte abraço.

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  3. Nada como ouvir um relato de uma pessoa sensivel e capaz de traduzir um momento vivido , ontem, o hoje e o amanham, sempre com esperança de dias melhores ; mesmo com a nossa jovem democracia e diria como nos dias atuais , onde temos a geraçao canguro que ainda nao deixou de fato o ninho para alçar voos maiores , continua ainda ganhando forças para superar os grandes traumas deixados na coenciencia desde , povo servil e pacifico, que tudo ve e aceita calado, vejo essa aguia sim envergonhada por observar as dimensoes continentais deste vasto e rico pais ser dilapidado desde o seu descobrimento até os dias atuais, acredito que homens como Ulisses Guimaraes e demais que lutaram no passado e escreveram com tanto zelo a nossa constituicao; se estivesse vivo , estariam a perguntar" Que País é esse!", ao meu ver ainda encontra em dormencia em seu berço .Será que é a origem da miscigenaçao! Mesmo assim parabenizo pela brilhante mateŕia, acredito que voce como poucos vivenciou esse momento e esta tendo a oportunidade de viver o hoje , Sr. Jose Antonio, vamos ao segundo turno da Jornada e Luta Continua...

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