"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 21 de outubro de 2008

ADMINISTRADOR E ESTADISTA

José Antonio Lemos dos Santos


     O artigo “Pelo gás e a ferrovia” da semana passada rendeu alguns valiosos comentários. Desde os elogiosos – um dos quais sugeriu um adesivo com o título - aos céticos para os quais os candidatos nem sequer leriam o artigo, passando pelo que diz que o autor está errado pois os assuntos tratados não seriam da competência municipal. Em respeito a todos, detenho-me sobre este último, pois reflete um entendimento bastante arraigado em Cuiabá, mas equivocado, a meu ver.
     Sabemos que toda cidade tem uma dimensão local e outra regional, e nesta última se encontra sua razão de ser e sustentabilidade. Muitos dos problemas mais sérios de uma cidade estão fora dela, exigindo das autoridades locais soluções em diferentes esferas de governo ou até mesmo no âmbito empresarial. Assim, gerir uma cidade necessariamente ultrapassa as competências administrativas municipais.
     Como unidade federativa, o município também vai muito além de sua dimensão administrativa, pois tem uma dimensão política, que lhe dá autonomia na condução de seus interesses. Creio que o equívoco vem do tempo em que Cuiabá tinha seus prefeitos nomeados pelo governador. Nomeados, perdiam poder enquanto autoridade, restando-lhes a função de administrar bem a capital, como prepostos do governador, legando aos sucessores esta perniciosa “síndrome do prefeito nomeado”.
     Pior, pois, pelas dificuldades enfrentadas pela prefeitura, o cargo era considerado do terceiro escalão da administração estadual. Na posse de um governador, a atenção pública priorizava os nomes para os cargos de presidente da Cemat, do Bemat, Cohab, Sanemat, e das secretarias de estado. Só depois vinha o nome do prefeito da capital. Empossado, era terceiro escalão mesmo, o que foi cristalizado no nosso imaginário político-popular, e que era bastante conveniente para os governantes que assim podiam se livrar de muitos problemas.
     Exemplar no caso de Cuiabá é o problema dos transportes. A principal razão da secular sobrevivência de nossa cidade é sua localização estratégica. Cuiabá é um encontro de caminhos, com a vocação natural de ser um grande pólo intermodal de transportes no centro do continente. Assim, é fundamental para a cidade a chegada da ferrovia, o aeroporto Marechal Rondon - pronto e internacionalizado, a duplicação da 163, a saída para o Pacífico e, a ecovia do Paraguai, mesmo que um seja em Cáceres, outro em Várzea Grande, ou que a competência seja de outras esferas de governo. Infelizmente, sobre assuntos como estes, o cuiabano se sente abandonado, passado para trás, cabendo ao prefeito, articulando a sociedade organizada, a iniciativa de cobrar a quem de direito. Se não for ele, quem seria?
     Restritos à burocracia, as propostas eleitorais prendem-se às tarefas da prestação dos serviços obrigatórios, na saúde, educação, transporte, segurança, lixo, etc, que nada mais são do que obrigações, que todos têm que oferecer e melhorar sempre, direito do povo que paga por elas. E os planos ficam iguais, enfadonhos, repetitivos a cada eleição. Nada de propostas estratégicas para o desenvolvimento do município, sobre os destinos da cidade e para onde conduzi-la.
     Cuiabá vai se transformar na Ouro Preto do agronegócio, como querem alguns, ou na metrópole centro-continental, exuberante na qualidade de vida de seus habitantes? Espero que o prefeito que assumir, ou reassumir a prefeitura de Cuiabá, coloque-se à sua altura, resgate a sua integralidade local e regional, de passado e de futuro, seja um bom gerente dos serviços que tem a obrigação de oferecer, mas assuma também o papel de verdadeiro estadista, líder condutor do desenvolvimento pleno de sua cidade.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 21/10/2008)

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